Everybody Loves The Marauders III escrita por N_blackie


Capítulo 5
Episode IV




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Episode IV

“Outubro, o mês do desgosto. Espera, isso não rima.”

Narrado por: Sirius Black

Filme do Momento: Orgulho e Preconceito (é sério)

Ouvindo: Florence + the Machine – Drumming Song

There’s a drumming noise inside my head that starts when you’re around… I swear that you could hear it it makes such an almighty soooooound…” Batuquei o volante, e Marlene me acompanhou com um coro de fundo. Meu bom humor estava nas alturas, porque além de ser o dia das audições, Lene tinha dispensado a carona com Mintch pra ir comigo pro colégio. Talvez Pete, que estava no banco de trás, não estivesse tão entusiasmado assim, mas eu estava. E muito.

Louder than silence, louder than bells, sweeter than heaven, and hotter than heeeell!” Lene levantou os braços e riu, e sorri para ela. É, eu estava me divertindo. Estacionei rapidinho perto da entrada do colégio, e vi James e Rem esperando por nós por ali mesmo, gesticulando um para o outro como se estivessem querendo decidir qual membro do Quarteto Fantástico tinha mais poder. Assim que destranquei o carro, Peter saltou e jogou a mochila nas costas. Ajudei Marlene a descer.

“Céus, é como estar vivendo num musical!” Pete reclamou, e James parou de imitar a Jessica Alba e cumprimentou Marlene. “É sério, eu devo ter ouvido todos os álbuns de Florence + the Machine dentro desse carro!”

“Nossa, que mal humor.” Lene sorriu ansiosa. “Gente, vou bater um papo com as meninas, estou super nervosa para os testes!”

“Calma, você sabe que sabe cantar.” Sorri, e ela apertou os olhos de um jeito muito engraçado.

“Você é um amor, Sirius.” Ela ficou na ponta dos pés e me puxou pelo pescoço para me dar um beijo na bochecha. Pete já tinha entrado, mas não estava nem aí de James e Remus estavam balançando a cabeça com aquele ar de “ele-não-tem-jeito-mesmo”. Até porque eu provavelmente não tenho. Marlene é tão... Marlene.

“Bom, moçada, vou indo.” Ela me largou e foi embora, e nem deu beijo em Jim e Rem (só em mim!), só um tapinha nos ombros dos dois. Sorri sozinho.

“Você é um babaca.” Remus balançou a cabeça de novo. “De verdade. Você é um completo babaca.”

“Ah, cala a boca.” Joguei a mochila nas costas.

“Sabe que ela não quer nada com você, então porque insistir, cara?” James seguiu direto para o armário, indignado. Respirei fundo para aguentar o discurso que viria a seguir. “Marlene é muito complicada, e você vai fazer o que, esperar a vida toda por ela?”

“James,” Esperei ele fechar a porta para dar a ele meu melhor olhar de eu-não-ligo possível, “Marlene e eu temos uma relação maluca, cara, eu sei que estou saindo perdendo, se for pensar bem. Mas não consigo ficar longe dela! Ela é minha amiga, minha parceira, a gente faz uma tonelada de coisa junto. Ela se importa comigo, ela-James?”

Quando ele se afastou um pouco, ainda ouvindo meu discurso (que provavelmente daria um bom diálogo num filme mela-cuecas, pra ser honesto), vi que uma garota nos encarava a tipo, dois metros de distância, segurando um caderninho contra o corpo como se fosse um escudo. Achei esquisito, até porque ela não parecia tímida pelo jeito que se vestia. Quero dizer, quando se escolhe um pulôver rosa-choque pra vestir e calça branca (uma vez Lene disse que calça branca era o máximo de confiança que as garotas podiam ter.... Viu como ela sempre aparece nos meus pensamentos?!) é meio difícil não notar.

Fiz sinal para ela com a cabeça, e quando James virou-se para olhar abriu um sorriso enorme e bizarro. Ele pôs os dedo indicador em riste para cima, como se tivesse tido uma revelação suprema. “Sirius, quero que conheça alguém.”

