Jolly Roger escrita por Luangel


Capítulo 4
Akira...


Notas iniciais do capítulo

Oi! Como vão vocês meus mosqueteiros? Bem, eu vou bem, mas peço desculpas pela demora tinha tanta coisa p fazer! Peço p que vejam uma fanfic minha (quer dizer: outra)chamada INTERLIGADOS do Naruto. Enfim, aki vai um cap!



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     Eu não estava de luto, e sim em um lugar onde a desolação era só um novo fato da realidade comum. A manhã surgia no horizonte, o sol parecia frio e as cores do mundo ao meu redor haviam desaparecido. Eu estava em pé ao lado da janela, a indecisão pulsava m minhas veias. Um passo, só um passo, era somente isso que eu precisava e meu corpo se espatifaria nas pedras lá embaixo, libertando assim a minha alma dolorida para acompanhar o meu irmão ao Paraíso.

Sakura Haruno:
    A minha mão buscou o parapeito, preparando o salto final. O ar fresco inundava minhas narinas e pulmões, dispersando cheiro putrefato da morte. Inclinei-me para frente e hesitei, morrer seria pôr fim a minha dor?Serei corajosa o suficiente? De repente o meu estômago roncou, quebrando o silêncio e então pude perceber que sentia sede e fome. Suspirei, antes de encontrar minha família no Paraíso, eu saciaria as minhas necessidades físicas mais imediatas. A cozinha estava vazia e fogo do fogão não existia mais. Não havia criados ou qualquer outro sinal de vida ali.
    Eu, sinceramente, não esperava encontrá-los, mas meu coração pesava em pensar que todos nos abandonaram... A cozinha, assim como o resto da casa, tinha o cheiro de morte impregnado. Fiz uma busca rápida pela dispensa o que resultou em um pouco de cerveja, um pedaço de queijo, algumas maças verdes e frescas, e muitos potes cheios de conserva de framboesa. Comi a minha refeição improvisada no chão mesmo até meu estômago se dar por satisfeito. E após me alimentar a acabei adormecendo ainda com uma maçã entre os dedos. Mais tarde, já ao anoitecer, devorei a maça que segurava e bebi o restante da cerveja que sobrara, até a exaustão me chamasse outra vez.
    O novo dia havia surgido quando acordei, eu sentia meu corpo mais forte e minha mente mais clara. Desolação e tristeza tomavam o lugar do desespero em meu coração e eu já não queria mais pôr fim á própria vida. A minha vontade de sobreviver era mais forte que o desejo de sucumbir. Agora eu cuidaria do dever de enterrar os mortos com todo o respeito que mereciam e honraria as suas memórias por palavras e atitudes. Como o esperado, a casa estava repleto de cadáveres e Akira havia sido o ultimo a falecer. Eu gritei ao tropeçar no corpo de Chouji, o serviçal da copa.
    Ele nunca mais roubaria comida extras, aproveitando o descuido da cozinheira, nem se safaria das reprimendas distribuindo aquele sorriso maroto e radiante. Ele havia morrido como sempre vivera, escondido num canto escuro e escondido da casa, fugindo de suas obrigações, agarrado a um pedaço de pão roubado. Quando encontrei o jardineiro-chefe caído contra o muro de nosso pomar, cercado por moscas que entravam em sua boca aberta, eu já estava imune contra os horrores e os desgostos da causados pela morte. Atrás da horta havia um grande buraco e ao julgar pelo cheiro putrefato e asqueroso de morte, aquilo era um tipo de túmulo.
    Era uma cova larga e profunda, uma testemunha silenciosa da conseqüência da vinda daqueles malditos piratas... Eu não queria remover a cobertura rasa que já escondia outros corpos, pessoas que eu conhecia e amara. Tudo o que eu podia fazer era acrescentar novos cadáveres a pilha. Transportar os corpos e sepultá-los era um trabalho pesado, e eu ainda não estava forte o suficiente para tal esforço. Mesmo assim, eu perseverara, arrastando um a um os cadáveres espalhados pela casa, jogando-os na cova coletiva, determinada a remover da casa todos os restos de morte.
    Apesar da dor que queimava o meu peito eu não derramei uma lágrima sequer por cada rosto familiar que jogava naquele maldito buraco. Não podia me dar ao luxo de desperdiçar a minha energia com lágrimas inúteis. Minha família fora deixada por ultimo. Não poderia dar ao pai e ao gêmeo o indigno fim em uma cova comunitária. Arranjei uma pá e comecei a trabalhar e depois de uma tarde inteira consegui cavar duas covas suficientemente profundas para proteger os corpos de aves de rapina e outros animais.
    —Adeus. —Sussurrei em meio ao vento, olhando para os corpos de minha família. —Espero voltar a vê-los no Paraíso.
    E com a pouca força que em restara, eu cobri os corpos com terra. Já era noite quando eu voltei para casa, no quintal havia um poço e foi de lá, onde tirei balde por balde para me banhar, me lavando completamente para remover de meu corpo as marcas desse dia de horror. Só quando eu me senti limpa, desde os cabelos molhados até os pés sobre as pedras, quando o cheiro de morte deu lugar ao doce perfume de lavando e alecrim eu entrei em minha casa. Deitei-me na cama, exausta, incapaz de dormir, pensando no último dia de normalidade antes do mundo que conhecia se transformar em um verdadeiro inferno.    
    Agora eu poderia rir de como eram triviais as minhas preocupações que tivera semanas atrás. Confesso que não hesitaria em desposar o conde mil vezes se isto trouxesse a sua família de volta, mas infelizmente nenhum casamento ressuscita os mortos. Como pareciam tolos os meus pensamentos rebeldes na praia... As últimas palavras de meu irmão ecoaram em minha mente:
    —Posso morrer em paz na certeza de que ele virá em seu socorro assim que puder chegar aqui em Konoha.
    Suspirei, apesar de ser forte, eu sentia medo e desejava que qualquer um viesse ao meu socorro, mesmo que seja esse conde...
    —Por favor, venha... —Sussurrei deixando que silenciosas lágrimas umedecessem minha face sonolenta.
     
