Bruce e Nicko encontraram Steve jogado em meio de um monte de folhas secas no chão. Se ele percebeu a chegada dos dois, não fez nada.

–Steve. -Chamou Bruce.

Silêncio. Steve se revirou e ficou de frente para os dois com a cara completamente vermelha.

–Podem ir, não tem o porque de eu continuar. -Disse entre os dentes.

–Eu acho que tem sim, -Comentou Nicko. - com o andar da carruagem, provavelmente eles nem consigam chegar ao Ninho inteiros.

Steve bufou.

–E o que eu posso fazer? Isso é tudo um jogo do Dave, ele poderia ter dito naquele dia que ajudamos, e aquelas vidas não seriam sacrificadas.

Bruce se aproximou dele e se sentou ao seu lado. Nicko fez o mesmo.

–Steve, -Começou- acho que todos nessa busca já estão cientes disso... E bom, isso não vai servir para mais nada mesmo, afinal, caso eles consigam voltar, Dave apenas receberá uma medalha ou algo do gênero. Salvamos Colina Nevada e é isso o que importa, agora deixa o resto de lado e em vez de ficar fazendo birra vamos evitar que a burrice de Dave mate mais alguém.

Steve ficou olhando reto sem piscar.

–Eu sei que estou sendo infantil, mas passei quase minha vida inteira sozinho e poucas vezes minha única companhia era um lobo. Eu poderia estar sendo mais útil para Colina Nevada, eu quero ajudar, mas com o Dave no comando fica meio difícil...

–Steve, isso não é desculpa, todos já sabemos o quanto sua vida foi sofrida, mas do que vai adiantar ficar jogado no meio do mato? Levante e aja, você já tem moral o suficiente com todo mundo para eles saberem se devem te seguir ou seguir Dave. Deixa de drama e ignora isso.

Os três ficaram quietos por um tempo.

–Isso não vai adicionar nada a sua vida, -Disse Nicko. -e para a Dave muito menos, deixa isso no passado e faça algo realmente útil antes que mais alguém vá para debaixo da terra.

–Colina Nevada pode não saber que a salvamos, mas já tem gente o suficiente que sabe para me orgulhar disso. -Disse Bruce levantando, Nicko fez o mesmo. -Agora a não ser que você vá continuar sozinho, é melhor irmos com a tropa.

Steve olhou para cima na direção de Bruce e Nicko. Bruce ergueu a mão a ele, e ele segurou se levantando.

–Tem razão, -Respondeu Steve. -não tem o porque de tudo isso. Vamos pegar alguns Creepers.

* * *

Os três andaram a passos largos enquanto atravessavam o denso pântano sozinhos. A conversa tomara um grande tempo deles e agora a tropa já estava relativamente longe para eles ficarem para trás dando bobeira. Ninguém disse muita coisa enquanto caminhavam, e quando passaram em frente às lápides o silêncio pareceu mais tenebroso ainda. Mas conforme eles iam caminhando a tensão foi baixando e logo eles puderam ver a tropa a alguns metros a frente deles.

A caminhada continuou então lentamente a partir dali, a tropa já estava a vista e os três queriam uma certa distância de todos. E algumas poucas horas se estenderam enquanto eles andavam. O Sol já saíra da posição em que estava quando partiram e agora estava começando a querer sumir na linha do horizonte.

–Será possível que não chegaremos a tempo hoje ainda? -Indagou Bruce observando o Sol sumindo e deixando o céu alaranjado, uma bela imagem.

–Eu creio que nosso destino não deve estar assim tão longe. -Comentou Nicko. -Pelo o que Dave me mostrou enquanto tivemos uma conversa, assim que sairmos desse maldito pântano, a praia e o reino não devem estar tão longe.

–Assim eu espero. -Respondeu Bruce.

–Acho que todos nós. -Completou Steve parando para dar uma alongada nas pernas. -Na minha vida eu já caminhei bastante, mas acho que estou prestes a atingir uma outra meta se continuarmos assim.

–Pois é. -Concordou Bruce vagamente enquanto parava para descansar também.

Nicko observou a tropa andando ao longe e comentou:

–Será que eles já perceberam que estamos atrás deles?

–Acho que ainda não, -Respondeu Steve terminando de se alongar. -e por isso acho melhor continuarmos se não quisermos ficar para trás.