Ah, deus, aí vamos nós.

O segui até ela, que ficou nos observando atentamente até sorrir. Como não quis ser grosso, sorri também, e cutuquei James nas costelas.

“Sirius, esta é Summer.” Ela fez sinal para ela, e a moça afastou o caderno para se aproximar e me cumprimentar. “Lembra? Eu te falei dela.”

Ah, aquela Summer. Assenti tentando disfarçar que nem lembrava mais do nome da menina, e ela mostrou uma fileira de dentes super brancos e alinhados.

“Sirius, eu estava ansiosíssima para conhecer você.” Ela cheirava a um perfume gostoso. Meio doce, mas bom. Eu, que tenho uma queda forte por cheiros bons, gostei dela na hora.

“Vou deixar os dois a sós.” James acenou e foi embora. Summer corou. Ela me lembrava as bonecas da minha prima quando éramos crianças, aquelas de porcelana com as bochechas pintadas de rosa e bocas brilhantes, sabe.

“Jim consegue ser meio...”

“Maluco?” Ela completou, rindo. “Desculpe vir assim falar com você. Eu ensaiei tanto como seria, no final me estabanei todinha.”

“Não tem problema, eu sempre me enrolo quando conheço gente nova também.”

“Tem aula do que agora?”

“Hm... Literatura.”

“Que sorte!” Ela mostrou o caderno que estava segurando, e notei que ele estava todo enfeitado com o nome da matéria em uma letra caprichada. “Vamos, então?”

Estendi o braço para ela, e Summer riu. “Vamos, senhorita.”

Narrado por: Peter Pettigrew

Primeira Impressão: Se eu não sair daqui, vou causar um barraco

Ouvindo: Alguma coisa sobre Oscar Wilde

Eu definitivamente não tenho talentos artísticos além de música. Meu celular vibrava com as mensagens de Zoe, que estava passando por uma crise de identidade sem saber o que fazer, eu tinha vindo pro colégio num SUV cheio de hippies de musical, e agora a Sra. O’Malley queria que eu entendesse o que O Retrato de Dorian Grey queria dizer. Me dá um tempo!

“Ei, aconteceu alguma coisa?” Remus sussurrou no meio da aula, e balancei a cabeça.

“Preciso ir embora daqui.”

“Problemas?”

O celular tremeu de novo no meu bolso, e as minhas pernas chacoalhavam de curiosidade. “Algum problema, Peter?” O’Malley perguntou com um sorrisinho. Alguém (Remus) deve ter espalhado para alguém (Emmeline) que deve ter espalhado para alguém sobre Zoe ser irlandesa, e agora essa professora pensa que eu sou mega interessado em literatura irlandesa. E não é que eu não goste, mas o nível em que eu gosto de literatura irlandesa comparado ao quanto eu gosto da minha namorada irlandesa... Veja bem. E naquele exato momento eu precisava demais que ela me deixasse largar de uma pra cuidar da outra.

E por mais que minha cabeça e pernas estivessem latejando, uma voz irritante, que não por coincidência soava como a de Sirius, ficava tagarelando na minha mente: hehe, quem diria, Pettigrew, lidando com uma namorada, heheeein!

Patético.

“Banheiro.” Murmurei, sentindo a parte detrás da cabeça arder com a mentira deslavada que estava contando. Maldita bússola moral, viu. Ela pareceu suspeita – ou eu já estava alucinando de culpa – mas fez sinal para que eu saísse. Me esforçando ao máximo para esconder o celular na mão, escorreguei pra fora, e comecei a ler a torrente de mensagens que Zoe tinha me mandado.

Oi, Pete, desculpa atrapalhar, é que estou tendo aquelas dúvidas de novo. Tipo, o meu pai quer que eu faça agronomia. A-GRO-NO-MIA, Pete. Não tenho nenhum dom pra plantas, ou ficar aqui na fazenda, só que não quero magoá-lo. O que eu faço?

