A Pedra Vermelha escrita por Cambs


Capítulo 9
VIII. Demônios


Notas iniciais do capítulo

Agora eu não demorei um mês para atualizar, vejam só, rs.



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Lyra manteve os braços cruzados, tentando esconder seus arrepios. Mas sentia-se, desde a base de sua espinha até a nuca, completamente arrepiada pela presença do homem. Se aquilo for mesmo um homem, não estou duvidando de mais nada.

Poderia ser, talvez, alguém perdido, assim como eles, mas a situação de seu corpo e roupa não demonstrava isso.

O desejo de se distanciar preencheu o cérebro de Carfax, e, segurando uma das mãos de Allan, deu um passo para trás, puxando o namorado consigo. Era apenas seu instinto de sobrevivência entrando em ação, mas sabia que para ele ter sido ativado boa coisa não iria acontecer. Carfax estava em alerta e da última vez em que isso aconteceu, ocorreu algo na agradável em seguida. Sentindo a tensão de Carfax, Allan apertou sua mão e tamborilou seus dedos nas costas da mão dela, reproduzindo o ritmo de sua música favorita, tentando acalmá-la. Quando reconheceu a batida de Sacrifice, Carfax apertou a mão de Allan em sinal de agradecimento pela tentativa de acalmá-la, mesmo que não tenha funcionado.

— Pare ai mesmo — Aaron disse em tom alto, dando um passo a frente e tomando a dianteira do grupo. Seu corpo estava tenso, com se estivesse preparado para um combate corpo a corpo, olhou de relance para sua mochila. Longe demais.

O homem parou de caminhar e levantou as mãos sinalizando que não queria confusão. Com um sinal de cabeça, o homem recebeu a permissão de Aaron para continuar andando até atingir o chão plano. Ainda com as mãos levantadas, ele andou pouco mais que o combinado, até que parou novamente ao comando de Aaron, ficando agora a três metros de distância do grupo.

— Quem é você? — Lyra perguntou antes que Aaron conseguisse formular qualquer pergunta. Então ela estava amedrontada, Allan concluiu. Sempre que se sentia ameaçada ou com medo, Lyra ficava agitada e precipitava-se em tudo o que fazia. Não era uma boa hora para isso. Realmente.

— Rhagnar, minha senhora — homem abaixou as mãos e fez uma breve reverência, disse algumas palavras em um idioma desconhecido, que parecia uma estranha mistura de árabe com espanhol, o que ia contra o sotaque americano que mostrava ao falar —, embora, minha senhora, perguntou quem sou não seja algo exatamente correto.

Sabia. Lyra arrepiou-se novamente e não apresentou objeção quando Drake puxou-a pelo braço, fazendo-a dar alguns passos para trás. Queria mesmo se afastar daquele... daquela coisa.

— O que quer? — Katrina perguntou. Pietro franziu a testa e postou-se à frente dela, de sua nova posição conseguia uma defesa rápida para Katrina e Shane, mesmo que o receptáculo certamente o ofenderia pela defesa.

— Eu? Bem, minha dama, eu não quero uma confusão, mas não posso dizer o mesmo sobre meu companheiro — Rhagnar dirigiu um sorriso cortês à Katrina, ignorando totalmente a presença de Pietro na frente da moça.

— Que companheiro? — Derek perguntou receoso, não queria, nem um pouco, saber a resposta.

— Aquele ali — a voz de Annelyse não passava de um sussurro.

Metade do grupo virou-se para trás, encontrando mais um homem, parado a poucos metros de distância, igual ao outro que estava ao norte.

— Oh Bernhard, um pouco atrasado não acha? — Rhagnar afastou o blazer para colocar as mãos nos quadris, olhando desafiador para o outro e esquecendo-se momentaneamente da presença do grupo.

O que se identificava como Bernhard sorriu frio enquanto metia as mãos nos bolsos da calça jeans surrada que usava.

— Continua chato e careta Rhagnar, mas não me surpreende, seu departamento é uma completa merda.

Bernhard era loiro e dono de pequenos cachos que deveriam pertencer a um anjo, mas essa possibilidade era imediatamente excluída pelos olhos azuis, gélidos e cruéis, e pela postura ameaçadora que mantinha. Parecia um caçador, pronto para fazer o que bem quisesse com a caça.

— Ainda ressentido pela demissão, sinto muito, sabe que as ordens foram superiores. Aliás, podemos controlar o linguajar? Isso é tão sem educação.

— Aliás, o que está fazendo aqui? Você cuida apenas da localização.

— Garantindo que você deixe de ser um cão que apenas ladra.

