Feelings false I

Querido Mihael Keehl

Não é a primeira, nem a segunda e tampouco a terceira carta que escrevo com a intenção de te enviar. Mas de forma costumeira, todas vão parar na lareira ardendo em chamas. Acho que com esta as coisas serão um pouco diferentes.

Não quero que a encare como uma despedida, mas sim como um desabafo. Tento conversar contigo há semanas... Diga-me Mihael, quantas vezes você acordou e me imaginou ao teu lado da cama? Alguma?

Toda vez me pego pensando nisso e vejo o quanto é estúpido. O quanto é engraçado. Toda manhã ao acordar e toda noite ao me deitar eu me questiono se você está pensando em mim, se já cogitou nos dar uma chance de futuro.

Você sente minha falta?

Na verdade, Mihael, eu preciso te esquecer. A falta de amor me corrói por dentro e parece devorar cada pedaço do meu ser. Nunca imaginei que fosse sentir algo assim por alguém um dia e eu sei o quanto é clichê dizer isso. Mas não é clichê desejar que você me beije, por mais que seja pra se gabar para alguns desconhecidos que você chama de amigos.

Mas isso tudo é uma utopia.

Na minha concepção você poderia ficar com quantos ou quantas quisesse, contanto que voltasse para mim na manhã seguinte.

Entende o que quero dizer? Estou me jogando no lixo com nossa amizade.

Se fiquei te esperando abrir os olhos e reparar em mim, foi por amor. E hoje, eu ainda te amo. Estou cansado de implorar atenção... Cansado de implorar um pedaço de ti.

Mas não me leve a mal, Mihael. Eu te quero feliz tanto quanto quero a felicidade de Nate. Vocês formam um belo casal, mas aquela história de eu me contentar, aceitar e seguir a vida não funciona como nos livros.

E por mais que eu saiba que carreguei tua imagem junta à mim até a sepultura, meu amor permanece.  

Sei da tua reação ao ler este pedaço de papel; provavelmente você o está amassando e me xingando horrores, mas tente entender. Foram anos de solidão e de dor. Anos de noites acordado, imaginando se você ia beber e dirigir.

Você sempre foi irresponsável.

Eu tenho uma pergunta, mas nunca saberei a resposta.

Seu único sentimento em relação a mim era falso?

Espero, sinceramente, que vocês sejam felizes e nunca olhem para trás.

Nunca olhe para aquele que um dia te ofereceu tudo e você recusou.

Nunca chore em meu nome.

Nunca se lembre do meu nome.

Me apague do seu coração como eu pretendo apagá-lo do meu, Mihael.

É meu último pedido.

Com amor, Mail Jeevas.
Primeiro de junho de 1998