Superando escrita por Arline


Capítulo 30
Capítulo 30 - ONDE CABE UM...


Notas iniciais do capítulo

Olá! Tudo bem com vocês? Espero que sim.

Sumi, eu sei. Me perdoem.

A fic só terá mais dois capítulos e FIM! Falta pouquinho agora.

Espero que gostem e me digam o que acharam.

Alguém quer recomendar a fic? Eu aceito. E se quiserem comentar, eu aceito também.

Bjs e até as notas finais.



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ONDE CABE UM...

POV BELLA

Meus olhos pesavam, mas eu sabia que não poderia fechá-los por um segundo sequer. Lily estava acordada ainda, e Edward estava no banho, cantando desafinadamente uma música infantil. Depois de todos aqueles anos de casados e mais oito meses com Lily, cheguei à conclusão de que seu único talento na vida era ser marido e pai. Edward não sabia cantar, não sabia desenhar... Falar em público não era mesmo com ele, sem contar que nada na faculdade o interessou. Como dizia Carlisle: nasceu pra ser sustentado pela mulher.

Sabíamos que o pai só falava aquilo pra irritá-lo, e conseguia sempre. Porém, por mais que não tivesse mesmo voltado pra faculdade de Administração, ele se saía muito bem cuidando de seus negócios com Emmett. A parte teórica não era sua praia; ele gostava de estar ali, trabalhando. Eu ainda não tinha previsão de quando voltaria à faculdade; deixar minha filha aos cuidados das avós ou de babás não me agradava em nada. Meu pai sabia de meus motivos pra querer voltar a estudar e conversou comigo, dizendo-se orgulhoso desde sempre, e que um diploma não faria com que isso aumentasse ou diminuísse alguma coisa. Não era apenas por ele; eu queria mesmo voltar, sentia falta do ritmo louco, dos meus amigos... Mas deixar Lily... Ela ainda era tão pequena! E mesmo que a amamentação fosse apenas um complemento agora, eu ainda amava os momentos em que estávamos juntas daquela forma. Talvez eu voltasse depois que ela completasse um ano...

— Ai! — gritei quando Lily puxou meus cabelos, e ela deu uma gargalhada gostosa, achando muito engraçado — Não faz assim com a mamãe, meu amor. Isso dói. Puxe os cabelos do seu padrinho, ok? Ele gosta. — em resposta, Lily me deu gritinhos alegres.

Eu quase não acreditava que ela estava tão grande e esperta. Engatinhar era a coisa que ela mais gostava de fazer, além de me dar sustos ao se pendurar nos móveis. Como a pediatra já conversava conosco sobre o desenvolvimento e tudo o que ela poderia fazer, não gritamos quando nossa pequena macaquinha se pendurou no sofá e forçou as perninhas, mas Edward fez questão de deixar umas vinte almofadas ao redor, apenas pra prevenir, claro... Minha casa estava toda modificada; as portas vivam trancadas, protetores foram colocados nas tomadas, móveis foram reformados e estavam com as quinas arredondadas, além dos protetores de silicone, a escada agora tinha uma engenhoca que Rosalie inventou; um portãozinho estranho e feio que não me agradava em nada.

Outra puxada no cabelo e mais gargalhada de Lily.

— Filha, não maltrate a mamãe... Eu te dou tanto amor e carinho...
— E se continuar falando mole assim, ela vai fazer tudo o que quiser... — Edward se meteu em minha conversa, me fazendo suspirar ao aparecer só de cueca. Filho da mãe! — Lembre-se do que a pediatra disse: Lily já entende muita coisa e vocês devem ser firmes com ela.

Sim, eu sabia daquilo, mas não queria ficar sempre dizendo “não”. Puxar meus cabelos ou o de qualquer outra pessoa era normal, fazia parte de seu desenvolvimento. Assim como colocar objetos na boca, gritar, morder... Limites seriam dados, mas quando ela realmente estivesse começando a ultrapassá-los. E Edward me surpreendeu quanto a isso; Lily ainda conseguiria tudo o que quisesse do pai, mas ele se mostrava menos maleável do que antes. O amor intenso e o cuidado eram os mesmos, talvez até tivessem aumentado, mas no que se referia à educação e toda a parte “chata” de ser pai, ele não dava mole.

— E já passou da hora de ela estar dormindo, Bella. Vamos, coloque o peito pra fora e alimente essa criança. Anda, mulher!