Duas semanas depois...
Sasuke Uchiha:
    Pus sob a camisa as preciosas garrafas envoltas em espessos pedaços de tecido. Ali estariam seguras. Pagara caro por elas. Uma poção para manter a praga afastada valia mais do que o próprio peso em ouro em momento de crise como esse, quando relatos sobre a doença nas regiões vizinhas chegavam aos ouvidos até dos mais corajosos. O próprio médico do rei, Kabuto, havia preparado o medicamento que ele agora carregava com extremo cuidado. Uma hora mais tarde eu já deixava Suna para trás levando apenas uma pequena quantidade de alimento e apenas uma camisa limpa na bagagem.
    O cavalo me transportaria mais depressa e para mais longe se não estivesse sobrecarregado. Akira precisava de mim e dos bens preciosos que carrego. Nos primeiros dias de viagem, tudo ocorreu bem, as hospedarias do caminho eram acolhedoras com uma lareira aconchegante e boa comida para saciar-me. Eu viajava a alta velocidade, apenas parando quando percebia que meu cavalo não agüentaria o esforço. Na medida em que eu entrava nos vilarejos, as pessoas passavam a olhar as minhas roupas sujas e para o cavalo esgotado com exagerada desconfiança.
    Suspirei e montei em meu cavalo novamente, mais uma vez, fui negado em uma hospedaria, eu teria que dormir sob as estrelas, com as roupas úmidas e a barriga roncando de fome. Os relatos sobre a doença eram muitos e isso assustava as pessoas a ponto de nem saírem de suas casas ou cederem lugares a viajantes... Um dia, passei por uma fazenda, a fim de trocar algumas moedas de ouro por pão e leite, mas ao bater na porta, não fui atendido. A porta não havia sido trancada e se abriu ao peso de minha mão. O cheiro de putrefação e morte no interior da casa era tão intenso que eu me afastei assustado.
    Era tarde demais para tentar ajudar as pessoas daquele lugar, e eu não queria banquetear meus olhos com o espetáculo mórbido que certamente o aguardava além daquela porta, já podia imaginar muito bem... Voltando a viajar eu pensava na família de Akira e realmente esperava que os Haruno tivessem sido poupados. A carta de meu amigo revelava poucas informações, apenas que sua irmã, Sakura Haruno, estava de cama, enferma. Sakura, irmã gêmea de meu amigo, a mulher com quem eu contratara um casamento. Toquei a miniatura que levava no bolso junto ao peito.
    Gentileza e femilinidade iluminavam aqueles belos olhos verdes tão semelhantes aos do irmão, mas, como era conveniente a uma mulher, desprovidos da centelha máscula. Os cabelos róseos brilhantes emolduravam o seu rosto angelical, e ela sorria para o pintor que capturara sua imagem na tela. Sakura era suavidade e beleza. Tudo o que eu admirava em uma mulher. Segundo Akira, Sakura era quase que indescritível, ao mesmo tempo em que era delicada, praticava com a espada, admirava as lutas e ao contrário de outras damas se interessava as navegações e arco e flecha, ansiando em viajar e viver aventuras.
    Pode parecer bizarro, mas eu já me sentia meio apaixonado pela jovem. Ansiava por seu salvador e protetor, defendendo-a de tudo que pudesse macular e destruir o buquê de sua inocência.  Não suportaria perde-la a morte antes de mesmo começar a conhecê-la. Se o medicamento que carrego pode salvá-la eu já me dou por satisfeito. Eu estava a menos de três dias de meu destino, quando me deparei com uma multidão de camponeses fechando a estrada. Muitos viajavam sem chapéu ou camisa, cobertos apenas por trapos, todos levando no rosto o mesmo desespero.
