Tamaran escrita por Nightstar


Capítulo 13
Fuga




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“Eithri!” Uma voz grossa chamava. “Onde está você, seu imbecil?!”

 

A criatura que, até o momento, só ficara imóvel em frente aos quatro titãs aflitos, se virou na direção da voz e atendeu ao chamado. Era outro monstro que gritava seu nome, um da mesma espécie.

 

“Estou aqui.” Ele respondeu com uma voz rouca e baixa. Tanto que parecia ser uma voz de alguém cuja saúde estivesse comprometida, alguém que sofria de uma doença há tempos.

 

“O que está fazendo?! Precisamos investigar tudo isso ou o mestre manda os guerreiros nos degolarem!!”

 

“Eu... ouvi ruídos nessa direção.”

 

O outro então se virou para a cela e a observou com dificuldade.

 

“Esta é a cela da garota tamaraniana. Pelo que me falaram, seu estado é grave e já pode ser ‘descartada’...” Nesse instante, Robin sentiu seu coração apertar contra o próprio peito. Mas a conversa entre as criaturas prosseguiu. “Não existe possibilidade alguma de ter se movido.”

 

“Mas nossa espécie nos permite ter uma audição extremamente aguçada e você sabe muito bem disso. Não me engano sobre o que eu ouço!”

 

“Tudo o que eu ouço é a respiração de alguém, provavelmente da prisioneira. Se nós pudéssemos enxergar melhor, talvez poderíamos ver o que realmente está lhe atraindo a atenção. Agora pare de perder tempo e vamos nos unir aos demais guardas para começar a busca!”

 

O tal Eithri bufou com ódio como resposta e começou a andar no mesmo ritmo do outro guarda, seguindo-o, sem ao menos notar a presença de mais ninguém além da do corpo aparentemente sem vida de Estelar.

 

Após o som dos pesados passos daqueles dois enfraquecerem e se dissiparem pela distância percorrida, Ciborgue, Robin, Mutano e Ravena finalmente puderam dar um suspiro de alívio. Parecia que o perigo já havia passado. Pelo menos até agora.

 

O que aconteceu significava que deveriam partir o mais rápido possível. Qualquer outro guarda que visse os estragos feitos na porta da cela não hesitaria em checar seu interior a fim de tentar descobrir quem fora o responsável por tal ato e, provavelmente, os titãs não teriam outro golpe de sorte como esse último. Afinal, nem todas as criaturas que protegiam essa fortaleza gigantesca tinham a vista comprometida...

 

“Titãs, vamos!!” Robin gritou, erguendo Estelar novamente em seus braços.

 

Os outros não disseram nada, apenas dispararam na direção oposta àquela que as duas criaturas haviam partido.

 

Ciborgue e Mutano correram na frente já que, no momento, eram os únicos com poderes fortes o suficiente para poder ‘distrair’ algumas das feras guardiãs pelo caminho. Ravena ainda não podia voar, então também correu no mesmo ritmo, acompanhando o garoto mascarado.

 

Não demorou muito para que os primeiros obstáculos aparecessem. Dois seguidores daquele guerreiro misterioso estavam barrando o corredor pelo qual os titãs percorriam. Um era esbelto, tinha asas e o corpo repleto de penas, mas isso não o fazia perder a aparência assustadora. Muito pelo contrário. Possuía dentes afiados e voltados para fora das maxilas, fazendo com que se cruzassem ao redor da boca fina como um bico. Também tinha dois pares de olhos extremamente violetas que começaram a brilhar assim que avistara os quatro heróis em sua direção.

 

O segundo era praticamente o contrário do monstro ao lado. Era maior e musculoso, com dois longos chifres voltados para cima. Seu queixo parecia uma pedra grossa direcionada para frente de uma forma que se prolongasse em forma de uma pequena foice pontiaguda. O corpo era formado por escamas. Focinho com uma pequena elevação no meio, que não chegava a ser um terceiro chifre, mas que contribuía para a forma bizarra desse animal...

 

Ambos também com uma pequena armadura e o mesmo brasão desconhecido.

 

Ravena foi a primeira a perceber a luz que tomara posse dos olhos do primeiro guarda. No entanto, não foi preciso usar seus dons para notar que aquilo significava que um problema estava a caminho, um grande problema por sinal. Lembre-se de que muitas das criaturas que viviam naquela floresta sombria eram dotadas de dons incríveis e, para o azar dos titãs, fogo era um deles.

 

O ser esbelto e alado não hesitou em atacar. Então, ergueu sua cabeça para trás, de forma que o ajudasse a tomar bastante fôlego. Quando este se satisfez com o ar tomado, rapidamente se virou na direção dos jovens e soltou uma densa rajada de fogo que vinha de sua garganta.

 

A empata reuniu um pouco da força acumulada e criou um escudo para desviar as chamas. Era pequeno, mas foi o suficiente para dar a chance de Mutano reagir.

 

Ele iniciou a batalha se transformando num velociraptor e saltando sobre o pescoço do animal emplumado. Para um vegetariano, era horrível fazer isso, pois logo sentiu o gosto do sangue que invadia sua boca. Sangue vindo do pescoço ferido.

