Tamaran escrita por Nightstar


Capítulo 20
Finalmente




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Onde... onde estou?...

 

Uma luz forte queimava o pouco de visão que tinha naquele momento, mas logo seus olhos foram se acostumando com o sol que invadia aquele quarto silencioso através de uma pequena janela. Estava deitada numa cama cujos lençóis eram brancos e seus antebraços não vestiam mais as costumeiras luvas prateadas, e sim inúmeras faixas entrelaçadas.

 

Não fazia idéia de onde estava, nem mesmo podia se concentrar para descobrir isso já que sua cabeça parecia estar prestes a explodir de tanta dor.

 

“Não se preocupem.” Ela ouviu alguém conversando do outro quarto. Curiosamente, aquela voz não lhe era estranha... “Estelar é forte, está se recuperando muito rápido e é só uma questão de tempo até que acorde.”

 

“Tem certeza de que ela não corre mais perigo?” Robin perguntou.

 

“Sim. O máximo que aconteceu foi uma pequena lesão em duas costelas. Não chegaram a quebrar, claro, mas é melhor que ela não se esforce muito por um tempo para não correr o risco.”

 

“Vamos fazer o possível para evitar que se esforce. Além do mais, depois do que passou aqui, bem que a Star merece mesmo um descanso.”

 

Os demais titãs demonstraram sua opinião com um rápido aceno de cabeça.

 

Estelar, que até o momento se mantinha atenta à conversa dos amigos, começou a sentir o peito latejar de forma lenta e dolorosa. Agora percebera o que a voz queria dizer com a tal ‘lesão nas costelas’.

 

Com isso, foi inevitável conter um gemido de dor.

 

“Ei! Acho que ouvi alguma coisa!...”

 

“Eu não ouvi nada, Mu--” Ravena ia argumentar, mas logo percebeu que o garoto tinha desaparecido de sua frente.

 

Mutano tinha certeza de que ouvira o ruído. Seus sentidos eram muito aguçados, não podia ter se enganado, não mesmo! Por isso, quando deu por si, já estava dentro daquele quarto iluminado e frente a frente com a tamaraniana desperta.

 

“Legal, Star! Você acordou!” Ele disse com um largo sorriso. Estelar, por sua vez, até tentou retribuir o gesto, mas outra pontada forte nas costelas a impediu e fez com que desviasse o olhar. “Ei, pessoal! A Estelar tá acordada!”

 

Rapidamente, três heróis atravessaram a porta e se posicionaram ao redor da cama da amiga. Esta continuou em silêncio, ainda confusa.

 

“Estrelinha! Que bom que já se recuperou!” Ciborgue exclamava abanando uma das mãos como se demonstrasse o entusiasmo com o despertar da ruiva. Bom, com isso, Ravena e Robin foram obrigados a se curvar bruscamente para que não fossem atingidos pelo membro metálico.

 

“Recuperar?... não tenho certeza sobre isso*argh*...” Respondeu com voz fraca.

 

“Na verdade, embora algumas lesões ainda doam um pouco, você se recuperou mesmo, Estelar.” Ravena disse com seu tom sereno habitual. “Sabe, você não só desmaiou, você parou de respirar...”

 

“É, se não fosse pelo--” Mutano não pôde terminar, pois uma mão pálida pressionou sua orelha esquerda fortemente e, não afrouxando o aperto, arrastou o garoto verde para o outro lado da sala. Só depois de se libertar foi que Mutano avistou a empata de braços cruzados e encarando-o com aquele olhar mortífero usual. “Ai! Isso doeu, Rae!!”

 

Com a reclamação do menor, Ravena se aproximou um pouco se seu rosto e forçou ainda mais a expressão intimidadora.

 

“O que você pensa que está fazendo?!” Ela gritou sussurrando. “Além de deixa-la ainda mais confusa, quer que fique constrangida também??”

 

“Tá, tá! Foi mal! Sei que vacilei... mas acho que ela até ia gostar de saber da respiração boca-a-boca...”

 

O transmorfo só teve tempo de sentir um forte impacto em sua nuca, de forma que quase caísse no chão se não tivesse recuperado o equilíbrio com o sacudir momentâneo de seus braços. É claro que tinha levado um tapa! Poderia dizer até que estava acostumado com isso...!

