Tamaran escrita por Nightstar


Capítulo 15
Pegos




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“Cara! A Star acordou!!” Robin e Estelar se afastaram imediatamente um do outro e procuraram evitar qualquer contato visual. Mutano tinha realmente os assustado.

 

Ravena e Ciborgue olharam para trás e viram os dois titãs. Não demorou para que adivinhassem o que o mais novo tinha interrompido. Afinal, pela expressão nervosa no rosto do casal e pela proximidade entre ambos não era nada difícil perceber que tinham sido, digamos, pegos em flagrante...

 

Mutano, você me paga!!

 

Robin se segurava para não esganar o rapaz esverdeado que o encarava com uma expressão alegremente boba. Estelar, por sua vez, continuava com um olhar cabisbaixo sem ousar virar seu rosto para os demais. Estava envergonhada, triste e... confusa. Repassando o que quase aconteceu naqueles últimos segundos.

 

“Erm... oi, amigos...” Ela finalmente disse, mas sem tirar os olhos do chão. “É muito bom revê-los...”

 

“É... muito bom...” Robin murmurou baixo o suficiente para que ninguém o escutasse além da própria consciência. Estava desanimado. Aquela era o momento que ele mais esperara na vida e, no final, tudo foi por água a baixo. Agora tinha medo de que Estelar o interpretasse mal e que isso abalasse o laço de amizade entre ambos. Isso seria a última coisa que ele gostaria que acontecesse.

 

“Então, acho que depois de passar mó tempo naquela celinha ‘tão confortável’, bem que seria melhor que você ficasse junto à fogueira, Estelar.” Ciborgue disse isso não só pensando nesse detalhe, mas querendo tira-la da situação desconcertante em que se encontrava agora e para que a ação pudesse anima-la um pouco também.

 

A tamaraniana aceitou o convite e, em silêncio, sentou-se em uma das duas pedras disponíveis ao redor da fogueira, a que estava entre o transmorfo e o robô. Robin continuou sentado no canto da parede de rocha, ainda frustrado com a situação em que se encontrava.

 

“Ei, Robin, você vai ficar aí?” Mutano perguntou.

 

O líder apenas respondeu com uma rápida olhada para o rapaz, demonstrando um semblante sem ânimo algum. Em seguida, olhou profundamente para Estelar, que devolveu o mesmo olhar para ele. Parecia até uma maneira de pedir permissão para que pudesse se sentar na pedra vaga. Ele temia que sua presença a incomodasse naquele momento...

 

Estelar continuou fitando seu líder por alguns segundos, depois virou seu rosto e começou a olhar a fogueira sem demonstrar muito interesse. Fez aquilo só para evitar o garoto, claro. Mas havia um motivo para que agisse dessa forma. Estava havendo uma mistura de sentimentos tão forte em seu interior que se sentia como se fosse chorar a qualquer instante e, se continuasse tendo contato visual como aquele com Robin, talvez isso acontecesse mesmo. Não queria preocupar os amigos mais uma vez. Era melhor que continuasse aparentando estar bem.

 

Mas infelizmente, Robin não sabia disso...

 

Ele sentiu a pedra que a pouco fora tirada de sua consciência voltar ainda mais pesada e firme. Parecia que ela estava aborrecida com ele. Talvez até o odiasse. Não. Ela nunca seria capaz de odiar alguém, seria?

 

Robin soltou um suspiro e se levantou, indo em direção à outra pedra para se acomodar. Estava triste. Sentia que a viagem para Tamaran apenas piorou sua vida. Se tivesse impedido Estelar naquele dia, tudo estaria bem, como sempre fora com os titãs. Porque aquela maldita mensagem tinha que aparecer, ou melhor, porque não estranhou tudo aquilo? Se tivesse feito isso, nada teria mudado. Ela estaria a salvo, a relação entre os dois continuaria a mesma e Robin continuaria com seu passatempo diário de perseguir vilões.

 

Qualquer coisa era melhor que a situação atual!

 

Enfim, Robin parou de refletir sobre isso por um momento e sentou na última pedra, a que ficava em frente à tamaraniana e entre Ciborgue e Ravena. Agora, o círculo estava completo. Uma seqüência como Mutano, Ravena, Robin, Ciborgue e Estelar. Era simples já que era formado por apenas cinco pessoas.