Eu ri da cara séria que Edward tentou fazer, e ele acabou rindo comigo, se jogando na cama. Minha filha me abandonou, virando-se totalmente na direção do pai e lhe oferecendo um sorriso cheio de baba e alguns dentinhos. Edward fingiu não lhe dar importância e ficou olhando pra frente, mas muito atento a qualquer movimento que ela fazia; sua gracinha não passou impune e Lily acertou um tapa em sua cara, me fazendo gargalhar.

— Assim não, gatinha. O pai está te vendo, ok?

E então, tivemos uma rodada de gargalhadas e um tanto de “da-da-da-da, pa-pa-pa-pa e ga-ga-ga-ga”. Era só isso que ela repetia. Sempre. E a ordem não mudava. Era gostoso acompanhar suas descobertas e aprender com ela; tudo era novo pra nós também. Estávamos ansiosos para o “papai” e “mamãe”, ou pra quando ela começasse a andar e correr pela casa.

As perninhas gordas se agitavam no ar e os gritos repetidos me faziam rir. Edward estava adorando ver como nossa garotinha se divertia quando ele fingia morder sua barriga. Era em momentos assim que eu não sabia dizer qual dos dois era mais criança.

— Filha, eu amo ouvir e ver suas gracinhas, mas é hora de dormir! Amanhã seus amiguinhos virão e você tem que estar bem disposta, além de eu ter que conversar com sua mãe... Um assunto seríssimo!

Eu até que tentei me manter séria, mas a cara que Lily fez foi engraçada demais... Enquanto o pai falava coisas que ela nem entendia, minha pequena simplesmente colocou a língua pra fora e fez um barulho engraçado, jogando baba na cara de Edward. Ou seja: Nada de tentarem colocar outro bebê no meu lugar... E Lily não precisava dormir pra acordar disposta; sua energia parecia algo inesgotável.

O dia seguinte seria longo... Aquela seria a segunda vez que o doutor Luke nos visitaria com sua esposa e os gêmeos, Cassidy e Elliot. Os dois eram lindos e nos deixaram doidos da primeira vez. Como já estavam com quase dois anos, se achavam muito adultos e não queriam dar importância à Lily, que adorou ser feita de bobinha e engatinhar atrás deles pela casa toda. Minha filha parecia um filhotinho correndo atrás do dono... Aquilo não foi legal.

Quase uma hora depois de ir para o quarto de Lily — que continuava sendo o primeiro do corredor —, consegui fazê-la dormir. Aquele bebê calmo que dormia a maior parte do tempo realmente não existia mais... Passava das nove da noite, e com certeza ela estaria acordada antes das oito da manhã. Meu pai se ofereceu pra ficar com ela enquanto Edward me ajudava a organizar os preparativos da reuniãozinha, e era inegável o quanto os dois se davam bem. O bigode com o qual me acostumei teve que sumir, senão Lily o arrancaria na base dos puxões, mas ele amava aquela garotinha mais que tudo... E eu amava ver como todos a amavam. Meus amigos eram cheios de cuidados e extremamente protetores, como se ela tivesse irmãos e irmãs mais velhos e ranzinzas. E eu a amava mais do que poderia suportar, mas meus olhos queriam mesmo um pouco de descanso.

Em meu quarto, Edward já estava cochilando, completamente largado e sem indícios de que conseguiria conversar. Eu não o culpava. Lily exigia mais dele do que de mim; ela simplesmente não o deixava sossegado por um segundo. Coloquei uma roupa qualquer, sem me importar se chamaria ou não a atenção de meu marido; na verdade, qualquer coisa que eu usasse chamaria sua atenção, até mesmo uma burca lhe daria coceira nas mãos e uma vontade louca de me ver sem ela.

Assim que me deitei, braços protetores me envolveram, e Edward se arrastou mais pra perto, afundando o rosto em meus cabelos. A respiração em minha nuca fazia com que os arrepios percorressem meu corpo por completo, mas sempre seria assim, independente do que ele fizesse; se a intenção fosse ou não, me provocar.

— Amanhã a gente conversa, está bem? Acho que vou deixar Lily com seus pais por uma semana; assim conseguiremos deixar todas as conversas em dia.

Eu ri do tom um tanto triste na voz de Edward, mas o entendia e jamais cobraria por aquilo. Bem... Não se eu não estivesse com meus hormônios alterados, como quando fiquei grávida.

— Não se preocupe com isso, sim? Depois conversaremos. Amo você.
— Obrigado pela preferência. — um beijo quase inocente em minha nuca e mais arrepios — Te amo.

