Todos acharam que seriam descobertos, mas para sua sorte, isso não ocorreu. Logo que os soldados de Téfires adentraram Colina Nevada e começaram a revirar cada canto de cada casa, não demorou muito para que Robert fosse chamado para resolver a situação.

Ninguém soube o que eles conversaram, mas pelo que pareceu, Robert os deixou investigar a aldeia, já que estava certo de que não encontrariam nada, pois sabia que o exército ainda não havia voltado. Os soldados continuaram sua investigação em cada Lar que o vilarejo possuía e até alguns moradores chegaram a ser interrogados, mas ninguém sabia de nada.

Quando eles bateram a porta da casa de Bruce, ninguém sabia mais o que fazer, seriam encontrados e presos, porém, os soldados não chegaram nem a entrar.

-Essa casa está vazia já tem um tempo. –Puderam ouvir Robert dizendo. –Pouco provável que estejam realmente aí.

-Mas já que está fazia é um esconderijo perfeito. –Alguém retrucou.

-Quem morava aqui? –Outra pessoa perguntou.

-Não sei, não conheço todas as casas de todos que moram aqui. –Respondeu Robert, ríspido. Só pelo seu tom de voz percebia-se que ele não estava satisfeito com a presença deles na aldeia.

A maçaneta da porta girou, mas ela não abriu, pois estava trancada.

-Eu lhe disse. –Falou Robert.

-Vamos derrubá-la.

-Não mesmo! –Robert interveio. –Caso causem o mínimo de destruição aqui, terão de arcar com os prejuízos.

-Mas eles podem estar aí. – Um dos soldados retrucou.

-Olhem, mas mantenham a porta de pé.

Enquanto todos se amontoavam num canto da casa, Esmeralda os cobriu com algum tipo de feitiço de invisibilidade. Não saberiam se isso funcionaria, mas se deram conta de estavam seguros, pois dois soldados se dirigiram às janelas e revistaram a casa com seus olhares, e não os viram. Um deles encarou Bruce diretamente nos olhos, ele jurara que haviam sido descobertos, e apesar de ambos estarem se olhando olho a olho, o soldado simplesmente continuou sua inspeção como se ele não existisse, o que em parte era verdade.

-E aí- Perguntou Robert, se aproximando da janela também, olhando o interior da pequena casa de Bruce.

-Nada. –Respondeu um dos soldados.

-Eu disse a vocês, tenho certeza de que eles não estão nessa casa, e muito menos em Colina Nevada, podem ter certeza disso.

-De qualquer modo, vamos continuar procurando. –Disse o soldado que parecia guiar o grupo.

E então todos saíram juntos das proximidades da casa.

Mesmo depois que o grupo partira, eles continuaram escondidos, com medo de ainda serem percebidos. Ficaram agachados por tanto tempo que nem eles sabem quanto. Só decidiram sair quando Bruce protestou:

-Minha perna está formigando. E estou com câimbra também.

-Realmente, acho que já podemos sair daqui. –Respondeu Steve.

Quando eles deram uma certificada e perceberam que os guardas partiram de verdade, Esmeralda se proclamou:

-Agora eu realmente tenho que ir. Não posso permitir que coisas assim aconteçam novamente. Isso é tanto para o meu bem quanto para o da aldeia e o de vocês.

Ninguém tentou impedi-la dessa vez, concordavam que, se ela permanecesse com eles, não estariam seguros nem por um momento, mesmo até que os guardas procurassem por eles também, mas sabia que Esmeralda era o foco.

Embora ninguém quisesse vê-la partir, sabiam que era necessário, e quanto mais demorasse, pior seria. Ninguém gostava de admitir isso, mas a verdade dizia por si própria.

O sol estava alto ainda quando todos se dirigiram até a porta para se despedirem de Esmeralda. Todos estavam meio frenéticos e desconfiados, olhavam para o lado a todo instante para se certificar de que ninguém os via. Esmeralda trajava uma manta negra para não ser reconhecida.

-Então... –Esmeralda começou. –Acho que já disse o suficiente antes para vocês...

-É o que deve ser feito. –Concordou Steve. –Não se sinta assim.

-Boa sorte. –Disse Adália sorrindo.

-E saiba que sempre que precisar de apoio ou ajuda, já sabe onde nos encontrar. –Comentou Bruce.

Esmeralda sorriu enquanto admirava aquelas três pessoas.