 

Os titãs começaram a conversar novamente, mas Estelar e Robin ficaram calados. O que faziam eram trocar rápidas olhadas eventuais ou suspiros entre si. Só falavam se alguém do grupo os invocasse.

 

“Então...” Ravena começou. “O que a gente faz se os monstros nos encontrarem?”

 

“Que tal fugir?” Mutano tentou, mas recebeu olhares furiosos de uma empata e um robô como resposta. Por isso achou melhor se calar.

 

“É sério, nós vimos do que aquelas... ‘coisas’... são capazes! Se nos acharem nessa caverna minúscula vamos estar encurralados e praticamente ferrados!!” Ciborgue exclamou enquanto abanava as duas mãos para os lados, que só não acertavam Robin por este estar curvado e com a cabeça apoiada nas mãos. Estelar estava um pouco mais distante da pedra do robô, então não tinha a possibilidade deste atingi-la.

 

“Hum... sei lá. Do jeito que aquele cara deve estar bravo com o fato da gente ter escapado da casinha dele, não duvido que mande um exército atrás de nós ou espalhe cartazes anunciando uma recompensa por toda a galáxia...”

 

“Nunca pensei que diria isso, mas Mutano tem razão. Aquele estranho vai mandar uma equipe grande atrás de nós e temos que nos preparar.” Ravena tinha um tom sério na voz. Não era à toa. Tinham sugado seu poder por completo naquela cela e, para ela, agora era pessoal!

 

“O que acha Robin?” Robin nem mesmo ouviu a pergunta. Apenas continuou olhando para o nada de forma pensativa. “Robin?? Alô, Terra chamando Robin!!”

 

“Ah, o que foi, Ciborgue?”

 

“Cê tá no mundo da Lua, cara?”

 

“Só estava... pensando. Mas fala logo, qual foi a pergunta?”

 

“A gente tava discutindo o que faríamos se aquele maluco nos encontrasse e trouxesse os bichinhos dele. Daí te perguntei o que você achava.”

 

“Sinceramente, eu não sei. Na nossa fuga, a gente acabou descobrindo o ponto fraco de dois deles, lembram?”

 

“Se me lembro?! Tô sentindo o gosto do sangue até agora!!” Mutano exclamou, irritado.

 

“Que seja, mas se ele trouxer aqueles monstros, provavelmente vai ser um exército. Não temos como descobrir o ponto fraco de todos como antes e, mesmo se descobríssemos, seriam muitos para poder usar o golpe. São espécies diferentes e com fraquezas diferentes. Se atacarmos uma só espécie no seu ponto fraco, uma outra que é imune ao método nos atingiria por trás...”

 

“E se cada um de nós se dedicasse a uma das espécies? A gente poderia derrubar o grupo.”

 

“Seria útil, Mutano, se nós soubéssemos a fraqueza deles. Só sabemos de dois monstros! Além disso, como tem tanta certeza de que serão só cinco espécies no grupo?? Pelo pouco que conheci daquele cara, eu acho que ele vai mandar muito, mas muito mais...”

 

“Tá, péssima idéia...”

 

Dada essa última palavra, Robin deixou escapar um longo bocejo.

 

“Mesmo que tivéssemos um bom plano, a gente não conseguiria realiza-lo nesse estado...” Ravena apontava para o garoto mascarado. Ele tinha se esforçado demais naquele dia. “Nós temos que descansar.”

 

Todos, menos Estelar, acenaram afirmativamente com a cabeça diante da sugestão da colega e se levantaram de seus lugares. Ciborgue apagou a fogueira com um dos equipamentos de sua armadura e Mutano encaixou uma pedra de porte médio na entrada do abrigo. A idéia de tapar a fissura veio de Robin. Não queria que nenhum animal curioso os perturbasse no meio da noite ou que um dos guardas da fortaleza os encontrasse por acaso no meio do turno. Por isso apagaram a fogueira. A claridade poderia atrair qualquer um dos dois.