.. Sou eu de novo, desculpa! Estava pensando no que eu gostaria de fazer com a minha vida... Eu gosto de jornalismo, sabe. Comunicação, escrever... Eu podia fazer isso. Não podia?

Porque eu consigo me comunicar bem, de verdade.

Digo, não sei. Sou muito nova pra pensar nisso ainda!

Pete, é sério, essa é a última mensagem. Quem sou eu? Estou super confusa.

JURO que é a última agora. Preciso parar de ficar tão preocupada com isso.

Claro que, depois dessa mensagem, recebi outras dez com as mesmas preocupações. Disquei o número dela no telefone – ignorando todas as bilhões de tarifas que iria pagar por isso – e esperei tocar.

“Pete?” Ela atendeu depois de uns cinco toques, e pelo eco da voz dela, deve estar no “banheiro” também.

“Oi.” Respirei aliviado. “Liguei porque iria precisar ter doze mãos pra responder tudo o que me perguntou.”

“E aí?”

“Porque está pensando nisso agora? Ainda temos dois anos até a faculdade, pelo amor de Deus!”

“Meu pai! Agora que Ryan está de casamento marcado, ficou doido pra começar a definir a minha vida, só que não quero pensar nisso agora, e muito menos fazer alguma coisa pra fazenda!”

Não consegui evitar sorrir de leve do sotaque lindo que ela tinha. Esse era um problema de não vê-la todos os dias: com o tempo eu esquecia o som peculiar da voz dela.

“Zoe, calma. Vamos resolver isso de forma linear, ok? Primeiro, você precisa falar pro seu pai deixar isso pra lá. Ele pode ficar um pouco chateado, mas logo vai esquecer. Não fez por mal...”

“Posso passar uns dias aí?”

A pergunta veio de supetão, e me pegou desprevenido com uma esperança que vinha reprimindo há um bom tempo. “Zoe, a passagem-“

“Ryan disse que prometeu uma visita a ele, e Remus tem feito a mesma promessa. Por favor, ele disse que me leva junto.”

“Você sabe que eu nunca vou dizer que não te quero aqui, docinho.” Baixei a voz, e fiquei imaginando como seria ter Zoe de volta por perto. Era um alívio imenso, e uma sensação de calor que ultrapassava qualquer xícara de chá que mamãe pudesse fazer. Quando me respondeu, a voz dela estava mais abafada também, e reconheci por seu tom de voz que Zoe sorria.

“Preciso te ver. Estou super confusa.”

“Então venha, e traga Ryan. Nele eu dou um jeito.”

Narrado por: James Potter

Meta Atual: Quem é aquele cara narigudo conversando com Lily? QUEM?

Ouvindo: O sinal, graças a Força

O sinal bateu e interrompeu O’Malley num trecho particularmente longo de Ulysses, que ela insistiu em ler apesar de ser provavelmente o livro mais chato e complicado do universo, e eu pude sentir a atmosfera de tédio da sala se desfazer quando ela fechou o livro e nos dispensou. Olhei para os lados e percebi que Peter não estava ali, e me dei conta de que estava em um transe meditativo, porque simplesmente não me lembrava de ele ter saído de perto de mim.

A porta abriu, e de novo aquele cara esquisito entrou, e Lily saltitou até ele com um entusiasmo que me causou uma gastrite nervosa precoce.

“Quem é aquele cara?” Estiquei a cabeça, e só vi um narigão brilhante bloqueando a visão do rosto de Lily.

“Emme disse que o nome dele é Snape.” Sirius conferiu no celular. Lily gargalhou, e senti os ciúmes me corroerem por dentro.

“Que tipo de nome é esse?”

“Sobrenome.” Remus cheirou um pedaço de papel. Resolvi não perguntar porque. “O nome dele é Severus.”