    O homem que seguia na frente de todos brandiu um forcado em minha direção e gritou:
    —Pare!—Ele exigiu em uma voz gutural assim que eu me aproximei o bastante para escutá-lo.
Puxei as rédeas de meu cavalo, fazendo com que parasse de andar e levei a minha mão a espada, embora não a empunhasse, não vou lutar com camponeses, não sou covarde! Os camponeses estavam desarmados, a menos que eu pudesse considerar os forcados e as foices como armas.
    —O que querem?—Perguntei e o líder mantinha o forcado com os dentes voltados para mim, numa atitude ameaçadora.
    —Não se aproxime. Volte para onde veio, garoto. Não pode passar por aqui.
    —Por que não? Não fiz nada de errado!
    Por causa de minha frase, vozes furiosas ergueram do grupo:
    —Não temos a doença em nosso vilarejo. —Esbravejou uma mulher na multidão.
    —Não gostamos de estranhos por aqui!—Rosnou um jovem rapaz.
    —Volte para o inferno de onde você saiu!—Gralhou uma idosa furiosa.
    —Desapareça! Não queremos infestados por aqui, demônio contaminado!
Não recuei ou perderia um dia de viajem por causa de medos sem fundamento de uma multidão de camponeses ignorantes! Minha doce flor podia estar morrendo sem o valioso medicamento que levava sob minha camisa.
    —Venho de Suna! Não há nenhuma praga por lá. —Gritei, silenciando a todos. —Não estou doente!
    —Então, volte para lá e deixe-nos em paz!—Suplicou uma mulher chorando.
    —Não posso voltar. Minha noiva está doente e devo levar até a sua casa a poção que a salvará. Preciso prosseguir.
    A multidão se agitou, sem saber como reagir a minha afirmação. Então o líder respondeu, confiante:
    —Não existe um só medicamento feito pelo homem capaz de salvar uma vítima da praga. É uma maldição enviada por Deus para punir os pecadores!
    —Sua noiva deve morrer!—Afirmou a mulher chorosa, seus olhos arregalados me fitavam e o ódio me subiu a cabeça, eu queria estrangular cada um daquele grupo ridículo!
    —E ele deverá segui-la na morte!—Gritou um rapaz.
    Eu não gostava do rumo que a situação estava tomando, nem dos olhares furiosos lançados em minha direção. Determinado e já furioso, cravei meus calcanhares nos flancos do cavalo, disposto a abrir caminho á força pela multidão irritante! O cavalo estava cansado demais depois de tantos dias na estrada, e sua resposta não foi suficientemente rápida. Antes que pudesse atravessar o mar de gente, os camponeses reagiram. De repente vi um forcado ser lançado em minha direção e infelizmente não consegui esquivar. Uma sensação de fogo explodiu na lateral de meu corpo.
     A ferramenta rasgava a minha carne e tingia as minhas vestes de vermelho. O cavalo gritou de dor, usando os cascos poderosos contra os camponeses. Mãos fortes me arrancaram de minha sela e atingi o solo em um baque surdo. O mundo ao meu redor repentinamente havia perdido a cor, passando em um dégradé de cinza a negro. E depois foi o nada. A escuridão. O vazio. O silêncio.

