O Vale dos Suicidas escrita por Countess Dracula


Capítulo 4
Capítulo 4: Saindo do Vale


Notas iniciais do capítulo

Capítulo curto.=/
Capítulo baseado na novela "A Viagem", e nas palestras do Divaldo Pereira. Não tive tempo pra betar. =/ E claro, "trilha sonora" é "Station to Station" do David Bowie. Não sei porque, mas sempre escrevo essa fic ouvindo essa música. Leiam a nota final, por favor. Capítulo dedicado especialmente para a Cris (que não tem conta aqui), pela grata surpresa de gravar para mim os 5 primeiros capítulos de "A Viagem". =D



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“Não se sinta abandonado pois Eu estarei sempre com você.Eu não o deixarei. Não posso deixa-lo... Pois você é Minha criação e Meu produto. Minha filha, Meu filho, Meu propósito. E Eu mesmo. Me chame em qualquer lugar e sempre que estiver separado de Mim. E Eu estarei lá.”

Trecho do filme “Conversando com Deus”

 

 

Apesar de saber diferenciar o dia da noite, perdi a noção de tempo. Não tenho idéia de quanto tempo permaneci no Vale, em companhia do abominado coro.

Embora exausta, o sono não mais vinha. Continuava a sentir dores atrozes e as necessidades fisiológicas permaneciam. Sempre acompanhada pelas gargalhadas sinistras, o choro desesperado e o ranger de dentes. Eles estavam em toda parte. Os espíritos obsessores que haviam alimentado em minha mente a idéia de suicídio convenceram-me de que eram os juízes que deveriam julgar-me e castigar-me. Humilhavam-me, mostravam-me cenas impressionantes e trágicas com as quais atormentavam-me. Debochavam de meus sentimentos.Continuavam divertindo-se com minha angústia e sofrimento, fazendo-me crer que deveria por eles ser escravizada: Fui eu que escolhi as trevas das quais eles eram os donos ao invés do amor de meus amigos e familiares. Na verdade eles não passavam de espíritos que também foram homens e mulheres, assim como nós, eles também eram réprobos. Fizeram parte da falange maléfica da Terra e no mundo espiritual tornaram-se obsessores.

Também no Umbral reencontrei pessoas, vítimas de meus erros. Essas vítimas reapareciam agora, indo e vindo em minha direção, por vezes andando ao meu lado, infundindo-me o remorso por meus pecados, desequilibrando-me ainda mais. Isso quando não passavam por mim outros suicidas, fazendo com que eu visse a repetição de seus sofrimentos – e sofresse junto com eles, por conseqüência. O sofrimento deles fazia ecos com os meus. Porque vejam bem, as dores que meu corpo sentia, resultado de meu suicídio, não cessavam, já que eu não dormia mais.

Em dado momento achei que não agüentava mais. Soluçando desesperadamente voltei à minha caverna e lá deitei-me para pensar em meus sofrimentos. Acreditei que não me levantaria mais. As dores agora tinham realmente atingindo um nível insuportável. Não sabia, mas estava quase a ponto da demência.

Mas conseguia respirar. O nauseante odor fétido vindo do solo onde deitei-me aumentavam meu mal estar. Lágrimas quentes escorriam por meu rosto, fazendo-me perceber o quão enregelada eu estava. Chorei desoladoramente.

O sofrimento era tanto que não vi a névoa abrir-se, nem a chegada dos socorristas espirituais. Tampouco ouvi quando começaram a chamar os que seriam resgatados nesse dia. Caso contrário teria tentado a todo custo levantar-me e ir ao encontro deles quando chamaram “Elizabeth Eleanor Siddal Rossetti”. Mas não foi necessário. Em determinado instante, senti uma mão amiga tocar-me o ombro esquerdo.

Com muito esforço, virei-me e olhei para a pessoa que com apenas este toque, de algum modo aliviara-me o desespero. Era um jovem de longos cabelos cacheados, que caíam até um pouco abaixo dos ombros. Notei também que assim como seus cabelos, seu olhar bondoso era de um castanho claro.

Ele sorriu e senti um alívio inexplicável percorrer meu corpo.

-Acalme-se, irmã. Deus jamais nos abandona. Estamos aqui para socorrê-la em nome Dele.

Enquanto ele falava comigo, senti-me erguida por outras mãos, mãos tão cuidadosas e hábeis quanto à dele. Fui posta numa maca e carregada até um veículo que não consigo descrever bem como é. O mais próximo que minha mente conseguiu captar é que ela parecia-se como uma ambulância.

Recomecei a chorar, mas desta vez foi de emoção. Senti uma esperança indefinível. Então o desespero abateu-se novamente sobre mim. Para onde íamos?

Como se lesse a minha mente, o jovem que falara anteriormente comigo respondeu, sorridente:

- Para fora do Vale, irmã. Para a Colônia Caminho da Luz.

Então, dirigindo-se para os outros enfermeiros, bradou:

- Vamos!

Assim, prosseguimos viagem, saindo do Vale Sinistro, enquanto a névoa voltava a fechar-se sobre o nefasto lugar.

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

Como eu não sei o nome de nenhuma Colônia Espiritual da Inglaterra, eu inventei a "Caminho da Luz". =P
Ela, que eu saiba, não existe. É o nome de um centro espírita de bairro onde moro. E não, não frequento ele. Como já disse, tenho muito respeito, mas não sou espírita. =)
Não que o fato de não ser espírita me empeça. Eu só não tenho frequentado local religioso algum ultimamente.