Aproveitando a distração de Bernhard e Rhagnar, Kerry e Amara abaixaram-se e, como estavam próximas das mochilas, procuraram qualquer coisa que servisse como arma. Conseguindo alcançar apenas cinco mochilas sem causar alarde, elas voltaram a ficar de pé e com uma troca de olhares decidiram suas posições. Kerry foi pela esquerda, mantendo as duas adagas e o canivete que conseguira achar, escondidas atrás do corpo. Amara fazia o mesmo com as facas pela direita. Elas conseguiram passar as armas para os guardiões e terminaram a tarefa no exato momento em que Bernhard percebeu a movimentação das duas.

— O que as bonecas estão aprontando? — Bernhard sorriu novamente e inclinou o corpo para frente, olhando fixamente para Kerry. Drake fez um sinal para que Brandon assumisse sua posição ao lado de Lyra, e, quando o loiro executou a ação, Drake foi até Kerry e a puxou para trás, o que fez com que o sorriso de Bernhard aumentasse e ganhasse um ar cruel. — Ora, ora, defendendo a namorada... Não, espere... A namorada está ali atrás. Ah, seriam um casal tão adorável, causariam tanta inveja alheia e sim, claro, a luxúria...

— Cale a boca — Drake disse cerrando os dentes, irritado com a maneira estranha e intensa que Bernhard o olhava.

Rhagnar tornou a falar, porém eram em seu idioma estranho. Ele apontava com o queixo para Lyra, Drake e Brandon, fez uma pausa para rir e apontou para Aaron e Katrina. A risada fria e alta de Bernhard fez Aaron ficar arrepiado, e aquilo foi o suficiente para ele querer impor um basta na situação.

Aaron procurou seu dragão e o encontrou olhando firmemente para Rhagnar. Como se sentisse seu olhar, Elsen virou a reta cabeça azul marinho para Aaron e o encarou, como se estivessem esperando por uma ordem. Fogo Aaron, dragões cospem fogo. Mas, e se Elsen fosse um caso a parte? Bem, teria que arriscar. Aaron encontrou o olhar de Pietro e movimentou o dedo rapidamente, indicando Elsen. Pietro pareceu entender e segurou firme o cabo da faca que recebera de Amara, como uma resposta positiva para Aaron. Amara também recebeu o sinal e balançou os ombros paras frente e para trás, concordando também. Aaron voltou a olhar para o dragão e balançou a cabeça em sinal de positivo. Apertou o cabo de sua adaga e respirou, era hora de atacar.



— Ainda está com um pouco de febre — a voz de Evelyn era quase inaudível, grande parte devido ao seu esgotamento. A garota estava bastante cansada, dolorida e com alguns machucados, mas insistia em aparentar que estava bem, mesmo que soubesse que estava falhando miseravelmente nisso.

— Deite-se um pouco, está precisando — Johnny disse enquanto observava Evelyn passar os dedos delicadamente pelo rosto de Jesse, retirando os cabelos grudados pelo suor.

— Estou bem, obrigada. E, bem, acho que conseguiria dormir — Evelyn sorriu de cantando, concentrada em traçar linhas que iam da testa até as maçãs do rosto de Jesse.

— Poderia tentar.

— Como será que está Amur? — ela desviou-se do assunto e recostou-se na cadeira de madeira.

— É com Amur que está preocupada? — Johnny arqueou uma sobrancelha. Não que Amur não fosse digno de preocupação, o ferimento do dragão parecia ser grave, mas haviam deixado o animal em um lugar seguro e já em estado de recuperação. E Johnny achava que Evelyn não haviam gostado do dragão.

— Também — ela suspirou.

— Vamos criança — Johnny levantou e colocou as mãos nos ombros de Evelyn —, fico de olho e se algo acontecer prometo que te acordo.

Evelyn suspirou novamente e deixou que Johnny a levasse para a cama, pouco distante da cama de Jesse. Não estavam em um lugar grande e exatamente confortável, mas as três camas e a assistência dos habitantes eram a melhor coisa que poderiam ter. Vencida pelo esgotamento, Evelyn adormeceu concentrando-se no afago que Johnny fazia em seus cabelos castanhos. Espero que descanse, Johnny permaneceu passando a mão pelos cabelos da garota por mais alguns minutos e dirigiu-se para Jesse, verificou a temperatura do rapaz e depois saiu do pequeno alojamento, encostando-se a porta de madeira e respirando o úmido ar noturno.

Ilha do Corvo, Johnny cruzou os braços, quem diria que acabaríamos por parar em uma ilha, por sorte, habitada.

