Touched By Hell escrita por raquelsouza, milacavalcante


Capítulo 16
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Oi galera, aqui é a Kamila de novo.
O capítulo demorou pra sair porque faltou criatividade e meu pc não colabora, sabe?



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Eu estava tentando ao máximo entender o que Annabeth estava querendo me dizer, mas não dava. A menção do meu padrasto assustá-la assim parecia impossível, Gabes tinha cara de mal mas não faria mal nenhum a Annabeth.

- O que tem ele? – perguntei extremamente confuso.

- Ele é um monstro, Percy. – ela disse olhando ao redor. – Eu não posso falar pra você, se ele souber que eu falei, estamos todos mortos.

 - Annabeth, você ficou maluca? – indaguei. Estava tão confuso quanto antes. Como ela pode dizer que ele nos mataria? Isso não faz sentido.

- Droga, você não entende. – ela disse afundando as unhas no meu braço. – Ele faz coisas horríveis.

Franzi as sobrancelhas. Sabia que Annabeth não era louca, mas nesse momento, poderia jurar que tinha me enganado. O que ela quer dizer com Gabes ser um monstro e fazer coisas horríveis?

Ela viu que eu continuava sem ter ideia do que estava acontecendo.

- Eu não posso te explicar tudo agora. – ela disse. – Eu não consigo. Não agora.

- Quando então? – perguntei.

- Hoje não. – ela disse. – Agora não. Não com ele por aí, sem termos ideia de onde.

- Annabeth, você... – comecei mas ela me interrompeu.

- Na escola. – ela disse e respirou fundo. – Eu te conto tudo na escola. Só por favor, finja que nada disso aconteceu até lá.

- Ok. – disse. Ela sorriu um pouquinho.

- Você é tão ingênuo, Percy. – ela disse tocando o meu ombro. – E lerdo.

Olhei carrancudo pra ela.

- Se você falasse coisa com coisa. – disse botando a minha mão por cima da sua. Percebi que ela estava tremendo.

- Eu vou falar. – ela disse mordendo os lábios. – Só espero que você acredite.

Eu também espero.

- Vamos pra casa. – disse passando a mão ao redor de seus ombros e abrindo a porta do carro pra ela.

Voltamos pra casa em silêncio.  Annabeth estava com a testa encostada na janela e os olhos fechados. Seus dedos ainda tremiam levemente. Entrelacei seus dedos nos meus e ela sorriu um pouquinho.

Quando estacionei o carro na frente de casa, ela só agradeceu a carona e saiu sem dizer mais nada. Fiquei mais um pouco ali, pensando.

Tinha certeza que Gabes não era um homem mal, ou pelo menos achava. Ele era como o pai que eu nunca tive e nunca machucaria ninguém, principalmente a Annabeth, que ele parece tanto gostar. Não faz sentido. Entretanto...

Também tinha certeza que Annabeth estava falando a verdade. Era óbvio que ela não estava mentindo. Seus olhos, sua voz, suas expressões e reações, tudo nela mostrava o medo que ela estava sentindo.

Ou seja, eu não tinha certeza de nada.

Saí do carro e fui pro quarto. Fiquei pensando nisso durante horas até que um carro parou na frente de casa. Fui até a janela ver quem era e dessa vez era Gabes. Ele estava usando a mesma roupa que eu vi mais cedo e trazia um buquê de rosas vermelhas e um presente na outra mão.

Aja como se nada disso tivesse acontecido. - Ouvi a voz e a expressão aterrorizada de Annabeth na minha mente.

Respirei fundo e saí do quarto. Passei na frente do quarto de Annabeth e ela estava na porta.

- Você não consegue esconder, Percy. – ela disse e me puxou pra dentro do seu quarto. – Parece que você viu um fantasma e eu nem te contei nada ainda.

- Eu não... – tentei me defender.

- Temos que sair daqui. – ela disse tirando o moletom que estava usando, mostrando seu corpo e um grande e roxo hematoma na sua coxa e marcas de dedos no seu ombro.

- Annabeth, o que é isso no seu corpo? – perguntei me aproximando o suficiente pra tocar no seu machucado. Ela estremeceu.

- Não posso falar agora, Percy. – ela disse pegando uma camisa de mangas branca e um jeans no closet. Quando ela se virou, pude ver um chupão acima do seu peito.

- Annabeth, eu não aguento esperar até segunda pra entender porque tem um chupão no seu seio. – disse e ela corou.

