Tamaran escrita por Nightstar


Capítulo 9
Encurralados




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/21907/chapter/9

“Então... acho que já me diverti o bastante por hoje...” O soldado dizia enquanto limpava o sangue de uma das suas armas com um tecido.

 

Aquela sala agora estava novamente silenciosa. Os gritos haviam cessado e o ar doentio tinha voltado a dominar o lugar. A cena era horrível. Enquanto o comandante estava num canto do recinto, rindo orgulhosamente por trás do capacete, Estelar estava jogada no canto oposto, prestes a desmaiar.

 

Ela estava quase que irreconhecível. Seu rosto estava manchado pelo sangue que escorria da testa e dos lábios, marcado de pancadas e diversos outros cortes. O resto do corpo estava no mesmo estado, talvez até pior. A única evidência de que estava acordada era uma fresta entre suas pálpebras, revelando uma pequena parte do verde esmeralda que formava seus olhos.

 

De repente, uma das criaturas que serviam o soldado entrou no local. Começou a falar algo num idioma desconhecido e a preocupar o seu mestre a cada palavra dita.

 

“O quê?! Como assim ‘vieram’??”

 

O monstro prosseguiu com o relato estranho cada vez mais nervoso. Quando parou, o seu mestre estava realmente irritado.

 

“Não! Eu não admito fracassos! Mande outros para lá e acabe com isso de uma vez por todas!... espere! Acabar não será uma boa idéia...”

 

Ele começou a refletir sobre algo durante um curto período de tempo e logo voltou a falar:

 

“Capture-os e prendam-nos, como fizeram com essa aqui! Eu mesmo cuidarei do resto!!”

 

O monstro fez um sinal positivo e saiu da sala. O comandante, por sua vez, se agachou próximo a tamaraniana que estava estirada no chão.

 

“Sabe da última?” Ele começou a sussurrar. “Seus amiguinhos vieram pra te salvar. Estão tão dispostos que derrubaram um dos meus seguidores...”

 

Ela apenas deu um gemido.

 

“Bom, eu achava que a interferência que causei tivesse evitado que sua mensagem chegasse a eles. Infelizmente isso não aconteceu... sabe o que significa?” Ele sabia que Estelar não responderia por estar extremamente fraca. Assim, o mestre prosseguiu com uma leve risada. “Significa que, em breve, teremos novos prisioneiros nessa fortaleza. Mas acho que não serei tão piedoso com eles como fui com você hoje... hehehe.”

 

Após ouvir aquilo, um rápido pensamento passou pela mente da jovem tamaraniana. Ela relembrou de quando Robin fora infectado com aquele pó químico na máscara de Slade e começara a ter visões do vilão. Foi uma das cenas mais horríveis que presenciara. O titã lutando contra uma ilusão, algo inexistente. Mesmo assim, ele acabara quase morrendo pelo nível de estresse que foi provocado com essa batalha que parecia não ter fim.

 

Robin deveria ter ficado quase no atual estado de Estelar naquele dia. Os mesmos hematomas sofridos, mesmos arranhões e cortes, quase tudo era semelhante. E, se o que ele sofreu naquele dia obscuro e assombroso fora obra de uma simples visão, imaginem o que aquele estranho de sangue frio poderia fazer. Principalmente depois de comentar que, dessa vez, não teria piedade alguma.

 

Ela não conseguia imaginar o amigo numa situação pior que aquela que vivenciara com tanto horror. Muito menos gostaria de vê-lo assim...

 

“Guardas!” O comandante começou a chamar, despertando o tamaraniana de seus pensamentos. Logo, duas daquelas criaturas serventes ao estranho de armadura apareceram na porta de entrada. “Levem a prisioneira de volta à cela e mandem aqueles escravos inúteis aumentarem o ritmo de trabalho! Tenho um assunto pendente a resolver!”

 

Os monstros fizeram um sinal positivo e então agarraram as correntes de Estelar, arrastando-a pelo resto do caminho. O mestre, ao vê-la sendo levada daquela forma, abriu um largo sorriso por trás da máscara, se deliciando com o sofrimento da jovem.

------------------------------

 

“É aqui?” Robin perguntava para Mutano ao se deparar com a cidade tamaraniana.

 

“Aham. E está como eu disse antes, totalmente deserta.”

 

O menino-prodígio começou a vasculhar o local. Os outros titãs, por sua vez, ficaram parados para reparar alguns danos sofridos até o momento.

 

“Não...” Robin murmurou ao encontrar um dos comunicadores usados pelo grupo. Estava semi-enterrado naquele chão arenoso de cor avermelhada, e o pior, com respingos de sangue na sua tela.

 

Sem dúvida, ele pertencia à Estelar.

 

“Titãs, vejam isso.” Ele disse enquanto entregava o aparelho para um deles. “Eu o encontrei no chão...”