 

O guarda que fora atacado agora se debatia numa tentativa inútil de se livrar do garoto cravado na sua garganta. Mas isso só estava piorando a situação. Cada movimento brusco que causava fazia com os dentes longos de Mutano deslizassem centímetros a mais sobre sua carne, agravando o ferimento e aumentando o sangue que escorria sem parar.

 

Vendo que o herói mais novo tinha, aparentemente, a situação sobre total controle, Ciborgue começou a atacar o segundo guardião. Ele começou a soca-lo com todas as suas forças, mas isso não formava um arranhão sequer na pele da criatura.

 

Robin não podia fazer muito para ajuda-los. Na verdade, não poderia fazer praticamente nada. Caso entrasse na luta, deixaria Estelar vulnerável a qualquer outro animal que viesse por trás de forma inesperada.

 

Ravena estava ajudando o robô o Maximo que podia, mas nada funcionava. Até Mutano estava tendo maior progresso que esses dois juntos (algo raro de se acontecer)...

 

O monstro alado, já sem forças para lutar, soltou um forte e agudo guincho como último esforço para se livrar dos dentes que ainda se mantinham fincados no seu pescoço. Depois disso simplesmente caiu no chão, inconsciente.

 

Foi nesse mesmo instante que a criatura mais forte ficou perturbada e começou a urrar de dor. Caindo de joelhos e com uma das patas posicionada na cabeça.

 

“O que aconteceu??” Ciborgue questionou, confuso.

 

“Foi o guincho, parece que esse bicho tem ouvidos sensíveis...”

 

Depois de ouvir a empata, o titã metálico soltou um pequeno sorriso malicioso num dos cantos da boca.

 

“Então... você não gosta de som alto...” Ele estava com uma voz desafiadora, se aproximando cada vez mais do monstro que se encontrava de joelhos. Ciborgue acabara de ativar o canhão sônico. “Quero ver se agüenta isso!”

 

Ele pulou nas costas do animal escamoso e posicionou a arma bem ao lado do ouvido direito. Seu canhão agora estava programado para reproduzir um som de quase um milhão de decibéis, só fazia isso em situações de emergências e, para ele, aquela era o momento perfeito.

 

Ao disparar, Mutano, Ravena e Robin foram obrigados a tapar os ouvidos para evitar a dor que parecia prestes a estourar a cabeça de cada um. Sem muito êxito com tal ato, mas pelo menos evitaria que ambos desmaiassem.

 

A enorme criatura soltou urros horrendos que pareciam serem provocados por alguém em agonia, provavelmente essa era sua situação atual.

 

Após poucos segundos, o guarda caiu no chão, estava derrotado. Ciborgue também tombou e permaneceu deitado alguns metros adiante.

 

“Ciborgue!” Robin gritou, se aproximando do mais velho. “Tá tudo bem?”

 

“Acho que sobrevivo, mas vou ficar ouvindo zunidos durante uma semana...”

 

“Você não tem do que reclamar! Eu to sentindo gosto de sangue até agora!! – argh!” Mutano reclamava enquanto cuspia o sangue que invadira sua boca durante a batalha.

 

Logo, um forte tremor abalou o lugar.

 

“São as bestas! Ouviram a briga e agora estão vindo pra cá!” Ravena alertou.

 

“Temos que ir! Vamos!!”

 

Dada a ordem do líder mascarado, todos começaram a correr o mais rápido que podiam. Como rastro, deixaram duas criaturas inconscientes no chão e uma imensa poça de sangue. Aqueles guardiões que se aproximavam rapidamente eram animais hostis, carnívoros. Por isso, o cheiro de sangue fresco que era liberado no corredor só aumentaria o apetite e os estimularia a chegar logo na cena do que antes fora uma luta.

 

Assim, se não fossem rápidos o bastante, os titãs correriam um grande risco de serem devorados!

 

Aquele corredor por onde quatro jovens onde percorriam às pressas tinha ligação com diversos outros caminhos que passavam por toda a fortaleza. Suas entradas não passavam de grandes aberturas no meio de uma imensa parede de pedra, sem portas, sem nada. Muito simples. Mas também, quem se importaria em adicionar detalhes num lugar como aquele? Foi feito para que parecesse um lugar desprezível, sombrio e assustador o suficiente para intimidar qualquer um que desobedecesse ao dono...

 

Mas o que importava era que as passagens serviam para que as bestas se movimentassem por cada mínimo canto da construção sem problemas e, a qualquer momento, uma delas poderia surgir bem frente dos heróis...

 

“É por aqui mesmo, Ciborgue?” Robin perguntou enquanto o seguia.

 

“Segundo os meus dados... sim. A saída fica nessa direção se seguirmos em frente.”

 

“Correção, se eles nos deixarem! Olha!” Mutano apontou para trás, onde pelo menos quatro dos guardas corriam na sua direção.

