Tamaran escrita por Nightstar


Capítulo 14
Despertar




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“Não acredito! Vocês falharam de novo!!” A figura sombria e armada andava de um lado para o outro no quartel general da fortaleza. Pelo menos uma dúzia de feras seguidoras estavam ali presentes, porém quietas. Não arriscariam argumentos. Sabiam do que ele seria capaz. “Como foi que um bando de pirralhos puderam passar por... por monstros como vocês?!”

 

“Mas chefe, eles tinham poderes...” Urkharlls disse, fazendo com que o guerreiro o encarasse de forma enfurecida.

 

“Poderes?! Robin não tinha, aquele robô ridículo só tinha força e atirava um laser, o verde só se transformava em animais ‘primitivos’, nós tiramos os poderes da de cabelo curto e a tamaraniana já estava praticamente derrotada!”

 

Seus seguidores deram um passo para trás instintivamente.

 

“Aliás, ouvi um boato muito interessante há pouco tempo. Que algum de vocês simplesmente destruiu a cela da minha prisioneira...”

 

Ambos se entreolharam, nervosos. O responsável, porém, se manteve firme como se não houvesse se intimidado com o tom ameaçador da voz de seu mestre.

 

“Quem foi?!!”

 

“Fui eu.” Ele disse. “Mas fiz isso porque tinha ouvido uma conversa dentro daquele lugar.”

 

“Então você simplesmente desabou a entrada da cela pra que qualquer idiota que estivesse batendo papo lá dentro saísse?!!”

 

“Foi assim que você me treinou, não? Minhas ordens são destruir a tudo e a todos, pelo menos foi isso o que você tinha nos ensinados no dia em que fomos capturados!” Ele tinha um tom desafiador na voz, como se fosse de alguém já irritado com o tratamento que recebia daquele estranho. Este se surpreendeu ao ver que os outros animais estavam se aliando ao corajoso guarda.

 

“Mas também disse que devia destruir a tudo e a todos que se opusessem a mim, e, pelo que eu saiba, a parede da cela não estava me desobedecendo...” O guerreiro pegou um pequeno dispositivo de um bolso na armadura. Parecia um controle remoto. “Você é quem está!”

 

Após dizer isso, ele pressionou um botão vermelho na ponta do dispositivo. Fazendo com que uma forte descarga elétrica, liberada pelo uniforme usado pela besta, possuísse o corpo do animal imediatamente. Urros puderam ser ouvidos enquanto a vítima se debatia violentamente, como se lutasse contra o ar que a cercava.

 

O mestre apenas continuou com o dedo pressionado naquele botão, se deliciando a cada berro de dor que o animal soltava. Tinha um sorriso perverso no rosto. De vez em quando, até dava uma pequena risadinha com o que presenciava.

 

Ele só se sentiu satisfeito assim que viu a fera perder a estabilidade de seu corpo e cair no solo frio. Estava morta.

 

“Então...” Ele recomeçou, voltando a colocar o dispositivo no bolso. “Alguém mais quer se juntar a ele?”

 

Todos ali presentes trocaram olhares aflitos entre si e em seguida se voltaram para o líder, ainda mudos.

 

“Ótimo, é assim que eu gosto! Agora quero que coloquem o ‘lixo’ pra fora... ou se quiserem podem usa-lo como seu jantar.”

 

O mestre então começou a se dirigir à porta de saída.

 

“Só mais uma coisa, amanhã de manhã quero todos na frente da fortaleza. Vamos partir em busca dos fugitivos!”

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Era noite e a floresta, como sempre, se mantinha em pleno silêncio. Parecia que todos os seres vivos que lá estavam haviam simplesmente ido embora ou algo do tipo. Diferente da Terra, Tamaran não tinha grilos para fazer suas serenatas todas as noites...

 

Só havia algo de anormal no meio daquele lugar tão arborizado, algo... luminoso.

 

Um feixe de luz alaranjada era emitido através de uma pequena brecha bem perto do solo. Dentro, dois titãs se aqueciam em frente a uma pequena fogueira no centro daquele abrigo improvisado. Os outros três estavam no canto oposto.

 

“Seria muito melhor se tivesse os marshmallows...” Mutano resmungou enquanto aproximava as mãos do ar quente emitido pelo fogo. Ciborgue e Ravena apenas trocaram olhares aborrecidos como resposta ao comentário do mais novo.