 

Os cinco então se acomodaram o máximo que puderam naquele chão desconfortável e frio. Ravena foi para uma das extremidades e usou sua capa como coberta. Já Mutano podia se transformar num gato persa e ficar encolhido em uma das diversas frestas espalhadas pelas paredes da caverna. Ciborgue não precisava de algo assim, era só ativar um sistema de aquecimento e dormir. O problema mesmo era achar um lugar bom o bastante para lhe servir como cama. Tarefa quase impossível.

 

Robin, assim como Ravena, decidiu usar sua capa como coberta. Então a soltou do pescoço e colocou em frente ao corpo. Em seguida, se direcionou a um encontro entre paredes no lado oposto ao dos demais e permaneceu sentado de forma recostada. Foi o jeito mais confortável, ou melhor, menos incômodo que encontrara para adormecer.

 

Logo, devido ao dia agitado que passaram acabaram se afastando do mundo à sua volta e caíram num sono profundo. Parecia que nada os faria acordar, nem mesmo alguma outra criatura que ousasse ultrapassar a entrada do abrigo. Estavam simplesmente desligados.

 

Bom, pelo menos um deles ainda permanecia acordado.

 

Por algum motivo, o garoto mascarado não conseguia relaxar. Suas pálpebras estavam pesadas. Prestes a cederem a qualquer instante e fazerem com que o jovem herói caísse num sono pesado e quase impossível de ser interrompido. Mas mesmo assim não conseguia cumprir a ação.

 

Ficou assim durante alguns minutos e, vendo que não adiantaria muito insistir dessa maneira, começou a olhar para o seu redor. Era para verificar se havia algo errado na caverna ou se cada titã já estivesse pronto para descansar. Porém, um deles ainda não se acomodara.

 

Estelar.

 

Ela estava a alguns metros ao lado de Robin, abraçando seus próprios joelhos e mantendo um olhar cabisbaixo.

 

“Ei, Star.” Ela olhou na direção de origem do sussurro. “O que foi?”

 

“Ah, Robin, não é nada. É que eu passei tempo demais adormecida e agora... estou sem sono...” Após dizer isso, ela voltou a sua posição anterior e permaneceu como se nada tivesse acontecido.

 

Robin estranhou a atitude dela, mas tentou se contentar com isso. Afinal, ela já tinha deixado bem claro que, por enquanto, não queria muita conversa com ele. Porém, o rapaz até poderia aceitar esse triste fato, mas quem disse que sua consciência faria o mesmo?

 

Isso começou quando o garoto percebeu um leve tremor no corpo esbelto de Estelar. Isso deixava à mostra o frio que a tamaraniana estava sentindo.

 

Você sabe o que fazer! Anda logo!

 

Robin queria mesmo ajuda-la, mas tinha medo que esta o interpretasse mal uma segunda vez.

 

Talvez essa seja sua única chance. Pelo menos tenta!

 

“Erm... Estelar.” Ele voltou a sussurrar depois de um tempo em silêncio. Estava nervoso com o que diria, e só tomou coragem para prosseguir quando viu que um par de olhos verdes o fitava na escuridão. “Você não... tá com frio?...”

 

No começo ela até que estranhou a pergunta, mas não podia negar que, desde que a fogueira fora apagada, um ar gélido tomou posse da caverna e lhe causou arrepios.

 

“Estou, mas acho que posso suportar...”

 

“Mas você precisa estar bem amanhã. Tem que se aquecer ou não poderemos agir.”

 

“Se eu tivesse como, Robin, já estaria providenciando isso.” Ela voltou à posição de antes e recuperou a expressão triste.

 

Ela realmente estava com frio. De todo o grupo, Estelar era a menos apropriada para esse tipo de temperatura devido às roupas que usava. Sentia seus dentes trincarem e estremeceram assim como o resto do corpo e, instintivamente, apertou seus joelhos ainda mais sobre o peito, de forma que se encolhesse.

 

Ao ver aquilo, o menino-prodígio tomou uma atitude sem pensar. Algo por puro impulso.

 

Estelar continuava imóvel e encolhida, nem mesmo prestava mais atenção no titã ao lado. Parecia ter esquecido do mundo à sua volta. Logo, outro vento gélido a rodeou. Ela apertou as pernas contra o próprio peito uma segunda vez e fechou os olhos na tentativa de ignorar o frio. Tentativa sem êxito algum.

