Capítulo 46 - Erika Foster

- Acha que ele vai ficar bem? – pergunto ao James, conforme me aproximo de onde ele está agachado, limpando alguns ferimentos que Thomas adquiriu na cabeça com seu mergulho mortal.

- O grandão é forte. – ele me garante com um sorriso. – Vai se recuperar logo. – e se levanta para olhar além do meu ombro. – Como está o Howard?

- Aparentemente, segurando uma vela entre o Luke e a May. – digo-lhe enquanto observo Mayday e Luke trocarem um beijo de despedida. – É verdade?

James parece confuso com a minha pergunta.

- Sobre o quê?

- O que Luke disse. É verdade que você me ama?

O rosto de James adquire uma coloração tão vermelha quanto sangue. Seus músculos se retraem e ele começa a morder seus lábios nervosamente.

- Depende... O que você diria?

Eu me aproximo dele e pouso ambas as mãos sobre seu peito. Posso sentir seu coração bater rapidamente ao mesmo tempo em que seus olhos estudam meus movimentos. Esticando-me na ponta dos pés, eu o beijo, tentando fazê-lo desistir de sua posição na defensiva e tentar trazer James para o meu lado. No começo, sinto que minhas tentativas são frustradas, porém, após alguns segundos roçando seus lábios nos meus, ele finalmente cede e começa a me beijar ferozmente. Sua língua explora cada canto da minha boca enquanto suas mãos acariciam meus cabelos. Seu toque me faz sentir nas nuvens e é quase um sacrifício separar minha boca da dele.

- Eu diria que o sentimento é recíproco. – respondo com um enorme sorriso.

Com uma alegria incontrolável nos lábios, James sussurra em meu ouvido.

- Então, sim, eu amo você, Erika Foster, desde o momento em que coloquei meus olhos em você, eu desejei que fosse minha.

Escuto aplausos virem detrás de James, e quando me ajeito para ver quem é, vejo Luke Barton fingir limpar uma lágrima dos olhos.

- Parece que o ultimo capítulo da minha novela preferida, “O amor secreto entre a velha precoce e o ego americano” chegou ao capítulo final. – ele comemora. – Enfim os dois decidiram aceitar seus sentimentos e viverem felizes para sempre.

- Cala a boca, Luke. – James e eu ordenamos ao mesmo tempo, fazendo Luke soltar uma risada de puro divertimento.

- Acabem logo com as despedidas, temos que ir logo, Erika. – e se afasta de nós dois.

- Despedida? – James questiona. – Para onde vocês vão?

Mordo meus lábios.

- Temos que parar o Eldred antes que algo pior aconteça...

- Eu vou com vocês.

- Não. – eu falo. – Você tem que ficar aqui e ajudar Mayday a cuidar do Howard e do Thomas.

- Mas... – ele tenta contra argumentar, mas meu olhar o silencia.

 – Luke e eu estamos em melhor condição para enfrentarmos ele. Tem que confiar em nós.

Meu pedido faz James ponderar seus pensamentos, como se estivesse decidindo se iria ou não me permitir partir para travar uma luta tão perigosa quanto a que acabamos de enfrentar, mas dessa vez, apenas Luke e eu teríamos que dar conta do recado.

- Fique inteira.

- Pode deixar.

- Isso não foi uma sugestão, entendido? – sou questionada por sua voz séria e firme.

Bato continência.

- Sim, senhor. – e ele me beija mais uma vez, antes de eu ir ao encontro de Luke, e juntos, quebramos uma das paredes e seguirmos em frente.

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- Quem diria que no final das contas a guerra me juntaria com a Mayday e você com o James? – o comentário repentino de Luke Barton me faz revirar os olhos.

- Acho que está mais para iminência de morte. – Luke pensa por alguns segundos enquanto eu continuo meu raciocínio. - Não faz sentindo permanecer na retaguarda quando se pode morrer a qualquer segundo.

- Tipo agora?

- Tipo agora.

Ficamos em silêncio por um tempo depois da nossa rápida e superinteressante conversa. Porém, eu tive que completar com algo que não sai da minha cabeça.

- Cuide bem dela, Luke. – eu o advirto com o tom mais sério que consigo transmitir. – Mayday pode ser descontraída por fora, mas ela é delicada como vidro por dentro.

