A criatura jogou a cabeça para trás e soltou um jato de fogo para os céus, iluminando Téfires, num ato provocativo.

   -Como vamos lutar contra isso com um arco e uma espada? –Indagou Bruce, não tendo vergonha de mostrar seu desespero.

   Ninguém disse nada, mas era visível o medo em todos. Steve suava frio, assim como a princesa.

   -Deixem que eu cuido disso. –Respondeu Esmeralda enquanto a criatura voltava a cabeça para baixo. –Cuidem da garota desacordada.

   O demônio levantou seu enorme pé e como em câmera lenta o levou em direção aos quatro. Bruce agarrou Adália e a puxou para o lado, correndo. Steve e Esmeralda foram para o lado oposto. Todo o chão tremeu com o impacto e todos desabaram. Até mesmo os duros muros que cercavam Téfires chegaram a ficar momentaneamente instáveis.

   Levantando-se o mais rápido que podia, Esmeralda se armou para tentar um ataque.

   -Fique atrás de mim! –Gritou enquanto sua mão brilhava com uma energia estranha.

   De repente bolas de uma aparência estranha voaram na direção da criatura e atingiram seu peito. O fogo tremulou, mas somente. O monstro gargalhou mais ainda.

   -Ora, vejo que temos uma feiticeira entre nós. Isso vai ser mais divertido.

   Abrindo o punho, o demônio começou a espalhar mais fogo pelo local.

   Correndo para sair da linha de fogo, Steve e Esmeralda conseguiram chegar próximo à muralha.

   -O que é isso? –Steve estava eufórico.

   Esmeralda não respondeu, pensava no que deviam fazer para impedir que seu reino fosse completamente queimado.

   -O Distraía. –Respondeu simplesmente.

   -Mas...

   Ele não pôde terminar, ela partiu, cruzando as chamas que dominavam aquele campo de batalha.

   Steve queria poder simplesmente quebrar a parede atrás de si e correr. Nada mais fazia sentido, mas ele já estava acostumado, sua vida nunca fez sentido de verdade.

   Interrompido de seus delírios, ele viu algumas flechas vindo do céu na direção da criatura. O exército da cidade tentava atacar o demônio, mal sabiam o quanto estavam sendo inúteis.

   Sem saber o que devia fazer para chamar a atenção do monstro, ele saiu de seu esconderijo vagamente olhando a sua volta a procura de Esmeralda. Ao vê-la, se deparou com uma outra cena muita estranha, das mãos da garota um tipo de energia transparente se emanava. Ela controlava aquela massa invisível apagando o fogo que tomava o local, era bastante hábil. Percebendo o que ela queria, ou quase, Steve correu o máximo que podia e se colocou a frente do demônio.

   -Aqui sua besta! –Ele tentava parecer confiante.

   O monstro sequer deu o ouviu, estava preocupado demais botando fogo em tudo. Ele ergueu sua perna e começou a andar, ia na direção de Téfires. Steve brandia abaixo dele, mas ele não ligava.

   Esmeralda surgiu de repente, ela estava completamente suada, aparentava estar completamente abatida.

   -Não podemos deixá-lo entrar na cidade!

   -E como vamos fazer isso? –Steve não sabia nem o que enfrentava, muito menos o que fazer.

   Esmeralda olhou em volta e fechou os olhos, tentava achar uma resposta.

   -Tem de haver alguém... –Ela falava baixo.

   -Como assim?

   -Não tem sentindo... –Esmeralda se dirigiu a Steve esperando que ele desse uma resposta. –Tem de haver alguém conjurando aquele demônio... Criaturas assim não surgem de um dia para o outro...

   -Cuidado!!!

   De repente Bruce surgiu das poucas chamas que ainda queimavam e pulou na direção dos dois, tirando-os da mira do jato de fogo, que naquele momento já extinguia o local onde eles estavam. Ninguém agradeceu, estavam todos assustados e com medo. Não sabia como agir ou o que deviam fazer, o demônio avançava para destruir o reino e eles estavam tão indefesos quanto insetos prestes a serem esmagados.

   -Cadê a garota? –Foi a única coisa que Steve conseguiu dizer.

   Bruce apontou para trás de si e a garota se encontrava sentada num canto, próxima a uma casa em chamas. Ela estava acordada, mas parecia tão inconsciente quanto antes.

   A atenção deles logo foi desviada quando o demônio alcançara o centro do reino. Inferno seria a palavra perfeita para descrever o estado de Téfires. A criatura cuspia e lançava fogo até onde se julgava impossível, pessoas corriam desesperadas para todos os lados tentando não serem atingidas pelas chamas, algumas caíam e não levantavam mais. Casas e construções ardiam e se deterioravam lentamente enquanto eram consumidas pelo fogo. Provavelmente todo o exército de Téfires estava lá, flechas eram lançadas a todos os momentos e os espadachins tentavam se aproximar, mas não conseguiam devido ao calor. Até uma catapulta havia sido montada num canto do reino, posicionada estrategicamente. Mas tudo isso era inútil porque tudo que era lançado contra o monstro o atravessa sem nem lhe causar sensação alguma.

   O demônio ria alto e seu rabo balançava rapidamente e botava fogo no que ainda estava inteiro.

   -Tenho que impedir isso. –Dessa vez Esmeralda não incluiu Steve e Bruce para ajudá-la.

