"All that you want is under your nose, yeah. You should open your eyes but they stay closed, closed"

Leo não estava completamente feliz. Ele estava triste porque Piper estava triste. Ele estava com raiva de todas as pessoas que a magoaram. E estava decepcionado porque ela ainda não se lembrava de nada. Ele já começava a achar que ela nunca se lembraria, mas a esperança é a última que morre.

Piper começava a se acostumar com a ideia de que Jason a dispensara. Doía pra caramba, e Drew continuava pegando no seu pé, mas Piper já tinha passado por coisas demais para cair agora.

Leo estava, neste momento, engafinhado no Bunker 9 – que agora era o principal lugar usado pelos filhos de Hefesto -, tentando se concentrar em qualquer coisa além de Piper. Por que, de repente, tê-la importava tanto? Porque Leo queria cuidar dela, fazê-la se sentir bem, porque ele a conhecia. Conhecia um lado dela que quase ninguém mais conhecia. E era isso que o fazia ter esperanças em relação a um futuro namoro – o fato de ela parecer confiar nele mais que tudo.

- O que está errado, Leo? – Nyssa perguntou, pegando-o de surpresa. Mesmo trabalhando no Bunker 9, Leo era brincalhão e falante, e estava estranhamente quieto hoje. Era notável, a falação fazia uma falta enorme.

- Nada. Não aconteceu nada. Por quê? Parece que aconteceu alguma coisa? – Ele se enrolou todo falando. Nyssa fez uma careta.

- Então tá, né... – E voltou ao trabalho.

Leo começou a mexer aleatoriamente com suas ferramentas, um ajuste ali, um ajuste acolá, e de repente um mini-Festus estava dando voltas em torno da mesa. Leo não sabia para o que isso iria servir algum dia, mas definitivamente o ajudou a se acalmar, talvez como uma representação de quando as pessoas falam que quem você ama nunca realmente te deixa, porque ele sentia falta de Festus. Todos viam Festus como um dragão-máquina sem sentimentos, mas para Leo era como um amigo.

Piper não tinha nada, nada, nadica de nada para fazer Mesmo dentre as milhões de opções de atividades no Acampamento, nada chamava sua atenção no momento. Desde que Jason se fora, Piper passara a ficar muito tempo no chalé, especialmente quando não havia ninguém lá. Seus sentimentos estavam confusos demais para ela simplesmente interagir com as pessoas como se estivesse tudo bem, e ela não queria demonstrar fraqueza.

Depois de remexer em algumas gavetas, Pips finalmente achou o que estava procurando: um bloco de desenhos com a capa florida. Desenhar era seu talento secreto, na realidade, nem ela sabia disso até o dia em que se arriscou a tentar desenhar o rosto de seu pai, e conseguiu facilmente. Agora, tinha um bloco cheio de desenhos de coisas aleatórias que geralmente expressavam seus sentimentos.

Ela começou a desenhar, sem saber exatamente o que, até terminar. Piper havia desenhado ela e Leo se beijando na frente da porta de seu dormitório na Escola de Vida Selvagem, no meio da madrugada. De novo, a cena parecia real, palpável. Piper não entendia, e por algum motivo se perguntava se era assim que Jason se sentia enquanto sua memória era devolvida por Hera.

Ela guardou esse desenho cuidadosamente, pensando em como seria se essas cenas fossem reais. Elas eram reais? Parecia loucura, mas Piper sentia algo lá no fundo, algo que nem Jason foi capaz de fazê-la sentir, que a ligava fortemente a Leo por laços mais profundos do que amizade.

- Não, Piper. Não pense nisso agora. – Ela ordenou a si mesma. Ela e Leo eram amigos, como irmãos. Sempre foram e sempre seriam apenas amigos. APENAS. AMIGOS.

“Ou não”. Droga de voz irritante e sonhadora dentro de sua cabeça. Estava quietinha lá no fundo e agora que ela não fazia ideia do que fazer ou do que sentir, tinha que abrir a boca novamente. Ironicamente, a voz lembrava muito a de sua mãe.