Jolly Roger escrita por Luangel


Capítulo 5
Suna...


Notas iniciais do capítulo

Oiê! Como vão vocês, meus queridos mosqueteiros? Bem, peço desculpas pela demora, mas tenho uma boa notícia: estou de férias, ou seja: mais tempo para postar(eu acho...)! Enfim, espero q gostem desse cap...



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—Traga-me água quente e comida. — Pedi e coloque mais duas moedas. —E mande alguém levar meu cavalo ao estábulo.

Sakura Haruno:
    A proprietária guardou as moedas no bolso do avental velho com um olhar feroz. Suspirei, sabia que o encarregado de cuidar de Hercules não receberia nenhuma daquelas moedas de ouro. Logo aquela velha chata foi embora e finalmente sozinha eu me joguei na cama, sentindo a palha fina farfalhar sob meu corpo magro. Esbocei um sorriso sonhador, eu ainda não acreditava, estava em Suna! Encontrara acomodações modestas, seria um mosqueteiro e felizmente ninguém me questionara até o momento. 
    Todos me tratavam como se fosse mesmo um homem. Estou começando a achar que talvez exista uma chance de sucesso em meu plano. Quando a viúvas retornou com água quente e um mingau ralo e de aparência aguada, a minha confiança evaporou e eu me sentia tensa e preocupada. Antes de tomar banho eu fechei a porta e para me certificar de que não teria a minha privacidade invadida, coloquei a cômoda contra a porta.
    Eu tentava me banhar como podia com a água morna enquanto várias perguntas ainda persistiam em minha mente. Como eu poderia levar adiante a farsa sendo tão obviamente uma mulher? Não seria evidente pelo meu andar, pela maneira delicada de falar, até por como usava as roupas masculinas?Logo, logo eu seria desmascarada, exposta e humilhada diante de todos os companheiros do falecido Akira, e acabaria cobrindo o seu nome de vergonha para sempre.
    O mingau era horrível, mas saciou por hora a minha fome. Os rigores do inverno haviam destruído toda a minha reserva de gordura e eu realmente esperava que no alojamento houvesse mais comida que ali, na horrível hospedaria, ou perderia ainda mais do pouco peso que tinha. Precisava me fortalecer e encorpar, ou eu seriamente rapidamente descoberta.
    A noite em Suna era quente e o ar da cidade que entrava pela pequena janela do quarto era pesado e fétido. Passei a noite toda acordada, sendo perturbada pelo calor e pelos sons e cheiros totalmente desconhecidos e novos para mim, sem contar sobre os pesadelos de descoberta e vergonha. Nas primeiras horas da manhã, eu fui despertada pelos gritos de vendedores ambulantes, anunciando seus bens.
    Já cansada, eu me levantei da cama, e envolvi meus seios com várias camadas de tiras de tecido e os cobri com a camisa. As vestes eram desconfortáveis e opressoras no calor da cidade, mas era indispensável que escondesse os meus seios para que eu não fosse descoberta. Eu nunca permitiria que minha feminilidade fosse descoberta por um erro tão elementar.
    O alojamento ficava próximo da hospedaria, bem no centro do calor da cidade. Quando cheguei lá, caminhando sob o sol forte eu sentia o suor escorrendo pelo pescoço e ensopando as minhas roupas. Homens vestindo uniformes da guarda imperial andavam de um lado para o outro, todos engajados em tarefas de suprema importância, aparentemente. A comoção me deixava confusa e eu me sentia perdida e deslocada, sem saber para onde ir.
    E para piorar, malditas lágrimas queimavam em meus olhos. Meu irmão saberia aonde ir e o que fazer. Mas não estava mais ali para me ajudar. Estava sozinha. Com toda força que tinha, ergui os ombros e comecei a andar em uma direção qualquer, esperando parecer mais confiante do que se sentia. Mas infelizmente a minha caminhada foi interrompida por um grito de um mosqueteiro:
    —Akira? Akira, é você?
    Virei-me e virei o rosto na direção contrária á voz, com medo. Uma parte crucial de meu plano era evitar todos os velhos companheiros do falecido, para reduzir as chances de ser descoberta.
    —O que quer?—Disparei com a voz baixa e grave, soando impaciente.
O mosqueteiro hesitou e disse:
    —Akira?—A pergunta era confusa, como se o homem não conhecesse seu “amigo”. —Para onde vai com tanta pressa? Não tem tempo para cumprimentar um velho amigo?
    Eu respirei profundamente e me segurei para não revirar os olhos. O fitei e examinei a aparência do rapaz pelo canto do olho. Ele era mais alto que a média, mais alto que eu, certamente, e tinha ombros largos, como poucos ali. Mas apesar do porte avantajado, ele usava a jaqueta do uniforme com uma graça natural invejável, apesar de mancar um pouco. O cabelo dele era preto e espetado para trás, desgrenhado na verdade, mas bonito, e as botas de couro preto que cobriam suas pernas até a metade da coxa brilhavam pelo polimento cuidadoso.
