Capítulo 1 - Luke Barton

Ele está na minha mira, e sinceramente, duvido que consiga avistar minha localização, não distraído como está tentando achar o meu parceiro

“Te peguei Rogers.”, preparo meu arco, puxando a corda e sentindo o prazer do momento de enfim conseguir encurralá-lo.

E eu atiro. A flecha atinge uma velocidade absurda e corta o ar indo na direção do braço de James. Com certeza não tem como ele escapar dessa.

Mas então algo a para, algo não, alguém, um alguém verde e gigante que me encara como se eu fosse comida estragada.

Fodeu.

“Que droga, Banner!”, penso comigo mesmo enquanto desvio de um enorme bloco de concreto que voa em minha direção.

Agora já não tenho mais esperanças de ganhar esse duelo, ainda mais nesse momento em que Rogers e Banner descobriram a minha localização e, com o apoio nulo de um parceiro que parece mais uma folha de papel a um soldado ativo, minha vitória vai por água abaixo.

Escuto os berros do Banner vindos detrás de mim, eu não posso parar de correr, pelo menos se eu não quiser ficar com um enorme hematoma e não conseguir andar por uma semana.

Sim, eu já levei um murro do grandão, não quero repetir a experiência.

Amaldiçoo novamente Nick Fury por ter escolhido uma arena em que me sinto tão vulnerável quanto esta: um espaço pequeno constituído apenas de rochas gigantes que o monstro verde poderia atirar em mim como se fossem bolinhas de isopor.

Pulo em cima de algumas pedras e vou escalando um morro para tentar me manter a uma distância segura de Banner e Rogers e, obviamente, tentando não ser atingido por um dos rochedos que são arremessados contra mim. Sinto-me aliviado quando consigo penetrar entre duas pedras, que me servem de escudo contra os ataques apelativos.

— Está sem saída, Barton! – escuto Rogers gritar para mim. – Desista!

Miro em sua cara e atiro uma flecha explosiva em resposta, no entanto, o maldito desvia bem na hora e a flecha acaba explodindo em cima do Banner, que ficou ainda mais zangado que antes.

— Merda. – xingo enquanto tento sair de onde estou, Banner não deixará eu sair dessa sem uma marca.

Mas quando estou prestes a sair do meu esconderijo, o enorme punho verde vem em minha direção, esmagando todas as pedras que me mantém protegido, e me arremessa com uma força brutal contra uma parede dura o bastante para fazer saírem algumas lágrimas dos meus olhos.

Por favor, que depois dessa eu não esteja paraplégico.

Escuto passos apressados vindos em minha direção.

— Luke, Luke! Você está bem? – A voz do meu sumido e inútil parceiro de arena, Frank, se manifesta. Ele chega perto de mim com uma cara que não me dá muita esperança de que eu possa sair dessa sem levar comigo alguma parte quebrada. – Consegue me ouvir, Luke?

— O-onde você estava, seu idiota? – É tudo o que respondo antes de uma enorme luz tomar conta da arena e a voz ensurdecedora de Maria Hill surgir do nada.

— Muito bem, o combate está encerrado, vitória para o time vermelho.

“Pela décima vez consecutiva”, completo mentalmente.

Céus, eu não consigo me mexer!

— Barton! – James Rogers vem em meu auxílio. – Consegue se levantar?

Eu bufo.

— Acha que se eu conseguisse, eu ainda estaria deitado no chão nessa pose ridícula?

James ri enquanto tenta me erguer do chão.

— Vamos lá, Luke, até parece que nunca levou um soco antes.

— Há há, quero ver você levar um soco daquele punho, Rogers. – respondo secamente. – Por que você e o Thomas têm sempre que ficar na mesma equipe enquanto eu fico ao lado de um cara que nem sabe erguer uma arma. É como se eu lutasse sozinho!– Dou uma rápida olhada para Frank. – Sem ofensas.

James consegue enfim me colocar em pé (eu não estou paraplégico, ainda bem) e depois tenta me ajudar a andar em direção a um carro que nos aguarda, entretanto, paro de imediato quando sinto milhões de partes dentro de mim estalarem.

— Eu acho que me quebrei muito dessa vez – uma dor insuportável assola meu corpo e minha vontade é de estraçalhar Banner por causa disso. – Me coloca no chão James.

Rogers me deita novamente no chão e faz um sinal para o carro da SHIELD. Imediatamente dois agentes correm em nossa direção com uma maca na mão. Fico realmente grato por não ter que andar e lidar com a dor que só aumenta.

Quando os dois agentes me sedam, eu pego no pulso de James e sussurro antes de me entregar à droga.

— Diga ao Banner que da próxima vez mando uma flecha bem no meio das bolas verdes dele.

[ X ]

— Foi uma surra e tanto, não, Barton? Estou impressionado que só tenha quebrado algumas costelas e deslocado o braço. – Nick Fury observa enquanto olha minhas radiografias. – Você deve uma ao pessoal que bolou o seu traje, foi o que te salvou.

— Só isso? Ele quase me matou! E além do mais, aquele “traje” parece mais uma roupa feminina de tão apertado - paro por alguns instantes. - A designer é uma mulher, não é?

— Está vivo, não?

— Por isso mesmo que eu disse “quase”.

Nick Fury não responde ao meu comentário, apenas se dirige à enfermeira.

— Quanto tempo mais ele terá que ficar aqui?

A enfermeira, uma mulher de meia idade gorda com cara de má, me olha sem a menor pena.