Amanhã bem cedo iria até o local em que Amur estava e tentaria arrumar algo para o ferimento do dragão, decidiu o homem com um suspiro cansado, tentado a voltar para dentro e jogar-se à cama. Acabou por permanecer ali pouco mais e após ter uma conversa rápida com o guia e tradutor que os ajudava, entrou no alojamento e verificou Jesse novamente. Levemente aliviado pela pequena queda de temperatura.

A surpresa maior fora ouvir Jesse produzindo sons. Johnny aproximou o ouvido do rosto do rapaz e ouviu o que pareciam ser palavras.

— Francês — Johnny conseguiu identificar o idioma dos murmúrios de Jesse, e sorriu quando ouviu, claramente, o nome de Evelyn.



Se soubesse que seria assim tão fácil, a própria Lyra teria pedido a Liem que incendiasse os inimigos. A garota olhava para o corpo ainda em chamas de Bernhard e segurava firma o braço de Brandon, quase cravando as unhas no membro do guardião, incomodada com os gritos estridentes de Bernhard. Ele poderia ser um inimigo, mas ainda era assustador ver alguém morrer queimado e aos berros bem na sua frente.

O problema do grupo agora era Rhagnar, que não estava nem um pouco satisfeito com a morte de Bernhard, o homem que apenas falava.

— Acho melhor dar o fora daqui antes que lhe aconteça o mesmo que seu amigo — Aaron levantou a adaga na direção de Rhagnar, que apenas riu e tornou-se frio, passando a esquecer dos bons modos.

— Alguém vai acabar se machucando se você mantiver a lâmina levantada — o sorriso de Rhagnar tornou-se cruel, como se estivesse imaginando mil modos de tortura e gostasse de todos eles. Quando viu que Aaron não abaixaria a adaga, seu sorriso cresceu. — Maravilha.

Mesmo que estive vendo, Aaron não acreditava. Não conseguia mesmo acreditar que as pupilas de Rhagnar dilataram-se a ponto de cobrir todo o globo ocular do outro, tornando-os totalmente negros. Não acreditava também na materialização da adaga de dois gumes na mão esquerda do homem. E muito menos na multiplicação de imagens, criando vários clones de Rhagnar.

Preciso rever meus conceitos de realidade, Aaron engoliu em seco, ou de um ótimo psiquiatra.

Rhagnar e todos os seus clones avançaram, tendo o original indo diretamente para Aaron, que não conseguiu defender-se adequadamente e caiu. Enquanto um dos clones e o original iam à direção de Brandon e Lyra, Aaron cogitou chamar Elsen novamente, mas então reparou que eram muitos e que poderia atingir alguém que não precisava, os dragões pareceram perceber isso também já que se afastavam e rosnavam baixo por não conseguirem ajudar.

Aaron ouviu um palavrão e virou-se na direção do som. Três clones estavam derrotados e o original xingava e praguejava, esquivando-se das investidas de Drake e Brandon, porém estava ferido. O terno cinza de Rhagnar evidenciava o sangramento que tinha na barriga, dando certo retardamento em seus movimentos.

— Lyra! — Allan gritou após derrotar um dos clones, quando a garota olhou para ele, o guardião sinalizou indicando que ela deveria atacar as costas do Rhagnar original.

Com altos palavrões em mente, Lyra pediu a faca de Amara e aproveitou a distração do Rhagnar original com Drake, Brandon e Pietro para correr pela grama, parando atrás dele. Caramba, Rhagnar estava ferido e lutando contra três dos melhores lutadores do grupo e praticamente ganhava a disputa. Como é que ela conseguiria?

Lyra engoliu em seco e assim que Rhagnar golpeou fazendo os três adversários irem para trás, ela apertou o cabo da faca e atacou. Teria funcionado perfeitamente se Rhagnar não tivesse virado e a agarrado pelo pescoço.

— Que bonitinho, quer bancar a heroína dos namoradinhos, mas vejam só, não consegue salvar nem a si mesma — a mão de Rhagnar apertava o pescoço de Lyra, com sua pele quente machucando a pele pálida da garota, enquanto sua voz transbordava ódio. Lyra já estava perdendo a consciência.

Contando até três, Drake, Brandon e Pietro atacaram Rhagnar por trás. Lyra e o homem caíram no chão, juntamente com os outros poucos clones que restavam. Drake ajudou a garota a se levantar enquanto Brandon verificava de Rhagnar estava mesmo morto. Tendo isto confirmado, Brandon suspirou e olhou para Lyra, que ofegava com a cabeça encostada no ombro de Drake.

— Você está bem? — Drake perguntou analisando o pescoço de Lyra. Estava vermelho e um pouco inchado, e certamente dolorido já que conseguia ver o contorno dos dedos na vermelhidão.