 

“Mal vejo a hora de me mandar daqui. Esse lugar me dá arrepios!”

 

“Concordo, Ciborgue, mas não vamos embora antes de descobrir o responsável por tudo isso! Ele ainda vai pagar pelo que fez com ela!” Robin tinha um tom sério na voz, como se estivesse se tratando de uma promessa que fizera a si mesmo. Isso não era novidade da parte dele, mas alguma coisa na sua voz fazia com que as palavras que foram ditas terem algo... diferente. Algo que não era possível explicar...

 

Fora isso, o líder estava recostado a uma parede na direção oposta da de Mutano e Ciborgue. Estelar, ainda desacordada, permanecia deitada no colo dele enquanto Ravena curava parte dos ferimentos que a tamaraniana havia sofrido naquela fortaleza horrível.

 

“Sorte que já recuperei uma boa parte de meus poderes. Se demorasse mais, acho que ela não resistiria...” Ravena disse, afastando as mãos iluminadas do corpo de Estelar.

 

“Foi tão grave assim?”

 

“Foi... ela já tinha perdido muito sangue por causa dos cortes profundos, sem falar das queimaduras e descargas elétricas...”

 

“Descargas elétricas?!” O líder perguntou, assustado. “Como assim?!”

 

“Foi o que eu senti. Ela estava tão ferida pelo lado de dentro quanto pelo de fora e, junto a outras características que encontrei, achei que fosse a causa mais provável...”

 

Robin olhou para ela mais uma vez.

 

Você foi torturada!

 

Ravena se levantou e começou a andar para uma pedra próxima à fogueira. Aquilo servia como um banco. Foi idéia de Mutano trazer pequenas pedras para que todos pudessem se sentar perto das chamas e se aquecer um pouco daquela noite tão fria.

 

“Como ela tá?” Ciborgue perguntou assim que viu a empata se sentando.

 

“Agora ficou melhor. Está curada e pode acordar a qualquer momento.”

 

“Isso se o príncipe encantado não acordar ela antes...”

 

“Mutano!” Ravena e Ciborgue disseram juntos.

 

“Que foi? Vocês sabem que é verdade!”

 

Os outros dois agora não disseram mais nada, apenas lançaram mais um olhar aborrecido para o mais novo e voltaram a aproximar as mãos do ar quente que era exalado pela fogueira aos poucos. Talvez até concordassem com Mutano, mas preferiam ficar quietos.

 

Robin, por sua vez, nem ouvira a pequena discussão dos três amigos. Estava imerso em pensamentos demais para ficar atento a qualquer coisa que acontecesse naquela caverna apertada.

 

No momento, estava imaginando quem seria aquele estranho que comandava a fortaleza. Não tinha idéia alguma sobre isso já que nunca conhecera uma pessoa tão cruel como essa, que superava até mesmo um psicopata como o Slade.

 

Quem quer que seja, tem um profundo ódio por Estelar. Um ódio que já devia ter anos de existência...

 

Quem seria tão cruel a ponto de machucar você desse jeito?

 

O jovem líder agora passava sua mão por uma das mechas ruivas da amiga, deslizando seus dedos suavemente pelos fios de cabelo. Como gostaria que ela acordasse. Que ela desse mais um de seus sorrisos maravilhosos que há dias não via.

 

Ao pensar nisso, Robin desceu sua mão para a mão dela e a segurou com firmeza. Foi aí que notou como a pele estava gélida. Isso o fez lembrar de que ela aparentava mesmo estar morta.

 

Odiava pensar assim. Parecia que não tinha mais controle sobre sua mente, como se outra pessoa a controlasse. Desde de que chegou naquele planeta, desde que pôs o primeiro pé naquele solo avermelhado, o garoto não parava de ter péssimos pensamentos ou intuições sobre o que havia acontecido com Estelar. Nem mesmo agora que ela finalmente estava segura ele deixara de pensar assim. Isso o irritava, e muito.

 

Não fazia idéia do que estava acontecendo com ele. Quem, afinal, estaria botando aquelas coisas na sua cabeça? Já tentou olhar para o rosto curado da garota várias vezes para se convencer de que tudo estava bem agora. Mas de nada adiantava. E chegava a ter raiva de si mesmo por isso estar acontecendo.