Severus Snape, disse mentalmente, ouvindo os assobios do faroeste tocarem ao fundo. Uéuéuéuuuun, uouououooooooooooooooooooo.... Este colégio é pequeno demais para nós dois.

“James?” Sirius balançou a mão diante dos meus olhos. “Está fazendo uma cara muito bizarra, cara. Eu perguntei se vão na audição hoje. Lene precisa de apoio. “

“É, é, eu vou sim.” Juntei as coisas lentamente, tentando abstrair os outros sons e descobrir o que Lily estava falando. Antes que eu conseguisse captar a conversa, entretanto, ela captou o meu olhar, e fez sinal para que me aproximasse. Remus prendeu a respiração atrás de mim, e não tenho certeza ainda se foi pela tensão que se instalou ou se foi aquele papel maluco que ele estava cheirando sem parar.

“Hey.” Parei diante dos dois, e fiquei impressionado como aquele Severus era estranho. E olha que eu costumava ser bem estranho, então não desconsidere a minha opinião sobre isso. Será que Lily tem atração por caras estranhos? Será que eu só fiz parte da fantasia dela com caras estranhos?

“Queria te apresentar alguém, posso?” Ela sorriu, e assenti.

“Claro...”

“Esse aqui é Severus, aluno novo. Ele veio da Academia, então está meio perdido nesse esquema de escola pública.”

“Ah, legal. Oi, Severus.” Estendi a mão o mais cordialmente que os meus ciúmes deixavam, e ele olhou os meus dedos como se estivesse segurando uma tarântula radioativa na direção dele. Lily olhou insistente, e ele me cumprimentou de volta.

“James.”

“James é meio que meu ex, mas estamos bem, certo?” Ela sorriu na minha direção, e quis reclamar do ele-é-tipo-meu-ex. Eu não sou tipo o ex dela. Eu sou o ex dela, e contra a minha vontade! Balancei a cabeça com a língua entre os dentes.

“Certo.” Estava me sentindo um homem das cavernas. “E eu não sou o mais perigoso deles, hein.”

“Jim!” Ela reclamou, e uma sombra atrás de mim a fez dar um passo para trás. Pela primeira vez na vida, fiquei agradecido por Nate estar ali.

“Ei, Potter, Treinador mandou entregar esse treco aqui.” Ele enfiou um panfleto no meu peito, e sorri.

“Valeu, Nathaniel. Conhece Snape?”

Sou cruel? Talvez. Mas esse Snape estava me deixando nervoso. Nate olhou pra ele como se eu tivesse lhe apresentado uma barata de chapéu.

“Que nome ridículo é esse?”

“Parem com isso, vocês dois. “ Lily pegou Snape pelo braço e o guiou pra fora. “Avise a Sirius que vou estar na audição, ok, não precisa ficar gesticulando que nem doido por trás de vocês.”

Intrigado, me virei, e dei de cara com Sirius, que apontava para o ouvido com uma mão e na direção dela com a outra silenciosamente. “Sério?” Bufei, e ele sorriu amarelo.

“Parabéns, Potter, alguém é mais ridículo que você.” Nate ergueu as sobrancelhas. “Espero que Lil não se arrependa de ajuda-lo que nem se arrependeu de ter te dado uma chance. “

Meu bom humor vingativo foi pro inferno depois que as palavras dele fizeram sentido, e peguei a mochila desanimado para ir até a audição. Sirius passava convidando todo mundo pra audição de Marlene que nem um pateta, como se ela fosse se sentir minimamente inclinada a dar outra chance a ele se o fizesse, e Remus contava como outras duas cartas chegaram ao armário de Emmeline, sem assumir que ele muito provavelmente estava gostando dela também. Dois imbecis.

Um cartaz gigante – feito por Sirius – estava estendido nas portas do teatro, e entrei com raiva e me joguei na cadeira pra esperar a cantoria começar. Marlene chegou pouco depois, e arregalou os olhos diante dos grupos de garotas que passavam por ela sorrindo e desejando boa sorte.