    Eu realmente queria saber que amigo de Akira era esse, mas não tinha meios para descobrir sem se expor ao risco de ser desmascarada por perguntas descabidas. Quem quer que fosse, ele certamente seria digno de meu olhar, se algum dia tivesse a liberdade para olhar o que quisesse. Eu cruzei os braços sobre o peito e bati a ponta de um dos pés contra o chão.
    —Estou procurando pelo capitão. Por acaso o viu?—Perguntei sem me importar em estar sendo um pouco mal-educada.
    O mosqueteiro ignorou a minha falta de educação e apontou para um grupo de edifícios do outro lado do pátio.
    —Na ultima vez que eu o vi, o capitão estava chamando a atenção do capitão da infantaria.
Sem responder nada eu parti para a direção indicada, mas o mosqueteiro infelizmente me seguiu.
    —Lamento sobre a perda que sofreu. Senti muito por não poder ajudá-lo.
    Soltei um grunhido em uma resposta incompreensível. Mesmo depois de tantos meses de solidão, de ter aprendido a lutar e recuperado a força, a perda ainda atingia o meu coração como uma faca cravada em meu peito. Não sabia se poderia falar sem trair minha emoção.
    —Sempre soube o quanto você e sua irmã eram próximos, como você a amava.
    Em meio a dor, meu coração se encheu de orgulho por saber que meu irmão falava sobre mim, confidenciando seu amor a um amigo querido. Foi necessário pigarrear várias vezes para limpar a garganta de toda a emoção antes de responder:
    —Éramos gêmeos. Raramente nos separamos um do outro. Éramos dois, e agora sou um. É como se parte de mim houvesse desaparecido...
    —Também chorei a morte de sua irmã, Akira. Já estava meio apaixonado por ela depois de ouvir seus relatos. Esperava ser seu cunhado a essa altura.
    Engoli a seco aquelas palavras e uma só palavra ocupou a minha mente: Sasuke. É claro, um homem tão bonito só podia ser o tal conde, o culpado por minha ruína. Eu parei e o encarei como meu inimigo pela primeira vez.
    —Já não importa mais. —Retruquei, minha voz estava fria como o mais puro gelo. —Sakura está morta e enterrada, e nada pode trazê-la de volta.
    Sasuke estreitou os olhos, parecia ate espantado com as minhas palavras.
    —Akira, você não é mais o homem que conheci. —Sua voz continha grande melancolia, o mosqueteiro falava com o mesmo tom frio que eu usara há pouco. — A enfermidade o transformou no corpo e na mente.
    —Sou o homem que sempre fui. —Retruquei voltando a andar, tentando não pensar nos horrores nos invernos passado em uma casa solitária e cheirando a morte. Sasuke prometera a Akira que cuidaria de mim, mas ele não cumpriu a promessa. Só Deus sabia como o odiava por isso. —Não tinha tempo para covardia e canalhice há um ano, e ainda não tenho. Bom dia.
    As palavras mal haviam acabado de deixar a sua boca, quando eu senti uma repentina e aguda pressão na região do ventre. O conde, movendo-se com velocidade espantosa, apesar da dificuldade que o fazia mancar, pressionava a ponta de sua espada contra o couro de meu colete.
    —Nenhum homem me acusa de covardia, Akira. Nem mesmo você. Onde está a sua espada?
    Então era isso. Eu recuei alguns passos e empunhei a minha espada. Respirei fundo, se estivesse mais calma e controlada, não o teria provocado tão prontamente. No calor do momento, me deixei ser guiada pelo ódio contra tudo que ele representava, a morte de Akira e a perda da confiança na humanidade. Esqueci-me de que agora sou um homem e cujas palavras seriam tomadas por um insulto eu cedi à tentação de desafiá-lo.
    Agora nós lutaríamos. Não tinha ilusões quanto a minha habilidade com a espada. Eu me empenhara no aprendizado solitário, mas precisava urgentemente de um professor experiente. A menos que tivesse sorte, a menos que Sasuke fosse um espadachim desajeitado, provavelmente eu encontraria a morte nos próximos instantes. Não pense que eu tenho medo de morrer pela lâmina do conde; mas temo morrer sem honra.
    Concentrei-me na espada. Eu lutaria bem e vingaria os Harunos, se pudesse. Se não, pelo menos eu morreria em paz, conformada de que fizera o melhor possível. Pisquei forte, evitando as lagrimas de ódio que queriam descer por meu rosto, eu lutaria por meu falecido e amado irmão e com esse pensamento investi contra o inimigo que se esquivou com uma rapidez impressionante.
    O conde fez um movimento com o corpo e me atacou. Mordi o meu lábio inferior para reprimir um sorriso, eu conhecia este golpe. Akira havia me ensinado quando ainda éramos crianças. Torci meu corpo para o lado oposto e o golpe do mosqueteiro encontrou apenas o vazio. Nós dois nos movimentávamos para frente e para trás, atacando e defendendo, o ruído do choque entre as espadas atraindo um grande número de curiosos.