Como previsto, Lily acordou bem cedo, nos dando gritos e choro estridente. Barulho era com ela mesma! Se não soubéssemos que tudo estava perfeitamente bem, poderíamos nos desesperar facilmente e correr com ela para o hospital mais próximo. Claro que nos assustamos da primeira vez, e até ligamos para a pediatra, mas após constatar que cinco minutos depois o barulho sumiu e sua atenção foi toda pra um dinossauro que fazia um barulho chato, acabamos percebendo que aquilo tudo era só pra chamar a atenção e ganhar colo.

Depois de alimentada e limpa, a deixei no cercadinho — que já não adiantava muita coisa mais — e comecei a pensar no que fazer para o almoço. Edward estava muito inclinado a usar seu brinquedinho novo; uma churrasqueira que o deixou muito feliz, mas que estragou meu quintal e minha casa da árvore. Toda vez que ele usava aquilo, um cheiro insuportável de fumaça se instalava em cada fresta de madeira, tornando impossível ficar ali por muito tempo.

E eu tive problemas com aquela casa... Era minha! Meu lugar especial. Mas os filhos do doutor Luke choraram quando a mãe deles os afastou das escadas. Nem minha filha usaria meu lugar, quanto mais os amiguinhos abusados dela! O pai que lhes desse uma, ora!

Meu pai ligou e avisou que em dez minutos estava chegando pra pegar sua princesinha, e que era pra eu deixar tudo arrumado, já que ele queria passear um pouco com ela, levar a uma pracinha e tirar fotos. Ele gostava mesmo daquelas coisas e exibia cada foto nova com muito orgulho. Assim como fazia comigo e Bree, o crescimento de minha pequena também era marcado no portal da porta da cozinha; todos os meses ele me pedia pra informar, após cada visita à pediatra, quantos centímetros Lily havia crescido.

Edward pareceu-me particularmente animado com o fato de ficarmos sozinhos por algumas poucas horas e logo correu pra arrumar a bolsa de Lily. Seria engraçado demais ver meu pai carregando uma enorme bolsa cor de rosa cheia de desenhos de florezinhas.

— Finja que está um pouco triste por ficar longe de sua filha, amor. — falei pra Edward, enquanto ele colocava mais um par de roupas dentro da bolsa.
— Eu não. Ela está bem e feliz, indo dar uma voltinha com o vovô.

Como era cretino esse meu marido...

— O fato de termos algumas horas nem está te deixando com esse sorriso idiota na cara, não é?
— Claro que não. Eu nem pensei nisso.

Melhor nem insistir... Ele estava feliz e ponto final. Eu também estava, não nego, mas me dava uma tristeza por ficar longe de Lily... Quando ela passou a comer papinha e já não dependia tanto que eu a amamentasse, Esme pediu pra ficar com ela uma noite, pra que eu pudesse sair com Edward ou ficar em casa sem fazer nada, mas não deu muito certo... Bati na porta de minha sogra depois da uma da manhã e peguei minha filha de volta.

Mesmo querendo mostrar que não estava sendo afetado pelo passeio de nossa filha, Edward não quis ver quando meu pai a levou. Eu só pude rir e constatar que éramos iguais no que se referia ao que era “nosso”; ciúmes extremos.

— Pronto, já pode parar de chorar. — impliquei com Edward, me jogando ao seu lado em nossa cama. Ele não estava mesmo com a cara boa.
— Viu se ela estava segura na cadeirinha? Seu pai ainda enxerga bem, certo?
— Tudo certo.

O olhar que recebi deixou bem claro que se estava certo, ficaria certíssimo então! Edward não quis esconder que estava desesperado, e eu não quis esconder que gostei muito quando ele praticamente rasgou minha blusa. Estávamos precisando muito conversar.

E conversamos. Três vezes. Minha respiração ainda estava um tanto alterada quando Edward me puxou e me levou até o banheiro, onde conversamos mais uma vez. Se eu tivesse mais um orgasmo naquele dia, meu corpo não aguentaria. E eu nem poderia curtir meu momento de relaxamento; tirar o atraso acabou me atrasando mesmo.

(...)

Beijos e promessas indecentes são ótimos argumentos. Prova disso era Edward muito empolgado com seu brinquedinho, e eu ali, sorrindo igual a uma idiota e esperando ansiosamente pelo cumprimento de suas promessas de me levar acima do céu. Mais uma vez.