 

“É o comunicador da Star. Então foi mesmo aqui que a raptaram.” Mutano disse.

 

“Então o fato da cidade ter ficado deserta também tem relação com o sumiço dela...”

 

“Disso eu não tenho dúvidas, Ravena, mas continuo estranhando uma coisa nessa história. Se o plano era raptar Estelar, por quê fizeram isso no terceiro dia que ela ficara aqui? Não entendo. Ela não demoraria tanto para chegar na cidade ou para notar a armadilha...”

 

“Talvez não se trate disso.” Ciborgue argumentou. “Talvez tenham mesmo raptado a Estelar quando ela pôs os pés aqui. Mas ela deve ter fugido e, assim, conseguiu se comunicar com a gente enquanto era perseguida outra vez...”

 

“Faz sentido, mas então pra onde a levaram?”

 

“Algo me diz que é por ali.” Ravena estava apontando para a direita, onde se encontrava um caminho forçado por entre as árvores que formavam a floresta ao redor da cidade deserta. Grande parte da vegetação estava tombada.

 

“É... dá pra ver que alguma coisa passou por aqui...” Mutano dizia enquanto, com um pouco de dificuldade, se aproximava do lugar.

 

“Alguma coisa grande.”

 

“Deve ter sido outra ratazana atrás de comida, Ci, nada de mais...”

 

“Tá dizendo isso por quê? Tá com medo de encontrar outra caso seguir esse caminho?”

 

“É claro! Depois do que a última me fez! Se a Rae não tivesse me curado eu estaria praticamente morto!”

 

“Acho que não, Mutano. Sabe, milagres são difíceis de acontecer...”

 

“Ei!”

 

“Dá pra parar com isso?” Ravena disse com seriedade na voz. “Estamos num momento importante agora, não é hora pras suas discussões infantis!”

 

“Ela tem razão. Temos que encontrar Estelar antes que algo pior aconteça! Vamos seguir esses rastros e ver para onde ele leva, rápido!”

 

Mais uma vez, Robin avançou sem ao menos dar tempo aos outros de segui-lo. Estava decidido que, se o responsável fizesse algo de ruim com sua amada, iria se deparar com um titã realmente furioso.

---------------------------

 

Alguns minutos se passaram e os quatro ainda seguiam o rastro de destruição deixado pela floresta. Pelo menos agora Robin se acalmara um pouco, não avançava tanto dessa vez. Já Mutano não precisava mais ser levado pelos poderes da empata já que ela tinha curado seus ferimentos, bom, pelo menos o suficiente para que pudesse continuar sem problemas. Alguns ainda doíam no corpo do rapaz.

 

O lado bom era que nenhum animal tinha notado a presença deles na floresta até o momento. Isso já era um alívio e tanto...

 

“Já chegamos?”

 

“Não, Mutano!” Ravena respondeu com um tom irritadiço. Não era à toa, aquela devia ser a enésima vez que o garoto perguntara o mesmo. “Agora pare de perguntar isso!”

 

“O que foi? Eu só to cansado de andar tanto!... será que não dava pra me levitar de novo?”

 

A empata simplesmente lançou um olhar capaz de fuzilar a alma de qualquer um. Principalmente a de Mutano.

 

“Eu acho... que isso é um ‘não’... né?”

 

“Acertou.”

 

Após aquilo, o garoto finalmente se calou, dando início a um silêncio devastador entre os quatro titãs que andavam pela floresta. Aquilo era estranho. Para um lugar tão arborizado, rico em flora e fauna, o fato de não haver nenhum som na região era realmente algo difícil de se acontecer, para não dizer impossível.

 

Algo estava errado.

 

O único que percebeu isso foi Mutano. Com seu faro aguçado, ele pôde sentir que o ar estava um tanto... pesado. Como se alguma coisa forte predominasse.

 

Ele só não comentou com os outros porque estava tentando se concentrar para identificar o odor. Raramente ajudava a equipe sozinho, sem que ninguém o auxiliasse ou opinasse sobre sua percepção. Por isso queria aproveitar o momento.

 

De repente, o odor ficou ainda mais pesado, como se alguém forçasse o ar contra o metamorfo e fizesse uma espécie de pressão sobre ele. Imediatamente tomou a forma de um lobo e avançou à frente dos companheiros, farejando cada centímetro do solo para descobrir o que, afinal de contas, estava acontecendo ali.

 

“O que deu nele?” Ciborgue começou, indignado com a atitude do menor.

 

“Acho que sentiu alguma coisa estranha, você sabe que ele tem um faro melhor que todos nós juntos.” Ravena disse.

 

Mutano continuou vasculhando tudo o que o rodeava até entrar num pequeno arbusto. Por alguns instantes, ele simplesmente desapareceu na vegetação colorida. Os titãs ficaram se entreolhando como se, acima de suas cabeças, um grande ponto de interrogação se formasse instantaneamente.