- Desculpe. – disse e vestiu-se rapidamente. – Vai ter que esperar, é mais seguro.

- Ok. – disse suspirando.

- Você já devia ter descoberto, Percy. – ela disse afagando a minha bochecha. – Só que você está cego pela imagem que criou dele. Desculpe arruiná-la.

Não respondi. Não sabia o que pensar.

- Você precisa evita-lo. – ela disse pegando a mochila. – Vamos passar o resto do fim de semana na casa da Thalia.

- Assim, de repente? – perguntei e ela acenou.

POV ANNABETH

Eu estava morta. Assinei a minha sentença de morte quando decidi contar para Percy. Gabes é o padrasto dele, droga.

Olhei para Percy novamente. Ele parecia um robozinho, sem saber o que fazer ou o que pensar. Se algo acontecer a ele, a culpa é minha.

- Pegue as suas coisas e vamos. – disse andando até a porta do quarto. – Vou avisar Gonçalvez caso alguém pergunte onde estamos.

Ele só olhou pra mim. Respirei fundo e dei um tapa nele.

- Acorda garoto. – disse e ele me olhou meio ressentido. Já estava ficando histérica, precisava me acalmar.

Saí correndo do quarto e esperei que ele fizesse o que eu mandei. Avisei a Gonçalvez e fui até o carro, esperando por Percy. Pude sentir Gabes me olhando da janela do seu quarto. Meu coração acelerou. Limpei as palmas das mãos na calça.

Percy finalmente apareceu e fomos embora.

Fomos até a casa da Thalia sem dizer uma palavra. Ela abriu a porta pra gente e entramos sem cerimônias. Me senti mais segura.

- Está sozinha? – Percy perguntou.

- Estou. – ela respondeu. – Papai está viajando por causa da porcaria do trabalho e Jason foi para um acampamento. O que aconteceu para vocês virem tão rápido?

Lancei um olhar significativo pra ela.

- Não sei. – Percy respondeu.

- Mas como você é burro, Percy. – Thalia disse batendo no ombro dele. – Acho que vocês precisam conversar então. Se precisarem de alguma coisa estarei no meu quarto.

Ela olhou pra mim preocupada.

- É uma boa ideia. – ela disse. – Ele pode ajudar mais do que você imagina.

Precisava acreditar nisso.

Thalia foi para o seu quarto. Peguei a mão de Percy e o guiei até o porão. Parecia uma boa ideia falar pra ele lá, parecia mais seguro.

Respirei fundo. Meu coração batia nervosamente contra as minhas costelas. Rezava em silêncio pra nada dá errado.

Por favor, faça ele acreditar em mim. Por favor.

Sentamos no sofá em silêncio. Pensei em como começar mas nada me veio a mente.

- Você já pode me falar. – ele disse suavemente. Percy parecia menos confuso agora.

Ele vai me chamar de mentirosa. Ele não vai acreditar em mim.

- Não existe maneira fácil de dizer isso, Percy. – comecei. – Principalmente pra você.

Ele olhou pra mim, esperando. Suspirei.

- Você já viu os roxos, os machucados, o meu rosto. – disse tocando na minha bochecha. Ainda restava uma casca da ferida que tinha ali. – Sabe que alguém fez isso. Agora sabe quem fez isso.

- Porque ele faria isso, Annabeth? – ele perguntou. Não sabia se ele estava acreditando ou não.

- Porque ele é doente. – disse cruzando as minhas mãos no colo. - Eu peço desculpas por arruinar tudo o que você acreditava, eu sei que é difícil de acreditar, mas Gabes é um monstro Percy, ele fez tudo isso comigo por prazer. Ele é doente.

- O que ele fez a você, Annabeth? – ele perguntou.

Percebi que ele já sabia, só não sabia se acreditava ou não. Mordi os lábios. Não queria tirá-lo da sua bolha de segurança, mas era tarde demais pra voltar atrás.

- Ele me estuprou, Percy. – disse olhando nos seus olhos. Ele estreitou os olhos.

Ele vai gritar e dizer que é mentira. Ele não vai acreditar em mim. Eu estou morta.

- Ele faz isso desde os meus oito anos. –disse tentando convencê-lo. – Meu pai me vendeu pra ele por drogas. Por isso fomos embora, mas a minha mãe não sabia e me mandou de volta, eu achei que não ia ter com o que me preocupar, pois não tinha mais oito anos, mas continua sendo a mesma coisa, pior até.

Me dei conta que estava chorando.