Doutor Luke — apenas Luke, após ele ter me repreendido pela quarta vez — também estava gostando muito daquela coisa de “homens unidos” e até se arriscou a tomar uma cerveja. Julianne, sua esposa, me ajudava com as crianças, já que a maioria era dela, e acabamos fazendo parte da brincadeira de correr pelo tapete emborrachado que colocamos pra que as crianças não se machucassem. Lily ficava sobre meus pés e assim, corríamos atrás dos outros dois, os sorrisos e gritos me deixando verdadeiramente feliz.

O cardápio das crianças não as agradou muito. Ninguém queria comer comida saudável tendo hambúrguer sendo feito bem diante delas. Mas as batatinhas em formato de carinha até que conseguiram enganar bem.

Por volta de duas da tarde Lily apagou completamente; pelo visto só acordaria à noite. Quase uma hora depois, Elliot e Cassidy a seguiram, restando apenas àqueles chamados adultos. Edward e o doutor Luke falavam tanta besteira, que eu cheguei a duvidar se aquele cara era mesmo sério e um médico respeitado. Ninguém poderia colocar a culpa no álcool, uma vez que ficaram apenas nas duas cervejas.

Julianne era agradável e engraçada; nosso assunto era mais sobre nossos filhos e maridos. Ouvindo-a falar de como era ser esposa de um médico, comecei a pensar se queria aquilo pra Edward e Lily. Foi necessário que o doutor Luke trocasse seu dia de plantão pra poder estar com os filhos em um lugar que não fosse a casa deles, e segundo Julianne, apenas meus convites estavam sendo capazes de tirá-los de Seattle. Senti-me uma idiota por fazê-los viajar de avião com duas crianças.

— Me desculpe por tudo isso... Quando os convidei a primeira vez, eu não sabia que tinham filhos; apenas aqui foi que vi as crianças. — exteriorizei meus pensamentos, recebendo um enorme sorriso em resposta.
— Não, por favor! Foi ótimo receber seu convite. Luke não aproveita os filhos quase, nunca está em casa e bem, pelo menos assim temos como gastar todo o dinheiro que ele ganha, certo? Eu gostei daqui; é calmo e as crianças poderiam ter mais liberdade em uma casa, já que vivemos presos dentro de um apartamento.
— Mesmo assim, ainda me sinto uma completa imbecil. Fazê-los se deslocar com duas crianças... Que vergonha!
— Bella, não se preocupe com isso. É sério! Quando estivemos aqui da primeira vez, Luke me disse que nunca havia se sentido tão normal e bem. Ele gostou de vir pra cá e passar dois dias longe de tudo aquilo. — eu sorri. Ela estava quase me convencendo de que eu não era uma idiota — Você sabe que podemos conseguir qualquer coisa de nossos maridos... Estou quase o convencendo a nos mudarmos pra cá ou Port Angeles.
— Isso seria ótimo! — exclamei, realmente feliz.
— Seria maravilhoso. Acredite.

Fomos interrompidas por Edward, que estava muito sério e até nervoso. Seu rosto estava meio vermelho, mostrando um traço de irritação.

— Desculpe a interrupção, mas temos problemas, Bella. Sérios problemas.

Meu coração disparou no peito. Ainda mais depois que o doutor Luke chegou e pediu que Edward se acalmasse e conversasse comigo a sós. Nada com nossa filha, eu sabia, pois se fosse, com certeza Edward estaria gritando e me arrastando pra dentro de casa, e não andando calmamente ao meu lado e com o braço ao redor de meus ombros.

Não havia nada de anormal em minha sala, tudo estava perfeitamente arrumado, como antes. Edward não me parecia ferido ou sentindo-se mal, Luke muito menos.

— O que houve, Edward? E, por favor, não gagueje!

As mãos grandes voaram até os cabelos bagunçados, deixando-os mais desorganizados e com pontas para todos os lados. A respiração pesada e o rosto vermelho denunciavam muito nervosismo e um punhado de confusão.

— Eu estava lá na frente com Luke, falando sobre nossa casa e a vontade de Julianne de se mudar, quando um carro parou e um engravatado saltou e perguntou qual de nós dois era Edward Cullen. Quando eu me apresentei, ele voltou ao carro e saiu com uma criança de cinco anos, dizendo que era o filho de Heidi. Ela morreu, Bella. Ela morreu e deixou o filho pra que criássemos.

Continuei muda e caí sentada no sofá, não acreditando naquelas palavras. Heidi estava morta? E nos deixou a guarda de seu filho? Onde estava a mãe dela? E o pai da criança? Conhecendo meu marido como eu conhecia; sua expressão só queria dizer uma coisa: não ficaremos com ele.