 

Porém, enquanto mantinha os olhos fechados, sentiu algo diferente no corpo. Não era o tremor, muito menos outra brisa gelada. Era a capa do líder sendo colocada nos seus ombros.

 

“O que-” Ela se virou, surpresa. Mas parou de falar por perceber que seu rosto estivera assustadoramente próximo ao do rapaz ao lado.

 

“Calma, Estelar.” Ele sussurrou, se afastando um pouco. “Você precisa disso mais do que eu.”

 

Robin então se virou e fez menção de se levantar para voltar para onde estivera anteriormente. Mas a voz da tamaraniana o fez parar.

 

“Robin, não precisa fazer isso.”

 

“Eu sei, mas eu quero fazer isso, é pro seu bem.”

 

“E como você fica?”

 

“Ei, eu posso agüentar! Já enfrentei coisas muito piores, lembra?” Ele esboçava um leve sorriso enquanto dizia. Um sorriso pequeno, mas confiante.

 

“Sinceramente, eu não sei se é uma boa idéia.”

 

“Confia em mim, Star. Além disso, já perdi o sono mesmo.”

 

“Bom, eu também estou sem sono...”

 

O garoto então se sentou ao lado dela e permaneceu calado. Estelar no começo ficou um pouco sem jeito, mas logo se acostumou com a presença dele e retomou a posição anterior, também sem dizer uma só palavra. Ficaram assim por um bom tempo. De vez em quando até se entreolhavam rapidamente ou adotavam outra posição para se acomodar melhor no chão duro.

 

Nenhum dos dois criava coragem para falar algo. Apenas continuavam ali, como se nem tivessem percebido a presença um do outro desde o início.

 

Mas passado o tempo, ambos começaram a se cansar daquela atitude e a recuperar o sono que antes fora perdido. Tanto que, às vezes, algo como um simples piscar de olhos acabava se tornando uma rápida dormência com alguns segundos de duração. O pior era que, aos poucos, o tempo dessa pequena dormência aumentava, levando-os quase para o sono profundo assim como os demais titãs.

 

Robin acabou sendo vítima dessa ‘piscadela’ e dormiu rapidamente. Não pôde evitar. Estava mesmo exausto. Porém, não esperava que fosse acordado em poucos segundos por algo que lhe pesava o ombro.

 

Despertou surpreso e começou a olhar a caverna escura imediatamente para descobrir o que causara aquilo, mas nada encontrou. Só percebeu a origem do peso ao virar o rosto para o lado.

 

Tudo o que viu foi uma garota de cabelos ruivos adormecida e com a cabeça apoiada no seu ombro esquerdo. Parecia que Estelar não tinha se dado conta do ato ao ceder. Robin, é claro, não se incomodou com isso. Na verdade, estava bastante satisfeito. Até tinha esquecido o fato de que a amiga não queria muita conversa com ele há quase uma hora, quando teve seu momento tão esperado interrompido por um certo garoto verde.

 

Por impulso, a abraçou de forma cuidadosa e, aos poucos, foi puxando-a para mais perto de si. Estelar sequer reagiu. Se não soubesse, o garoto diria que ela ainda não tinha despertado desde que a resgatara daquela cela horrenda.

 

Assim que ambos se encontravam abraçados e recostados um no outro, Robin finalmente cedeu, adormecendo profundamente...

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A floresta enegrecida logo recebeu os primeiros raios de sol. Mesmo que isso não tirasse seu aspecto sombrio e tenebroso, parecia dar alívio às criaturas que lá viviam...

 

Parte dos raios penetrou na caverna pelas falhas da pedra que bloqueava a entrada e iluminou alguns pontos. Como as cinzas restantes da antiga fogueira, pequena parte de uma das paredes e o rosto do gato verde que se encontrava encolhido num buraco.

 

Mutano se incomodou com a luz que batia na sua cara e começou a se revirar para se livrar dela. Foi uma idéia ruim. Em pouco tempo, um gato caía de costas no solo rochoso, soltando um berro que acabou acordando dois dos titãs.

