Nossos Momentos escrita por b-beatrice


Capítulo 47
Nossos Momentos


Notas iniciais do capítulo

Olá minhas queridas!
Quero pedir desculpas pela demora. Primeiramente, eu não imaginava que esse capítulo fosse dar tanto trabalho! Além disso, nas duas vezes em que tentei postar o Nyah estava fora do ar, então isso colaborou com o atraso.
Finalmente, o capítulo que eu prometi com as memórias da Bella!
Espero que eu tenha conseguido alcançar as expectativas de vocês!
Um enorme agradecimento a Sophya Cullen pela linda recomendação!
Sem mais delongas, boa leitura!



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Eu pude ver alguns flashes dos rostos do meu pai e da minha mãe. A visão era embaçada e havia uma certa ausência de cor. Eu era bebê demais para conseguir expressar qualquer coisa, ou sequer entender o que eu queria. Eu via sorrisos bobos, caretas risonhas e alguns olhares de desespero enquanto eu chorava. Era tudo raso e pouco interpretado.

~*~

Eu vi o orgulho nos olhos do meu pai quando ele viu que eu sabia engatinhar sozinha. Eu agora podia ir a todos os lugares que quisesse.

~*~

Eu vi minha mãe sentada comigo, me ensinando a falar “mamãe” com uma paciência um tanto louca como só ela poderia ter. Eu amava a risada dela a cada vez que eu não conseguia repetir o que ela queria, mas amava ainda mais a animação dela quando eu conseguia.

~*~

Eu vi minha mãe me estimulando a andar, tentando me passar a coragem que eu não tinha. Foram muitos tombos, muitos arranhões, muitas pancadas, muitos “dodóis” e incontáveis minutos de choro sendo consolado pela minha mãe em uma forma tão amorosa e carinhosa que eu mal reconhecia.

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Assisti novamente as incontáveis vezes em que minha mãe me entregava para passar as férias com meu pai. Centenas de recomendações, mil abraços apertados e incontáveis beijos enquanto estávamos só nós duas. Poucas palavras, ausência de gestos e uma palpável tensão no ambiente nos poucos instantes em que estávamos os três. Eu nunca havia parado para pensar que esses pequenos encontros eram desconfortáveis para eles.

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Eu pude ver novamente o meu primeiro dia de aula. O medo do desconhecido, a timidez para com as outras crianças, os brinquedos coloridos e o cheiro amadeirado da sala. A ansiedade de estar em um local completamente novo com pessoas que eu nunca havia visto e a felicidade ao ver minha mãe literalmente de braços estendidos para mim quando o dia acabou. Eu pude sentir novamente o seu abraço e ouvir suas palavras “Oh, bebê! Eu senti tanto a sua falta!” Eu sabia que eu havia duvidado. Como ela poderia sentir minha falta tanto quanto eu senti a dela? Hoje, conhecendo-a como eu conheço, eu sabia que ela poderia ter sentido até mais.

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Eu senti novamente a animação de conseguir andar de bicicleta, o vento batendo em meus cabelos e o riso orgulhoso do meu pai soando atrás de mim. Ele sentia orgulho de cada uma das minhas pequenas vitórias. Não importava a ele o fato de que a bicicleta ainda tinha rodinhas. O importante era que eu tomara coragem para tentar. E eu devia essa coragem a ele.

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Assisti novamente minha primeira (e única) aula de balé. O desconforto era tão grande que me esconder da professora e das perfeitas mini bailarinas que me olhavam de forma esnobe pareceu uma excelente ideia, mesmo depois de um tempo, quando pude ouvir minha mãe me procurando. Vi novamente o desespero em seu rosto quando ela finalmente me encontrou. Eu achara exagero da parte dela se preocupar tanto. Hoje eu via que era apenas um reflexo do seu amor por mim.

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Pude ver as várias viagens de pescaria que eu fizera com Charlie, até que finalmente conheci Jacob, filho do seu melhor amigo. Charlie então passou a deixar que eu ficasse com ele brincando na areia, ou apenas andando por aí. Eu não poderia ficar mais grata por ter conhecido alguém, apesar achar que todos os meninos eram esquisitos. Na época eu jamais poderia notar o quanto Charlie ficara feliz por me ver fazendo uma amizade com alguém próximo a ele.

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Eu vi novamente meus dias na escolinha, meus garranchos de criança que ainda não tinha firmeza com o lápis, minha leitura travada de quem ainda não estava adaptava a transformar letras em sílabas, muito menos sílabas em palavras. Eu pude ver, no entanto, o quanto eu adorava tudo aquilo, muito mais do que qualquer outro coleguinha da minha sala. As palavras no papel eram a minha paixão.

~*~

Vi as dezenas de aulas de hobbies que minha mãe inventava. Desde as aulas de piano até as de ginástica rítmica, passando por costura, artesanato, tricô, pintura, judô e tantas outras. Lembro de odiar cada uma delas, agradecer a cada vez que ela desistia e me desesperar sempre que ela escolhia uma nova. Agora era fácil entender que era apenas uma forma dela buscar alguma coisa para se a nossa coisa.

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Pude ver novamente meu ensino fundamental. Os corredores com armários, os professores chatos, os desesperos para provas, os colegas e as colegas com os quais eu nunca conseguira estabelecer uma amizade real...

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Eu vi minha mãe chegar em casa anormalmente quieta, com o olhar perdido e uma projeção de um sorriso em seus lábios. Sua resposta quando eu perguntei “Eu acho que posso ter conhecido alguém”. Esse deveria ter sido um sinal para mim de que era sério. Minha mãe sempre fora de se entregar a toda e qualquer coisa em que pensasse, apenas para em pouco tempo deixar de lado. Quando ela apresentou aquela pequena dúvida, aquela apreensão, eu deveria ter percebido que era algo mais sério, ao invés de simplesmente ter deixado de lado.

~*~

Conheci Phil novamente. Lembrei que só quando vi minha mãe e ele juntos percebi o quanto os dois pareciam se encaixar. Lembrei também do quanto me surpreendi quando percebi que ele era realmente um cara legal. Revi todos os momentos de animação da minha mãe enquanto ela se arrumava para seus encontros, sempre atrasada. Ele a fazia se sentir uma adolescente. Ela amava isso. Eu amava vê-la feliz.

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Ouvi novamente a felicidade na voz do meu pai quando, por telefone, inseri a ideia de ir morar com ele. Na época eu não pensara na mudança que a vida dele tomaria com isso, mas que, apesar disso, ele estivera radiante. Eu infelizmente só pensara nas dificuldades que eu enfrentaria, mas eu faria isso pela felicidade da minha mãe, que morreria de preocupação comigo.

