Superando escrita por Arline


Capítulo 5
Capítulo 5 - UMA CONVERSA, UMA NOITE INSONE E...


Notas iniciais do capítulo

Oi meninas e menino! Como estão? Bem, eu espero!
Então, vocês me deixaram tão, tão feliz com a quantidade de comentários que até me animei pra postar mais rápido!
Muito bem vindos leitores novos! Fantasmas... Apareçam!
Não me matem ainda... Lembrem-se que, ao me matar, você não saberão o que vem pela frente.
Bjs, bjs e vamos ao cap!



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UMA CONVERSA, UMA NOITE INSONE E UM DIA DO CÃO

A primeira coisa que fiz ao pôr os pés em casa foi ligar para o diretor. Inventei que me senti mal e ele disse que não havia problemas, mas que eu o procurasse no dia seguinte, pois tinha algo a conversar comigo.

Tomei um banho, almocei e assisti Shakespeare Apaixonado no DVD. Já estava jogada no chão assistindo às reprises dos Smurfs — o auge da depressão humana... Ver um monte de criaturinhas azuis que moram em cogumelos... E eu já me sentia uma smurffete — quando Bree chegou. Já passava das cinco da tarde e ela pediu que eu não saísse antes que ela tomasse um banho e comesse; pois queria conversar comigo. Não me importei quando o Sr. Greene disse isso, mas com ela eu tremi. Esperei pacientemente que ela preparasse um lanche e tomasse seu banho.

Ouvi minha irmã me gritando e me dirigi para seu quarto, me preparando para o que viria a seguir. Com certeza seria sermão e eu não ouviria calada... Ela me viu e me indicou sua cama pra que eu sentasse a sua frente. Respirei fundo e me acomodei, me controlando ao máximo pra não soar grosseira caso tivesse que dar alguma resposta mais acalorada.

Seu discurso começou com ela dizendo que eu estava agindo de modo estranho, que nunca fui vingativa e jamais pensara que eu pudesse fazer as coisas que estava fazendo. Disse ainda que eu estava muito fria e calculista e que aquela não era a irmã que ela conhecia. Talvez Bree ainda não tivesse percebido uma coisa: Eu nunca mais seria aquela pessoa boa, que foi humilhada e chorava no quarto, relembrando tudo que lhe acontecera.

Eu estava mais fria? Sim. Tinha vontade de me vingar? Mais ainda. E, por mais que tudo aquilo me custasse uma briga com minha irmã, eu não recuaria. Sentia-me bem daquele jeito. Não estava fazendo mal a ninguém, prejudicando ninguém.

Mas ela não me queria ouvir. Apenas seu discurso era o correto e eu era a errada de toda a história. Ela não me deixava falar, disparou a dizer coisas absurdas e eu estava com raiva demais pra retrucar sem magoá-la. Assim, me retirei de seu quarto. Engraçado... Quando eu era humilhada e chorava, tinha vontade de morrer, ninguém dizia que os outros estavam errados; era sempre eu que tinha que reagir. Agora, quando começo a fazer algo por mim mesma, tenho que escutar minha irmã dizendo que não era bem assim.

Quando nossa mãe ligou, pedindo que fossemos jantar em casa, eu recusei. Queria ficar sozinha, sem que ninguém me olhasse torto e julgasse minhas atitudes. Bree não entendia que eu havia mudado; que todos aqueles anos ouvindo ofensas fez com que algo endurecesse dentro de mim. Se fosse antes, eu teria deixado aquela história de lado, teria abaixado a cabeça quando o professor me chamou de gordinha e sempre que Jacob passasse, eu sairia da frente pra que não fosse atropelada por ele. Mas agora não...

Ela nunca teve que ouvir o que eu ouvi, nunca passou pelo que eu passei. Por mais que estivesse por perto, não era a ela que xingavam, de quem riam... Quando a situação não é com a gente, é fácil pedir pra esquecer e relevar. Como diz minha mãe; quem bate esquece, mas quem apanha... E eu já havia apanhado o suficiente pra saber que aquilo nunca mais me aconteceria.

