Capítulo 12 - James Rogers

Estamos há mais de uma hora percorrendo os mais diversos caminhos dentro da SHIELD, talvez estivéssemos até mesmo dando voltas e mais voltas. Tudo parece igual, as mesmas paredes metálicas, o mesmo chão de chumbo, os mesmos encanamentos de oxigênio e outros gases vindos dos laboratórios.

Observo todos a minha volta, Fury anda com passos lentos a nossa frente enquanto May, Erika e Howard o seguem silenciosamente com um Banner logo atrás perdido em pensamentos.

– Hey, Rogers? – escuto um chamado de Barton vindo detrás de mim e logo diminuo minha velocidade para que ele se aproxime.

– O que foi?

– Eu estou louco ou o Fury não sabe para onde está indo?

Encaro Barton por alguns segundos.

– Você não está louco.

Não tenho certeza, mas acredito ter visto uma comemoração silenciosa vinda de Luke.

– Qual seu palpite?

Não respondo de imediato, pois percebo que Fury está com a cabeça inclinada para trás, como se estivesse tentando ouvir a nossa conversa.

– Foi fácil demais derrubá-lo na câmara... Além do mais, ele nunca anda desarmado. – sussurro.

Luke franze o cenho.

– Está dizendo que o Fury...

– Não é o Fury.

Barton e eu olhamos para todos a nossa frente, Banner continua distraído com os passos do suposto Fury. Faço um barulho e Thomas vira, lançando-me um olhar de compreendimento.

Ele sabe. Garoto esperto.

Observando melhor, Fury jamais andaria do jeito que esse desconhecido anda. Os passos de Fury são decididos e largos como os de um fuzileiro de guerra, já os do impostor são mais curtos e um tanto... Femininos.

Coisa estranha.

O jeito como ele falou com a gente na sala, o modo como ele se entregou a minha força... Tudo pareceu fácil demais, simples demais, falso demais. Primeiro de tudo, Nick Fury foi (ou até mesmo é) um dos maiores espiões que o mundo já teve, então por que raios ele se entregaria tão facilmente a minha força bruta quando já recebeu treinamentos de combate corpo a corpo que poderiam ter me imobilizado em segundos se quisesse? Por que não estava carregando uma arma? Até mesmo o jeito como ele havia falado conosco entregou o jogo.

Se esse homem que está na minha frente agora não é Nick Fury, então quem é ele? E onde está o verdadeiro?

– Precisamos descobrir o que ele quer. – falo a Barton. – Fazer ele mesmo provar que é um impostor.

Ele assente.

– Mas como?

Aperto minhas mãos fortemente.

– Temos que persuadi-lo.

Barton sorri.

– Isso eu posso fazer. – e acelera o passo para ficar perto de “Fury”. – Então Nick, não sei se percebeu, mas todos estamos cansados do tour pela agencia, sabe como é, já conhecemos bem a região. Será que não dá para dar uma aceleradinha para a parte em que você nos conta sobre nossos pais?

– Volte para o seu posto, Barton, você não tem autoridade alguma.

Mas Luke não desiste tão fácil.

– Engraçado, Nick, até está parecendo que você não faz ideia de para onde está indo.

Isso faz o impostor parar e lançar um olhar cínico para Luke.

– O que está sugerindo, Barton?

– Que talvez esteja perdido.

O argumento de Barton faz “Fury” relaxar um pouco.

– Não estou perdido, Barton, apenas pensando.

– Em...?

– No momento, em como me livrar de você.

– Por que não usa a sua arma? Atirar em mim resolveria o seu dilema. – Barton percorre o corpo de “Nick” com os olhos. – Que estranho, sua arma de estimação não está com você. Por acaso a esqueceu em algum lugar? – ele suspira. – Não é algo que você faria tão facilmente, ou será que Nick Fury anda com perda de memória rescente?

E a cor do rosto do falso Fury volta a sumir. Ele olha para nós com um olhar crítico e um tanto preocupado.

Ele percebeu.

E antes que qualquer um de nós pudesse fazer alguma coisa, “Fury” agarra Erika pelo braço e a segura fortemente contra o corpo.

– Afastem-se! – ele berra, sua voz começa a mudar assim como seu corpo. A pele escura fora substituída por uma tonalidade azul de aspecto escamoso, cabelos ruivos começaram a brotar enquanto os olhos que uma vez foram castanhos escuros agora são amarelos e intensos.

– O impostor é na verdade... Uma impostora? – Barton diz confuso enquanto Banner e eu trocamos um rápido olhar de confusão.

Sim, de fato ele na verdade é ela (mesmo que uma aparência nada humana), mas isso não importa, pois posso ver a cor do rosto de Erika mudar para roxo conforme a mulher estreita o braço em seu pescoço.

– Solte-a! – eu ordeno à mulher, mas tudo o que recebo em resposta é uma risada de puro deboche.

– Cale a boca, garoto, não sabe com quem está se metendo. – e tira de dentro do uniforme falso de Fury uma faca bem afiada e a tangencia perto dos lábios de Erika.

Barton pega o arco e mira em sua cabeça azul.