~*~

Assisti novamente minha ida para Forks e minha adaptação na casa do meu pai. A nova escola, muito menor e mais simples do que a antiga. Os novos colegas, sem o charme dos adolescentes da cidade grande e com a péssima mania de encarar a aluna nova. Os novos professores, um tanto mais lerdos do que os meus antigos.

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E foi sentada no refeitório da nova escola, com os novos colegas que eu os vi pela primeira vez. Eram cinco e não estavam me encarando, como a maior parte dos outros alunos.

Dos três garotos, um grande e musculoso como um levantador de peso profissional, com cabelo escuro e encaracolado, outro era alto, mais magro, mas ainda musculoso, e com cabelo loiro escuro, enquanto o outro era mais magro, menos musculoso, com cabelo cor de bronze, meio bagunçado.

Duas garotas, sendo uma alta, com uma silhueta linda, daquelas que fazem as outras garotas se sentirem mal consigo mesmas só por estarem na mesma sala, com o cabelo dourado, gentilmente balançando até o meio das costas enquanto a outra garota era mais baixa, parecendo uma fadinha, bem magra, com feições pequenas e cabelo totalmente preto, cortado curtinho, apontando para todas as direções. Eu os olhava por que seus rostos, tão diferentes, tão iguais, eram todos devastadoramente, inumanamente lindos.

~*~

Eu me vi conhecendo Edward, no início um tanto fechado e seco, mas depois se transformando em alguém que eu queria ter sempre por perto, seja pela vontade de conhece-lo mais, seja por gostar da companhia dele. Revi nosso primeiro jantar, que só aconteceu porque consegui me perder em Port Angeles depois de fazer compras com algumas colegas do colégio, mas tive Edward para me salvar.

~*~

Acompanhei nossos flertes, nossos passeios, nossas conversas... Nossa ida à clareira que acabou virando nossa clareira, nosso primeiro beijo, nosso início de namoro, nossa nova mania de andar de mãos dadas, o momento em que conheci seus pais oficialmente, o momento em que o apresentei para meu pai...

~*~

Finalmente me vi criando laços de verdadeira amizade. Inicialmente com Alice e Emmett, depois com Jasper e, depois de certo tempo, até com Rosalie, quando finalmente entendi seus motivos por ser tão fechada. Ninguém merecia passar pelo que ela passou.

E eu não poderia descartar, é claro, o fato de continuar amiga de Jacob.

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Doeu como se estivesse acontecendo novamente quando assisti Edward terminando comigo. Eu ainda não sabia como eu conseguira passar por tudo aquilo. Assisti minha aproximação com Jacob, que se tornara minha tábua de salvação.

~*~

Os dias que pareceram anos finalmente acabaram quando eu vi que Alice estava de volta, me levando para Edward. Entre angústias e desentendimentos, nós nos reencontramos e, finalmente, estávamos bem.

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Eu vi o resto do ensino médio passar, não sem algumas tensões entre Edward e eu por conta das inseguranças e ciúmes, especialmente da parte dele, por causa de Jacob, que continuava a ser meu amigo.

~*~

Eu vi o orgulho nos olhos do meu pai e ouvi o mesmo sentimento na voz da minha mãe quando souberam das cartas de aceitação da faculdade. O melhor foi saber que eu não estaria tão longe de Edward. Era ruim saber que iríamos para faculdades diferentes, mas era bom saber que, ao menos, não estaríamos tão distantes um do outro.

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Senti novamente o mal estar ao conhecer Tanya e suas irmãs. Pior ainda foi saber que Edward estaria na mesma faculdade que ela. Eles pareciam tão perfeitos juntos... Eles se conheciam desde de criança... Ela provavelmente sabia coisas sobre ele que ele mesmo nunca se preocuparia em me contar. Era um sentimento sufocante.

~*~

Passei novamente por nosso baile de despedida do colégio. Foi a primeira vez que vi Edward de terno. Foi alucinante. Nós dois sabíamos que aquela noite seria diferente para nós. Seguiríamos o clássico dos bailes de colégio. O casal de namorados que iria finalmente avançar no relacionamento. Eu não sabia como me segurar. Eu estava um tanto nervosa, mas em maior parte, eu estava ansiosa pelo momento. Edward não desgrudou de mim durante toda a festa. Nós dançamos, tiramos fotos, conversamos com as outras pessoas... Na saída, no entanto, ele fez algo de diferente.

Edward nos levou para a nossa clareira. A lua estava magnífica e conseguia trazer a iluminação perfeita. Eu estava perdida demais em meus pensamentos e só voltei a mim quando vi Edward se colocando semi-ajoelhado em minha frente.

– Bella, eu te amo, mas isso você já sabe. Ainda assim, eu precisava tentar te dizer o quanto você significa para mim. O quanto eu penso em você, o quanto eu me importo com você e o quanto eu te respeito. Infelizmente, eu não consegui encontrar uma forma te de dizer isso, então eu quero demonstrar. – dizendo isso, ele tirou uma caixinha retangular do seu bolso e a abriu, me mostrando uma linda pulseira com um pequeno pingente de coração.

– Eu pensei em anéis, mas não é muito o nosso estilo. – ri com ele, saindo um pouco do meu estado de choque – Ainda assim, não deixa de ser um elo. – ele falou se estendendo a mão para pegar a minha – E com esse elo, eu quero simbolizar o meu compromisso com você e te entregar meu coração. – ele colocou a pulseira delicada em meu pulso e finalizou beijando o singelo pingente.

Aquela demonstração de amor fora com certeza a minha favorita.

~*~

Lembrei da nossa primeira vez. Edward fora, como sempre, um cavalheiro. Muitos beijos e carícias, sempre deixando que eu ditasse o ritmo de tudo. Como os dois adolescentes que éramos, foi apaixonado, novo e um tanto confuso. Não poderia ter sido melhor.

~*~

Assisti novamente minhas férias, voltando para casa e o início da feliz desconfiança de que Charlie estava tendo companhia frequente, provavelmente algum romance. Eu desconfiava fortemente de Sue, uma moça da reserva de La Push, que tinha um casal de filhos. Eu adorava seu filho, mas sua filha sempre parecia ter algo contra mim. Levou um tempo até eu descobrir que ela sentia ciúmes de Jacob comigo. Ela não poderia estar mais errada.

~*~

Passei novamente por todas as viagens que eu fizera para visitar Edward e por todas as vezes que ele viera me visitar. Lamentei cada segundo que perdemos em discussões por ciúmes que, somente agora, eu via o quão infundados eram.