Pouco tempo após Bree sair, o telefone tocou e era minha mãe, dizendo que faria uma viagem com meu pai. Ela queria uma sugestão de algum lugar e as roupas que deveria levar... Passamos bastante tempo discutindo aquele assunto e por fim, ficou decidido que iriam pra Veneza e depois... O mundo era o limite pra eles. Com certeza ficariam fora por mais, muito mais de um mês.

Ainda conversamos por mais um tempo e depois de desligar, fui fazer os deveres, que por enquanto não eram muitos. Já passava um pouco das nove da noite e liguei o som, não me preocupando com o que estava tocando. Aquilo me lembrou de que eu tinha um trabalho em dupla pra fazer e que um tempo teria que ser arrumado pra isso. Talvez pudéssemos fazê-lo na escola mesmo, após as aulas. Sinceramente, eu não estava muito à vontade com isso.

Não era por termos trocado meia dúzia de palavras que poderia considerá-lo a melhor e mais confiável pessoa do mundo. Eu já tinha amigos o bastante e não queria mais ninguém em minha vida, não precisava de mais uma pessoa pra quem sorrir falsamente e dizer que tudo estava bem. Jacob me havia feito o favor de me tornar uma pessoa extremamente desconfiada de tudo e todos. E eu já havia me enganado com um rostinho bonito antes.

Pelo restante da noite não vi Bree e muito menos tive vontade de procurá-la. Melhor assim do que acabarmos brigando sério.

Preparei-me para dormir e vi que já passava das onze. Eu acordaria péssima...

Um grito quebrou o silêncio da noite e notei ser o meu. Sentei-me, atordoada e confusa com tudo aquilo. As imagens invadiram minha mente, como se aquele pesadelo ainda estivesse muito vívido, como se aqueles olhos ainda me observassem. Dois pares de olhos — dois orbes verdes e duas castanhas —, duas pessoas — Edward e Jacob e uma só ação: Riam de mim. Tudo estava muito confuso e eu não saberia dizer quais as sensações me dominavam naquele momento.

“Foi só um pesadelo”. Eu repetia, tentando me acalmar.

Mas isso não aconteceu. Não mais consegui dormir, pois sempre que eu fechava os olhos, aquelas imagens voltavam, as risadas soavam em meus ouvidos.

Na cozinha, sentei-me em uma cadeira e deixei que minha cabeça tombasse sobre a mesa, completamente perdida e sem saber no quê pensar. O relógio na parede indicava duas da manhã. Eu teria uma longa e insone noite pela frente...

Na sala, a televisão não prendia minha atenção. O livro que tentei ler fora deixado de lado, assim como meu IPod e o notebook. Nada fora suficientemente potente pra me fazer esquecer aquele estranho pesadelo. Eu me mantinha desperta, a cabeça rodando, os pensamentos atropelados e a certeza de que o dia que seguiria seria terrível... Há muito tempo eu não passava uma noite assim, em claro, pensando sobre o que me acontecia... A última vez foi há muito tempo atrás, quando eu tinha treze anos e fui chamada de filhote de hipopótamo com elefante. O apelido carinhoso foi dado por Tanya, loira, olhos azuis, esguia e sem um defeito aparente. Claro, ela poderia fazer o que quisesse... Era linda, a rainha de todos os bailes dos quais participava... Foi até miss no Arizona, onde morava antes de os pais dela terem a infeliz ideia de mudarem pra Forks.

Quantas e quantas vezes ela não me humilhou? Não me ridicularizou perante toda a escola? Perdi noites e mais noites de sono enquanto chorava, relembrando suas palavras. Depois que suas “amigas” chegaram à Forks, tudo piorou... Até parecia que elas haviam se juntado pra criar o “clube da perfeição”. Todas possuíam a mesma aparência: loiras, magras, muito peito, muita bunda e um estoque infindável de maldades. Se aquilo era modelo de perfeição, eu preferia continuar sendo imperfeita...

Quatro horas e eu continuava insone, com os pensamentos esmagando meu cérebro. Foram incontáveis as vezes que deitei no sofá e fechei os olhos, tornado a abri-los porque aquela imagem do pesadelo vinha em minha cabeça com toda a força. O que me incomodava era Edward estar naquele sonho. Não tínhamos passado tanto tempo juntos pra que alguma opinião se formasse, pra que eu pudesse pensar ou lembrar dele, a não ser pelo trabalho que faríamos juntos.