— O garoto Barton já está aqui há mais de uma semana, se ele se sentir melhor... Acho que poderá sair daqui 3 dias mais ou menos.

Nisk Fury sacode a cabeça.

— Ele tem que sair daqui amanhã.

— Você não vai me mandar de volta para arena de novo, vai? – Eu pergunto, nervoso.

Nick arqueia as sobrancelhas.

— Está com medo, Barton?

— Não é isso! – tento me explicar, mas a verdade é que eu estou com medo sim de voltar para a droga daquela arena e o Banner, dessa vez, me quebrar ao meio. – Preciso de um tempo para me recuperar dos... Estragos.

Recebo risos em troca.

— Você está com medo sim!

Eu fecho a cara, não vendo graça alguma nas palavras de Fury.

— Vá você então enfrentar o Banner ou o Rogers e veja se acha a disputa justa! – percebo que Nick Fury não parece surpreso com a minha observação. – Sei que o Banner pode se transformar naquela coisa e isso lhe dá uma vantagem gigantesca... Mas e o James? Ele também tem uma força que sei que mesmo com anos fazendo academia, ou tomando bomba, jamais alguém normal poderá ter.

Posso sentir minha mente vaguear pelas minhas memórias, fazendo-me recordar de todos os anos de treinamento que tive ao lado de James e Thomas, e, acredite ou não, foram longos os anos.

Lembro-me de quando nos conhecemos há dez anos, eles tinham sete e eu tinha oito anos de idade, sim, eu sou um ano mais velho (grande coisa, isso só seria relevante se eu distribuísse socos, e não o contrário). Recordo que nós três tivemos nosso treino logo depois das devidas apresentações, foi a primeira vez em que nós três seguramos uma arma. James e eu até que nos viramos bem, entretanto, para Thomas, foi um verdadeiro desastre, ele simplesmente não tinha habilidade nem mesmo para segurar algum tipo de arma de fogo.

Foi então que Fury deixou Hill cuidar de mim e de James e enviou Thomas para o setor de lutas.

Sim, o Banner enfim conseguiu achar a sua vocação: quebrar tudo o que via pela frente.

No começo achei bem divertido e tudo mais, até mesmo me juntava a ele e James para armar algumas travessuras com os agentes novatos da SHIELD ou com o Fury. Mas num dia desses, tínhamos treze e catorze anos, fomos pegos por agentes não muito pacientes que deram uma baita surra em nós três. Rogers e eu ficamos calados, no entanto, depois que Banner caiu no chão, foi a vez dos agentes levarem uma surra.

Não posso falar que não fiquei assustado quando vi um Thomas franzino se transformar numa criatura grotesca e verde que você já ouvia os sons das sirenes de ambulâncias só de olhar. Também não era pra menos, aquela criatura urrava de um modo que fazia o chão tremer.

Embora o Banner verde fosse realmente assustador, nada foi mais... Estranho do que ver o Rogers tentar segurá-lo depois que este quase arrebentou o setor inteiro da linguística da agência. James conseguia desviar dos golpes violentos da criatura e até mesmo revidava com uma força semelhante enquanto eu ficava parado, olhando para a cena sem saber o que fazer. Lembro-me que depois de muitas trocas de murros entre ambos, James conseguiu fazer Banner voltar ao normal dando-lhe um forte golpe na nuca, que fez o monstro desmaiar na hora. Desde aquele dia, os dois foram levados para uma seção especial de treinamento, e eu continue a treinar com os outros recrutas.

Não, eu não estou reclamando, afinal, sempre fui o melhor da turma. Sempre tive um destaque em todos os setores, tanto de lutas corpo a corpo, quanto de armas e até mesmo na linguística, mas eu queria entender, e muito, por que James e Thomas eram daquele jeito, por que eram diferentes de nós.

Nunca Nick havia me respondido àquela pergunta, dizendo que eu era jovem demais para entender e que isso envolvia não somente nós, mas também nossos pais. No final das contas, quando eu percebia o rumo que tomávamos, ele desconversava. Sempre foi difícil drenar alguma informação dos meus pais do Fury.

Uma vez consegui arrancar de Maria Hill que meu pai era um dos melhores agentes da SHIELD, e que seu nome era Clint Barton. Nunca mais consegui outra informação sobre ele.

A única vez que o assunto foi um pouco mais aprofundado depois dessa conversa com a Hill, foi quando Fury me deu uma arma que meu pai guardava num cofre especial, um arco feito de adamantium com inúmeras flechas do mesmo material e diversas utilidades. Umas explodiam, outras armavam redes, outras disparavam localizadores entre outras coisas que uma arma daquele tipo poderia fazer.

Tenho ele há três anos e foi uma das únicas (e melhores) coisas que eu já ganhei em toda a minha vida.

— Você quer mesmo saber? – Nick Fury pergunta, trazendo-me de volta do meu devaneio. - Por que James e Thomas têm essas habilidades?

Faço que sim com a cabeça.

— Sim, senhor.

Ele me observa com seu único olho, como se estivesse me avaliando. Sinto meu corpo enrijecer.

— Muito bem. – Fury diz por fim. – Saia desse hospital e volte para a SHIELD. Suas respostas vão estar lá juntamente com os outros cinco que também as anseiam.

— Cinco? Que outros cinco? – questiono sem entender. Da última vez que chequei, éramos apenas três. – Quem são os outros? Por que Rogers e Banner querem as mesmas respostas que eu?

Nick Fury se dirige à porta do meu quarto e, antes de sair, apenas fala.

— Volte para a agência e veja você mesmo.