Luke nada responde, apenas continua a caminhar ao meu lado.

Estamos no meio de um corredor escuro e mais frio que o resto do castelo. As paredes estão todas rachadas e o chão escorregadio, fazendo eu me desequilibrar diversas vezes enquanto caminho. Segundo Luke aqui é o lugar que ele foi informado onde Eldred e nossos pais estariam - enquanto estava morto.

Não tentei tocar no assunto do seu retorno, pois sei que não é algo fácil de falar.

Meus pensamentos não param por nem um segundo. Primeiro vem a imagem de Howard e Thomas, ambos caídos no chão com seus membros cobertos pelo próprio sangue. Logo em seguida vejo Mayday e James cuidando dos dois, dando o máximo de si para manterem os dois feridos conscientes. Tudo muda e Eldred está na minha cabeça. Seus olhos verdes acastanhados me encaram com prazer, enquanto seus lábios se retraem num sorriso torto. E para terminar, todos os sete vingadores me assombram.

Se os salvássemos, como eles reagiriam? O que diríamos?

“Olá, somos seus filhos! Sim, provavelmente vocês devem estar confusos, mas acho que é normal após ficar dormindo durante dezessete anos por causa de uma macumba do Loki. Mas sem problemas! Vamos juntinhos derrotá-lo juntamente com seu exército e o Thanos de brinde! E aí, quem tá dentro?”

É, isso vai ser interessante.

- Você escutou isso? – Luke me pergunta, trazendo-me de volta para nossa presente situação. Nego, e então ele aponta para o chão. – Não gosto disso.

E quando ele acaba de falar o solo começa a rachar e logo nós caímos. Por sorte, meu parceiro serve como um perfeito colchão.

- Valeu, Erika. – escuto ele me agradecer enquanto tosse.

- Foi mal. – observo o lugar a nossa volta, ou pelo menos tento, já que tudo está coberto pela escuridão.

- Ah, não se incomode em se levantar tão cedo. – Eldred me diz com sua voz detestável. Num instante eu já estou de pé à procura de sua forma em meio às sombras. – Vai cair em breve.

 - Apareça! – eu grito.

- Não temos medo de você. – Luke faz o favor de complementar. – Seu covarde miserável.

- Luke Barton. – e então ele sai de seu esconderijo, relevando para nós um Eldred vestido com seu traje de combate parecido com o do próprio Loki. – Não esperava revê-lo.

Nós dois nos preparamos para a pancadaria. Luke com o arco e eu com meus... Punhos.

- É mesmo? Pois eu tenho que dizer que alguém está esperando por você. – ele mira uma das flechas no meio da testa do desgraçado. – E ela não está nem um pouco feliz.

Mesmo não entendo nada do que Luke diz, vejo o sorriso de Eldred vacila por um segundo, tempo suficiente para eu registrar o medo em sua face.

- Então você virou um pau mandado da minha irmã? – sua voz transborda desdém. – Diga-me, Luke, esse acordo foi impulsionado pelo quê? O maldito do seu pai ou sua vagabunda ruiva?

Imediatamente, ele lança uma flecha contra Eldred, que usa a escuridão a seu favor e desvia do ataque, desaparecendo do nosso campo de visão.

- Ah, humanos... Sempre tão previsíveis. – e então, uma enorme carga elétrica me atinge de uma maneira tão forte que sinto o cheio da minha pele queimada penetrar fortemente em minhas narinas. Um urro de dor corta a minha garganta e eu cedo à dor, caindo no chão. – Isso é para provar que você não é digna de dividir o sangue asgardiano, Erika Foster. Você não passa do resultado entre Thor e sua meretriz terráquea. Talvez de fato tenha um pingo do sangue dos deuses, mas para mim continua sendo uma humana fraca e tola.

- Erika! – Luke grita e vem tentar me ajudar a levantar.

Tento recolher qualquer coisa da memória que eu possa usar a meu favor. Penso nas aulas de combate que tive com James, Thomas e Luke, em todas as armas que aprendi a manusear e, por fim, no arquivo que Nick Fury nos mostrou sobre nossos pais. Procuro me focar somente em Thor, o meu pai, e tentar achar alguma habilidade que ele possua que talvez eu tenha herdado.