Logo, os três retomaram o ritmo da marcha não se mantendo muito longe do restante.

Com o passar de alguns minutos, conforme o Sol ia desaparecendo aos poucos, a vegetação começou a se transformar, e de baixas árvores e musgos, começaram a surgir algumas plantas de um verde mais vivo, a grama ganhou uma cor mais alegre e quando o Sol estava pela metade na linha do horizonte começaram a surgir palmeiras pela vegetação, e logo já não estava mais em um tenebroso pântano, e não demorou muito para que o cheiro e o barulho do mar pudessem ser percebidos, e de cima de uma pequena colina da onde estavam, puderam ao longe ver o mar.

–Que imagem mais bela. -Bruce ficou de queijo caído.

–Nunca foi a uma praia? -Perguntou Nicko.

–Nem sabia que água salgada existia até vocês me contarem a algum tempo atrás.

Steve e Nicko soltaram uma leve risada, tomando cuidado para não magoar Bruce, pois realmente a visão de uma praia impressiona a qualquer um , mesmo que não seja a primeira vez que alguém esteja a vendo.

Porém, o que mais impressionava ali naquela paisagem não era a praia ou o mar, e sim uma longa construção quadrada de pedra que se estendia do meio da mata até o fim da praia, eram as muralhas que cercavam o Reino de Téfires. E de dentro das enormes paredes de pedra, uma cidade vivia lá, com diversas construções e, o mais impressionante de tudo, um enorme e belo castelo que ficava no centro de toda aquele emaranhado de casas.

–Acho que chegamos. -Comentou Nicko feliz, apontando para o lado para as enorme muralhas de pedra que por incrível que pareça ainda não haviam sido notadas pelos seus companheiros.

Por um momento ninguém disse nada, somente observavam tudo o que ocorriam e absorviam tudo o que viam um pouco de cada vez para se darem conta de que era real.

–Colina Nevada parece agora uma coisa tão insignificante... -Disse Bruce.

Ninguém falou nada, apenas Nicko:

–Não menospreze sua casa... -Ele parou de falar por um instante. -Mas devo admitir que isso que vejo superou todas as minhas expectativas.

–Vaguei por essas terras durante anos e anos, como não consegui me deparar com uma coisa dessas? -Refletiu Steve surpreso.

Antes que alguém pudesse elogiar mais o que viam, Bruce notou que a tropa já retomara a caminhada na frente deles.

–Gente... É melhor voltarmos a andar se quisermos entrar lá. -Disse ele apontando para a tropa que ia ficando cada vez menor.

E sem demora os três voltaram a andar a passos largos, não deixando de apreciar a paisagem.

Por mais que todos andassem rápido, a caminhada até a entrada do Reino demorou cerca de vinte a trinta minutos ainda, e o fato de que todos estavam tensos e ansiosos para chegar logo fazia com que a trajetória parecesse realmente muito mais longa do era.

Logo o Sol sumiu, mas como já estavam bem próximos ao seu destino não ia fazer mal algum continuarem por uns dez ou cinco minutos.

–Isso parece que está se afastando cada vez mais. -Reclamou Bruce enquanto caminhavam no escuro sentindo o clima agradável de beira de praia, que agora já não estava tão longe.

–É só ter fé, estamos chegando... Acho. -Disse Nicko limpando o suor que escorria de seus pescoço.

De repente, do meio da mata eles puderam ver alguns pontos luminosos que se estendiam a frente deles, e conforme iam se aproximando, deram de cara com o enorme paredão de pedra, que continha várias janelas espalhadas pelo seu muro, e em cada extremidade, que não estavam nem um pouco próximas uma das outras, havia uma grande torre. O portão de madeira gigante à frente deles era rico em entalhes, possuía várias formas desenhadas formando uma imagem abstrata, porém, muito bela. Lembravam flores, mas com algo diferente, ninguém sabia dizer o que era.

Eles ficaram ali parados durante algum tempo, ninguém ousou dizer nada.

–A gente via ficar aqui parado? -Cochichou Nicko a Steve e Bruce.

–Espero que não. -Comentou Bruce.

–Então é melhor Dave agir logo, não estou nem um pouco a fim de ficar mais uma noite no meio da mata.

Depois de alguns segundos, pode-se ouvir Dave gritando:

–Ei! Abram o portão! Nós somos de Colina Nevada!