 

Como muitas outras passagens se encontravam ao longo do caminho, vários outros monstros foram se juntando e aumentando a equipe inimiga que prosseguia com a perseguição. Não demorou para que os quatro percebessem o que estava acontecendo.

 

“Essas feras parecem surgir do nada!”

 

“Não, Mutano.” Robin respondeu. “Elas estão vindo dessa portas. Se ao menos tivéssemos um jeito de bloqueá-las...”

 

“Talvez eu possa ajudar com isso.” Ravena disse. “Desde que nos libertamos, consegui recuperar uma pequena parte do meu poder. Posso fazer um escudo...”

 

“Peraí, mas cê nem consegue voar ainda! Como vai acompanhar a gente??” Mutano impôs enquanto olhava nervosamente para trás, seus perseguidores pareciam ter se multiplicado mais uma vez.

 

“Se você colaborar, eu acho que sei como...”

 

Assim, pouco tempo depois, uma barreira de energia negra se formou na frente de todos os guardas que corriam atrás dos quatro jovens e os deixou sem ter para onde ir. Mas não foi só isso, Ravena continuou usando os seus poderes para que formassem a mesma barreira nas laterais do longo corredor, tampando suas passagens.

 

Como estava nos limites de seu poder, fez com que, aos poucos, o muro negro que criara logo atrás se movesse e continuasse o percurso. Pelo menos poderia atrasar os guardas.

 

“Não mais por quanto tempo vou agüentar. Então dá pra ir mais rápido?!” Ela disse para o cavalo verde em que estava montada. Este apenas bufou raivosamente.

 

Era só o que me faltava!

 

Não vendo outra saída para tal situação, Mutano apressou um pouco seus galopes a fim de chegar logo na saída. Não sabia se ia suportar as reclamações da empata por mais tempo sem perder a concentração sobre a forma que assumira. As imagens de monstros socando as paredes de energia negra que bloqueavam as passagens ao lado também colaboravam para o nervosismo que estava sentindo, fazendo com que a concentração se tornasse um verdadeiro obstáculo para ele.

 

Felizmente, não demorou para que chegassem na entrada da fortaleza.

 

O garoto de pele verde voltou ao normal enquanto Ravena, já no chão, formava um bloqueio na saída daquele corredor e impedia a entrada dos guardas na câmara onde estavam. Ciborgue apenas observava com espanto as portas enormes feitas de rocha sólida. Pareciam ser indestrutíveis.

 

“Então... essa era a nossa saída??” Mutano questionou, um pouco inconformado com o que via agora.

 

“Pior que é. Temos que derrubar as portas.”

 

“Então andem logo, pois não vou conseguir segura-los por muito tempo!” Ravena deixava gotas de suor escorrerem pela face a cada soco que a parede de energia negra sofria.

 

“Ciborgue, tente usar sua força!” Robin gritou, ajoelhado ao lado de Estelar. Estava recuperando as forças da última correria.

 

O robô deu um sinal afirmativo para o líder e começou a socar a rocha com tudo o que tinha. Porém, nenhum arranhão foi provocado em sua superfície.

 

“Se continuarmos assim a gente vai acabar servindo de almoço pra eles!” Ciborgue concluiu.

 

“A-almoço?!” Mutano arregalou os olhos e engoliu seco. Era novo demais para ser... devorado! “Ei, Ci!”

 

O titã metálico olhou de forma surpresa para o garoto que o invocava a alguns metros. Pelo tom de voz, parecia ser algo importante.

 

“Sai da frente!” O metamorfo gritou correndo na direção da passagem. Ciborgue apenas desviou, assustado.

 

Quando conseguiu uma boa velocidade, ele se transformou num tiranossauro e se chocou fortemente contra as portas rochosas. O método funcionou. Mutano caiu para trás e uma grande rachadura tomou posse da passagem de pedra rapidamente. Foi só uma questão de segundos para que esta se partisse em dezenas de pedaços e desabasse no solo arenoso que cercava a construção pelo lado de fora.

 

Não queriam perder tempo, então, sem pensar duas vezes, os titãs se puseram em pé e tornaram a correr. Dessa vez, iam para a floresta.

 

“Idiotas!!” O mestre de armadura gritava assim que chegou na entrada da grande construção. “Vão atrás deles antes que escapem!!”

 

As bestas, temendo pelo que seu líder fizesse se não obedecessem, dispararam na direção dos garotos fugitivos. Estes já haviam se misturado em meio às árvores do lugar.

 

“Pessoal, aqui!” Robin gritou enquanto apontava para uma estreita abertura de caverna. Estava bem camuflada com a vegetação que a cobria, então seria um excelente lugar para se esconder, por enquanto.

 

Ao ver Robin entrando na fissura, Mutano, Ciborgue e Ravena se entreolharam como se estivessem em dúvida sobre a atitude. O que durou pouco tempo. Ao ouvir os grunhidos e passos das feras, correram para lá e se juntaram ao líder.

 

Tudo o que podiam fazer no momento era olhar pacientemente as patas que se movimentavam próximas à abertura e se esforçar para não provocar um ruído sequer. Agora, um movimento em falso e poderia ser o fim.


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