“Porque tem tanta gente?”

Ao meu lado, Sirius levantou. “Eu usei toda a minha influência social pra convocar esse pessoal pra te aplaudir hoje. Não é muito, mas é o que deu pra fazer.”

Marlene sorriu largo, e minha alma amargurada ficou se perguntando porque ela não dava uma chance para Sirius. Ah, claro, porque não merecemos garotas bacanas, tinha esquecido. Exceto que Sirius tem tipo, dois bilhões de opções.

“Sirius!” Summer apareceu pouco depois, e Marlene pediu licença para ir ao camarim. Ela se espremeu entre ele e eu, e deu um beijo estalado na bochecha dele. “Foi tão doce o que fez por Marlene, ela é uma garota de sorte. “

“Lene é minha melhor amiga, não foi nada.” Ele sorriu, e reconheci aquela cara de paquerador que ele faz quando quer conquistar alguém. “Como está?”

“Bem melhor. Amei a receita dos bolinhos do seu pai, estou com medo de ficar gorda, até!”

“Impossível, minha cara.” Ele beijou a mão dela, e Summer deu uma risadinha. Bufei um pouco alto demais, e ela fez uma careta preocupada para mim.

“Que houve, Jim?”

“Snape.” Remus digitava compulsivamente no celular, e parou para explicar. “Ciúmes, algo sobre gastrite que ele estava sussurrando.”

“Ciúmes é um bichinho malvado.” Summer passou os dedos pelos meus cabelos, e me senti estranhamente reconfortado por aquele gesto carinhoso. “E perfeitamente normal. Vocês estão tão maltratadinhos pelas moças, own.”

“Lily tem todo o direito de não querer ficar comigo.” Murmurei a resposta padrão que vinha dando.

“Mas o coração escolhe quem ele escolhe, certo?” Summer fez biquinho, e eu podia sentir os feromônios de Sirius aumentando. Ele tem uma fixação com gentileza que eu só posso nomear de mommy-issues.

“As audições só vão começar daqui a cinco minutos.” Disse ele de repente, e revirei os olhos. Sirius é um piranha. “Posso ver você lá fora, Summer?”

“Eu?” Ela fez uma cara insinuante para ele, como se soubesse que estava com ele num anzol.

“Isso, só um minuto.” Ele a pegou pela mão e correram dali. Legal, estou sozinho de novo.

Narrado por: Remus Lupin

Camiseta do Dia: Winning is for Losers (Ganhar é para perdedores)

Ouvindo: Aquecimentos vocais

Então Emmeline recebeu dois bilhetes novos, e eles têm um cheiro que eu tenho certeza que já senti em algum lugar. Normalmente nesses assuntos eu convoco o faro certeiro de Sirius, mas ele estava tão fixado em enfiar o nariz no pescoço de Summer que tive de confiar no meu próprio olfato, que é uma negação em relação a memória. Deve ser pra compensar a memória histórica que tenho, certamente.

Dobrei o papel e aproximei do meu nariz, aspirando o perfume e torcendo para o meu cérebro fazer a conexão certa dessa vez. “Dá pra parar de fungar nessa bosta?” James rosnou, e paralisei com o bilhete. Ele estava impossível nesse dia.

“Ei, não desconte sua frustração em mim, por favor.” Reclamei, e recebi outra mensagem de Emmeline. Ela tinha ido retocar a maquiagem antes das audições, e já estava voltando.

“Aquele cara é estranho.” James continuou insistindo, e me controlei para não avisar que ele reproduzia o discurso de Nate do ano passado. Emme me passou uma mensagem que era só uma carinha feliz, então supus que estava bonita o suficiente para ver a galera cantar.

Dito e feito, e ela chegou toda alegre de batom vermelho. James resmungou quando passou por ele, e Em sentou-se ao meu lado. “O jeans dele encolheu?”

“Mais ou menos. Ele conheceu Snape.”