Seis horas. O café já estava pronto e eu terminava de me arrumar. Tive muito trabalho para esconder as evidências de uma noite insone e o resultado não era satisfatório, contudo, não havia muito mais que eu pudesse fazer.

Preferi não esperar por Bree e saí logo. Ainda era muito cedo, mas eu não iria diretamente para a escola; pararia em algum lugar, pensaria um pouco e tentaria esquecer aquele pesadelo. Eu não poderia deixar que aquilo me fragilizasse.

O toque do meu celular fez com que eu parasse o carro e estranhei ao ver o número de Emily.

Ela disse que estava doente e que não poderia ir à escola e que era pra eu repassar o recado para minha irmã, uma vez que não conseguiu falar com ela pelo celular. Assim que desliguei, retomei meu caminho. O dia não estava lá grande coisa e a julgar pelas nuvens escuras que se aproximavam, só iria piorar.

Ao chegar ao estacionamento da Forks High fiquei observando a entrada da escola. Aquilo poderia ser traumático pra algumas pessoas... Eu tinha a sorte de ainda manter um pouco da sanidade.

Aos poucos as pessoas foram chegando e pensei se faria alguma coisa ao carro de Jacob. Seria bom descontar um pouco do que aquele pesadelo me causou... Faltava pouco, muito pouco pra que aquele Rabbit 86 fosse totalmente restaurado.

Aquela seria uma longa quarta-feira...

O carro de Bree entrou no estacionamento e ela se juntou a nossos amigos, olhando pra minha picape. Talvez eles estivessem pensando no quê estava me acontecendo, talvez estivessem esperando mais um espetáculo... E teriam... Aquele carro que parecia fazer questão de mostrar-se pra mim entrou no estacionamento e ele ainda estava muito inteiro e bonito pro meu gosto...

Dessa vez não bati como gostaria, mas deixei um belo arranhado na lataria. Ganhei alguns olhares exasperados do quarteto fantástico, que mais parecia querer me fulminar. Importei-me com isso? Não! Eu só não entendia o porquê de Jacob continuar a ir pra escola com aquela preciosidade... Ele poderia muito bem ir correndo, como o bom cachorro que era.

Notei os olhares de Rose e Edward sobre mim e não pude ignorar o tremor que passou por meu corpo. Seus olhos eram mais verdes do que o pesadelo me mostrara. Eles estavam acompanhados por Emmett e um rapaz loiro, quase tão alto quanto o moreno. Deram-me um sorriso, que retribuí forçadamente e não me aproximei. Seria melhor assim.

Passei por minha irmã e amigos; informei sobre Emily e segui para a sala. O sinal não tinha tocado e isso me daria a chance de sentar em algum lugar longe de Edward e não ter que encará-lo. Pelo menos por aquele dia. Ninguém me perguntou nada, eles notaram que eu queria ficar sozinha.

Os dois primeiros tempos de aula passaram correndo. Sr. Berty conseguia deixar a aula de Inglês leve e dinâmica, sem contar que sua expressão naturalmente sisuda não condizia com a realidade; ele era super engraçado. Mais um trabalho foi passado e era pra ser entregue em quinze dias. Até aí não seria um problema, se ele não fosse pra ser feito em dupla... E Mike, que estava ao meu lado, logo se eriçou... Por que eu quis sentar num lugar que não fosse o meu? Tudo bem que eu queria evitar Edward, mas ter que ouvir o Newton suspirando a cada cinco minutos não era agradável. Não que eu tivesse algo sério contra ele, mas a forma como ele me encarava me deixava irritada. Bree jurava que Mike sentia algo por mim. Eu jurava que ele não era normal.

Terminei minhas anotações e sorri involuntariamente; seria fácil fazer um trabalho sobre Romeu e Julieta, uma vez que eu conhecia o filme de trás pra frente e sabia todas as falas de Romeu, meu herói particular. Anotei o nome dos três filmes que o professor indicou e senti algo bater em minhas costas. Virei-me quase violentamente, com uma boa dose de veneno na ponta da língua. Meu dia não estava bom e eu com certeza xingaria um...