-Não se preocupe com isso Bruce. –Ela respondeu retribuindo um sorriso, que logo desapareceu. –E... Mas não me esperem tão cedo, acho que já sabem o quão distante eu estou de poder levar uma vida normal...

-Independente disso. –Respondeu Steve. –Estamos todos em dívida, e não importa o quão encrencada esteja, estaremos aqui.

-Conte conosco. – Completou Adália.

Esmeralda tentou conter uma lágrima, mas a deixou rolar sem vergonha, pois sabia que quem estava ali eram pessoas de quem ela não devia se envergonhar.

-Nicko tinha ótimos amigos...

Bruce e Steve se entreolharam, ambos desejavam que Nicko pudesse estar ali com eles naquele momento, seria uma pessoa a mais para ajudá-los a recomeçar do zero.

-Só esperamos que não acabe como ele. –Steve disse.

-Não se preocupe. –Ela respondeu enquanto cobria sua cabeça com o capuz da manta. Logo após ajustá-la garantindo que seu rosto ficava encoberto, ela disse, sem mostrar seu rosto: - Então... Adeus...

Adália se despediu apertando a mão dela e sorrindo, agradecendo-a por ela ter ajudado-os.

Steve sentiu um impulso de abraçá-la, mas se conteve e apenas fez o mesmo que Adália.

-Já sabe, estaremos aqui. –Disse.

Bruce, entretanto, não foi tão discreto quanto Steve e Adália, abraçou Esmeralda e falava sem parar:

-Espero te ver novamente... Volte logo... Não se meta em muita encrenca... Estarei sempre aqui...

Steve não conseguiu conter uma risada, se lembrou de quando ele, Bruce e Nicko avistaram Esmeralda pela primeira vez, e o quanto Bruce ficara impressionado com ela, e que não parava de dizer o quanto ela era linda. Fazia jus àquele abraço.

Depois de se livrar do inesperado abraço de Bruce, Esmeralda ficou meio sem jeito, e apesar de não poderem ver seu rosto, eles tinham certeza de que ela ficara vermelha.

-Então é isso... Espero vê-los novamente.

Esmeralda partiu enquanto atrás de si Steve, Bruce e Adália ficavam observando sua partida.

* * *

Quando a noite caiu, Steve não conseguira dormir. Ficou deitado no chão, pois cedera sua cama para Adália. Bruce praticamente desmaiara na outra cama um pouco mais cedo, deixando apenas ele acordado.

Pensava no que podia acontecer com Esmeralda a partir de agora, afinal sua vida mudara completamente de rumo de um segundo para o outro, é normal numa situação dessas que você não saiba o que fazer.

-Ainda acordado? – Perguntou Bruce sorrateiro, com uma voz meio abafada por causa do sono.

-O que acha?

-Quer ficar com a cama? Já dormi bastante.

Apesar do que ele dizia, dava para perceber em sua voz que ele ainda se sentia cansado.

-Não se preocupe, durma mais um pouco.

Steve não pôde pensar em muita coisa para dizer, Bruce logo voltara a dormir como uma pedra.

E em sua insônia, um pensamento veio subitamente. Steve se sentiu trêmulo ao pensar nele. Levantou-se e andou em círculos enquanto pensava se realmente faria o que pensava. Hesitou centenas de vezes, se deitava e levantava inquieto.

A lua completara sua volta no céu noturno e ao longe os primeiros raios de sol iam surgindo. Decidido de que agora já não era tão arriscado quanto antes, abriu a porta sorrateiramente e saiu. Atravessou a aldeia, onde todos ainda dormiam tranquilamente. Podia-se perceber uma movimentação em algumas casas, de moradores que levantavam logo cedo para cuidarem de sua horta.

Ignorando tudo isso, Steve foi direto para o arsenal, onde sabia que eles guardavam algumas armas. Não sabia se corria risco, mas era melhor se precaver. Pegando uma espada de ferro meio desgastada, ele saiu e tratou de deixar o local como se nunca alguém estivesse ali antes.

Agora caminhava em direção ao local de seus pensamentos. Era um tanto quanto distante, mas sabia que valia a pena percorrer essa distância para sanar sua dúvida. Apertava firmemente o cabo da espada, preparando-se para qualquer aparição inesperada.

E depois de algum tempo caminhando, ele logo estava cara a cara com o lugar, e seu estado denunciava suas suspeitas, e agora, mais do que antes, tinha certeza, estava frente a frente com o verdadeiro Ninho de Creepers.