   -E a gente? –Perguntou Steve.

   Esmeralda os encarou com um olhar desamparado.

   -Vocês não precisam...

   -Pode confiar na gente. –Bruce a interrompeu. Steve se assustou, não esperava nunca ver Bruce falar daquele jeito.

   Ela hesitou, mas uma luz laranja chamou sua atenção e ela percebeu a gravidade do assunto.

   -Você -Respondeu enfim, apontando para Steve. –Tire os soldados de perto do monstro. Eu cuido da criatura. E você. –Agora ela falava com Bruce. –Só cuide daquela garota, não a deixe morrer.

   Não era o que realmente Bruce esperava, mas achou melhor assim. Correu para onde Adália estava e tratou logo de se esconder.

   Logo, ela e Steve corriam para o centro do reino. Steve tremia todo, apesar de ele saber que não precisaria enfrentar o monstro.

   Quando alcançaram o campo de batalha, Esmeralda se infiltrou no meio dos soldados e sumiu. Steve olhou para o lado desesperado, e começou a gritar:

   -Ei! Parem de atacá-lo! Isso não vai adiantar! –Ninguém o ouvia. Uma pedra imensa foi arremessada da catapulta, atravessando o demônio e colidindo com uma parede, que antes fazia parte de uma casa.

   Eles recuaram quando o monstro ergueu seu pé e pisoteou o local onde eles estavam. Alguns conseguiram correr e escapar a tempo, outros, entretanto, acabaram sendo esmagados. Steve não viu o que aconteceu com eles depois, mas sabia que não restara nada a não ser cinzas.

   Agora o pânico era geral e ninguém estava muito preocupado em atacar o monstro, apenas alguns grupo isolados que ainda lançava flechas inutilmente,

   Steve levantou a espada tentando chamar atenção.

   -Parem! Se escondam! Isso não vai adiantar!

   Foi ignorado novamente, mas alguns soldados, mesmo sem ouvi-lo, fugiram, deixando o campo para trás.

   Agora os poucos que restavam encaravam assustados o pandemônio.

   Ao perceber o que estava preste a ocorrer, Steve não pôde avisar ninguém, correu para um local seguro e então viu os restantes dos soldados serem carbonizados com um único e poderoso jato. Ele sentiu seus ossos se arrepiarem quando ouviu os gritos de medo e dor dos soldados antes dos mesmos serem mortos.

   Agora Téfires era somente um local tenebroso. Corpos jaziam no chão, em meio às chamas e armas. Construções queimavam lentamente e as únicas coisas que continuaram em pé foram algumas paredes. O vento soprava frio e mortal.           

   E então Esmeralda surgiu de entre os mortos como um raio. Ela parecia estar chorando, mas este detalhe não importava agora para Steve. Como antes, havia, em sua mão, um tipo de energia, mas dessa vez ela não era transparente. Era uma massa roxa. Com um grito, ela ergueu seus punhos e bolas de energia foram lançadas contra o demônio, que incrivelmente cambaleou para trás. Esmeralda repetiu o ataque mais uma vez, e novamente, e de novo. Massas de energia erma lançadas contra o monstro, atingido-o bem no peito. Ele cambaleava e sua pela tremulava. Esmeralda gritava cada vez que desferia um novo ataque. Ela chorava muito também, além de estar muito suada.

   Ela então caiu de joelho indefesa. Ela soluçava e não consegui conter o choro. Ao se recuperar, o demônio a encarou. Seus olhos brancos brilharam mais intensamente e sua raiva ficou exposta.

   -Nunca antes alguém me atacara assim. –Admitiu, com aquela sua voz tenebrosa. –E quem antes tentou fazer, nunca mais viu a luz do sol.

   Steve surgiu das sombras e se jogou contra Esmeralda. Ambos rolaram e caíram em cima de alguns outros corpos.

   -Acho que temos que ir... AGORA!

   Steve se levantou e puxou Esmeralda. Segurando a mão dela, eles se enfiaram no meio da confusão do que antes era um campo de batalha. Construções destruídas, corpos e chamas, tudo isso serviu para escondê-los na fuga.

   Quando foram notados, logo começou tudo como estava antes. Mais jatos de fogo começaram a serem disparados contra o reino. Eles corriam incessantemente.

   Ao alcançarem os muros do reino, se viram num beco sem saída.

   Bruce veio correndo em direção a eles. Adália agora estava acordada, porém bem abatida. Mas eles não puderam nem trocar palavras, pois o monstro os alcançara.

   -Que coisa mais linda. –Caçoou. –

   Antes que ele pudesse desferir seu ataque fatal, Esmeralda fez o inesperado. Apesar de seu estado, suas mãos brilharam como nunca antes brilharam e ganharam uma energia suprema. Virando-se de costas para o demônio, ela arriscou. Socou a muralha com seu punho radiante e a mágica aconteceu. Como quando o gelo se quebra, a muralha começou a se rachar em um ponto, até que este cresceu e tomou toda a parede de muro, despedaçando-a. Pedra voou para todos os lados. Os muros de Téfires haviam ido abaixo.

   Sem pensar direito no que fizera, ela e mais os outros sobreviventes atravessaram os estilhaços o mais rápido que podiam e saíram dos campos de Téfires, adentrando a mata.

   Não se sabe o que ocorreu com a criatura depois, mas sabe-se que ela foi embora tão rápido quanto surgira.