POR FAVOR, FAZ ESSE TRABALHO COMIGO?! OLHE BEM MINHA "DUPLA"!


Era isso o que estava escrito no papel que Edward me mostrava e realmente tive pena dele... Sua "dupla" era Lauren, uma loira platinada, com uma voz naturalmente anasalada e chata. Mesmo sendo possuidor daquele par de olhos verdes que me fizeram perder uma noite de sono, eu não seria tão má assim... Acenei afirmativamente com a cabeça e me virei, prestando atenção ao restante da aula e pensando em como fazer o trabalho sem ter que estar ao lado dele.

— E então, quando começaremos a fazer o trabalho? — perguntou Mike, enquanto eu guardava minhas coisas e levantava.

— Não sei, tenho que ver com Edward; ele é minha dupla. — respondi calmamente e as bochechas de Mike ganharam um tom avermelhado.

— Vai fazer o trabalho com ele? — o "ele" foi meio irônico — Como? Vocês nem sentaram juntos! Como sabe que ele vai querer fazer dupla com você?

— Apenas sei. Com licença. — falei e saí, deixando-o sem ação.

Eu realmente não gostava de tratá-lo daquela forma, mas me conhecia o suficiente pra saber que não conseguiria ficar quieta por muito tempo. Aquilo era tão irritante! E ele parecia estar sempre com dor ou algo assim.

Caminhei a passos apressados pelo corredor e adentrei rapidamente na sala em que teríamos aula de Educação Cívica. Professor Jefferson era gay e vez ou outra tentava ganhar algum aluno. Sentei-me no único lugar vago, ao lado de Tyler Crowley e não me importei muito em ser simpática. Mesmo que nunca tenha feito nada contra mim — não que eu soubesse —, ele nunca foi com a minha cara e isso ficou ainda mais evidente quando ele virou o rosto assim que me viu.

Os ponteiros dos relógios pareciam travados, os minutos não passavam e tudo só ficava pior... O professor era ótimo, mas a matéria era chata e maçante. Senti-me desconfortável, como se estivesse sendo observada e olhei para o lado, percebendo que Edward me fitava. Tremi ao lembrar mais uma vez do pesadelo. Ele desviou os olhos rapidamente e creio que tenha voltado sua atenção à aula.

Não houve qualquer tipo de trabalho nessa aula, nem mesmo as tarefas para o lar, como o professor Jefferson falava, mas isso era comum no início do ano letivo, a maioria dos professores preferia falar e nos deixar com as matérias dos livros para lermos.

Seguia tranquilamente para o refeitório quando me senti ser puxada pelo braço. Segui a mão que me segurava até me deparar com Tanya Denali. Bom, ela foi a primeira a me irritar, seria a próxima de quem eu me vingaria.

— Solta. — falei com voz firme, encarando-a.

As pessoas que passavam pararam pra ver no que aquilo ia dar.

— Querida, que cumprimento mais hostil! Não tivemos muito tempo para nos falarmos, não é mesmo? Mas... Eu só queria dizer que mesmo estando com as banhas no lugar, você continua gorda. — disse ela, dando um risinho malicioso.

Ah, meu Deus! Meu dia não estava mesmo bom... Pra melhorar, só caindo um meteoro na minha cabeça. E ainda era capaz dele rachar e nada me acontecer.

— Pois é! Continuo gorda, mas posso emagrecer... Já você... Por mais que esses quilos de maquiagem escondam sua cara, vai continuar sendo uma vadia. — respondi calmamente e ela bufou.

— Quem você pensa que é pra falar assim de mim, porquinha?

Ok. Não tenho água correndo nas veias... Consegui soltar-me dela e dei-lhe um sonoro tapa na cara.

— Tire as digitais que deixei em seu rostinho... Querida. — respondi e me virei, seguindo meu caminho e ouvindo o burburinho atrás de mim.

Não me juntei aos outros no refeitório e segui até a parte de trás de escola, me sentando em um dos bancos. Eu estava sem fome, por isso não me importei em ficar ali, olhando para o nada. Sem contar que aquele era um dos locai menos frequentados da escola; não corria o risco de encontrar ninguém por ali.