“Ai, mas que ressentido. O que a gente tem a ver com isso?”

Dei de ombros. “Não consigo reconhecer esse cheiro, Emme. Eu tenho certeza de que o senti já, mas quanto mais eu fungo nesse bilhete, menos tenho ideia de onde possa ter sido.”

“Estou com vontade de encontrar esse menino bobo só pra dizer pra ele que não quero saber de gente que se esconde atrás de mistério.” Emme amarrou o cabelo pra cima enquanto falava.

“Virou questão de honra encontra-lo, agora. E eu tenho apreço incalculável pela minha honra, você sabe.”

“Claro que sim.” Ela apertou meu ombro em solidariedade, e enquanto assentia para concordar com ela, vi uma cabeça cor de rosa sentar-se bem na minha frente. Como se tivesse levado um choque, enfiei os papéis no bolso e tirei a mão de Emme do meu ombro. “Um minuto”.

Passei por James (“ah, lá vai ele de novo...”) e parei paralelo à fileira em que ela estava. Por um segundo, ponderei se queria mesmo saber quem era a garota, ou mesmo como era seu rosto. Fazia um mês que não a reconhecia, e parecia que todos os nossos horários eram desencontrados, e que ela sumia nos intervalos.

E se ela fosse feia? Ou pior, arrogante, chata, qualquer coisa assim? Respirei fundo, e pensei no que poderia ter me feito tão fixo à ideia de que havia uma garota linda com cabelos cor de rosa vagando pela escola. Pensei em Dorcas, e cheguei à conclusão de que não, não estava apaixonado por ela. Eram só aqueles cabelos...

Balancei a cabeça, e percebi que, àquela altura, tanto fazia. Bonita ou feia, legal ou chata, a flash cor de rosa estava ali, na minha frente, e eu podia simplesmente virar e encará-la. Se não desse certo, eu podia simplesmente dizer que gostei dos cabelos dela, e ir embora. Sem efeitos colaterais, sem mistérios demais, só um elogio educado. É isso.

Virei o rosto, e a luz apagou.

De repente me vi parado, na penumbra, enquanto alguém acendia os holofotes todos no palco principal. O professor de geografia apareceu, e a galera bateu palmas pra ele enquanto eu, igual uma barata cega, tateava para achar um lugar na fileira da garota cor de rosa, para pelo menos poder sentar em algum lugar. Com pontos brancos nos olhos, encaixei o corpo num assento e me larguei, corroendo a minha frustração estralando os dedos furiosamente. Eu podia sentir a presença da garota, mas agora era tarde demais para começar uma conversa minimamente civilizada. Eu podia simplesmente encará-la no escuro, mas tenho experiência social suficiente para saber que ninguém gosta de um estranho lhe encarando no escuro de um teatro.

Então, pra resumir, lá estava eu, sentado naquele assento duro e desconfortável, com o começo de um torcicolo por não poder mexer o pescoço, um James irritante e cheio de mimimi atrás de mim, uma Emme que queria rir de mim, e Sirius e Summer voltando amarrotados de sabe-se lá onde, entretidos demais um no outro para notar a situação em que eu estava. E, claro, a garota de cabelos cor de rosa ao meu lado.

Davis começou a anunciar os papeis que estavam em cheque para aquela audição. Conforme começavam a vir e ir os candidatos, eu tentava mexer o rosto discretamente na direção da garota. Ela ria com algumas apresentações, e ficava séria e calada durante outras, bebendo de um copo de coca cola enorme que estava carregando. Eu vi suas mãos apoiarem no braço do assento ao meu lado, composta de dedos elegantes e finos que terminavam em unhas pintadas em roxo. Ao lado das minhas, era como se nossos mundos se chocassem completamente. Ela, de alguma forma radical e descolada, e eu, simples e paralisado, sem saber o que fazer para conseguir um relance de seu rosto.