 

“Erm... Mutano, tá tudo bem aí?”

 

Felizmente, a pergunto do robô teve efeito. Mutano reapareceu do arbusto já na forma original e parecia um pouco assustado, na verdade, estava até pálido.

 

“Vocês... vocês não vão acreditar!”

 

“O que foi, cara??”

 

“E-eu tava lá no final e era... era grande, enorme!” Ele não conseguia falar direito por sua respiração estar ofegante e num ritmo rápido. Parecia ter corrido quilômetros.

 

Mas Robin não queria esperar o amigo se acalmar para poder esclarecer o que vira. Não tinha paciência. O tempo era importante para que resgatassem Estelar e ele não queria perde-lo só para ouvir um Mutano nervoso tentando, sem sucesso, falar ao menos uma frase completa.

 

O líder do grupo então se aproximou do arbusto e separou alguns galhos à sua frente, revelando uma vegetação muito diferente da anterior. Esta era enegrecida, maltratada. Não poderia dizer que as plantas estavam mortas, mas também não chamaria aquilo de vida.

 

Enfim, Robin deu alguns passos para frente e espionou por uma fresta das árvores pobres em folhas. O que viu o espantou.

 

“Pessoal. Venham aqui.” Ele disse num tom não muito alto.

 

Os outros correram para onde Robin se encontrava e também ficaram surpresos.

 

Como Mutano havia dito, era... enorme! A fortaleza de pedra ficava bem no meio de uma vasta planície desmatada e de terra negra, combinando com o céu nublado e obscuro. Lá, vários tamaranianos trabalhavam cortando árvores, quebrando pedras, construindo torres com os recursos colhidos e muito mais. Por isso a cidade estava deserta. Todos os tamaranianos estavam servindo como escravos para que o edifício se desenvolvesse ainda mais.

 

Eles estavam divididos em vários grupos de funções diversas. Cada grupo era vigiado por uma das feras que serviam o tal soldado misterioso. Estavam fortemente armadas principalmente com chicotes de alta voltagem e lanças afiadíssimas. Caso alguém tentasse fugir, o monstro o nocautearia sem esforço algum.

 

Pensar nisso esclareceu outro ponto para Robin sobre o sumiço da titã tamaraniana.

 

Talvez fosse o que aconteceu com ela...

 

“Erm... Robin...” Mutano o despertou dos pensamentos. “Acho que já sabem que estamos aqui...”

 

Quando Robin se virou, viu que todos estavam cercados por criaturas enormes, os seguidores do comandante responsável pela captura da amiga. Todos terrivelmente armados com aparelhos de alta voltagem, espadas, lanças energéticas e vários outros objetos, sem contar sua própria habilidade e força. Mesmo para a turma jovem mais poderosa da Terra, seria um verdadeiro suicídio enfrenta-los. Tinham que se lembrar que aquela não era a Terra, era Tamaran. Um planeta habitado não só por pessoas como Estelar, mas animais ferozes e extremamente perigosos, além de um guerreiro que se revoltou contra o próprio planeta natal e agora usa uma das titãs como refém ou vítima de sua vingança.

 

“Então... vieram salvar sua amiguinha...” Uma voz cínica dizia por trás das feras. Estas imediatamente se afastaram para que seu líder passasse e encarasse quatro pares de olhares aflitos e ao mesmo tempo irritados. “Lamento informar que perderam seu tempo, nunca vão conseguir recuperar a garota, pelo menos não viva.”

 

“Ora seu...”

 

“Eu o quê, garotinho mascarado? Não gosta que falem mal da sua namoradinha??”

 

Ele apenas se calou e desviou o olhar.

 

“É, acho que não. O que importa agora é que vocês são os mais novos inquilinos da minha fortaleza. Não duvido muito que Estelar fique contente com os novos companheiros de cela...” Quando ele parou de falar, as criaturas enlaçaram cada um dos titãs com uma espécie de corda luminescente. Esta parecia ser mais forte que aço. Por mais que os heróis lutassem para se libertar, o objeto não cedia, muito menos afrouxava as amarras. “Não, tive uma idéia melhor. Vocês vão numa cela separada da garota. Assim posso me assegurar que ela continuará na cela para eu terminar o que comecei... de uma vez por todas!”

 

Robin congelou diante das últimas palavras. Como assim terminar de uma vez por todas?! Porém, mal teve tempo de dizer uma só palavra a respeito. O guerreiro logo voltara a falar.

 

“Guardas... coloque-os pra dormir!” O comandante disse com um estalar de dedos. Assim, os monstros apertaram um botão no bastão de ferro que tinham usado para liberar a corda, fazendo com que uma corrente elétrica envolvesse o corpo de cada um dos quatro jovens enlaçados.

 

O efeito da arma durou apenas alguns segundos, mas foi o suficiente para que os titãs caíssem inconscientes no chão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tamaran" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.