- Eu sei que você não vai acreditar em mim. – disse olhando para as minhas mãos. – Nem a minha mãe acreditou, eu só peço que você não fale nada disso pra ele ou pra ninguém. Você pode nunca mais olhar pra mim se quiser, eu não me importo, só não fale nada disso pra ele.

Fiquei em silêncio. Percy passou uma eternidade sem falar nada. Não me atrevi a olhar pra ele. O silêncio entre nós parecia não acabar. Esperei os gritos começarem mas eles não vieram. Percy levantou e saiu do porão sem dizer nada.

Senti meu coração pesar. Ele não acreditara.

Peguei uma almofada do sofá e coloquei na boca pra abafar meus gritos. Enterrei o rosto nas mãos e desatei a chorar.

Passei algum tempo ali, esperando eu me acalmar. Ouvi a porta do porão abrir e fiquei em pé. Era Percy.

- Eu acredito em você. – ele disse e me abraçou forte. Agarrei seus ombros com força. Ele acredita.

- Desculpe o que eu disse mais cedo. – ele disse contra o meu ouvido. – Eu sou um idiota.

 - Não é. – respondi sorrindo. – Tudo bem.

- Não está tudo bem. – ele disse me soltando. – Ele tem que ser preso.

- Não podemos fazer nada. – eu disse. – Percy, me prometa que não vai fazer nada.

- Ele não vai mais encostar um dedo em você. – ele disse com raiva. – Eu prometo.

- Percy... – disse. – Não vá fazer nada.

Ele assentiu sem dizer nada. Peguei seu rosto com ambas as mãos.

- Não faça nada. – disse séria.

- Eu não posso deixar que ele toque em você novamente. – ele disse colocando as mãos no meu rosto.

Encostei sua testa na minha.

- Por favor. – sussurrei e encostei seus lábios nos meus.

Percy suspirou e me deu um beijo casto.

Tudo bem. – mas eu não senti convicção em suas palavras.

- Percy, se você fizer algo, você, eu, todos aqueles que são próximos de mim estão mortos. Literalmente mortos. – disse olhando em seus olhos. Por favor, eu estou implorando.

- E deixar que aquele canalha toque em você novamente? – sua voz irradiava raiva.

- Você prefere ver sua mãe morta? – perguntei com raiva, Percy arregalou os olhos. – Não né? Então fique de bico fechado, ou as coisas vão ficar cada vez piores.

Percy comprimiu os lábios e suspirou derrotado.

- Ainda não consigo acreditar nisso. – ele disse passando a mão no cabelo.

- Desculpe. – disse.

- Não peça desculpas. – ele disse segurando a minha mão.

Escondi meu rosto no seu pescoço.

- Eu tenho medo, Percy. – confessei. – Muito medo.

- Não precisa mais ter medo. – ele disse passando o braço ao redor da minha cintura. – Vai ficar tudo bem.

E eu acreditei.

A segunda chegou e eu e Percy voltamos para a escola com Thalia. Não havíamos voltado a ser ficantes ou seja lá o que éramos, mas a situação estava normal. Havíamos voltado a ser aqueles velhos e bons amigos de antes – sem a parte dos beijos e do ódio, é claro.

A primeira aula do dia ia ser educacional e que eu iria passar duas horas imersas em meus pensamentos.

- Muito bem, turma, esta é a psicóloga e sexóloga Dr. Clarisse. – uma mulher alta, com pele morena e feia entrou na sala.

- Parece a mãe do próprio demônio, essa aí. – gemeu Grover.

- Hoje nos vamos falar sobre A Violência Sexual. – continuou a diretora alheia as piadas que aconteciam atrás de mim. – Senhorita Clarisse, agora é com você.

- Senhorita? Não é de se admirar que ela nunca se casou, feia desse jeito, nem o próprio demônio a quis. – sussurrou Travis Stoll, um dos garotos mais encrenqueiros do colégio.

- Acredito que todos vocês já ouviam falar em violência sexual. Hoje em dia, 2 em 15 garotas ou garotos sofrem com isso.

- Garotos? – perguntou Silena.

- Sim, embora seja mais frequente isso acontecer com garotas. Muitos casos já foram relatados, e em alguns dela, o abuso começa quando criança.

Contra a minha vontade, aquelas lembranças apareceram em minha mente, tentei manter o meu rosto o mais passível possível.

- Se algum dia você fosse violentada por alguma pessoa próxima de você, o que... – ela passou os olhos pela classe que ali estava e apontou para mim. – você faria minha querida...?