Bem, não tive tanta sorte. Quil apareceu com um sanduíche e um enorme sorriso no rosto, ao qual eu não correspondi. Eu realmente não estava num dia bom.

— O que está acontecendo com você? — ele perguntou, sentando-se ao meu lado e me estendendo o lanche.

— Deve ser inferno astral.

Minha voz era puro desgosto e Quil deu uma risadinha. Ela queria sentir minha ira também?

— Pra mim, é falta de um namorado. Depois que eu, lindo e maravilhoso entrei na vida de Bree, ela anda tão calma...

Ele queria mesmo me provocar... Será que não estava claro que eu não estava pra brincadeiras?

— Me faz um favor, Quil? Vai pro quinto dos infernos!

Antes de sair, joguei o lanche nele e ainda ouvi sua gargalhada. Ele estava mesmo testando minha paciência.

Andei pela escola praticamente me esgueirando pelos cantos, tentando não encontrar ninguém que pudesse me deixar pior do que já estava. Era só evitar os lugares-comuns a todos e eu estaria segura.

O sinal tocou, mas não queria dizer que estava livre dos olhos verdes; ainda teríamos o restante das aulas, mas eu faria o que pudesse pra evitar sentar ao lado dele. Caminhei apressadamente e tranquei-me no banheiro, dando tempo pra que todos já estivessem acomodados quando eu entrasse na sala. Minha intenção era sentar bem longe dele.

Ia distraidamente até a sala de espanhol quando fui parada por mãos grandes. Por mais que eu não quisesse; teria que encará-lo e assim o fiz. Por sua expressão, as coisas iam ficar sérias...

— Vai continuar a destruir meu carro ou já parou com a palhaçada? — Jacob falou e sua mão se fechou mais em meu braço.

— Solta. — falei, olhando meu braço. Por mais que eu tentasse demonstrar raiva, o medo estava presente.

— Só um aviso: Se fizer mais alguma coisa com meu carro, vai se arrepender. — sua voz era fria.

— Nada do que venha a fazer vai ser pior do que a noite do baile. Ouse fazer mais alguma coisa contra mim e vai ver o que é ter raiva. Agora, tire suas patas de cima de mim. — minha voz soou cheia de desprezo.

O aperto em meu braço se desfez e ele me fitou cinicamente. Me perguntei como pude ter sentido algo por esse ser tão desprezível e vil. Se me fosse possível voltar no tempo, eu gostaria de mudar o que senti por ele. Jacob Black poderia ser minha redenção ou minha total ruína e disso eu tinha certeza.

Um brilho passou pelos olhos de Jacob e senti-me como um bichinho encurralado, indefeso. Toda aquela sensação de impotência frente às circunstâncias me envolveu mais uma vez e nos encaramos como dois caubóis prestes a sacar suas armas e partir pra um duelo. Meu corpo tremeu e recuei um passo, fazendo com que um sorriso sarcástico surgisse em seu rosto. Tive medo, mas ainda dava pra piorar...

— Algum problema por aqui? — era a voz de Edward, que surgiu atrás de mim e me assustei, dando um pulo.

Nossos corpos se moveram e eles acabaram de frente pra mim. Me vi revivendo meu pesadelo.

— Mas que inferno! — sibilei, mas Edward ouviu e me olhou de cenho franzido.

Por mais que eu não quisesse, acabei fitando-os e estavam ali; aquelas orbes tão distintas e tão iguais... Pensei estar enlouquecendo.

— Pense bem no que vai fazer Isabella. Eu não gostaria de te fazer reviver o passado, mas se for preciso irei até as últimas consequências. — disse Jacob, com um sorriso cínico.

Não esperei pra ouvir o que Edward falaria e saí correndo pra fora da escola. Refugiei-me em minha picape e creio ter batido com a cabeça no volante umas vinte vezes. Inferno! Eu tinha que ficar cara a cara com os dois? Logo após aquele pesadelo? Inferno! Como eu queria sumir... Esquecer que existia, que tinha família... Eu queria esquecer quem eu era. As palavras daquele infeliz ecoavam em minha mente e eu realmente não sabia do que ele era capaz e, se ele iria até as últimas consequências eu também iria; mesmo sem saber quais os problemas que isso me acarretaria.