— Mesmo depois de morta, Heidi quer nos atormentar!
— Acalme-se, Edward! Não estamos sozinhos em casa e as crianças estão dormindo.

Ele me olhou descrente, e até eu me olharia, uma vez que minha voz saiu calma demais pra uma situação um tanto desesperadora. Porém, por mais que fosse uma situação realmente estranha e perturbadora, teríamos que manter a calma e pensar de forma coerente.

— Sim. E o tal advogado da mãe de Heidi está em nossa sala, com o neto dela, e dizendo que ele é nosso.
— Edward, por Deus! Mantenha a droga da calma! O que ele te disse, exatamente?

Pensei que o peito de Edward explodiria diante de meus olhos; a força que ele fez ao respirar era realmente assustadora.

— Disse que Heidi e a mãe o havia procurando há uns dois anos, mais ou menos, e que nos colocaram como guardiões legais do menino no caso de algo acontecer a elas. Bem, aconteceu. A mãe de Heidi morreu há um ano, mais ou menos e Heidi, há dois dias, em um acidente de carro. — mais uma respiração ruidosa e estranha — O menino estava no carro, mas por sorte não sofreu nada.
— Você viu se ele está mesmo bem? Nem um arranhão?

Edward me olhou como se eu fosse um E.T ou algo pior. Independente de quem ele fosse filho, era uma criança, não tinha culpa das loucuras que a mãe fez ou de ela ser tão vagabunda que nem sabia quem era o pai de seu filho. Claro que eu estava preocupada; eu era mãe, não queria que nada de ruim acontecesse à Lily e não desejava isso pra qualquer outra pessoa.

— Nem pense nisso, Bella. Não vamos ficar com ele.

Respirei fundo, encarando Edward e sabendo que meu golpe seria baixo mesmo.

— Temos uma filha, Edward. Se algo nos acontecesse e ninguém a quisesse, nem mesmo alguém que pensaríamos que poderia cuidar dela, você ficaria feliz? Você gostaria que ela fosse parar em um orfanato e ficasse por conta do destino?
— Isso não vai acontecer. Então, tire essa ideia da cabeça.
— Você não é assim, e eu não vou deixar que esse menino saia daqui, me ouviu? Não tome parte em nada que o envolva, não te cobrarei isso, mas ele fica.
— Bella! — Edward beirava a exasperação, mas minha decisão estava tomada e nada a faria mudar — Lily é muito pequena e nós não temos como cuidar de mais uma criança. Sem contar que eu não sei como lidar com essa situação; pensei que Heidi nunca mais faria nada contra nós.
— E ela não fez. Talvez, pedir que cuidássemos de seu filho, tenha sido o único e verdadeiro ato de amor que ela teve na vida. Não é por ela, Edward, já que nada mais pode ser feito; é pelo menino. É por uma criança que poderia ter sido seu filho.

Minhas palavras foram calculadas, claro, mas não por uma questão de frieza. Longe disso... Envolver “filhos” e “Edward” em uma mesma frase era a garantia de que qualquer coisa poderia ser pensada, repensada, discutida... Eu sabia que ele ficaria com aquilo na cabeça, pensando, repensando... Por isso o deixei sozinho e segui até nossa sala; nosso cantinho.

O menino estava sendo praticamente engolido por um casaco branco grande demais, com o capuz cobrindo-lhe o rosto e o deixando parecido com um Yeti-criança. O senhor meio careca e com cara entediada me olhou de alto a baixo, passando a língua nojenta pelos lábios. Dentro da minha casa! Na minha frente! Mais abusado não tinha como ser.

— O senhor é? — perguntei de uma vez, sem nem pensar em dirigir-lhe um sorriso ou estender minha mão.
— Will Clark, advogado. E a senhorita é?
— Isabella Marie Swan Cullen, esposa de Edward. — sim, fiz questão de usar nome e sobrenome, e ainda enfatizar quem eu era ao usar o nome de meu marido.
— Oh! Então devo me corrigir e não mais chamá-la de senhorita, embora não me pareça ter idade pra ser casada.
— E mãe.

Sua expressão desmoronou de vez. Melhor assim. E eu fui direto ao ponto; perguntei o que teria que ser feito, o que aconteceu, o nome do menino...

Era realmente triste saber que o pequeno Gregory estaria sozinho no mundo se Edward continuasse com seus pensamentos confusos. Era muita coisa pra que uma criança de quase seis anos pudesse assimilar, e eu não seria, jamais, a responsável por ele ter que passar por coisas piores. Eu amava minha pequena Lily, amava Vittorio, e poderia amar àquele pequeno que me dava um olhar triste e esperançoso, embora eu soubesse que nada daquilo era de sua compreensão.