 

Assim, enquanto Estelar não despertasse e provasse que estava bem, o líder continuaria passando por essa... tortura!

 

Robin pôs uma das mãos na máscara e a pressionou levemente contra o próprio rosto. Era uma tentativa de reordenar os pensamentos. Na verdade, estava tentando não pensar em nada. Isso o fez se lembrar de todas as vezes que vira Ravena meditando na sala ou no terraço da torre...

 

Como ela consegue??

 

Chegou a ter um rápido ciúme da facilidade que esta encontrava para ‘esvaziar a mente’ sempre que precisasse. Era só fechar os olhos e pronto!... Claro, levitar e mencionar as três famosas palavras também faziam parte do método, mas isso não importava no momento.

 

Ele continuou pressionando a máscara contra o rosto com a mão direita nervosamente. Ainda achava que aquilo poderia resolver seus problemas...

 

“Robin?” Ele se virou a tempo de encarar um par de olhos extremamente verdes. “Robin, é você mesmo??”

 

“Star! Você acordou!” Robin parecia ter despertado da tortura. Finalmente poderia expulsar aquelas coisas horríveis que pensava há dias sem sequer ter um descanso. Era como se tirasse um peso das costas, como se parasse de se sentir culpado pelo estado anterior de sua amiga...

 

“Onde... onde estou?... Tudo que me recordo é da cela e... daquele estranho. *argh* Minha cabeça...”

 

“Se acalme, a gente tá seguro agora... pelo menos eu acho...” Robin sussurrou essa última frase para que a ruiva não ouvisse. Não queria assusta-la ainda mais.

 

Estelar então ergueu-se com dificuldade, ficando sentada no chão daquela pequena caverna e massageando a cabeça com uma das mãos. Sentia uma dor horrível que pulsava cada vez mais fortemente, parecida como a de quando alguém lhe dá um soco ou bate com alguma ferramenta naquela região. Bom, analisando os fatos, isso era bem possível de ter ocorrido...

 

Agora ela se lembrava de tudo. De quando foi raptada, da cela fria e obscura, da câmara de tortura e... dele. O responsável por tudo que passara nos dias infernais que teve em Tamaran.

 

“Estelar.” Ela se virou na direção da voz, ainda sem enxergar muito bem como conseqüência de seu despertar apressado. Mas isso não importava muito. Não precisava da visão para adivinhar quem a chamava. “O que você tem?”

 

“Não... não é nada, Robin. É só a minha cabeça. Sinto como se fosse explodir a qualquer momento!”

 

“Não é à toa. Você sangrou muito por aí...” Robin se lembrou de quando a encontrou na cela. Havia muito sangue rodeando a cabeça da tamaraniana naquele momento. “Ainda bem que nós te salvamos a tempo, Star, ou...” Ele engoliu seco e desviou o olhar. Não queria dizer a palavra que mais temia.

 

Estelar por sua vez entendeu o porquê dele se calar tão de repente e decidiu respeitar sua atitude. Não faria mais perguntas para insistir nesse assunto. Mas como estava se recordando de cada momento rapidamente, acabou percebendo que tinha acordado no colo do líder, fazendo com que seu rosto corasse violentamente.

 

Seus olhos, ainda não acostumados com a luz emitida pela fogueira, acabaram se fechando como reação quando Ciborgue jogou outro galho nas chamas inquietas, fazendo-as aumentarem repentinamente.

 

O robô, a empata e o metamorfo, como estavam conversando um pouco sobre assuntos diversos, não haviam notado que a amiga despertara. Apenas continuavam dando atenção ao que discutiam e ao fogo que os aquecia...

 

Os olhos de Estelar estavam ardendo e ela precisou esfregar uma das mãos por eles para que pudesse aliviar o incômodo que sentia. Também foi uma forma de tentar evitar que Robin percebesse o quão avermelhado estava seu rosto. Não queria que a visse assim. Seria desconcertante.

 

Após um curto período de tempo em silêncio, o garoto voltou a olhar intensamente para a amiga.

 

“Estelar...” Ele recomeçou. “Você chegou a ver quem era... você sabe... o cara que te prendeu?”