Meu celular começou a tocar e não reconheci o número, mas atendi assim mesmo. O melhor teria sido ignorar a chamada...

— Alô? — tentei controlar minha voz.

— Bella, é o Edward. Onde você está? O que está acontecendo? — sua voz naturalmente rouca soou preocupada.

— Estou em minha picape, mas me deixe sozinha — suspirei —, não quero te ver. Me deixe em paz, por favor! — pedi, sufocando o choro.

— Ok. Desculpe-me se a incomodo tanto. — ele disse e encerrou a ligação.

Seria melhor daquela forma. Eu não sabia o que acontecia comigo... A cada vez que meus olhos fechavam, eu só via dois pares de olhos rindo de mim e aquilo me angustiava. A raiva que eu sentia dos que me humilharam só aumentava, uma ânsia de vê-los passando por todo o sofrimento que passei; vê-los chorar...

Enrolei até o fim das aulas, mas como não vi Edward se mover pra partir tão cedo, resolvi que tinha que ir logo à sala do diretor. Só o que me faltava era ganhar uma suspensão por desacatar um professor.

Bati hesitante na porta de vidro e vi o gesto que o Sr, Greene fazia pra que eu entrasse. Sentei-me na cadeira que me foi indicada e esperei pelo balde de água fria que cairia sobre minha cabeça. Do jeito que as coisas estavam, eu já não duvidava de mais nada... Se ele me mandasse limpar as paredes da escola com a língua não seria surpresa alguma.

— Isabella, sente-se melhor de sua indisposição imaginária? — perguntou ele, recostando-se em sua poltrona e rindo pra mim. Ok, aquilo estava estranho.

— Uh... É... Na verdade, eu esqueci que deveria vir falar com o senhor. — falei e prendi o lábio entre os dentes. Agora sim viria algo de ruim...

— Eu sei. O dia de ontem não foi fácil... Mas admito que gostei muito do modo como enfrentou James. Nunca a vi tão audaz; tão ávida por defender algo e confesso que foi uma grata surpresa ter escutado seu discurso.

Oh, Deus... Tem algo errado, não é possível! Senti-me dentro do "Além da Imaginação", mas numa versão piorada.

— Sei do que te aconteceu no baile e a julgar pelos constantes "acidentes" envolvendo o carro de Jacob, creio que ele tenha algo a ver com isso. Estou certo?

— Está. — respondi e já me preparava pra levantar, pegar meu material e comunicar aos meus pais minha expulsão.

— Na época, não tomei conhecimento de quem te fez aquilo e não pense que a recrimino por querer dar o troco. Isso não é coisa que um diretor e educador possa falar, mas a verdade é que estou gostando muito de sua nova personalidade e só peço que tome cuidado com suas decisões. Quanto ao James, minha vontade é demiti-lo, mas não posso fazer isso, ele tem algum parentesco com o administrador geral da escola e infelizmente terei que esperar a volta de Charlotte. É isso... Espero que saiba pesar bem suas decisões e, por favor, fique longe do meu carro.

Ele riu e acabei acompanhando-o. Aquilo foi mais estranho do que qualquer outra coisa...

Fui direto para a casa da minha mãe e ela me pareceu bem triste pelo meu desentendimento com Bree, mas entendeu meu lado. Ela sabia que quando eu colocava algo na cabeça, dificilmente tirava. Segundo sua super sabedoria de mãe, ela disse que Bree só estava daquele jeito porque viu que eu não era mais uma garotinha a quem ela precisava proteger. Agora eu sabia revidar.

Após o almoço, ajudei minha mãe com a louça e contei a ela sobre o pesadelo. Pude ver o brilho em seus olhos quando mencionei o nome de Edward e fiquei sem entender. Talvez Bree já tivesse comentado alguma coisa.

— Você conhece esse Edward? São amigos? — a curiosidade estava estampada em sua voz.

— Falei poucas vezes com ele. Edward é irmão de Rosalie, aquela menina do primeiro dia de aula.

— Hum... E é bonito?