- Annabeth. – respondi em tom de tédio. De tantas outras pessoas nessa sala, porque ela veio perguntar justo para mim?

- Sim, Annabeth. O que você faria?

- Contaria a policia ou alguém mais próximo de mim. – eu faria isso?

- E se essa pessoa ameaçasse você de morte? – perguntou ela.

- Não ligaria, eu denunciaria do mesmo jeito.

- E se ela ameaçasse uma pessoa que você ama de morte?

Olhei para a mulher desconfiadamente.

- Ela estaria blefando. – coloquei o meu cérebro para funcionar. – Porque não há sentido nisso. Eu iria contar para uma pessoa e no dia seguinte ela estaria morta, lógico que alguém ia desconfiar isso e logo o achariam, e eu ajudaria.

- E se a pessoa...

- Eu estou com dor de cabeça, será que eu posso sair pra tomar um remédio e tomar um ar? – cortei a mulher em sua frase e olhei para a diretora. – Eu realmente preciso.

A diretora assentiu minimamente e eu saí da sala o mais rápido possível. Toda essa conversa me deixou nervosa, e imagem do que acontecia comigo começaram a reaparecer em minha mente. Eu conseguia ouvir os meus gritos e sentir até mesmo as lágrimas rolarem pela minha face.

Mas eu mantive  a calma. Aquelas perguntas que a mulher me fez... Parecia que ela sabia o que acontecia comigo. Mas claro que era impossível, ninguém sabia de nada.

Quer dizer, duas pessoas agora sabiam o que aconteciam comigo.

Ah merda, o que foi que eu fiz?

Sentei em um banco e respirei fundo tentando não pensar em nada, só em deixar a minha mente divagar.

Passado alguns minutos, alguém se sentou ao meu lado. Abri os olhos e me deparei com Arthur.

- Oi Ar... hum... Professor. – disse um pouco encabulada.

- Olá Annabeth, bom te ver. – ele respondeu cordialmente

Como tratar um professor que você beijou o qual está noivo? Simples, permaneça calada.

- Acho que você deveria estar em sala de aula agora. – disse ele depois de um tempo.

- Aula educacional, fiquei enjoada com o assunto e pedi pra vir tomar um pouco de ar.

- É mesmo? Sobre o que é o assunto?

- Violência sexual.

- E por que ficou enjoada?

- O assunto me deixa nos... Nervos. – soltei. Droga. Mordi a língua.

- Porque? – perguntou ele com um súbito interesse.

- Porque falar sobre gente sexualmente violentada não é legal. – disse com a voz já irritada.

Arthur assentiu levemente e olhou para o gramado. O silêncio que permanecia ali era sufocante.

- Você sabia que pessoas violentadas adquirem um comportamento revoltado para que assim alguém preste atenção nelas? – ele disse me olhando com intensidade. - - Você conhece alguém que foi sexualmente abusada, Annabeth?

 O olhei desconfiada.

- Porque ta perguntando isso pra mim? – perguntei com um tanto de medo na voz.

E então uma ideia se passou pela minha cabeça. Arthur poderia ser um dos mandantes de Gabe. Ele poderia estar me vigiando.  O olhei de soslaio e Arthur continuava a me fitar.

- Não, eu não conheço ninguém. – disse rapidamente. – Agora eu preciso ir.

Ele segurou o meu braço.

- Larga meu braço. – disse encarando-o.

Ele franziu as sobrancelhas.

- Eu só quero conversar. – ele disse soltando meu braço. – Não precisa ter medo de mim, estamos do mesmo lado.

- É claro. – menti. – Mas tenho que ir no meu quarto pegar uns cadernos então preciso ir.

Levantei o mais controlada que pude e fui para o refeitório. Desabei numa cadeira e desatei a pensar. Meu cérebro estava a mil. Arthur trabalha pra Gabes? Isso explicaria eles se conhecerem. Mas o que ele quis dizer como ‘’estamos do mesmo lado’’? Será que ele dissera isso apenas pra me confundir? Ou seria verdade? Ele sabia sobre Gabes?

Tinha tantas perguntas e não esperava responder nenhuma tão cedo. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Eu esperava terminar a fic antes das férias acabarem porém não deu (culpa da Raquel) então vai ficar ainda mais difícil postar a partir de agora por causa do vestibular e tudo o mais.

Espero que entendam e não esqueçam de comentar ♥