 

“O que foi isso?” Ciborgue perguntou enquanto esfregava um dos olhos e deixava escapar um longo bocejo. Aquela devia ter sido uma das piores noites que já tivera...

 

“Foi o Mutano...” Ravena mantinha o tom melancólico na voz ao dizer. “Parece que ele caiu.”

 

“Ótimo, como se não bastasse dormir de mau jeito, vou ter que agüentar os chiliques dele.”

 

“Ei! Pro seu governo isso doeu pra caramba!!”

 

“Qualé, você pelo menos conseguiu um jeito, digamos, confortável pra dormir. Eu me senti uma lata de sardinha a noite toda!! Tô até com um mau jeito nas costas por isso!...”

 

“Um robô com mau jeito? O que se faz numa situação dessas, joga óleo??”

 

“Claro que não, imbecil! Isso é pra robôs ultrapassados. Comigo é outra coisa...”

 

Mutano ia prosseguir com a discussão, mas não pôde. Algo que vira tinha roubado toda a atenção que estava dispondo para Ciborgue.

 

“Ei, Ci. Olha ali!” Ele tinha um pequeno sorriso malicioso nos lábios enquanto apontava para o fim da caverna, bem onde Robin e Estelar permaneciam, ainda desacordados. Ciborgue copiou o sorriso do menor ao ver a cena e, em seguida, ambos se entreolharam e começaram a rir discretamente.

 

“O que foi?” Ravena interrompeu a brincadeira dos dois enquanto se aproximava. “Nunca viram alguém dormindo?”

 

“Bom, pelo menos não assim.”

 

“*suspiro* Deixem os dois em paz. Eles passaram por muita coisa desde que chegaram aqui e agora é um dos poucos momentos em que podem relaxar...”

 

“Ah, Ravena, você não sabe se divertir! Observe.” Mutano se transformou num rato e correu na direção do casal. O robô e a empata apenas se entreolharam de forma que um pequeno ponto de interrogação se formasse acima de suas cabeças.

 

O pequeno rato, ao se aproximar o suficiente dos dois, se transformou num pássaro e arrancou uma da penas com o bico.

 

Robin vai querer me matar...

 

O pássaro agora pousou na cabeça do titã e mudou sua forma para um pequeno lagarto, segurando a pena na ponta da cauda.

 

Mas quando ele for me matar, eu já vou ter feito isso!!

 

Agora sua cauda estava pendendo livremente com a pena quase que no nariz do garoto. Quando Mutano conseguiu encosta-la, começou a balançar, causando um certo incômodo no líder adormecido.

 

“Ah não! Eu acho que sei o que ele vai fazer!” Ciborgue exclamou. Ravena, porém, continuou observando. Nunca admitiria, mas estava mesmo curiosa para ver o que aconteceria a seguir.

 

O lagarto repetiu a técnica várias vezes até que sentiu a cabeça de Robin se movimentar ligeiramente. Quando isso ocorreu, a pena fora forçada rapidamente contra um dos orifícios do nariz do menino-prodígio. Robin reagiu na hora.

 

Ele virou a cabeça para o lado violentamente e derrubou Mutano no chão. Quando pôde abrir os olhos e retirar a pena verde que o incomodava, acabou adivinhando o que tinha acontecido.

 

“MUTANO!!” Robin exclamou em alto e bom som. Estelar acordou ao ouvi-lo, mas, assim como ele, permaneceu na mesma posição e ergueu apenas a cabeça.

 

O transmorfo, de volta à forma humana, deu um sorriso sem graça e começou a esfregar a nuca nervosamente.

 

“Erm... oi, Robin... tudo encima?”

 

Encima é onde você vai parar da próxima vez que fizer isso!!”

 

“Cara, você não tem censo de humor!”

 

“É porquê isso não foi engraçado!!”

 

“Verdade, engraçado mesmo é ver vocês dois acordando assim, juntinhos...”

 

Robin e Estelar se entreolharam por um momento e se deram conta de que estavam abraçados e muito, mas muito próximos um do outro. Então, quase que simultaneamente, eles se levantaram e se afastaram um pouco, evitando trocar olhares. Seus rostos estavam terrivelmente corados.