Doía absurdamente ver quantas garotas lindas ele tinha a sua volta. Todas provavelmente loucas por ele. Agora eu percebia que eu deveria ter focado na felicidade de ver que ele preferia a mim, ao invés de focar na preocupação pela existência delas.

Agora eu sabia que eu deveria ter mostrado a ele o quanto eu o amava, ao invés de brigar com ele quando ele sentia ciúmes de algum colega meu.

~*~

Vi novamente aquele forte brilho de orgulho nos olhos dos meus pais e até mesmo nos olhos dos pais de Edward durante a minha formatura. Quando a cerimônia maçante finalmente terminou, ele estava lá em baixo me esperando. Pulei para os braços dele,que me recebeu girando.

– Eu não poderia estar mais orgulhoso! – ele falou em meu ouvido.

– Obrigada! É bom saber que finalmente acabou! – brinquei.

– Bella, bobinha. – ele falou se afastando um pouco de mim, passando a mão pelo meu cabelo enquanto sorria – Não estou falando do fim da faculdade.

– Não? – perguntei confusa.

– Não. – ele afirmou – Estou orgulhoso por você ter realizado o seu sonho.

~*~

A formatura de Edward foi grandiosa. Ele era o mais lindo de todos e foi escolhido para ler as homenagens a turma.

Havia muita filosofia, mas também havia muito Edward no texto. Eu sabia que ele havia depositado muito amor naquilo.

– Eu estou tão orgulhosa de você! – falei quando ele se aproximou de mim, segurando seu rosto próximo ao meu, nossas testas quase se colando.

– Finalmente acabou. – ele respondeu brincando.

– Não pela faculdade, bobinho! – falei batendo de brincadeira em seu ombro – Pela realização do sonho, lembra?

– Meu sonho ainda não se realizou. – ele respondeu e notei que estava um tanto tenso.

– Por quê? O que está faltando? – perguntei preocupada, já que tudo parecia maravilhoso.

– Uma coisa que só você pode me dar. – ele falou e buscou minhas mãos, apertando-as firmemente, como se estivesse com medo de que eu fosse desaparecer.

– Claro, qualquer coisa. – falei louca para aliviar toda aquela tensão dele.

– Casa comigo. – ele falou de uma só vez.

– O que? – perguntei meio boba.

– Casa comigo, Bella! Casa comigo! – ele pediu novamente, agora se ajoelhando, no meio de todas aquelas pessoas e tirando uma caixinha cúbica do seu bolso.

Ele a abriu e vi que me oferecia o anel de noivado que eu sabia ter sido da sua mãe. Era um clássico. Era lindo. Era para ser da noiva de Edward. Era para ser meu.

Levei um tempo ainda um tanto perdida. Éramos recém-formados! Éramos apenas namorados! Éramos tão jovens!

Olhei nos olhos dele e vi aquela adoração, como se nada mais no mundo fosse digno do seu olhar.

– Sim! – gritei e várias pessoas a nossa volta aplaudiram.

Edward se levantou, me pegou no colo e me encheu de beijos antes de finalmente colocar o anel no meu dedo.

Eu pude vagamente ouvir Alice exigindo ser a planejadora e Rose exigindo ser madrinha, mas naquele momento meu único foco era Edward.

~*~

O tempo de preparativos do meu casamento foram torturantes. Era como se fosse para outra pessoa. Eu não queria nada grandioso. Não queria tantos convidados, nem tanta decoração. Eu não me sentia eu mesma naquele vestido, muito menos naqueles sapatos. Eu estava linda, realmente. Ainda assim, não era eu.

Cheguei a tentar argumentar que não era aquilo que eu queria, mas então desisti. Eu era a única filha dos meus pais. Eles mereciam ter uma grande cerimônia na qual participar do casamento.

E ainda havia Esme e Carlisle, que praticamente me adotaram, me recebendo na família com todo o amor. Eles mereciam ver seu filho em um casamento admirável.

E ainda havia Alice e Rosalie, minhas duas melhores amigas. Elas estavam tão animadas preparando tudo que não pude deixar de me sentir mal em impedi-las. O máximo que pude fazer foi controlá-las.

~*~

Logo, eu já estava no meu casamento. Uma última olhada no espelho enquanto todas aquelas dúvidas passavam pela minha cabeça. “É a hora certa?” “É o certo a se fazer?” “E se alguma coisa der errado?”

Meu pai apareceu e seu olhar surpreso me mostrou o que eu já sabia. Eu realmente estava bonita.

– Ainda dá tempo de desistir. – ele falou brincando.

Ouvir aquilo ser dito em voz alta me fez perceber o quão estúpidas eram as minhas inseguranças.

– Eu estou pronta. – falei sorrindo firmemente, mostrando a ele que seria impossível me fazer mudar de ideia.

O casamento fora realizado em Forks, então havia muitas pessoas com as quais estudamos, amigos do trabalho de Carlisle, pessoas de La Push...

Ainda assim, eu não consegui me concentrar em mais nada quando vi Edward. Dali para frente, eu me perdi de tudo, pensando apenas em estar com ele.

Deixei que cada um aproveitasse a festa como quisesse e me foquei apenas em ter Edward ali comigo, especialmente no momento em que dançávamos Debussy, que fazia parte da nossa história.

~*~

Minha mãe, Esme, Alice e Rose foram me ajudar a trocar de roupa em determinado ponto da festa.

Minha mãe e Esme foram guardar o vestido de noiva enquanto Alice fora pegar a roupa que eu vestiria, me deixando com Rose.

– Parabéns! – ela falou pela milésima vez, me abraçando.

– Obrigada! – respondi pela milésima vez – Quando será o seu?

Rose abaixou os olhos.

– Oh meu Deus, Rose! – falei sem acreditar no que eu estava deduzindo – Como você conseguiu esconder por tanto tempo?

– Como você pode não desconfiar por tanto tempo? – ela respondeu agilmente – Eu não deixaria nenhuma das minhas amigas casar antes que eu.

Assim era Rose.

– Quando? – perguntei.

– Antes mesmo da faculdade. Nós fomos a Las Vegas, comemorar o fim da escola, ir a festas, cassinos... Quando vi, Emmett estava me oferecendo as moedas que ele ganhara em uma aposta, mostrando que jamais deixaria faltar nada para mim se eu aceitasse casar com ele. Foi ridiculamente bobo e fofo. Eu não pude dizer não. – ela confidenciou com aquele sorriso pequeno que ela sempre tinha quando falava de algum gesto de Emmett.

– Isso é perfeito! – falei abraçando-a – Estou tão feliz por você!