 

Os demais apenas observavam. Devido ao tom baixo que fora utilizado por Ravena, os três não conseguiram ouvir a discussão dela para com o rapaz verde. Bom, Robin, mesmo não ouvindo também, já tinha idéia, aliás, certeza do que o assunto se tratava, não era preciso ser um gênio para adivinhar. Como conseqüência, o jovem líder sentiu seu rosto corar só de pensar na cena que ocorrera anteriormente.

 

“Erm... quanto tempo eu permaneci desacordada?” Estelar perguntou para quebrar um pouco o silêncio.

 

“Aproximadamente quatro horas, Estelar.” Robin finalmente disse alguma coisa, mas, por motivos óbvios, não conseguia olhar diretamente para a colega ou falar em tom mais alto que aquele murmúrio. “Não se lembra do que houve?”

 

“Algumas coisas... a maioria das minhas lembranças daquele momento não passam de vultos. Mas me recordo de partes da luta que tive com Estrela Negra e de pouco antes de desmaiar... eu acho...”

 

“Não force. Sei que agora é meio confuso, mas aos poucos mais lembranças virão. Já passei por isso uma vez e sei o que estou dizendo...” Ravena disse.

 

“Tomara... mas o que eu queria saber mesmo era o que houve com os tamaranianos que serviam minha irmã.”

 

“Não se preocupe, eles estão bem. Os bichinhos que seguiam Estrela Negra não faziam idéia de que seu líder era uma garotinha metida. Então ao saberem de tudo, decidiram libertar os tamaranianos e dar umas informações extras sobre os planos dela em troca de liberdade.” Mutano falou. Estelar finalmente pôde dar um suspiro de alívio diante da notícia. Pelo menos algo no meio de toda aquela história tinha dado certo, afinal de contas...

 

Mesmo com o peito ainda queimando, a garota decidiu erguer-se a fim de sair do leito. Já não agüentava mais permanecer naquela posição. Porém, o máximo que conseguiu foi se manter sentada na borda direita do móvel branco e apoiar a cabeça nas mãos como forma de despistar uma breve tontura.

 

Foi aí que Ciborgue percebeu uma sombra vinda da porta semiaberta. Não pôde evitar que um sorriso cruzasse-lhe os lábios ao perceber quem os espionava...

 

“Ei, Estelar.” Chamou. Como resposta, ela o olhou de forma que desse permissão para que prosseguisse. “Tem alguém ali que quer muito te ver, na verdade, acho que é você quem queria tanto revê-lo depois de tudo que aconteceu...”

 

A porta então se abriu com um leve rangido, revelando a tal pessoa. Nesse instante, uma forte alegria misturada à saudade tomou posse do espírito da ruiva, de forma que a emoção fosse estampada no rosto como um carimbo e permitisse que uma exclamação se soltasse.

 

“Galfore!!!” Ela rapidamente esqueceu da tontura e das costelas para voar e enlaçar os braços no pescoço do seu antigo Knorfka. Há muito não se viam, e, depois de todos os horrores que aconteceram naquele planeta alienígena, era evidente o quanto queriam se ver novamente. Então era aquele o dono da voz que ouvira. Era Galfore quem conversava com os titãs antes destes terem conhecimento sobre o despertar da tamaraniana...

 

Estelar não tinha palavras diante daquilo, apenas sorria para o velho amigo. Os demais também deixaram escapar um sorriso ao ver a amiga tão contente. Afinal, depois de sofrer tanto naquela semana, bem que precisava de algo assim.

 

“Mas... Galfore... o que te aconteceu?” Perguntou após se distanciar e voltar a sentar na cama. A dor voltara a incomodá-la...

 

“Estrela-Negra armou uma cilada para mim e para meus soldados com uma missão falsa, e quando chegamos no planeta mencionado fomos presos por dúzias daquelas feras num pequeno cárcere reservado apenas para tamaranianos. Felizmente eu consegui nocautear um dos guardas e escapar de lá a tempo...”

 

“Ele chegou aqui na hora em que você havia acabado de desmaiar, Star. Ele ajudou na sua recuperação.” Robin completou. Ela então sorriu em direção ao tamaraniano que se mantinha em frente e comentou.