— Estou só... só tire isso daqui — com a voz rouca, Lyra apontou com o pé o corpo de Rhagnar.

— Meds — Allan chamou o dragão. — Consegue levar esses corpos daqui?

— Kórin, ajude-o — Carfax disse.

— Você também Celler — Pietro suspirou.

— E você venha aqui — Brandon puxou Lyra dos braços de Drake o mais delicadamente que pôde e conduziu-a até uma das lagoas. — Consegue levantar os cabelos?

— Machuquei meu pescoço e não os braços, mas sim — Lyra fez o que Brandon pedira e segurou seu cabelo no alto.

Brandon juntou as mãos e as fechou em formato de concha, mergulhou-as na água da lagoa, trouxe as mãos de volta à superfície e despejou a água no pescoço de Lyra, que tremeu e mordeu o lábio inferior. O gesto foi repetido por pelo menos três vezes.

— Melhor? — Brandon perguntou enquanto secava as mãos em sua camisa.

— Bastante, obrigada — Lyra encarava, ou pelo menos tentava, seu reflexo na água da lagoa. Tendo a luz da lua como única iluminação, Brandon não sabia dizer se a garota estava mais pálida que o normal.

Os dragões retornaram e agora estavam livres dos cadáveres, mas não livre dos problemas. A noite ficava um pouco mais fria e um pouco mais de luz seria bem-vinda.

— Kórin — Brandon chamou e esperou até que o dragão aproximasse a cabeça para falar. — Consegue trazer algo para usarmos em uma fogueira?

— Leve Liem com você, aquele dragão precisa trabalhar um pouco também — Lyra disse fazendo com que Liem bufasse. Kórin deu um leve resmungo e afastou-se, pouco depois ele e Liem estavam no céu, voando para longe da tigela de terra. O que poderia ser útil para uma fogueira?

— Precisa chorar, gritar, bater ou qualquer outra coisa? — Brandon perguntou olhando de maneira engraçada para Lyra, que sorriu.

— Por que, você se candidata a ser meu ombro amigo? — ela brincou, embora a resposta para a pergunta de Brandon fosse um sonoro “sim”.

— Não, eu mandaria você para junto de Drake, Kerry ou Carfax — Brandon sorriu de volta. — Você lida bem com traumas. E ah, certo, evite falar muito, ajuda a fazer a voz voltar ao normal. Está doendo?

— Você diz que devo evitar falar, mas não para de me fazer perguntas. Conhece algo chamado lógica?

— Tem razão — Brandon resmungou e olhou para cima, vendo Liem e Kórin voltarem. — Aquilo são árvores? E foi uma pergunta retórica, mantenha-se calada.

Sorrindo, Lyra levantou e juntou-se aos outros. Os dragões, de fato, trouxeram árvores, sendo que todas elas eram altas e de tronco fino, com suas raízes contorcidas em uma das pontas e galhos sem folhas noutra. Pietro, Drake, Derek, Allan e Shane colocaram três árvores perto de uma das lagoas, empilhando-as e enquanto Pietro pedia a Celler que lhes desse fogo, os outros empurravam o restante das árvores para trás.

— Acredito que vamos precisar montar guarda — Derek disse enquanto passava a mão pelos cabelos castanhos. Bem, o pescoço de Lyra certamente concordaria.

— O primeiro turno é meu — Carfax levantou a mão.

— Nem pensar! — Allan protestou.

— Trocamos de turno a cada duas horas. Primeiro turno é meu e de Carfax — Lyra disse e levantou a mão quando Allan e Derek abriram a boca para protestar. — Sem reclamações, ou eu juro que uso os meus métodos de persuasão, que incluem fazer um inferno até que vocês concordem.

Percebendo que ganhara, Lyra respirou fundo ignorando as pontadas que vinham de sua garganta e repetiu o gesto quando Carfax pegou em sua mão. Assim que todos estivessem dormindo, Lyra abraçaria Carfax e faria algo que queria desde que Tryna aparecera: chorar.



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Notas finais do capítulo

Sim, a música favorita de Carfax é Sacrifice do Elthon John, julguem-na. u__u Brincadeira...
Eu não lembro se já falei sobre o tumblr de JOD aqui, mas para todos os casos aqui está: http://jewelsofdeath.tumblr.com/
E é, queria agradecer a todo mundo que está deixando reviews, vocês são uns lindos. E caro fantasmas, por favor, manifestem-se ok? Eu juro que não mordo, xingo, bato, etc ninguém.
Enfim, é, até o próximo capítulo ♥



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