Seis Meses Depois...
Sakura Haruno:
    Eu cavalgava sem pressa pelas ruas movimentadas de Suna, registrando tudo com olhar curioso de alguém que chegava pela primeira vez a uma cidade desconhecida, o que é bem o meu caso... Os vendedores ambulantes gritavam anunciando seus produtos, jovens corpulentos desfilavam sua força física, trabalhadores se dedicavam aos seus ofícios, e todo o ambiente fervia com a agitação característica de cidade grande. Eu estava fascinada com a cacofonia de sons, imagens e cheiros que compunham Suna. A multidão me inquietava e entusiasmava.
    Vivi sozinha na imensa mansão em Konoha por todo inverno, e acabara me acostumando com o silêncio e solidão. Em Suna, nunca mais teria que viver sozinha. Uma mulher com um vestido vulgar gritou para mim de um beco sujo e sombrio. Corei violentamente e olhei para a direção oposta, mas pensei melhor e decidi que a timidez já não fazia mais sentido nesse novo mundo. Encarei a desconhecida e reconheci seu cumprimento com uma discreta inclinação de cabeça. Agora era um homem, a reencarnação de meu irmão Akira, cujo corpo havia sido enterrado naquele solo querido de Konoha.
    Suspirei, eu devia me lembrar disso sempre e honrar o nome de meu irmão e de meu pai. Lembraria sempre do amor pelo irmão e do ódio por todos aqueles que foram enganados, esses sentimentos a fortaleceriam. Durante os longos e frios meses de inverno eu havia chorado constantemente a morte de Akira. O desespero quase me destruiu, até eu transformar essas emoções negativas em força e canalizá-las para o ódio contra o inimigo, o homem que podia odiar sem destruir: o conde Sasuke. Eu havia passado as primeiras semanas após a recuperação esperando por ele.
    O conde havia prometido a Akira que cuidaria de mim. Onde, então, havia estado esse homem em momentos de maior necessidade? Ele fora resgatá-la do horror de passar todo o inverno sozinha, perdida em uma casa devastada pela morte e dor? Nesse caso certamente o teria recebido de braços abertos. Teria acolhido até mesmo um monstro se este houvesse ido salvar do amargo destino de frio e solidão. Sasuke era o meu prometido, eu repetia a mim mesma inúmera vezes enquanto tentava me aquecer diante do fogo que mantinha aceso na cozinha, comendo parcas de rações e tentando não bater os dentes de frio.
    Certamente, quando Sasuke soubesse de minha deplorável situação, ele viria me buscar. Akira confiara nesse homem. Negava-me a acreditar que o conde temia a praga a ponto de quebrar uma promessa tão solene feita a meu irmão. As semanas se arrastaram até a neve cobrir o chão, impossibilitando qualquer viagem e destruindo inteiramente a minha esperança de ser resgatada pelo conde. Eu havia me tornado mais forte na solidão, e gradualmente, também fiquei mais amarga e revoltada contra o homem que poderia ter evitado todo esse sofrimento, mas não o fizera.
    Sasuke não fora me buscar. Quando a neve do inverno havia começado a derreter, eu me vi forçada a enfrentar a realidade. Como um covarde mesquinho, ele permanecera afastado para salvar a sua própria pele, deixando o companheiro de armas e a prometida entregues a uma morte miserável... Se algum dia o conde voltasse a manifestar intenções de me desposar, seria tratado com o desprezo que merecia um falso amigo e um traidor a lealdade e a honra. Ah... Como eu desejava fazê-lo sofrer como sua família havia sofrido! Como odiava o fato dele estar vivo, quando todos que eu amava estavam mortos...
    Sasuke. O nome solava quase que diabólico e queimava em minha língua. Jamais poderia desposá-lo. Seria preferível matá-lo, arrancar-lhe o coração e atirar-lhe aos lobos! A primavera chegou, finalmente, e com o conhecimento de que outro inverno como anterior me levaria a loucura. Eu não tinha motivos para sobreviver. Podia me tornar protegida do rei e submeter o próprio destino aos caprichos do instável Orochimaru-sama, mas preferi ir ao encontro do soberano na personalidade do irmão. Eu deixei de existir... Como Akira eu teria controle sobre a minha própria vida.