 

“E eu pensava que você não cuidaria mais de mim após me tornar uma titã...” Disse com uma pequena risadinha.

 

“Na verdade eu não cuido... agradeça aos seus amigos por tudo. Eles já tinham te recuperado da parada respiratória quando pus os pés aqui.”

 

Nesse momento, três batidas ecoaram na superfície polida da porta, provocadas pela mão de um dos guardas.

 

“Senhor, a nave acaba de ser concertada. Eles podem sair daqui quando quiserem.”

 

“Certo. Logo subirei até a superfície então...” Com a resposta, o soldado fez um sinal de obediência e se retirou, aparentemente retornando para seu antigo posto. A expressão agora de Galfore passou de alegre para séria, com leve preocupação estampada.

 

“Seu transporte já pode ser usado. Não precisam mais ficar em Tamaran.” A princípio, os cinco não entenderam muito bem o que o guerreiro estava querendo dizer com tanta seriedade no tom de voz. Parecia até que ele não os queria mais no planeta. Mas por que os estaria simplesmente expulsando de lá?

 

“Mas--”

 

“Deixe-me terminar, garoto.” Mutano se calou como ordenado. “Acreditamos que, assim como aquele planeta que fui aprisionado, talvez existam outros planetas com criaturas que também seguem Estrela-Negra. Se isso for verdade, se eles souberem que seu líder foi capturado, será uma questão de tempo até que voltem a nos atacar.”

 

“Então deixem que venham, estamos preparados!”

 

“Sempre admirei sua segurança, Robin, mas esse não é o momento. Vocês não têm idéia de quais criaturas estou falando e do que elas são capazes. Mas nós, tamaranianos, sim. A única integrante de seu grupo que conhece bem esses detalhes agora está ferida e em repouso, e ao contrário do que pensam, vocês não estão preparados...!”

 

Os titãs se entreolharam com surpresa. Ele tinha razão. Estavam exaustos de tanto lutar nesses últimos dias e com certeza não teriam chance alguma de enfrentar mais batalhas...

 

“Meus homens estão armados ao nível dos animais que me refiro e nós podemos nos defender agora. Não quero que vocês corram riscos ainda maiores. Já fizeram muito. O melhor é que saiam daqui o quanto antes e voltem para a Terra, lá poderão se recuperar de tudo isso.”

 

Ambos não disseram nada por alguns minutos, mas concordavam mentalmente com o que Galfore disse. Afinal, Tamaran já tinha os protetores de volta, e Jump City agora precisava dos seus. Os titãs não podiam se ausentar por mais tempo.

 

“Ok.” Robin quebrou o silêncio. “Vamos embora.”

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A sala onde os heróis se encontravam anteriormente ficava, na verdade, dentro do castelo tamaraniano, mas no seu subsolo, afinal, o que restara dele na superfície eram apenas ruínas...

 

Bom, isso explicava e muito a causa das reclamações que o rapaz verde soltava a cada minuto. Ele e os outros tinham que subir três lances enormes de escadarias enquanto seguiam Galfore até a superfície do lugar. Para Mutano, aquilo poderia ser considerado um castigo! Cada degrau era gigantesco. Um costume estranho do povo alienígena. Talvez seja pelo fato de que os habitantes daquele planeta são bem fortes e podem subir aquilo sem sentir nem um pingo de cansaço.

 

É nessas horas que seria bom ter um poder como o de Estelar e Ravena, podendo assim voar ou levitar pelas escadas e não fazer esforço algum...

 

Mas as reclamações do mais novo não duraram mais que alguns minutos, pois, além da empata o fazer parar com aquilo, logo chegaram no que seria um grande salão antes do castelo ser atacado. Tinha um aspecto assombroso. Morto. Coisa que faria qualquer um engolir seco assim que encarasse as paredes queimadas que haviam restado em pé.

 

Estelar se movia mantendo-se a alguns centímetros acima do chão de pedra. Era o máximo que conseguia no momento. Mesmo com a velocidade incrível de sua recuperação, seus poderes ainda não voltaram por completo. Para que tenha uma noção de seu estado, Estelar devia estar com a força de uma pessoa comum, não mais que isso.