Poder sobre os relâmpagos e trovões? Nop... Pelo menos não que eu saiba.

Martelo mágico? Também não.

Super-força? Sim! Mas de nada vai me adiantar agora que estou mais tonta que um bêbado em noite de ano novo.

Penso mais um pouco e então uma informação me acerta tão forte quanto ser atropelada por um trem. Era algo sutil, tão pequeno que se eu não tivesse lido enquanto Fury me explicava sobre o meu pai, eu jamais saberia.

“Sua arma, o poderoso Mjolnir, sempre voltará para suas mãos ao seu comando, não importando a distância ou lugar. O martelo sempre retorna.”

Se Mjolnir pode voltar para as mãos do meu pai, será que Torden virá até mim?

Ergo uma das minhas mãos e penso: “Torden, venha!”.

No começo, nada. Fico apenas parada, esperando que algo aconteça.

- Erika? O que você está fazendo? – Luke me pergunta enquanto tenta localizar Eldred. – Mímica?

É então que eu escuto. Várias paredes sendo derrubadas até que minha espada, a reluzente Torden, trazendo consigo um pedaço do chão onde eu a havia deixado, vem para minhas mãos e eu quebro o gelo ao seu redor com um aperto.

- Impossível! – Eldred grita, indignado. – Ela deveria estar na sala com as outras!

Sua exclamação faz Luke localizar o alvo, e com um sorriso, viramos o jogo a nosso favor.

- Engole essa. – e atira uma flecha corrosiva no filho de Loki, que revida atirando fogo em nossa direção. - Com Torden, eu consigo bloquear o feitiço e, assim, salvando a pele do Luke de também ser torrada. - Algum plano?

- Dividir e conquistar?

Eldred nos ataca com mais magia, aumentado gradativamente a força dos feitiços.

- Acho que prefiro dividir e matar.

- Feito!

E nós dois corremos para lados opostos, fazendo com que Eldred, sem muita alternativa, seguisse um de nós, e como Luke de repente sumiu, o maldito vem atrás de mim. Assim que estamos próximos, eu ergo a espada enquanto ele ataca sucessivamente com seus punhos fechados e ampliados com mais algum truque de mágica.

Seus socos são fortes e violentos, fazendo-me muitas vezes me desequilibrar e quase cair. Mas me mantenho firme, pressionando ambos os pés no chão para me sustentar enquanto revido, tentando cortá-lo com a lâmina afiada de Torden.

- Sua espada pode ser forjada pelos anões ferreiros e ostentar um poder tão grande quanto o próprio Mjolnir. – Eldred senta me acertar com um gancho de esquerda, mas eu consigo desviar a tempo de não ter a cara deformada. – Mas você não é capaz de manuseá-la.

Irritada, eu avanço furiosamente contra Eldred, tentando achar algum ponto fraco para acertá-lo, mas foi uma tentativa em vão. Infelizmente o desgraçada é bom, e como Luke aparentemente se cansou de lutar e foi tomar chá com Alice em seu País das Maravilhas, tenho que pensar em algo para fazer Eldred cansar.

O problema é que quando eu mais preciso, meu cérebro decide agir igual ao do Homer Simpson, o que é uma droga.

Com um golpe preciso (de pura sorte) eu acabo acertando o olho esquerdo de Eldred, perfurando seu rosto até o maxilar. Ele recuar para trás e toca no local ferido, olhando para o próprio sangue com aflição.

- Vai pagar por isso, sua vaca nojenta. – e avança vorazmente, dessa vez, me acertando em cheio no abdômen. Seu golpe é tão poderoso que me lança contra a parede.

Imediatamente sinto o sangue escorrer pelas minhas costas e se acumular na minha boca. Seu gosto metálico me faz ficar enjoada enquanto eu esputo o líquido vermelho sem parar. Em meio a minha tontura eu vejo a figura de Eldred se agachar perto de mim. Seus olhos de gato me fitam com prazer ao mesmo tempo em que uma das mãos vira o meu rosto para si.