Os olhos azuis brilhavam, parecendo implorar pra que eu o quisesse, o amasse.

— O serviço social já foi notificado sobre a morte e as decisões de Heidi e sua mãe; ele fica aqui a partir de hoje, se o quiserem, ou então, eu o levo de volta. — assim, sem nenhuma emoção, o infeliz foi expondo as vias do destino de Gregory, sem se importar com o que o menino sentia, com o que eu sentia — Eventualmente vocês terão que comparecer diante de um juiz, mas creio que se o quiserem, não haverá problema algum.
— Certo. Gregory não tem, realmente, nenhum parente que vá quer tomá-lo de mim depois?
— Oh, não. Não senhora. Heidi não sabia mesmo quem é o pai do menino, e os outros parentes nunca foram chegados, tampouco quereriam ficar com um órfão.
— O nome dele é Gregory. — falei rudemente, como se fosse o rugido de uma leoa muito brava, e o homem quase se escondeu — Algo mais a dizer? Algum documento a assinar?
— Sim. — ele fez um barulho estranho, como se tivesse se engasgando com seu veneno — A notificação e, depois, alguns documentos referentes à casa e tudo mais que pertenceu à Heidi e sua mãe, uma vez que tudo passou para... Hum, Gregory.

Eu precisaria da assinatura de Edward. E eu a teria, mesmo se eu precisasse falsificá-la. Os meios normais seriam usados primeiro; assim, segui até a sala, onde o encontrei com o olhar perdido e o rosto ainda vermelho. Pra que não surgissem mais desculpas, levei a caneta do tal Will comigo, só pra garantir, claro.

— Assine. — estendi o papel a Edward, que o olhou sem entender — E não é um pedido com “por favor” incluído.
— Bella... Não podemos decidir isso assim, sem nem conversarmos.
— Não tem conversa, Edward. E não se refira a ele como isso nunca mais, me ouviu? Se você não vai assinar essa droga, esteja ciente que pegarei nossa certidão de casamento e copiarei sua assinatura.

Como ele continuou parado, talvez duvidando do que falei, dei-lhe o prazer de ver que eu falava sério ao me afastar e deixá-lo ali. Se não era por bem... Meus passos foram apressados até meu quarto, e eu comecei a procurar pelas gavetas, a pasta onde estava minha certidão de casamento. Eu estava cometendo um crime e sabia disso, mas Gregory não viveria em um orfanato; ele merecia ser amado e cuidado, merecia ter uma mãe, por mais que nunca viesse a me amar como uma ou me chamar assim.

Quando eu já estava treinando a assinatura pela segunda vez — e estava muito boa —, a caneta foi retirada de minha mão e eu sorri, sentindo meu coração acelerar no peito. Edward assinou o papel e o estendeu a mim, me dando um meio sorriso.

— Obrigada. Muito obrigada, Edward.
— Pelo menos agora eu só preciso fazer mais dois.

Seu “dar de ombros” quase me convenceu. Ele se importava, eu sabia que sim, só estava relutante porque era um filho de Heidi. E era exatamente por isso que eu quis aquele menino mais do que qualquer outra coisa.

Tão logo entreguei o papel ao advogado, ele se foi, sem nem fingir que se importava com Gregory; apenas disse que entraria em contato conosco em breve e me deixou seu cartão. Eu não esperei muito tempo mais e me sentei ao lado do menino bonito com um tom de pele semelhante ao de alguém muito bronzeado. Talvez fosse herança de seu pai. Os olhos azuis brilharam e ele me sorriu um pouco, esticando a mão pra enrolar em meus cabelos.

Boita.

Eu ri e agradeci ao elogio inesperado. Ao contrário de Vittorio, quando tinha aquela idade, Gregory me pareceu tímido demais, pois suas bochechas ganharam um tom vermelho e seus olhos pararam em seus pés.

— Você também é muito bonito, Gregory. Muito mesmo.
Guegui.

Eu lhe sorri, agradecendo por ele querer que eu lhe chamasse de Greg. Talvez Heidi o chamasse daquela forma. Ela o amava? Cuidava dele? Alguma vez ela o abraçou e disse que faria qualquer coisa por ele? Ela eu não sei, mas eu faria.

Aceitando-o completamente, peguei seu corpo pequeno e coloquei em minhas pernas, o abraçando apertado. Ele reclamou um pouquinho e logo o soltei, me desculpando. Claro que ele deveria estar dolorido; há dois dias ele havia sofrido um acidente!