 

“Eu? Não pude reconhece-lo, nem mesmo perceber se era homem ou mulher. Tudo o que sei é que se trata de um... tamaraniano.” Ela pausou, confusa. “Mas não entendo, porquê alguém de meu povo guardaria tanto rancor a ponto de provocar algo assim? Tamaranianos são pacíficos. Eu não me lembro de ter causado mal a nenhum... eu... *suspiro* eu me sinto tão culpada sobre isso...”

 

“Não é culpa sua. Aquele cara deve ser um tipo de psicopata e só quer nos provocar...”

 

“Mas, Robin, se seu objetivo era nos provocar, por quê desse jeito e... comigo?? Não faz muito sentido. Eu pude ver raiva na voz dele enquanto conversava comigo na câmara de tortura, ele dizia que não importava a vida de vocês e sim a minha. Confie em mim, ele tem um motivo para me machucar, um motivo grave. Eu sou a culpada por tudo isso estar acontecendo. Não deviam ter me seguido até aqui, estão correndo perigo também.”

 

“Não fale assim, Star. Conheço você mais do que qualquer outro e sei que nunca faria mal pra ninguém. Além disso, se estou correndo perigo agora é porque eu quero me arriscar por você!” Estelar se virou imediatamente e o olhou de forma surpresa. Só então Robin percebeu o que tinha falado.

 

Essa não! Cara, você devia medir suas palavras antes de falar qualquer coisa!!

 

O líder praticamente congelou na posição em que se encontrava e sentiu seu rosto corar. Não devia ter falado aquilo... devia?

 

Instintivamente virou seu rosto e passou a mão nervosamente sobre os cabelos. Queria evitar qualquer contato visual entre ele e a garota que o encarava na sua frente, ainda calada. Parecia até que seu coração, rufando feito um tambor enfurecido, iria jogar o emblema do uniforme para longe quando menos esperasse.

 

E agora, o que eu faço?!

 

Estelar ainda não acreditava no que tinha acabado de ouvir da boca do menino-prodígio. Será que ouvira bem? Robin disse que... queria se arriscar... por ela?!

 

A única coisa que fizera como reação foi inclinar um pouco sua cabeça para poder ter uma visão melhor do rosto que o rapaz insistia em ocultar. Nunca pensou que o veria assim, aparentando estar tão... indefeso. Uma cena que, para Robin, era patética! Afinal, estava se escondendo da melhor amiga. Desde quando um herói fazia isso?!

 

“Você... quer se arriscar por mim?” Ela repetiu após um pequeno silêncio, como se estivesse não só questionando o amigo, mas raciocinando suas palavras.

 

Robin a olhou novamente e notou que ela tinha se aproximado um pouco para fazer a pergunta. Provavelmente para que este se virasse e desse atenção ao que dizia. Bom, funcionou.

 

“Erm... eu acho que já estou fazendo isso, não?” Ele agora usava uma das mãos para coçar a nuca, achando que isso o ajudaria a encontrar melhores respostas. “Afinal, a gente é amigo. Amigos têm que ajudar um ao outro.”

 

“Ah, certo...” Ela murmurou, desanimada.

 

“É... eu nunca me perdoaria se te deixasse na mão com aquele maluco...”

 

“Deixasse na mão? Como assim??”

 

“Ah é, significa desistir da pessoa. Se eu fizesse isso com você, nunca me perdoaria.”

 

“Mesmo?” Ela perguntou, com brilho nos olhos.

 

“Claro! Você é minha melhor amiga, Star. Te perder seria horrível!”

 

Assim, os dois pararam de conversar e começaram a se encarar de forma profunda, como se estivessem hipnotizados um pelo outro. Olhos nos olhos. Ambos emudecidos. Uma visão que chegou a durar alguns minutos apenas.

 

Sem que nenhum dos dois percebesse, suas cabeças foram se inclinando vagarosamente em direção ao centro. Era um movimento lento, mas como ambos já estavam bem próximos não iria tardar para que a cena se completasse. As batidas do coração aceleraram de forma inesperada, assim como a respiração, que se tornou nervosa e ofegante.

 

Não acredito que isso está acontecendo...

 

Foi o último pensamento que Estelar e Robin tiveram pouco antes de seus olhos se fecharem. Agora, só era possível sentir a respiração rápida da pessoa à frente tocando de leve no rosto. Era estranho. Ambos se sentiam de uma forma... inexplicável.

 

E, seja lá o que fosse, eles gostavam de se sentir assim...


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