– Nem você.

Enquanto tudo acontece ao mesmo tempo, eu olho para May e Howard, eles estão atrás de Banner, que os protege se impondo na frente de ambos, isso é bom, menos dois com quem não preciso me preocupar caso a coisa fique feia, mesmo que em contrapartida Banner já não pudesse mais nos ajudar, Luke e eu daríamos conta do recado.

– Quem é você? – pergunto, enquanto tento armar um esquema na minha cabeça para tentar tirar Erika de seu alcance. Meu Deus, será que essa menina vai ter que andar dentro de uma bolha agora? Não é possível que todos sempre vão atrás dela... – O que quer com ela?

– Meu nome de nada importa e muito menos o meu interesse pela garota.

– Ah, acredite, Mística. – uma voz vinda do final do corredor responde, eu sorrio quando avisto o verdadeiro Nick Fury com a sua arma de estimação já a postos. – O seu interesse pela garota é algo que prende muito a minha atenção.

– Fury. – Mística rosna, apertando a faca ainda mais contra o rosto de Erika, dessa vez foi tão forte que um fio de sangue começou a rolar por sua bochecha rosada.

– Você nunca foi boa em estratégias, não é mesmo, Mística? – Fury continua. – E parece que está perdendo o dom da camuflagem, não conseguiu nem mesmo enganar o agente Barton.

– Ei. – Luke solta baixinho enquanto vinca o cenho.

– E você nunca foi bom em bancar o durão, não é mesmo, Nick? – Mística dá uma piscadela. – Já sabe como podemos resolver isso, não sabe?

– Não venha com esses seus joguinhos. – ele aponta a arma para os olhos de Mística. – Para quem você está trabalhando dessa vez? – e a destrava. – Da última vez que chequei, Magneto estava preso e sem qualquer previsão de ser solto.

Mística solta uma gargalhada que ecoa pelo corredor inteiro.

– Magneto? Um mero passado vazio sem qualquer ambição e poder suficiente para conseguir controle absoluto ou poder infinito. – e ela assume repentinamente a forma de um senhor grisalho de olhos azuis e um tanto vazios. – Eu não passo de um velho tolo.

– Para quem está trabalhando agora?

Mística volta a sua forma original.

– Para alguém que você jamais conseguirá deter. – ela sorri. – Alguém que comigo, sua identidade está segura.

Nick suspira.

– Como quiser... Você se infiltrou na SHIELD sozinha, armada apenas com uma faca contra mais de 100 homens armados com as armas de fogo mais poderosas já inventadas pelo próprio Tony Stark, nesse momento, esse pelotão está vindo aqui nos encontrar e tenho certeza absoluta de que não serão tão pacientes com você como estou sendo agora. Solte a garota.

– Não fique tão satisfeito consigo mesmo, Nick, eu também tenho meus truques.

E então acontece, uma luz negra e agressiva joga Nick para trás enquanto envolve o corpo de Mística e de Erika, que começam a ser consumidos pela mesma e desapareceriam em poucos segundos.

Eu tinha que agir.

Vendo que todos ainda estão em choque, corro para Erika e a tiro dos braços de Mística a tempo de evitar que está desaparecesse junto com essa maluca de cabelos vermelhos.

Ambos de nós aterrissamos no chão duro e tudo a nossa volta voltou ao normal, o corredor agora estava começando a se encher de soldados e agentes da SHIELD armados, mas que vieram tarde demais para impedir Mística de escapar.

– Comandante Fury! – escuto o grito de Hill enquanto ela o ajuda a se levantar do chão. – Onde está a Mística?

– Chegaram tarde, agente Hill, ela não está mais aqui.

– Você está bem? – pergunto à Erika, ela está deitada em meu peito, seu rosto havia parado de sangrar, mas o medo ainda assombra suas feições.

– A-acho que não vou aguentar mais viver um dia do jeito que você vive.

Eu sorrio.

– Tive bastante tempo para me acostumar.

Erika devolve meu sorriso com o seu, bem mais radiante e bonito do que o meu.

– Obrigada por me salvar, de novo, James.

Pego sua mão e a beijo.

– É sempre um prazer, Srta. Foster.

– Levantem vocês dois. – Nick Fury nos ordena. – Temos que colocar uns assuntos em dia.

– Que tipo de assuntos? – Banner pergunta.

– Achei que quisessem saber sobre os seus pais.

– E queremos! – Howard diz.

– Espere um pouco... – May começa. – Não vai vir com aquele papo de privar a gente de uma vida cheia de sofrimentos e blá blá blá?

Nick arqueia as sobrancelhas.

– Eu até poderia, Srta. Parker, mas não tenho opção, depois do que presenciei agora com a Mística, vejo que está mais do que na hora de saberem a verdade.

– Por que está fazendo isso? – Barton indaga. – Depois de tanto tempo de mistério... Está fazendo isso para nos agradar?

Fury ri do comentário de Luke.

– Não, agente Barton, estou fazendo isso, pois a Terra corre perigo novamente. – e se vira para Maria. – Hill, destrave o “Arquivo V”. É hora dos novos Vingadores saberem a verdade.