Pedi que ele esperasse e fui atrás de Luke, apenas pra que ele pudesse olhar Gregory e me deixar tranquila, embora sua especialidade não fosse clínica geral. Edward preferiu fingir que nada acontecia, ainda sentado na sala e olhando para o nada. Assinar o papel foi um grande passo, mas ainda faltava muita, muita coisa pra que eu pudesse dizer que estava satisfeita com ele.

Depois de alguns “apertões que eu prometo que não vai doer”, Luke informou que não havia fraturas e que a marca transversal no peito de Gregory era pela pressão exercida pelo cinto de segurança quando ele foi lançado pra frente em sua cadeira, na parte de trás do carro, provavelmente. Mesmo querendo saber o que acontecera naquele carro, eu não tive coragem de perguntar; Gregory talvez, já tivesse respondido a perguntas suficientes sobre isso, mas Luke viu em meus olhos o quanto aquilo me incomodava.

— Você foi pra um hospital? — a “voz de médico” estava ali, mas havia muito cuidado também. Gregory acenou afirmativamente com a cabeça — O médico disse que você estava bem?

Tendo respostas afirmativas, as perguntas foram pausadas, assim como as respostas. Pelo que deu pra entender, Heidi perdeu a direção e o carro capotou, e como Gregory estava do lado oposto e bem preso, sofreu apenas alguns arranhões.

— Fisicamente ele está bem, Bella.

Sim, fisicamente apenas.

— Farei o possível pra que ele seja feliz.

Olhei mais uma vez aquele menino tão pequeno e com uma carga de sofrimento tão grande. Eu queria cuidar dele mais do que qualquer outra coisa.

— E o Edward? Ele me pareceu meio contrariado quando recebeu a notícia.
— Querendo ou não, Gregory é meu, e nem Edward seria capaz de me fazer mudar de ideia. — ganhei um sorriso — Vocês ouvirão palavrões e gritos, mas não se assustem, ninguém sairá ferido.
— Posso pedir que July converse com ele. O gancho de direita que ela tem, convence qualquer um a fazer qualquer coisa.

Até que seria uma boa ideia estapear Edward, mas preferi não aceitar; eu conversaria com ele. E do meu jeito.

Eu não tinha roupas pra Gregory, apenas comida, uma cama quentinha e amor. Julianne se ofereceu pra comprar algumas peças de roupas em uma lojinha no centro de Forks; um lugar onde havia meia dúzia de lojas e barraquinhas de comida. Esplendoroso. Alice passava um tédio danado com aquilo. Como as crianças estavam dormindo muito bem, aceitei a ajuda e enquanto Luke a acompanhava, levei Gregory para a cozinha. Seus olhos brilharam para o sanduíche e as batatinhas.

— Você gosta? — sim, era espantoso. Frango e salada? Nem eu comia muito aquilo...
— Sim.
— Quer suco de laranja?

Ele me respondeu sorrindo, afastando por um momento, a tristeza que eu sentia por sua situação.

Quando ele terminou e eu arrumei tudo, seus bracinhos envolveram minhas pernas em forma de agradecimento. Pra esconder que eu chorava, o peguei em meu colo e enfiei o rosto em seu casaco enorme, seus dedinhos se perderam em meio a meus cabelos e ganhei um beijo na bochecha. Se Heidi tivesse recebido ao menos uma parte daqueles carinhos — e eu queria acreditar que sim —, ela teria sido muito feliz.

— Quer ver desenho? Quer dormir?
— Desenho!

Claro que ele ia escolher o desenho... Pergunta idiota a minha... Segui com ele até a sala que Edward e Emmett usavam pra virar criança e nos deitei no tapete fofo, colocando uma almofada sob sua cabeça. Coloquei em todos os canais de desenhos que tínhamos e deixei que ele escolhesse; quando seu sorriso apareceu, deixei o controle de lado e fiquei apenas vendo um pouquinho de felicidade naquele garotinho.

Não muito tempo depois ele dormiu. Agarrado a mim. Era impossível não me perguntar se Heidi teve um pouco daquilo, se retribuía, se aquele menino era feliz com ela. Talvez, quando sua mãe entrou com o pedido de guarda, ela tenha mudado, tenha percebido que o filho era importante. Tomara que sim.

Eu não queria deixá-lo sozinho e o abracei também, fechando meus olhos e pensando em como seria a confusão quando minha família e a família de Edward descobrissem. Não me importava o que diriam; aquele menino era meu.