– Obrigada. – ela respondeu, mas logo seus olhos nublaram com tristeza – Eu só queria que nossa família não parasse por aí.

Eu sabia que ela estava falando sobre seu problema em ter filhos. Não era comum ouvi-la falar sobre isso, mas era fácil saber que a atormentava, apesar de Emmett nunca ter demonstrado qualquer incômodo quanto a isso. Ele a amava com o que ela era e não precisava de mais do que isso.

– Deve haver algum jeito, Rose! – falei tentando animá-la.

– Não! – ela disse balançando a cabeça como se quisesse afastar a ideia – Eu não quero ver Emmett esperançoso e decepcionado. E também não posso fazer isso sozinha.

– Rose! – repreendi – Como você pode pensar em estar sozinha? Eu estou aqui com você.

~*~

Nossa lua de mel fora no Brasil.

Era tudo lindo, e quente, e natural, e vivo, e apaixonante.

Era como um mundo novo que eu descobria com Edward. Os dias eram passados de biquíni, as noites apenas com os carinhos de Edward.

Estávamos em uma bolha somente nossa e eu lembrei de querer ficar lá para sempre.

No dia antes de irmos embora, fomos observar o por do sol. O céu tinha um tom alaranjado incomum, refletindo na água do mar, perfeitamente verde.

– Você parece estar em toda parte. – brinquei com Edward.

– Como assim? – ele perguntou.

– O céu lembra seu cabelo e o mar lembra os seus olhos. – apontei – Tudo leva a você.

– O que eu posso dizer? O destino é um amigo meu e ele concordou em me ajudar a te convencer a ficar comigo. – ele respondeu brincalhão.

Voltamos para o nosso hotel, mas antes de subirmos para os quartos passamos em uma espécie de galeria de arte que estava instalada no térreo.

Surpreendentemente, encontrei um quadro que me tirou o fôlego. Seria o meu quadro preferido: Impressão Sol Nascente, de Monet, se não fossem as diferenças das cores.

O quadro congelara o momento que eu observara hoje. O céu cobre alaranjado e o mar verde profundo.

– Vamos? – senti as mãos de Edward na minha cintura – ainda temos mais uma noite para aproveitar.

Com isso, todos os meus pensamentos artísticos foram deixados de lado e subi com Edward para aproveitarmos nossa última noite de lua de mel.

No dia seguinte, quando estava conferindo as malas, para ver se pegamos tudo, descobri um embrulho grande e retangular na minha. Havia um bilhete com a caligrafia de Edward “eu amo aquele brilho nos seus olhos quase tanto quanto amo você”.

Rasguei o papel e descobri o quadro que eu passara minutos admirando na véspera.

~*~

Os primeiros tempos de casamento foram perfeitos.

Eu tinha Edward.

Eu já tinha sido indicada para um emprego por um professor da faculdade. Não era um cargo grande, mas eu podia aprender muito.

Edward já estava empregado em uma companhia fundada por um de seus veteranos da faculdade.

Nós estávamos morando em Nova York e tínhamos o apartamento dos sonhos de qualquer casal, que tinha sido perfeitamente decorado pela mãe de Edward.

Nós tínhamos nossos amigos próximos, já que Rose e Emmett já moravam lá e Alice e Jasper, apesar de ainda estarem terminando a faculdade, faziam visitas frequentes.

Carlisle havia aceitado uma proposta de emprego e viera trabalhar em Nova York também.

Volta e meia Reneé fazia uma visita e eu era feliz em saber que, apesar de longe, Charlie não estava sozinho, já que seu relacionamento com Sue continuava, apesar de ainda ser em segredo.

Nós passeávamos bastante e usufruíamos do nosso tempo juntos como qualquer casal apaixonado.

Nós estávamos prontos para encarar a vida real e obter o máximo possível disso.

~*~

Foi observando as pessoas no trabalho que percebi que era preciso mais do que ser boa no que fazia para ser notada. E no final, tudo se resumia a ser notada.

Foi nesse tempo que conheci Max. Ele estava lá há pouco tempo também e acabamos aprendendo alguns truques juntos e os compartilhávamos entre nós.

Fazer o serviço bem feito não era mais que a obrigação, mas se além disso você tivesse algo mais, você ganharia algum reconhecimento.

No início eu recorri a Alice e Rose, mas no fim eu mesma terminei a reforma em meu guarda roupas, tentando ao máximo possível me misturar às pessoas que tinham mais experiência que eu naquele ramo.

Aprendi também a decorar o tipo de café que os superiores gostavam. Aprendi a chegar mais cedo e a sair mais tarde. Aprendi a trabalhar em casa. Aprendi a mostrar a todos o quão bem eu sabia fazer as coisas. Aprendi a eficiência e aprendi que eu gostava do que fazia, principalmente quando via o retorno.

Em algum tempo eu recebia promoções, até que mais um sonho fora realizado. Eu iria trabalhar oficialmente para o The New York Times. Eu seria algo como a assistente da assistente da secretária da assistente pessoal de alguém. Ainda assim, era o The New York Times.

~*~

O casamento de Alice fora lindo.

Ela escolhera se casar em uma manhã de domingo, em uma igreja bem antiga, como um casamento de princesa.

Jasper, como não poderia ser diferente, parecia encantado por estar realizando um sonho dela.

Tudo tinha um toque de Alice, misturando o sério e antigo com o moderno e infantil.

A cerimônia foi linda e cheia de emoções, incluindo a descoberta de todos de que Emmett e Rose já estavam casados há tempos.

Por sorte de Rose, Alice estava feliz de mais em sua bolha com Jasper para ficar chateada com ela pelo segredo.

~*~

Em pouco tempo percebi que havia muita intriga no jornal. Muitos grupinhos, fofocas e invejinhas.

Com minha capacidade ínfima de fazer amizades, eu estava cada vez mais desesperada.

Comecei então a me aproximar mais de Max, que acabou se tornando meu único amigo naquele lugar.

Em pouco tempo ele começou a se abrir para mim e falar sobre as dificuldades que ele vinha tendo em casa. Ele estava se divorciando e tinha uma filha pequena no meio, sofrendo mais do que qualquer um durante o processo. Sua mulher não facilitava as coisas e, ao mesmo tempo em que ele queria aceitar todas as suas condições para não machucar ainda mais sua pequena, ele não queria ficar distante dela.

Não havia muito que eu pudesse fazer, mas fiz questão de demonstrar que o ajudaria em qualquer coisa que ele precisasse.