 

Diante daquela situação, Mutano e Ciborgue começaram a rir e, em seguida, apertaram as mãos como um sinal de vitória.

 

“Vocês são uns bobos mesmo...” Ravena murmurou com as duas mãos apoiadas na cintura e demonstrando um semblante um pouco sério.

 

“Ah, Rae, você diz isso porque nunca teve a oportunidade de fazer algo assim!”

 

“E quem disse que eu quero ter essa oportunidade?”

 

Mutano se calou e deu um olhar emburrado como resposta. Em seguida se dirigiu para o lado do amigo robô e os dois começaram a discutir sobre o que ocorrera.

 

“Um dia eu ainda mato ele...” Robin murmurou enquanto socava a palma da mão esquerda com o punho direito fechado.

 

“Se quiser ajuda, Robin, pode contar comigo.” Ravena respondeu sorrindo.Robin devolveu o mesmo sorriso para a amiga como resposta e se virou.

 

Ele avistou Estelar recostada na parede ao lado com sua atenção voltada para a passagem bloqueada do lugar. Seus olhos verdes estavam fixados em algo e davam a impressão de estarem hipnotizados. Mas não era isso. Com certeza não era. O rosto da garota deixava à mostra uma certa... preocupação.

 

“O que foi, Este-”

 

“Shhh!” Ela posicionou o dedo indicador nos próprios lábios para que o herói se calasse. Parecia assustado. “Fique quieto. Tem algo lá fora.”

 

Estelar voou para a entrada e começou a espionar por uma das falhas daquela pedra.

 

“Pessoal!” Robin gritou sussurrando, fazendo Ciborgue e Mutano se calarem. “Façam silêncio! Tá acontecendo alguma coisa lá!”

 

A empata, o metamorfo e robô se entreolharam por um breve momento e correram para perto do líder. Ambos ficaram observando Estelar.

 

A garota continuou olhando através da fresta enquanto se mantinha a uns dois metros acima do solo, flutuando. Estava mesmo atenta. Seus olhos não perdiam o objetivo de vista um segundo sequer, mesmo que o lugar estivesse simplesmente vazio...

 

Os tamaranianos eram treinados desde a infância para que fossem bons guerreiros e defendessem seu planeta. Por isso, identificavam rastros quase imperceptíveis aos sentidos humanos, como sons, por exemplo. Podiam ouvir a respiração de uma fera como as que ficavam na fortaleza, seus passos, etc. Coisas do tipo.

 

O que importava mesmo era que Estelar tinha ouvido algo no meio daquela floresta assombrosa. Não eram aves, muito menos o vento. Mas, seja lá o que fosse, ela sabia que não era boa coisa...

 

Lá fora não há ninguém, mas sinto que está por ali... tenho certeza!

 

Ela forçou um pouco a vista e rodeou o lugar com seu olhar uma segunda vez. Estava deixando algo escapar. Um vestígio, uma pista. Muitas vezes um pequeno detalhe levava para um caminho ainda maior, mas também poderia levar para uma cilada. Não podia arriscar tanto.

 

“Não...” Ela se afastou a alguns centímetros da pedra como se tivesse visto um fantasma.

 

“Star, o que você viu?”

 

“Podem ver também, mas façam silêncio. Eles ouvem muito bem...”

 

“Eles? Eles quem?!” Mutano questionou, sussurrando.

 

“Olhe e entenderá, mas, por favor, cale-se.”

 

Os outros não disseram mais nada, apenas subiram em algumas rochas e espionaram pelas demais frestas. Lá fora, um grupo de cinco monstros bípedes discutia numa língua própria, que parecia impossível de ser traduzida por alguém. Era como se um sujeito pegasse uma dúzia de letras do nosso alfabeto, alguns grunhidos e urros e misturassem de uma só vez num pequeno recipiente. Essa mistura resultava no estranho linguajar usado pelas bestas.

 

Pareciam discutir opiniões diferentes e algumas até brigavam entre si. Sem dúvida, estavam à procura dos titãs.

 

Passado alguns minutos, o bando de servidores se dispersou pela floresta obscura, fazendo com que o silêncio voltasse a predominar o local e cinco jovens soltarem um leve suspiro de alívio.