(...)

Gregory não estava perto de mim. Em seu lugar, Edward me olhava de um jeito estranho, mas calmo. Senti meu peito apertar com aquilo; o que ele havia feito? Não consegui espantar as lágrimas e deixei que a ardência em meus olhos vencesse.

— Onde ele está, Edward?
— Calma, Bella. Eu não seria capaz de fazer nada com uma criança. Ele está lá em cima.
— Eu sei. Me desculpe.

Aceitei o aperto de seu braço e descansei a cabeça em seu peito, aproveitando um pouco daquela calma.

— Ele acordou quando eu o tirei daqui e depois, quando o arrumei na cama, ele levantou, me abraçou e disse: obigado, moço.

Sorri, depositando um beijo no pescoço de Edward. Ele era um idiota adorável.

— Você já gosta dele, amor. Você vai tentar me enganar, mas eu sei que gosta.
— Eu estou é com uma raiva monstruosa da Heidi. Ela não podia morrer agora, Bella. Deixar o filho sozinho foi muito egoísmo. E ainda tem o enterro, e conversar com o menino sobre tudo isso... Se ela estivesse viva, eu ia pedir que você desse uns tabefes nela.

Me levantei e fiquei de frente pra Edward, tendo sua mão entre as minhas. Apesar de ser um idiota adorável, eu o amava e entendia o que ele estava sentindo.

— Agora eu não preciso do meu marido; eu preciso do meu companheiro, o cara que está ao meu lado pra qualquer coisa. Teremos que cuidar de tudo, Edward; o enterro, procurar um bom psicólogo pro Gregory, amá-lo...
— Eu sei. Fui um idiota mais cedo, mas em minha defesa, digo que fiquei muito assustado com a situação. Cuidaremos de tudo, ok?
— Obrigada.
— Nada disso, Bella. Claro que eu quero um pagamento por minha bondade! Agora nós somos pais de dois e nossas conversas serão mais escassas... Terei que ser muito bem recompensado!
— E será. Sempre. Eu amo você.

(...)

O enterro de Heidi foi a coisa mais triste que já presenciei na vida. Como o acidente aconteceu em Seattle, tivemos que seguir pra lá, e minha família esteve presente, assim como a de Edward e o doutor Luke e Julianne. Achamos melhor não levar as crianças, nem mesmo Gregory, então ele ficou com Rosalie, que assumiu o papel de babá e ficou com todos. Pelo menos o apartamento estava inteiro quando chegamos lá.

Edward passou um tempo considerável perto do caixão de Heidi. Talvez ele a estivesse xingando em pensamento, ou pedindo que ela, pelo menos uma vez, o ajudasse de alguma forma.

Nossas famílias não foram contra ficarmos com Gregory, apenas se assustaram com a notícia repentina. Sabíamos que ainda teríamos um longo caminho a percorrer com ele, embora seu carinho fosse algo natural. Meu pai ficou meio enciumado por Carlisle ter recebido maior atenção, mas quem não gostaria de estar com um avô que te deixa brincar com seu estetoscópio e fingir que dava injeção?

Tirando toda a burocracia, eu poderia dizer que tudo corria bem. Edward estava mesmo gostando de ser pai de um menino; pelo menos os dois se divertiam muito na salinha de jogos, as gargalhadas eram altas e me deixavam feliz. E minha princesinha estava amando ter mais uma pessoa pra cuidar dela. Em uma noite qualquer, quando acordei pra dar uma olhada em Lily, encontrei Gregory sentadinho no chão do quarto dela, olhando pelas frestas do berço e segurando sua mãozinha. Agora ela tinha mesmo um irmão mais velho.

Através da janela da minha casa da árvore, eu via os três no quintal, brincando sobre o tapete emborrachado e rindo. Lily gritava mesmo, querendo que os outros dois parassem de correr dela quando seus joelhos pequenos se moviam pra ir atrás deles.

— É, Heidi... Não é porque você morreu que eu vou te colocar no posto de santa; você não valeu muita coisa mesmo, mas obrigada por ter me deixado Gregory. Ele é um pequeno anjo e eu já o amo.

Ri de mim mesma. Talvez Heidi estivesse feliz. Ou me xingando por falar dela daquele jeito...

E como dizem por aí: Onde cabe um cabem dois. E em meu coração cabia muito mais...

Meu amor essa é a última oração
Pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa

Cabe o meu amor!
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe nós dois
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Notas finais do capítulo

A música usada é Oração - A Banda Mais Bonita da Cidade.

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