 

Mais um motivo para que saíssem de Tamaran. Ela não suportaria qualquer outro conflito, pelo menos não tão cedo...

 

“Pronto.” Galfore disse assim que todos saíram de dentro das ruínas. Era possível ver a civilização dali. Estava movimentada novamente e, de alguma forma, aquilo deu uma certa tranqüilidade nos cinco heróis, principalmente na ruiva. A cena significava que a cidade havia enfim retomado o controle.

 

Galfore então apontou para um lugar bem ao lado da civilização e deu um sinal para que o seguissem até lá. Outro motivo para mais reclamações da parte de Mutano. Este se transformou rapidamente num papagaio para escapar da mão gigante de Ciborgue que vinha na direção de sua nuca.

 

“Dá pra vocês pararem?!”

 

“Nem vem! Foi o abacate que começou!” Ciborgue respondeu para o líder enquanto apontava para o papagaio que voava mais adiante.

 

“*suspiro* Ninguém merece...” Murmurou Robin.

 

Não demorou muito até que chegassem no lugar indicado. Estava rodeado por tamaranianos curiosos e que gostariam de ver os titãs, já que estes foram seus grandes salvadores. Mas o que importava mesmo era o que se situava bem no centro, o T-Ship.

 

Os homens que foram contratados para o serviço fizeram um excelente trabalho na reparação da nave. Parecia nova e pronta para voltar à Terra!

 

“Caramba, Galfore! Nem sei como agradecer!”

 

“Tudo bem, Robin. Isso não é mais preciso...”

 

Ele então olhou para Estelar. Seus braços ainda enfaixados lhe transmitiam certa tensão sobre o fato de que ela estava partindo novamente. Se perguntava se sua ex-protegida ficaria bem...

 

“Vou sentir tanto a sua falta, velho amigo...” Ela disse com mais um abraço.

 

“Eu também.”

 

Nesse instante, pode-se ouvir dois guardas trazendo uma garota algemada. Estavam indo para uma das suas naves militares com destino a um cárcere situado num planeta distante.

 

“Você me paga, Estelar!” Estrela Negra berrava. Seus olhos só não flamejaram devido ao fato de que os soldados haviam injetado o mesmo líquido que ela usara para bloquear as starbolts de Estelar. “Eu ainda vou ter minha vingança, é bom você escrever isso!!”

 

“Pare de reclamar e entre logo na nave!” Um dos guardas que a segurava reclamou, empurrando-a para dentro do veículo. Ouvir aquilo fez com que uma certa mágoa renascesse em Estelar e a invadisse imediatamente. Era ainda pior que a dor nas costelas, talvez até pior que qualquer outra dor que já sentira.

 

Mas algo que pousou levemente em seu ombro esquerdo a fez se sentir um pouco melhor.

 

“Não ligue...” Estelar se virou e encarou a face mascarada do líder. “Não vamos deixar isso acontecer, é uma promessa!” As palavras e o sorriso de Robin sempre a acalmava. Bom, dessa vez não foi diferente...

 

“E então? Vamos ou não pra torre? Eu to morrendo de saudades do meu vídeo game!!” Mutano comentou. Ravena e Ciborgue somente lançaram olhares gélidos como resposta e em seguida abriram suas cápsulas.

 

“Bom... acho que é aqui que nos despedimos. Adeus, Galfore.”

 

“Adeus, princesa.”

 

Após as despedidas da jovem, ela e Robin entraram nas cápsulas correspondentes assim como os outros haviam feito anteriormente. Era a tão esperada hora. Após praticamente uma semana em Tamaran, eles, os Jovens Titãs, estavam voltando para o lar.

 

A partida então foi dada. O T-Ship liberou um vento escaldante pelo ar e começou a tomar distância do solo. Foi aí que a garota de olhos esmeralda acenou para dar um último adeus a ser ex-Knorfka. Este não pode retribuir o gesto. Quando deu por si, a nave já estava longe, deixando como rastro uma leve fumaça branca.

 

“Se cuida, Estelar...”


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Notas finais do capítulo

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Foi mal pela demora, minha imaginação deu surto, hehe.

Eu achava que esse ia ser o último capítulo, mas vejo que me enganei... mas não se preocupem que o último não tardará a chegar. ^^

Abraços Gloriosos!



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