 

“Não podemos ficar aqui, não é mais seguro.” Estelar tinha um tom sério na voz. “Aquelas criaturas são Arglofs e são muito conhecidas por ter ótimo faro e audição. Se ficarmos, é só uma questão de tempo até que nos capturem novamente...”

 

“Como sabe disso tudo, Star?” Mutano perguntou.

 

“Para sobrevivermos, nós, tamaranianos, temos que conhecer muito bem a fauna e a flora do nosso planeta.”

 

“Bom, então como a gente vai sair daqui sem que essas coisas nos peguem?!”

 

“Eles se foram, Ciborgue. Provavelmente pra investigarem outra parte da floresta. Isso nos dá um tempo pra fugirmos.” Robin disse, ainda observando o lado de fora.

 

“Fugir pra onde? Não temos um mapa desse lugar, se lembra? Se a gente sair correndo feito loucos poderemos topar com aqueles bichos!!!”

 

“Calma, Mutano. Eu não falei nada sobre correr! Na verdade, tenho outra coisa em mente...” Robin começou a fitar Ravena. Os outros, ao perceberem a ação do líder e captarem a idéia, se viraram e fizeram o mesmo.

 

“O que foi?” Ela perguntou, nervosa por se ver diante de quatro olhares intimidadores.

 

“Ravena, você já recuperou seus poderes, certo?”

 

“Claro. Até cheguei a curar a Estelar, não lembra??”

 

“É claro que lembro, mas isso não vem ao caso agora. Se já recuperou seus poderes, isso significa que pode abrir um portal, né?”

 

“Aham. Mas é melhor primeiro sabermos onde vamos cair. Não quero me perder nessa floresta como da última vez que teleportei sem pensar!!”

 

Ela tinha razão. Da última vez tinha teleportado os três por impulso, desespero ou até medo por ver a situação daquela pequena batalha entre os titãs e o monstro roedor. Não queria fazer isso de novo. Principalmente pelo fato de que seria muito arriscado...

 

“Mas como vamos saber se nem conhecemos esse lugar?!” Mutano exclamou.

 

“Nós quatro talvez não, mas sei de alguém que conhece...” Ciborgue apontou para Estelar, esta ficou surpresa e deu um passo para trás.

 

“E-eu? Mas esse lugar deve ter mudado muito durante o tempo que fiquei com vocês lá na Terra, principalmente depois que esse sujeito cruel começou tudo isso.”

 

“É o único jeito, Estelar. Ao menos tente se lembrar de um... um lugar seguro pra gente.”

 

Ela não tinha certeza da atitude que tomaria, se fosse certa ou errada. Mas como resistir a um pedido dele? Robin parecia ter mesmo confiança na garota, mesmo que sua escolha pudesse ser perigosa demais para ser arriscada e colocasse os amigos numa situação ainda pior que a atual. Por isso, refletiu por mais um curto período de tempo e decidiu.

 

“Está bem, acho que sei onde podemos ir.”

 

“Ótimo.” Ravena repousou a mão direita na testa de Estelar. “ Então se concentre nesse lugar e eu farei o portal.”Estelar nada disse, apenas acenou afirmativamente para a empata e fechou os olhos, se concentrando.

 

Ravena ergueu a mão vaga para uma das paredes da caverna e também fechou seus olhos. Logo pôde visualizar, através da mente da tamaraniana, o local para onde o teleporte os levaria. Assim que deu uma checada melhor na imagem, um redemoinho negro começou a se formar na parede que apontava com o outro braço e fez com que um forte vento gélido rodeasse o abrigo improvisado, causando um arrepio em Ciborgue, Mutano e Robin. Isso era comum nos poderes de Ravena devido à origem sombria e demoníaca. Já tinham se acostumado à experiência.

 

Quando o portal foi completado e sua forma dobrou de tamanho, os cinco foram praticamente sugados por este como se fossem bonecos de papel num redemoinho.

 

Para onde iriam?

 

Não era possível dizer. A única que sabia era Estelar. Ravena apenas vira o lugar através dos pensamentos da colega, mas não fazia idéia de que se tratava. Agora, só o destino lhes revelaria tal informação...


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