- Eu disse que você não teria a menor chance comigo, Erika. – ele ergue novamente seu punho, obviamente querendo que eu me desespere e implore por misericórdia. Há! Ele que espere sentado num sofá bem confortável. – Nunca deveria ter vindo para cá. – com uma mão livre, Eldred me bate novamente contra a parede, arrancando um enorme urro de dor dos meus lábios. – Agora é tarde. Mesmo com seus pais estando aqui, nessa sala, você jamais será capaz de salvá-los. Isso não é frustrante?

Enquanto Eldred me ameaça, percebo que Luke está disfarçado por entre as sombras, se aproximando devagar de nós dois. Assim que nossos olhos se encontram, ele faz um gesto e de imediato eu entendo seu plano.

- Vá pro inferno. – digo ao filho de Loki num suspiro enquanto largo Torden.– E leve suas malditas ameaças com você! - logo reúno todas as minhas forças restantes para me fazer levantar rapidamente e prender seus braços contra o meu corpo, imobilizando-o por completo.

Imediatamente sou banhada por mais sangue. Para ser mais específica: pelo sangue da garganta perfurada de Eldred.

Luke volta a sua forma normal, seu arco ainda em mãos e apontando outra flecha para Eldred, que caí sobre os joelhos enquanto tenta tirar a flecha que lhe danificou mortalmente as vias respiratórias. Assim que chega perto o bastante do filho de Loki, Luke se abaixa para fitá-lo com um imenso prazer.

- Agora estamos quites. – e admira por mais alguns segundos, a agonia de Eldred em tentar respirar. O sangue que não para de pingar do lugar rasgado e por sua boca faz Luke rir, deliciando-se com sua dor. – Diga a sua irmã que mandei lembranças. – e quebra-lhe o pescoço.

Assim que o corpo imóvel bateu no chão, eu pude sorrir depois de muito tempo sem o fazer.

Eldred está morto.

 Luke Barton vem para perto de mim.

- Você está bem?

Dou-lhe um forte murro na caixa torácica, fazendo-o na hora perder o ar.

- Nunca mais me faça de isca.

Ele faz um sinal com a mão de entendimento e cai no chão, tentando recuperar o fôlego.

Deixo-o de lado e limpo um pouco do sangue de Eldred que cobre meu rosto, fazendo o máximo de esforço para não me sentir enojada por estar com o sangue desse verme em mim. Olho cuidadosamente para os lados, tentando desvendar o que Eldred quis dizer com “seus pais estão nessa sala”.

Observo várias vezes de um lado para o outro do local, mas nada encontro. O lugar não passa de um espaço escuro e cheio de gelo. A não ser que Eldred os tenha pintado com tinta invisível, é logicamente impossível que eles estejam aqui.

- Vamos, seu maluco, o que é que faltou? – questiono ao cadáver de Eldred, mesmo sabendo que este não irá me responder.

De repente, uma ideia me vem à cabeça.

- Luke? – chamo pelo meu parceiro de combate, que já está em pé, todavia ainda um pouco transtornado com meu soco. – Você consegue iluminar esse lugar?

- O que eu to parecendo pra você, uma lâmpada? – porém, ao ver que não expresso nem mesmo um projétil de sorriso, ele saca o arco e dispara uma flecha em cada canto da sala, iluminando-a por completo.

- Obrigada.

Eu vou andando vagarosamente, analisando cada parte do lugar. Tudo está perfeitamente normal, o chão continua encoberto pelo gelo e as paredes compostas pela água congelada. Contudo, não desisto, continuo com a minha observação severa.

Até que eu finalmente encontro o que estou procurando: um sinal.

Entre o canto da terceira com a quarta parede, noto que há uma falha, indicando que alguma das duas está encaixada.

- Bingo.

- Está tão velha que já pensa nesse jogo? – Luke novamente me atazana com uma piada idiota referente ao meu cabelo, entretanto, dessa vez eu o ignoro.

- Acho que estamos perto.

Não permito que Luke tenha tempo de me perguntar alguma coisa, pois imediatamente começo meu trabalho de destruir o enorme bloco de gelo. Dou inúmeros murros até Luke compreender o que quero fazer e me ajuda a detonar com suas flechas explosivas.

Quando enfim terminados de brincar de “Thomas esmaga”, Luke e eu caímos de joelhos no chão, boquiabertos com a cena a nossa frente.

- Eu não acredito. – ele murmura. – Nós os achamos.

- Nossos pais.