    Eu arfava e sentia que o meu braço, que segurava a espada, começava a doer. Sasuke mancava mais do que nunca, seu rosto estava crispado pela dor, mas ainda nem começara a suar. Eu o ataquei novamente. O conde se esquivou, inclinou-se para os nossos espectadores e ergueu o corpo, apontando a espada para mim, que nem tive tempo de reagir. Como em um humilhante espetáculo de circo, a platéia ria.
    Fuzilei o homem a minha frente com o olhar. O moreno acabara de ridicularizar a minha falta de habilidade diante de todos.
    —E então? Está pronto para engolir a ofensa, rapaz?
As palavras de escárnio me levaram a redobrar o esforço. Ele me desafiara, brincara comigo como um gato brinca com um rato.
    —Nunca. —Respondi entre dente, o orgulho falando mais alto que a prudência.
    De súbito eu o ataquei com fúria renovada, concentrando toda a minha atenção nos movimentos do corpo de meu oponente, buscando identificar pistas do próximo golpe, pequenos sinais que dariam a mim a vantagem no contra-ataque. Um dos malditos curiosos ali presentes gritou uma palavra de incentivo. Sasuke se virou para agradecer tocando a aba de seu chapéu.
    Aproveitando a chance eu o ataquei com precisão e rapidez, e a ponta de minha espada rasgou a parte superior do braço do conde. O mosqueteiro praguejou ao ver o liquido vermelho manchando sua jaqueta, e logo toda a despreocupação e leveza desapareceram de sua face. A determinação que surgiu em seu lugar despertou em mim a primeira onde de medo.
    Todos os presentes se calaram, sentindo que a brincadeira havia chegado ao fim. O homem investia furioso contra mim, golpe atrás de golpe, me empurrando contra a muralha do pátio até não haver mais para onde eu fugir. E o moreno atacou novamente. Com a espada erguida para me proteger do golpe, eu acabei caindo de costas no chão de terra. A força do impacto arrancou a espada de minha mão, jogando-a para longe, fora de meu alcance.
    Ele estava de pé ao meu lado, segurando a espada contra o meu pescoço, com o corpo, bloqueando a luz do sol. Mesmo estando correndo perigo eu o fitava com o coração cheio de ódio, desafiando-o a me degolar e pôr fim aquela disputa. Os olhos de Sasuke eram negros, frios como gelo que cobre o solo no inverno. Frios como a morte que insistia em me rondar.
    —Retire o que disse. —Ordenou o conde, mais frio do que nunca, mas eu não tive medo dele e cuspi, sabia que este seria o meu ultimo gesto de vida.
    Devagar, a ponta da espada se afastou de meu pescoço. O mosqueteiro a devolveu a bainha. Eu assistia a tudo aquilo, meio... Perplexa! A essa altura eu já esperava estar no Paraíso com Akira, mas o homem me desapontara mais uma vez. Privando-me da alegria do reencontro. O moreno era mesmo muito ousado, já que ele mantinha a mão estendida em minha direção, mas eu recusei preferindo me levantar sozinha.
    —Por que não me mata?—Perguntei.
    Sasuke me encarava confuso, como se visse que eu realmente não era o Akira, e isso me preocupou.
    —Você não é nem digno de morrer pelo aço de minha espada. Esqueceu tudo o que o capitão e eu ensinamos sobre a arte da luta? Só volte a me insultar quando souber enfrentar uma espada com maestria. —Retrucou o conde, frio e com desdém para comigo.
    Estava cansada demais para retrucar e assim eu o vi caminhar mancando para longe, balançando a cabeça com um misto de tristeza e incompreensão. O rosto daquele mosqueteiro estava gravado para sempre em minha memória; o rosto do falso amigo do seu irmão. Meu pior inimigo. Agora recusando em me matar, ele me insultara mortalmente. Peguei a minha espada do chão e a guardei na bainha.
    Não descansarei enquanto no matar, conde maldito... Dessa vez o homem havia conseguido escapar de minha vingança, mas não tem importância. Na próxima vez não estarei tão despreparada. Para minha surpresa, um homem grandalhão com ombros largos como uma porta destacou-se entre os espectadores.
    —Haruno, meu jovem!—Ele disse batendo e minhas costas com tanta força que quase cai contra o chão novamente. — Estou feliz por tê-lo de volta ao meu regimento, embora esteja tão magro e pálido. Quanto á sua exibição com a espada, mais parecia uma garota lutando! Um período de treinamento intensivo vai devolvê-lo á forma de antes. Voltará a lutar como um homem. —Esse é Jiraya, o capitão dos mosqueteiros. 
    Contive um gemido angustiado e, séria, toquei o chapéu e me inclinei para frente para meu superior. Coberta de suor, sentindo o peso da humilhação de uma derrota vergonhosa...   Definitivamente... Não era nesse estado que sonhara conhecê-lo.


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Notas finais do capítulo

E aí? Mereço reviews?^^
:*



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