Capítulo 36 (bônus) - Eldred

Todas as coisas que estão acontecendo claramente querem me dizer alguma coisa. Talvez que assim como Asgard, eu também sou amaldiçoado a viver sempre em guerra, sempre em meio à ambição de outros ao invés de viver a minha própria vida.

Eu sempre terei uma guerra para travar.

Meus passos são silenciosos propositalmente. É tarde da noite, os nossos seis visitantes estão provavelmente dormindo um pouco para tirar da cabeça todas as coisas que lhes aconteceram em menos de uma semana aqui na minha terra. Respiro fundo, tentando me focar no que preciso fazer, achar a minha mãe o mais rápido possível.

Não preciso de muitos palpites para adivinhar seu paradeiro, pois sei perfeitamente onde encontrá-la. Dirijo-me as grandes portas dos aposentos de Lady Sif e não me preocupo em bater na porta, sabendo que ela me aguarda. Assim que entro, encontro minha mãe parada rente à janela, observando o céu sem um interesse verdadeiro por tentar ver algo através, mas sim sendo apenas um passatempo antes de eu chegar.

- O que é tão importante para você querer me ver a essa hora da noite, Eldred? – Ela me pergunta num tom seco, porém não me importei, sabendo que mamãe teve um longo dia.

Dou alguns passos para me sentar na poltrona rente à lareira apagada, e, sem muito que fazer, começo a brincar com meus dedos, formando uma pequena bola de luz esverdeada.

- Não temos muito tempo. – Disse-lhe vagarosamente, tentando manter um tom de voz equilibrado. – Os sinais são claros.

Minha interlocutora pousa seus olhos castanhos nos meus.

- Que tipo de sinais?

Projeto fogo em minhas mãos e o lanço para a lareira, que se acende num estalo.

- Erika Foster achou Torden. – A notícia faz os olhos da minha mãe se arregalarem e sua boca se abrir em choque.

- Como...?

- Algumas das Valquirias mostrou a ela a localização da espada. – Levanto-me para admirar as chamas mais de perto. – E outra apareceu para declarar a morte de Luke Barton.

- Desde quando as Valquírias ajudam alguém? – Mamãe quis saber, erguendo-se do seu lugar e começando a andar de um lado para o outro. – Isso só pode significar obviamente que o tempo está acabando.

Reviro os olhos, tentando ignorar sua conclusão que eu anunciara há poucos minutos.

- Temos que nos preparar, a batalha final está chegando. – Ela continua a resmungar consigo mesma, fazendo-me apenas arquear as sobrancelhas.

- Não é só isso. – Interrompo-a ao mesmo tempo em que brinco com as chamas, fazendo-as crescer e diminuir conforme o movimentos das minhas mãos. – Você também notou que James e Luke estão sendo manipulados?

Meu comentário a faz parar com sua frenética movimentação.

- Você acha que talvez ela possa...?

- Com toda certeza, e temos que impedi-la se quisermos James e Luke do nosso lado na luta.

- Ela vai acabar com dois das nossas esperanças de ganharmos a guerra. – Minha mãe range os dentes, porém, tenta ao máximo manter a compostura. – Detesto essa cretina.

- Quanto antes dermos um jeito nela, melhor. – Declaro, apagando as chamas com apenas um estralar dos dedos. – Temos que ganhar essa guerra, não podemos nem pensar em nos dar ao luxo de perder.  – Eu aponto para os muros que estão fora do palácio. – Nossa proteção está caindo, só temos uma chance se não quisermos morrer!

E pude ver pela expressão da minha mãe que eu estou certo. Não temos a menor chance se o exército invadir Asgard.

- É agora ou nunca. – Declaro como minha última notícia da noite.

Minha mãe parece não saber o que fazer, ela olha para os lados, como se procurasse por meu pai para ajudá-la a resolver o problema. Nada faço em meio a sua confusão, apenas volto a me sentar e espero pacientemente por alguma proposta vinda dela para agirmos o mais rápido possível. Mas conforme o tempo passou, eu acabo notando que até ela tomar uma decisão precisa, o ataque já terá começado e estaremos mortos. Um ponto fraco da minha mãe que foi aumentando conforme os anos é a sua indecisão e insegurança na hora de decidir algo.

- Quanto tempo nos resta, Eldred? – Ela me pergunta num tom sereno, claramente tentando agir de modo sensato.

Penso durante alguns segundos, tentando arrancar alguma informação precisa do meu cérebro. Eu chequei os muros há algumas horas, quando todos já estavam nas camas para não levantar pânico em ninguém com as más notícias.

- Um dia. – Sussurro.

- O quê?! – Mamãe arqueja num tom desesperado. – Achei que tivéssemos pelo menos três!

- Isso mesmo, os muros não vão resistir mais que isso. – E quando ela tenta visualizar os muros, eu embaço a janela com um rápido movimento com a cabeça. – Pare de tentar achar esperanças onde não há.

- Olhe sua boca, Eldred. – Sou repreendido por seu tom áspero. – Ainda sou sua mãe.

Reviro os olhos.

- Podemos pensar em alguma coisa para parar de uma vez por todas para trazermos James e Luke de volta antes que seja tarde.

Minha mãe me fuzila com os olhos antes de se sentar na poltrona defronte a onde estava sentado.

- Ótimo, tem algo em mente, espertinho?

Fecho meus olhos e respiro fundo para tentar manter a calma. Odeio quando ela me trata como uma criança.

- Não, ainda não. – Confesso, tentando bolar algo em minha cabeça. – Mas temos que pensar em algo, e rápido.

Mamãe de repente sorri, mostrando-me que tem algo em mente. Ela se levanta para buscar a espada e a coloca na bainha juntamente com seu traje de guerra.

- O que vai fazer? – Pergunto-lhe, curioso com seus movimentos. – Adiantar a guerra?

Tudo o que recebo em resposta são seus passos em direção à porta.

- Vou fazê-la parar com esses truques, por bem ou por mal. – E me deixa sozinho no quarto com meus pensamentos.

- Isso com certeza não vai acabar bem. – Solto um longo suspiro antes de me levantar ir e atrás da minha mãe, temendo que por causa de sua preocupação, o pior venha a acontecer.