Capítulo 29 - Howard Stark

– Como assim nossos pais podem estar mortos?! – James berra para nós como se fôssemos os culpados de tal coisa. – Foi aquele palhaço vestido com uma fantasia estranha que falou isso pra vocês? – Arqueja, obviamente se referindo a Eldred.

Observo Thomas, Mayday e Erika. Parece até mesmo que os três querem dar um soco em James devido ao seu chilique um tanto exagerado. Rio de suas expressões.

– Quer parar de agir desse jeito?! – Erika grita de volta, posso ver sua cara pegar fogo com a raiva. – Primeiro de tudo, Eldred não fez nada além de nos ajudar! Por que tanto ódio? Ele salvou sua vida, James!

James se levanta num pulo da cama para encarar Erika frente a frente (mesmo ele sendo vários centímetros mais alto que ela).

– Eu não pedi para ele me ajudar – rosna. – Nem ao menos confio nele.

Erika não se deixa abalar pelo tom de Rogers e devolve o comentário no mesmo tom.

– Estamos na terra dele, James, não temos escolha.

– Eu tenho e escolho não ter a ajuda dele para achar meus pais! – James vocifera, o que faz Erika ficar ainda mais irritada. – Por que raios ele nos ajudaria?! Asgard já não tem problemas demais por si só?

– Você só está de pé agora por causa dele – Erika esfrega-lhe o fato. – Por que não aproveita esse fato e pergunta a Eldred também?

Se Erika e James estivessem competindo em quem poderia fazer a melhor careta e transformar a cara inteira num tomate, James teria ganhado facilmente o concurso. Com raiva, ele dá um chute na cama, que vai parar do outro lado da sala, e sai resmungando consigo mesmo, deixando todos nós, exceto Luke e Erika, boquiabertos.

– Melhor eu ir atrás dele antes que se perca. – Luke suspira e corre atrás do amigo, saindo e deixando a sala em profundo silêncio.

[x]

O céu já estava mais escuro quando me dirigi sozinho para a biblioteca onde havíamos conversado com Eldred e Lady Sif algumas horas antes. O lugar continua frio mesmo com o fogo, que ainda ilumina e aquece com suas chamas fortes e brilhantes.

Vou para a parte onde Eldred havia pego um livro grosso de capa preta e tento reencontrá-lo, o que consigo com sucesso após dez minutos de intensiva procura. O livro é mais pesado do que eu pensava, assim que o tiro das prateleiras de madeira quase me desequilibro com o grande peso em minhas mãos, porém, rapidamente sento-me no parapeito da janela e o deposito sobre meu colo. Assim que o abro, percebo que é antigo devido à suas páginas amareladas e um pouco danificadas. Não há um sumário para me guiar, teria que ir, como Luke diz, “na raça” para encontrar as informações que quero.

Não sei exatamente quanto tempo demorei a localizar o que precisava, mas quando o fiz, meus olhos mal podiam acreditar, aqui está um enorme mapa de Asgard. Porém, para a minha decepção, o livro não está em inglês.

– Parabéns, Howard! Vem para Asgard e acha que tudo estará em inglês. Você merece palmas. – Resmungo comigo mesmo, fechando o livro com raiva.

– Howard? – Escuto uma voz conhecida e percebo que Eldred está parado em frente a porta principal. – O que faz aqui a essa hora da noite? Não gostou do quarto?

Nego e aponto para o livro em meu colo.

– Estava apenas tentando...

– Ler em nórdico? – Eldred indaga um tanto surpreso. – Er, acho que não tem muito a ver com o seu idioma, mas...

– Não, não é isso – eu o interrompo. – Eu estava tentando apenas ver se achava alguma informação que pudesse nos ajudar a achar os nossos pais.

Eldred retrai os lábios e respira fundo.

– Sinto muito, Howard, mas posso garantir que não irá encontrar nada que possa dar uma pista de onde seus pais possam estar – ele toma os livros das minhas mãos e bate na capa preta. – Esse livro fala somente sobre Asgard e sua história. Não será de grande utilidade para o que procura.

Dou de ombros.

– Não custou nada tentar.

O filho de Lady Sif me olha com certa piedade.

– Deve sentir falta dele.

Novamente, nego.

– Eu nem tinha nascido quando ele sumiu. Mas eu quero muito conhecê-lo.

– Acho que posso entendê-lo nesse ponto. – Eldred me diz.

Eu o encaro.

– Achei que já fosse grande quando a guerra aconteceu.

Eldred solta uma risada que me deixa um tanto constrangido.

– De fato, mas mesmo assim, queria poder ter passado mais tempo com ele, como se eu já não tivesse, ha ha. – Ele ri da própria piada, mas vendo que não tinha entendido, pigarreia. -Acho que me esqueci de contar a vocês uma coisa um tanto quanto importante.

– E o que é? – Pergunto curioso, o que faz Eldred rir ainda mais.

– Bem, todos nós aqui não temos exatamente a idade que aparentemos. – Vendo minha cara de confusão, ele chega mais perto de mim e sussurra. – Tenho 170 anos.

Arregalo meus olhos com a informação... Cento e setenta anos?!

– Isso é muito. – Declaro o óbvio.

Ele concorda risonho.

– Mas tenho a aparência de um garoto de 17 anos.

– Então um ano para nós...

– Equivale a dez para mim.

– Interessante. – Finalizo a conversa, ainda espantado com o que tento absorver.

Desvio meus olhos para as estrelas e observo os pequenos pontos brilhando na imensidão do universo. São tão bonitas que dá até vontade de ter uma perto só para apreciá-la quando quisesse.

– A sua amiga, Erika, ela é namorada do James? – Eldred me pergunta subitamente.

Sou pego de surpresa com sua dúvida.

– E-eu acho que não, pelo menos não da última vez que chequei.

Em resposta, Eldred apenas assente devagar com a cabeça.

– Então ele deve aprender a controlar o ciúme, pois nem todos os asgardianos têm a mesma paciência que eu tenho.

Nada digo, apenas levanto-me e ele me acompanha.

– Acho melhor eu ir descansar um pouco – falo enquanto dou um enorme bocejo. – Foi um longo dia.

– Sim, para nós dois. – Eldred concorda enquanto se dirige para fora da biblioteca. - Nos vamos amanhã então.

– Eldred? – Eu o chamo e ele se vira pra mim.

– Sim?

– Legal falar com você.

Eldred sorri.

– Com você também, Howard. – E sai, deixando-me sozinho.

Volto meus olhos para as estrelas e sob seu brilho, faço um juramento.

– Pai, se ainda estiver vivo, saiba que irei te encontrar. Não importa o planeta, galáxia ou dimensão. Se estiver vivo, me aguarde. Estou a caminho.