Notei que Edward ficava um pouco incomodado sempre que eu falava sobre ele, mas ele era meu único amigo no trabalho. Não havia como remediar isso. Minha esperança era de que Edward iria acabar se acostumando com isso e as tensões passariam.

~*~

Só notei que vinha perdendo contato com Jacob quando ele ligou convidando Edward e eu para sermos padrinhos do seu casamento com Leah Clearwater. Eu sabia que eles estavam namorando, mas não imaginava que fosse sério a esse ponto.

O casamento fora bem simples, realizado na praia, estando não só os noivos, mas todos os convidados com os pés descalços.

Foi uma cerimônia diferente, mas foi espetacular.

Eu estava muito feliz pelo meu amigo e fiquei feliz em ver que as tenções entre Edward e ele estavam diminuindo.

Eu esperava que seu incômodo com Max também passasse em algum ponto.

~*~

Levou um tempo para notar que eu e Edward estávamos nos desencontrando. Dormíamos em horas diferentes, acordávamos em horas diferentes, íamos a lugares diferentes, comíamos em horários diferentes...

~*~

Em meio aos sucessos nos trabalhos e os desencontros da rotina, tiramos uma folga para comemorar nosso primeiro aniversário de casamento. Como se fosse uma segunda lua de mel.

Paris, cidade luz.

Passávamos a maior parte do tempo no hotel, com a desculpa do frio, apenas curtindo um ao outro.

Fizemos alguns passeios. Andar nas calçadas parisienses era como estar desfilando.

Na nossa última noite fomos a um restaurante que Rose havia indicado. O resultado fora catastrófico, já que a culinária francesa não era apreciada por nenhum de nós.

Edward estava sem graça pela escolha e eu estava sem graça por não conseguir animá-lo.

Fomos andando pela rua e caminhar ao lado dele estava tão bom que não me atrevi a lembrá-lo de acenar para os taxis que passavam.

Vi um pouco de longe um músico tocando violino solitariamente na rua. Nós nos aproximamos e eu estava encantada pela magia dos ares e dos sons da cidade.

Sem sinal prévio, Edward me puxou contra ele e, quando dei por mim, estávamos dançando no meio da rua.

Eu estava tão encantada pela atmosfera a nossa volta, por finalmente fazer uma conexão leve com Edward, que não me permiti pensar no que as pessoas pensariam e me entreguei ao momento com ele.

Me perdi no verde dos seus olhos sem a menor vontade de me encontrar. Eu queria que aquilo durasse para sempre.

Só voltei à realidade quando ouvi aplausos e vi que havia algumas pessoas a nossa volta, admiradas.

Um rapaz, que felizmente falava nossa língua, veio nos mostrar uma fotografia nossa que ele havia tirado e se ofereceu de nos enviar.

Agradecemos várias vezes, Edward deixou várias moedas para o músico, assim como outras pessoas a nossa volta, e fomos para o nosso hotel com o humor renovado.

~*~

De volta ao trabalho, as coisas corriam ainda melhor.

A assistente pessoal de uma das colunistas estava para entrar em licença maternidade e eu fora chamada para substituí-la por esse tempo.

A moça era um anjo e me ensinou tudo adicionando dicas de como lidar com minha futura chefe.

Quando ela finalmente voltou, entreguei seu posto e, surpreendentemente, fui promovida a redatora. Foi um salto tão grande que cheguei a ficar um pouco tonta.

Max também estava se saindo bem no trabalho e, ao que parecia, a pior parte do seu divórcio já tinha acabado.

Foi nessa época que os eventos começaram a surgir para mim. Eu precisava estar atenta a tudo, mostrar que eu era capaz de ir aos lugares, socializar, estar atenta e capaz de escrever sob o ponto de vista da minha parte do jornal.

Infelizmente, nessa mesma época Edward estava se esforçando em casos complicados no seu próprio trabalho e não era sempre que ele poderia me acompanhar. Era ruim ir sozinha e eu não queria ser egoísta ao ponto de pedir que ele trocasse o tempo que ele poderia dedicar ao seu trabalho pelo tempo que eu dedicaria ao meu.

Eu queria muito que ele fosse, até mesmo para ter mais contato com ele, mas seria muito egoísmo insistir. Em sua defesa, ele tentava, mas em todas as vezes houve algum contratempo, atrasos, necessidade de sair mais cedo e, até mesmo, cancelamento de última hora, me fazendo ir sozinha.

Milagrosamente, Max também tinha problemas com eventos, já que também não tinha quem levar, apesar dos motivos serem diferentes.

Acabamos fazendo um acordo de ajudarmos um ao outro com essas situações.

Eu percebi que Edward não ficara feliz, mas era a melhor solução para todos nós e acabei achando melhor ignorar seus incômodos do que abrir espaço para novas discussões.

~*~

Houve um dia, no entanto, em que o descontentamento de Edward passara dos limites.

Fora um dia cheio, rendendo muitas dores de cabeça e, para piorar, Max estava tendo complicações em combinar suas férias com as de sua filha, já que a mãe da menina queria leva-la para uma viagem, tomando parte dos dias que Max teria com ela.

O evento, no entanto, era importante demais para deixar qualquer uma dessas coisas atrapalhar nossa ida.

Eu tinha um mantra de que, quanto pior meu humor estivesse, mais apresentável eu deveria estar. Contando com as tensões em casa, as dificuldades no trabalho e a sensação de impotência por não conseguir ajudar um amigo, eu me dediquei ao máximo a minha aparência.

Uma mulher um tanto embriagada tentou se aproximar de Max, fazendo propostas indecentes, para piorar ainda mais o dia.

Tentando ser sutil e cavalheiro, ele me puxou para perto, informando-a de que não estava disponível. Suavemente passando uma mensagem clara de que não estava interessado.

Algum tempo depois vi uma mancha de cabelos cor de cobre pela multidão. Meu coração acelerou ao ver que Edward viera a um dos meus eventos.

Tive que terminar de ouvir a piada que algum socialite contava, antes de ir falar com ele. Marquei o lugar onde ele estava e notei que a mesma mulher que tentara se aproximar de Max estava atrás dele. Contei até dez mentalmente tentando me impedir de empurrá-la para longe dele.

Voltei a dar atenção ao velhinho socialite chato com quem eu conversava, mas fui brutalmente interrompida quando um Edward claramente raivoso colocou seus braços em volta da minha cintura.

– Oi, amor, desculpe o atraso. – suas palavras eram carinhosas, mas seu tom era sério.

– Você tem uma joia rara, rapaz! – comentou brincalhão o velhinho ao qual eu vinha ouvindo.

– Eu sei. Não poderia ficar mais feliz do que estou em ser marido dela. – ele disse me puxando para ainda mais perto, como se tentasse marcar território.