Nenhuma resposta, nenhum movimento, tudo continuou da mesma forma. Alguns soldados começaram a cochichar entre si. Dave pediu silêncio.

–OI!!!–Gritou novamente, dessa vez fazendo uma concha com a mão e levando a boca. -Abram a porta!

Nada novamente.

–Que beleza! -Resmungou Bruce. -Chegamos tarde para a festa, deve ter alguma placa dizendo "volte amanhã ao amanhecer"!

–Calma aí, não é possível que eles não estejam sabendo de nossa chegada. -Pensou Steve.

–EEEEIIII!!! -Gritou Dave esgoelando-se, fazendo sua voz sair mais fina -Abra a porta pelo amor de Deus!

Nada. Dave andou e chegou ao pé do portão, que a sua frente fazia com que ele parecesse uma inocente formiga. Começando a bater no portão, a única coisa que Dave conseguiu foi produzir pequenos barulhos que até mesmo ele estava achando um som baixo.

–Tem gente aqui! -Gritou ainda batendo na porta. -Abre aí!

De repente alguém passou do lado de cima do paredão e ficou a movimentação do lado de baixo.

–Ei você aí! -Gritou apontando para o homem de armadura em cima do muro. -Abra o portão! Por favor!

O homem não respondeu, apenas correu e desapareceu de repente, provavelmente ali onde ele estava deveria haver uma escada.

Bruce soltou um grito de raiva e falou bem alto em direção ao muro:

–Abram logo isso! Somos de Colina Nevada! Estamos em missão!

E como sempre, silêncio.

Bruce chutou uma pedra com toda sua força, e esta saiu rolando e adentrou a mata, desaparecendo.

Dave voltou caminhando com uma expressão tensa no rosto, desamparado.

–Tropa, acho que termos que acampar aqui do lado de fora mesmo... -Disse ele observando o muro onde nenhum movimento podia ser percebido.

Durante algum tempo eles gritaram pelo muro, mas nenhuma resposta pode-se ser ouvida, e derrotados pelo cansaço, eles começaram a armar o acampamento ali mesmo.

–Que porcaria. -Reclamou Bruce enquanto ele armava uma barraca com Steve. -Andamos toda essa distância para chegarmos aqui e sermos recebidos dessa maneira!

–Deixe de reclamar Bruce, você viu que tentamos. -Retrucou Steve.

Os dois iniciarão uma pequena discussão que logo terminaram por perceberem que daquele jeito eles não iam a lugar nenhum.

Quando todos terminaram de comer e já estavam prestes a ir deitar, eles puderam ouvir alguém conversando de dentro do paredão. Na verdade, várias pessoas. Dave se levantou de onde estava e sem perder tempo começou a gritar novamente em direção ao paredão.

-Ei! Alô! Estamos aqui embaixo! Somos de Colina Nevada! Estamos em missão!

Nenhuma resposta, como sempre, porém, desta vez a cabeça de um homem surgiu entre as janelinhas do paredão. Ele estava de armadura, até onde se podia ver, e olhava atentamente a todos na parte inferior do paredão.

  -EI! -Gritou Dave. -Somos de Colina Nevada! O rei deve estar esperando a nossa chegada!

    O homem não respondeu, sequer olhou para Dave, apenas continuou observando, e depois sua cabeça voltou para dentro da muralha.

  -Isso só pode ser palhaçada! -Reclamou Bruce.

  Toda a tropa começou a gritar em direção ao paredão querendo chamar atenção. Ficaram ali durante quase um minuto, e somente Steve não fazia nada, observava o paredão com atenção, pressentia que algo estava errado.

  Bruce pegou uma pedra grande que estava no direção e jogou na parede, e por mais dura e resistente que ela pudesse ser, ao se chocar com a parede, se partiu em duas, e ao cair no chão, virou apenas um monte de pequenas pedrinhas.

   -Abram para nós! Viemos em missão! O rei sabe da nossa chegada! -Brandia Dave.

   Todos continuaram a chamar por ajuda. De repente Steve conseguiu perceber uma estranha movimentação nas janelas. Observou atentamente e se deu conta do que era. Talvez já fosse tarde demais quando ele percebeu.

   -Para o chão todo mundo! Agora! -Gritou se jogando no chão. 

  E então uma saraivada de flechas saiu de repente de dentro da muralha em direção a tropa.