    Teria a honra que um dia fora dele. Como Akira, viveria e morreria de forma honrável. Sim, eu sabia que era uma versão enfraquecida do valente mosqueteiro que deixara Suna há sete meses para cuidar do casamento da irmã, mas isso se explicaria pelas semanas de enfermidade e pelos meses preso a cama pela recuperação a que se submetera antes de estar suficientemente recuperada para se dedicar ativamente ao serviço, como Akira teria feito. Eu rezava apenas que os que haviam conhecido Akira de maneira mais íntima, não notassem a suavização nos traços e a incomum delicadeza no queixo, jamais tocado por uma navalha.
    Com os cabelos cortados recentemente e as roupas e botas do irmão, eu me tornara em uma cópia exata de meu gêmeo. Eu também não seria descoberta pela falta de habilidade nas artes marciais. Passaram os últimos meses praticando com a espada de meu irmão e cavalgando até a exaustão, agora era como se eu e Hércules fossemos um só corpo e uma só vontade. Eu era capaz de cavalgar tão bem quanto o gêmeo sempre havia montado. A minha habilidade com a espada ainda era rudimentar, mas eu vou me empenhar nisso também. Mesmo que os futuros companheiros notassem as mudanças em seu rosto ou em sua postura, nunca que descobriram a verdade.
    Era absurdo demais para ser imaginado. De acordo com o que o mundo sabia, Sakura Haruno estava morta, vitima da praga, e Akira Haruno, após escapar milagrosamente da enfermidade que havia vitimado toda família, voltava para reintegrar o regimento. Enquanto eu estava procurando um lugar onde me hospedar, encontrei um menino de rua que, mediante a uma oferta de algumas moedas, me levara até um lugar que Akira morava. Nós dois percorremos as ruas escuras e imundas, até parar na frente de uma placa desbotada anunciando quarto para aluguel.
    A viúva, proprietária da hospedaria, olhou desconfiada para mim, preocupada com suas roupas sujas e gastas pelos dias de viajem.
    —Então voltou. —Ela disse com as gengivas à mostra num arremedo de sorriso. — Soube que você estava morto, mas constato que a notícia era só uma fofoca. És um homem de sorte, Akira. Tenho um quarto vago, se quiser alugá-lo. O cavalheiro que lá habitava enforcou-se há uma semana. Porém, suponho que não se incomode com isso, já que vem de uma região onde a praga faz tantas vítimas.
     O tal quarto ficava no último andar do prédio, depois de quatro lances de escada. O calor ali era sufocante, e mal havia espaço para a pequena cama e cômoda, única mobília do aposento minúsculo. Mesmo cansado eu não contive o desgosto causado pela terrível acomodação.
    —Quanto?—Perguntei.
A viúva anunciou uma quantia exorbitante, quase o valor integral do soldo que eu receberia pelo cumprimento de meus deveres como mosqueteira.
    Eu balancei a cabeça, incrédula e disse:
    —Por um quarto tão pequeno? Como uma abertura minúscula que nem se pode chamar de janela?
    —Estou cobrando um valor extra por ter vindo de Konoha. Os outros estabelecimentos da região nem aceitariam viajantes oriundos daquela área enferma. É ruim para os negócios, se é que me entende...
    Fui forçada a reconhecer que a mulher tinha razão. Seria difícil, quase que impossível, encontrar outro lugar onde se hospedar. Mesmo assim eu estava hesitante. Pagar tanto assim pelo abrigo significaria drenar fundos mais do que necessários na propriedade da família. Relutava em lançar mão desse dinheiro, mas eu e Hércules beiravam o colapso por exaustão. Precisavam descansar. Diante de uma pausa prolongada, a viúva recuou um pouco em sua ganância temendo perder o cliente.
    —Bem, já que é um velho amigo, pode alugar o quarto por um pouco menos. —Ela anunciou uma soma mais aceitável. —Mas o pagamento deverá ser adiantado.
    Despejei algumas moedas na mão estendida.
    —Traga-me água quente e comida. — Pedi e coloque mais duas moedas. —E mande alguém levar meu cavalo ao estábulo.


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Notas finais do capítulo

E ai? gostaram? Mereço reviews?^^
:*



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