– Claro. – o senhor concordou um tanto sem graça, para logo depois fazer um pigarro – Se me derem licença, eu preciso cumprimentar um velho amigo.

– O que diabos você pensa que está fazendo? – perguntei em voz baixa, mas sem conseguir segurar minha raiva.

Eu estava tão perto de conseguir formar uma boa impressão para o tal velhinho!

– Te acompanhando em seu evento. – ele respondeu sarcasticamente e isso elevou minha raiva a um patamar inédito.

– Edward, você precisa ir embora. – pedi tentando controlar minha raiva.

– Por quê? Você não me quer por perto nos seus eventos? – ele perguntou inundando suas palavras com seu deboche.

– Por favor, Edward! – implorei.

– Não! Eu sou seu marido! É meu dever te acompanhar! – ele falou como quem comanda algo.

Fui para a saída sem me importar se ele me seguia ou não. Eu estava tão puta naquele momento que o melhor seria deixar tudo de lado.

Seriam diversas oportunidades perdidas indo embora, mas era melhor perder oportunidades do que perder o pouco reconhecimento que eu já havia conquistado.

~*~

Em meio a muitas discussões, desacordos, brigas e alguns tratamentos de silêncio, encontramos algum tempo para comemorarmos nosso aniversário de casamento.

Por indicação de Alice, que morrera de ciúmes por seguirmos indicação de Rose na última viagem, fomos para Londres.

Foi ótimo finalmente estar em um país diferente, mas conseguir entender e ser entendida. Saber o idioma do local onde estávamos fazia toda a diferença.

Além disso, o charme londrino era quase palpável.

Foi novamente uma viagem que aproveitamos imensamente. Passávamos muito tempo juntos, conhecendo lugares novos, fazendo passeios, visitando todos os pontos turísticos que a capital inglesa pudesse nos oferecer.

– Edward, eu preciso de um doce! – choraminguei tentando interromper nossa caminhada infinita para satisfazer meus desejos por açúcar.

– Certo, vamos almoçar primeiro, tudo bem? – ele falou como quem fala com uma criança, com aquele jeito todo amável e fofo.

– Sim, mas vamos agora! – falei ainda fazendo manha. Era mais forte do que eu.

Ele apenas riu e concordou.

Quando percebemos, estávamos em frente a uma placa de restaurante. Era um prédio, e fomos indicados ao elevador, para subir para o último andar.

Chegando lá, fiquei encantada com a vista impressionante. O restaurante tinha paredes de vidro, que me faziam lembrar da nossa sala de estar.

Sentamos para almoçar. A comida estava deliciosa, realmente, mas eu só conseguia pensar na sobremesa.

Quando finalmente recebi meu brownie com sorvete cremoso, chantilly e calda quente de chocolate, eu estava no céu.

Não consegui evitar soltar alguns sons enquanto comia, fazendo com que Edward risse de mim. Ele quase não comia, preferindo me assistir.

Quando terminamos, fomos para a varanda do restaurante aproveitar o ar gostoso e observar a paisagem.

– Uau! – suspirei depois de um tempo olhando.

– Nós temos algo bem parecido em casa. – ele comentou, mas eu sabia que ele também estava encantado com a vista.

– Nós quase não aproveitamos. – comentei.

– É verdade. – ele respondeu.

– Você trocaria isso? – perguntei.

– Trocaria o que? – ele perguntou sem entender.

– Nosso apartamento com aquela vista linda. – expliquei.

– Trocar pelo quê? – ele ponderou.

– Não sei... Por uma casa com grama na porta, uma piscina cavada, ao invés de montada, churrasqueira nos fundos... Vizinhos chatos do outro lado do muro... – comentei imaginando.

– Uma casinha para o cachorro e espaço para as crianças brincarem? – ele perguntou.

Por um instante achei que ele estivesse brincando, mas ao olhar para seus olhos vi o quão sério ele falava.

– Cachorro e crianças? – perguntei sem saber ainda como reagir àquelas possibilidades.

– Vai acontecer algum dia, não vai? – ele perguntou e, pela intensidade em seus olhos vi que ele realmente queria isso para nós.

– Vai. – respondi sorrindo.

– Quando? Agora? – ele perguntou e me perdi naquela imensidão verde dos seus olhos.

– Não sei se estamos prontos. – falei cedendo ao impulso de morder o lábio.

Eu ainda me sentia extremamente jovem e insegura, apesar de saber que Jacob, que era mais novo do que eu, já estava começando a aumentar sua família.

– Tudo bem. – ele respondeu sereno – Você vai saber quando estivermos.

– Mais um ano! – defini – Apenas o suficiente para nos estabilizarmos.

Seu sorriso foi esmagador.

– Já posso nos imaginar com uma menininha com seus olhos e cabelo. – ele falou, me olhando com aquele olhar de que nada no mundo era mais importante.

– Você quer uma menina? – perguntei espantada, recebendo um aceno sorridente.

Eu não tinha preferências, mas nunca imaginaria que Edward iria querer uma menina. Sempre pensei em homens querendo meninos. Esse era Edward, é claro.

– Tudo bem, mas vai ter seus olhos e seu cabelo. – argumentei.

– Que tal seus olhos e meu cabelo? – ele perguntou com um sorriso torto.

– Certo. Meus olhos e seu cabelo. – cedi.

Ele estendeu sua mão, pegando a minha para irmos embora.

Atrás de nós, havia uma garota pintando a paisagem apenas com lápis. Todo seu desenho se resumia em jogos de luz e sombra.

Quando passávamos, ela nos estendeu um dos papeis com seus desenhos. Ali estávamos Edward e eu, olhando um para o outro, planejando nosso futuro.

~*~

Voltamos da nossa viagem e a realidade pareceu nos bater novamente.

Estávamos ainda mais afastados.

Edward começara a passar por uma crise na empresa e ficava cada vez mais tempo enterrado em trabalho, muitas vezes precisando viajar de surpresa.

Nós não tínhamos tempo um para o outro, Edward nunca estava presente e eu só conseguia imaginar que a cada momento que ele não estava comigo ele estaria com alguma outra mulher.

Discutíamos e brigávamos a cada vez que eu ia a algum compromisso com Max e ele não aceitava minhas desconfianças quando eu o via com alguma colega de trabalho ou conhecida, ou mesmo quando ele precisava viajar para encontrar alguma advogada...

Vivíamos em meios diferentes, com rotinas completamente diferentes, sem conseguir encontrar espaço para nós mesmos.

~*~

As coisas no jornal também estavam movimentadas.