Parei o que fazia e olhei pra ela, completamente descrente daquele comportamento.

— Mamãe! Não comece com suas ideias estapafúrdias! Nunca, nem que eu fosse a última mulher da face da Terra, Edward olharia pra mim e mais; eu não quero olhar pra ele. Acho que jamais vou superar aquele pesadelo.

— Não é ideia... Eu só pensei que... Que ele deve ter mexido com você de alguma forma... Bem, é que não são amigos e você sonhou com ele...

Dona Renée pensava que me enganava... Eu conhecia aquele jeitinho de “inocente”...

— Foi um pesadelo e não um sonho; e Edward não mexeu comigo. De forma alguma.

— E suas bochechas estão vermelhas por que...?

Bufei e joguei o pano de prato sobre a mesa da cozinha. Saí pisando duro e ouvindo a gargalhada da minha mãe. Era cada coisa que me acontecia... Minhas bochechas estavam vermelhas de raiva por saber que, por mais que eu evitasse, seria impossível passar todo o ano letivo sem olhar pra Edward e Jacob.

Refugiei-me na antiga casa da árvore e não demorou muito até que minha mãe veio atrás de mim. Engraçado nós duas ali.

— Acho que te irritei não é mesmo? — disse minha mãe, suprimindo um sorriso.

— Não, só que a senhora tem ideias muito estranhas.

— Desculpe. Eu só queria entender o que esse rapaz lhe fez...

— Nada, mãe. Ele não me fez nada, mas o pesadelo não me sai da cabeça. Não consegui olhar pra ele e não lembrar tudo aquilo, como se realmente tivesse acontecido.

Ela nada disse e ficamos ali, conversando sobre tudo e nada. Mais sobre sua viagem do que sobre nada. Ela estava mesmo animada com aquilo, embora meu pai, por mais que confiasse em nós, tivesse medo de ficar tanto tempo longe. Eu sabia que não ficariam apenas um mês viajando... Nós rimos quando ela disse que faria um esforço pra estar de volta antes do meu aniversário. Eu não duvidava que eles ligassem e mandassem um postal, desejando felicidades.

Ouvimos um barulho de carro e pensamos que era meu pai, mas qual não foi minha surpresa ao ver Bree saindo de um Volvo prata e... Edward? Mas que diabos ele estava fazendo ali? E com Bree?

— Temos duas opções. — começou minha mãe — Ficamos aqui e recebemos visitas, ou descemos e tentamos descobrir o que sua irmã faz aqui com um rapaz tão bonito.

— Pois eu digo que as opções são outras; descemos e você fica com eles e eu vou pra casa. Quem está com Bree é o Edward.

Enquanto minha mãe processava a informação, eu desci e, como não tinha como ir pra casa sem passar por eles, me dirigi à sala, encontrando-os em uma conversa animada.

— Bella! Eu não sabia que você estava aqui. — disse Edward, completamente sem graça e olhando de mim pra minha irmã.

— Eu moro aqui. Você é que deveria sumir da minha frente! — gritei.

Ao invés de ir pra minha casa, fui para meu antigo quarto. Uma raiva sem tamanho tomou conta de mim. Raiva por tudo que me acontecera, raiva pelo pesadelo. Raiva de Bree, por ter levado Edward até ali... Ela não tinha o direito! Chorei tudo que podia e o que não podia e a cada vez que meus olhos fechavam, a imagem de Edward rindo de mim aparecia. E aquilo doía. Doía mais do que todas as coisas que já me haviam dito. Doía mais do que tinha que doer.

E eu fiquei ali, ouvindo algumas gargalhadas, algumas palavras atropeladas e sem a mínima vontade de descer. Eu só queria — e não sabia mesmo por qual motivo — que Edward desaparecesse da minha vida. Ou então, que eu acordasse e descobrisse que tudo aquilo não passou de um sonho chato e confuso.

Minha mãe ainda tentou me persuadir a descer e lanchar com eles, mas eu recusei veementemente. Aquilo não daria certo de forma alguma... Que dia do cão! Ainda bem que já estava acabando.


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Notas finais do capítulo

Então, por hj é só! Comentem e eu posto mais rápido!
bju!