Uma hora, enquanto um cara disputava a vaga de um dos coadjuvantes, eu a vi virar-se pro outro lado e buscar um pacote de alguma coisa, que depois descobri ser chiclete pelo cheiro.

Quando Marlene entrou, estava pálida e ansiosa, e ouvi Sirius assoviar alto do fundo da plateia. “Vai lá, acaba com eles!” Ele gritou, e a moça cor de rosa riu. Soava tão natural, e tão descontraída, que quase dei risada junto. Lene abriu a boca, e começou a cantar.

De fato, fazendo uma pausa momentânea para apreciar algo que não fosse a garota cor de rosa, Marlene cantava muito bem. Tão bem que acabei olhando para trás tentando procurar a reação de Sirius, e ele sorria bobamente enquanto cantava silenciosamente junto dela. Ao lado dele, Summer não olhava Marlene, e sim mantinha a visão fixa em meu amigo, como se ele fosse uma estátua muito bonita que ela devia urgentemente elogiar. James ainda estava de braços cruzados, mas sua expressão se amenizara. Até ele, do centro de sua manha, não conseguia ignorar a voz de Marlene. Pete se espremera ao lado de Jim para assistir, e parara com um sanduíche a meio caminho da boca. Emme secava o canto dos olhos com um lencinho antes que o rímel escorresse todo.

Quando Lene terminou, levantei para bater palmas, e quando voltei a sentar, o copo sobre o braço do assento cambaleou, e não consegui desviar da coca que despejou nas minhas pernas.

“Ai, deuses, desculpa!”

Antes que eu pudesse absorver o gelo que corria nas minhas coxas, e a sensação péssima de que meus jeans já eram, percebi que quem se desculpava que nem doida era justamente quem cuja voz eu queria ouvir. Era um som melodioso, mais grave do que imaginei, e ao mesmo tempo com um quê brincalhão que ela não conseguia esconder. Aproveitando a desculpa maravilhosa que o destino me deu, olhei diretamente em seu rosto.

A primeira parte dela que consegui pegar foram os olhos, de um castanho profundo e aconchegante e que estavam quase arregalados com o susto de todo o acidente que acabara de acontecer. Ela estava com os fios cor de rosa soltos, e percebi que não iria saber a cor verdadeira de seus cabelos mesmo, porque ela pintava as sobrancelhas também. Um anel estava enganchado em uma das narinas dela, e um batom roxo combinando com as unhas pintava toda a extensão de seus lábios.

“Putz, desculpa, desculpa!” Ela puxava uma caixa de lenços da bolsa decorada com os personagens do Tim Burton, e me entregava as pressas. “Cara, eu sou mega desastrada, desculpa mesmo! Eu sempre faço dessas!”

Peguei os lenços distraidamente, e sorri simpático – e aliviado – para tentar acalmá-la. “Tudo bem, acontece...”

Ao perceber que eu não estava bravo, a garota cor de rosa sorriu, e percebi que quando fazia isso suas bochechas subiam no rosto em forma de coração. Ela colocou uma mecha rosada atrás das orelhas, e percebi que tinha três furos em cada uma.

Depois de pressionar e esfregar um tempo, a mancha nas minhas pernas deu uma melhorada, e resolvi deixar secar por conta própria até o fim das audições. “Nossa, desculpa demais.” Ela finalmente disse, e a essa altura eu já nem ouvia mais a cantoria de fundo que se passava. “Qual o seu nome?”

“Remus.” Sussurrei na penumbra, sem acreditar que a vida me recompensara por tanto correr atrás desses cabelos. “E você...”

“Pode chamar de Tonks.” Ela sorriu amarelo. “Meu nome é uma merda.”

“Pode falar.” Insisti. Se eu ia conhece-la, iria fazê-lo por inteiro. Ela riu de novo.

“Só porque eu derrubei minha coca em você, ok? Nymphadora.”

“Nymphadora.” Repeti, me sentindo o mais idiota dentre os tolos obsessivos daquele colégio.


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