Eu agora tinha a minha própria secretária. Ela era baixinha e me lembrava um pouco Alice, se não tivesse a personalidade oposta.

A menina conseguia ser minha salvação nos mais diversos momentos e acabou se tornando minha amiga.

Comecei a perceber que ela tinha uma certa quedinha por Max, e qual não foi a minha surpresa ao ver que ela era correspondida. Os dois estavam perdendo tempo em segurar isso.

~*~

Edward saíra para mais uma viagem. Nós mal nos despedimos, querendo evitar a tensão por eu não querer que ele fosse e por ele se irritar por eu não querer que ele fosse.

Acompanhar a paixonite entre Bree e Max me fizera pensar sobre meu relacionamento com Edward. Eu queria fazer algo por nós, arrumar um tempo para nós, mas a viagem surgiu e todo meu planejamento foi por água abaixo.

Eu estava desanimada no trabalho e Max notou.

Eu sabia o quanto ele odiava os problemas que eu tinha com Edward, especialmente por saber que, querendo ou não, ele fazia parte deles.

Max deu a ideia de sairmos, nos distrairmos um pouco, bem no momento em que Bree entrava em minha sala. Era a oportunidade perfeita.

Concordei em ir e a convenci a ir conosco, como se fosse um happy hour.

Eu passei a noite inteira cercando a menina, impedindo-a de sair correndo, convencendo-a a ficar por mais meia hora a cada meia hora, até que finalmente ela e Max tiveram seus breves momentos a sós.

Fui ao bar para dar alguma privacidade a eles e um golpe de solidão me bateu. Eu queria estar com Edward.

Algum tempo depois os dois vieram até mim para irmos embora. Max me deixou em casa primeiro e pude ver alguns traços de aproximação entre os dois.

Qual não foi a minha surpresa ao descobrir que Edward havia voltado para casa!

Eu estava imensamente feliz, mas ele estava amargo.

– Onde você estava? – ele perguntou sem rodeios.

– Eu saí com alguns amigos do trabalho. – respondi um tanto ferida pela sua hostilidade.

– Certo. – ele respondeu.

Estranhei que ele não tivesse perguntado mais. Geralmente ele insistiria em saber de tudo, detalhe por detalhe, até que estivéssemos gritando um com o outro.

O silêncio dessa vez fora pior que os gritos.

~*~

Havia algo ainda mais errado entre nós, mas eu não conseguia descobrir o que era.

Alguns dias depois que nosso relacionamento tornou-se silencioso, Rose me telefonou desesperada.

– Bella! Eu preciso conversar com você! Você está em casa? – ela perguntou ofegante.

– Rose! O que aconteceu? – perguntei assustada com seu tom – Estou em casa.

– Ótimo! – ela respondeu e desligou.

Edward já havia saído.

Liguei para Bree avisando que iria me atrasar.

Rose chegou ainda nervosa.

– Bella, eu estou desesperada! – ela disse agarrando minhas mãos como se pudessem salvá-la.

– O que houve? – perguntei louca com seu desespero.

– Eu acho que eu posso estar grávida! – ela disse com os olhos arregalados.

Já havíamos passado pela esperança muitas vezes e até agora nada havia dado certo. A diferença é que antes Rose estava sempre feliz e acreditada, mas agora parecia assustada.

– Isso não deveria ser uma boa notícia? – perguntei sem entender o que estava acontecendo.

– Você não entende! Eu posso sentir que estou grávida! É muito mais do que em qualquer outra vez. Dessa vez é tão real que assusta! – ela dizia cheia de uma emoção inédita em Rose.

– Tudo bem, calma. – respondi tentando controlar a situação – Vamos fazer um teste.

Encomendei um teste de gravidez em alguma farmácia de entrega rápida.

Mal o entregador veio e Rose já correu com sua encomenda para o banheiro. Os minutos pareceram horas.

Eu não sabia se veria minha amiga sair do banheiro com o rosto realizado ou desiludido.

Me surpreendi ao ver que ela voltara com a mesma expressão de antes.

– Inconclusivo. – ela declarou simplesmente.

Envolvi meus braços a sua volta.

– Ainda há esperança. – a animei.

– Eu tenho tanta certeza! – ela disse como se nem ela mesma compreendesse suas palavras.

– Você já foi ao médico? Talvez o exame de sangue seja mais confiável. – opinei.

– Sim, eu vou fazer isso. – ela respondeu se levantando – Vou fazer isso agora! Obrigada, B!

Com isso, ela voou para fora, sem me dar a chance de me oferecer para ir com ela.

Guardei seu exame na minha bolsa, pensando na possibilidade dela voltar a me procurar para pegá-lo caso o médico pedisse. Mesmo depois de todo esse tempo apoiando Rose, eu ainda não entendi muito sobre o assunto.

Eu só podia torcer pela minha amiga.

~*~

Naquele mesmo dia, quando cheguei em casa, Edward milagrosamente já estava lá, vestido em sua calça de pijama, arrumando a mesa para que tivéssemos um jantar.

Eu estava mais do que feliz. Fui tomar um banho antes de me juntar a ele, mas quando voltei para a sala, a atmosfera havia se transformado completamente.

– Eu precisava de trocado para dar de gorjeta ao entregador, então eu fui procurar na sua carteira e achei isso – Edward falou com uma voz dura.

Quando me aproximei para ver o que era, vi o exame de gravidez de Rose em sua mão.

Estava me preparando para explicar a ele que Rose pedira segredo e por isso eu nunca havia mencionado nada, mas antes disso ele me surpreendeu com suas palavras seguintes.

– Por que você precisa de um teste de gravidez, Bella? – ele perguntou duramente.

A realidade me bateu forte. Edward não descobrira que Rose vinha tentando engravidar. Edward achava que eu o estava traindo.

– O que te faz pensar que é meu? – confrontei.

– Pelo amor de Deus! Estava na sua bolsa! – ele gritou se levantando do sofá.

– E por que diabos você foi mexer na minha bolsa? – gritei de volta.

– Responde logo, Bella! Você vem me traindo? – ele gritou se aproximando, raiva transbordando em sua voz.

– Pelo amor de Deus, Edward! Chega disso! – gritei me afastando dele – Eu não aguento mais você vindo com essa possessividade!

– Então nega, Bella! Nega que você me traiu! – ele gritou agarrando meus braços.

– Eu não acredito que chegamos ao ponto em que você precisa que eu negue isso para você! Eu nunca te dei motivos para desconfiar! Ao contrário de você, com todas as suas viagens surpresa, sem saber quando voltar! – respondi magoada.

– Então é isso. – ele respondeu com a voz neutra – Você nem ao menos consegue mentir, não é? Então você foge. Muito bem, mas agora quem sai sou eu.

Com isso, ele foi, para o nosso quarto, puxando roupas ao acaso para vestir.

– Você sempre vira a acusação pra mim, não é? – ele perguntou retoricamente cheio de raiva e mágoa – Não se preocupe, hoje ainda eu torno suas acusações legitimadas.

Dizendo isso, ele saiu, me deixando sozinha com meus pensamentos.

Como nós chegamos a esse ponto?

~*~

A comida ainda estava sobre a mesa da sala, mas eu não conseguia sequer olhar para ela.

Pelo cheiro, eu sabia que ele havia pedido comida italiana, que era a minha favorita.

Eu deveria ter aberto mão do segredo de Rose, evitando que isso acontecesse.

Ri do meu pensamento. Eu deveria ter agido muito antes para evitar que isso acontecesse.

Eu não deveria ter permitido o nosso afastamento. Eu não deveria ter me permitido ser tão focada no trabalho. Eu não deveria ter aberto mão dos nossos momentos tão facilmente.

Eu estava sentada no balcão da cozinha contemplando cada momento em que eu poderia ter feito alguma coisa para mudar nossa realidade atual. Os arrependimentos eram incontáveis.

Eu parei de olhar no relógio quando se passaram das 3 da manhã.

Tentei ir dormir, mas nossa cama era vazia sem ele. Fui para a varanda, mas a paisagem era solitária sem ele. Fui tomar um banho, mas até os azulejos pareciam frios demais sem ele.

O sol apareceu e finalmente foi hora de sair de casa.

O trabalho me esperava e não havia formas de voltar atrás. Já estava feito.

Contemplei a ideia de ir dirigindo, mas logo abandonei as chaves no chaveiro da cozinha, onde passei a maior parte da noite. Pegar um taxi seria mais seguro.

~*~

Dei o máximo de mim para conseguir me focar no trabalho.

Separar a emoção da razão. Eu vinha me tornando uma especialista nisso, de qualquer forma.

Reunião atrás de reunião...

Finalmente chegou a hora do intervalo para o almoço.

Eu costumava pedir alguma coisa na minha sala, mas de repente eu precisava caminhar.

Resolvi ir até uma cafeteria próxima, que ficava em uma ruazinha pouco movimentada, comer um sanduíche e conseguir algo doce. Eu realmente precisava de um chocolate.

Senti meu celular vibrar e grunhi internamente deduzindo que já seria alguém do jornal me procurando.

Puxei da bolsa e ignorei a chamada. Me espantei ao ver que havia uma mensagem de voz de Edward, deixada durante essa madrugada. Eu provavelmente estava perdida demais em arrependimentos para notá-la.

Disquei e aguardei para ouvir a mensagem. Ele estava claramente bêbado, multiplicando meus medos do que estava por vir.

“Bella? Por que você não me atende?

Você está me traindo, Bella? Como se eu pudesse reclamar... É tudo culpa minha. Você não estaria pensando em outro homem se eu te desse o amor que você merece.

Eu te odeio , Bella!

Você não sabe o quanto! Você não tem ideia do quanto eu tentei! Eu acho que posso até estar um pouco bêbado. Foram tantas bebidas... Tantas mulheres... Até strippers!

E eu não consegui te trair com nenhuma delas porque eu sei que nenhuma delas jamais vai ser como você!

Eu te odeio, Bella, porque você me marcou para sempre e eu te odeio porque eu te amo como eu jamais vou conseguir amar alguém.

Eu me odeio mais, Bella, porque eu consegui estragar tudo.

Eu te amo, Bella.”

A chamada acabou e eu estava em parada no meio da calçada em estado de choque.

Eu queria rir e chorar. Eu queria correr para ver Edward, mas também queria ligar para ele antes. Eu estava sem reação.

Foi quando aconteceu.

Senti mãos desconhecidas me segurando e algo gelado na minha lateral.

– Não se atreva a tentar qualquer coisa. Quietinha aí – falou uma voz de homem completamente desconhecida – Aja naturalmente, finja que me conhece.

Olhando para baixo, descobri que era uma arma que ele tinha contra mim.

– Muito bem, agora bem devagar, você vai passando tudo para o meu amigo. – ele continuou falando e vi que havia outro rapaz próximo a nós – Vamos, eu quero todas as jóias.

Fui entregando minhas pulseiras, o colar e os brincos.

– Os anéis também. – ele comandou e logo entreguei os anéis que eu usava – A aliança também.

Travei por um momento, querendo manter aquele símbolo, mas o aperto da arma contra a minha cintura me alertou e fiz o que ele mandou.

– Muito bem. – respondeu o outro rapaz, que recebia tudo de mim – Agora a bolsa.

Entreguei a ele, que a abriu pegando a carteira.

– Mas que merda, cara! – o homem com a arma gritou – Nada de celular e cartões! Já falei com você! Essas merdas podem ser rastreadas.

O rapaz empurrou a bolsa de volta para mim, mas continuou discutindo.

– Podemos ser rápidos! – argumentou.

Enquanto os dois debatiam, vi que um carro vinha. Era a minha chance.

Surpreendi os dois e consegui alguns segundos de vantagem enquanto corri para o meio da rua, sinalizando para o carro que vinha.

Percebi tarde demais que o motorista estava olhando alguma coisa no banco de trás e não me veria.

Senti o carro me atingindo e uma dor forte da minha cabeça.

Pontos escuros foram surgindo e eu só conseguia pensar em não querer morrer.

Eu queria uma chance de concertar as coisas com Edward. Eu queria uma chance de voltar atrás e fazer as coisas darem certo. Eu queria uma chance de realizar os nossos planos para o futuro.

Se eu pudesse, eu voltaria no tempo, quando ainda nem nos conhecíamos, antes mesmo de ir para Forks, e faria tudo diferente. Se eu pudesse, eu recomeçaria nossa história do zero e faria o possível para passar pelas nossas dificuldades como um casal, e não cada um ao seu modo.

Eu só queria uma chance de voltar no passado e concertar a nossa relação.

Foi com esse pensamento que deixei a inconsciência me levar.


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Notas finais do capítulo

Novamente, eu espero ter alcançado as expectativas! rsrsrsrs
Lembrando que daqui pra frente é com vocês!
Meu planejamento original da fanfic acabou, então dependendo do número de comentários vou saber se é melhor acabar logo a história ou se vocês aguentam mais alguns acontecimentos para fechar com chave de ouro!
Espero ver vocês nos comentários!
Beijinhos!