A Pedra Vermelha escrita por Cambs


Capítulo 7
VI. Alturas




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— Se não fizerem nada que possa ser interpretado como ameaça, vocês não correm perigo — Tryna disse, mas ninguém realmente prestava atenção nela.

A curiosidade do dragão era grande, ele cheirava o telhado da casa e passava os olhos brancos brilhantes por todos os cantos, quando se tratava de pessoas, apenas Lyra, Brandon e Evelyn despertavam o interesse do animal.

— Este provavelmente é nosso menor dragão, então apenas um de vocês poderá voar nele. O animal escolherá quem montará nele — Tryna voltou a dizer, agora visível parada ao lado de Johnny.

— Voar?! — Lyra exclamou alternando o olhar entre o dragão e Tryna. — Um navio ou sei lá não seria melhor?

— Um “navio ou sei lá” não é tão rápido quanto um dragão. Não foi você mesma quem disse que quanto antes isso terminar melhor? — Tryna disse. Lyra imaginou-se socando Tryna, resfolegou e voltou a encarar o dragão, que estava concentrado em cheirar o cabelo de Brandon.

— E se alguém nos vir? Porque ele pode ser seu menor dragão, mas tem mais de sete metros e chama atenção demais — Aaron disse.

— Então não vamos poder voar nele — Lyra disse.

— Cada dragão possuiu magia suficiente para ter uma camuflagem perfeita. Vocês vão voar — Tryna ameaçou cruzar os braços, mas acabou por colocar uma das mãos na cintura.

O dragão decidiu focar sua atenção em Lyra, ele aproximou a cabeça dela e passou a fazer um exame minucioso da garota, quando terminou a inspeção, o animal sentou-se e abaixou a cabeça, mantendo o olhar sempre em Lyra.

— É você — Johnny disse. — O dragão escolheu você Lyra.

Os olhos verdes de Lyra arregalaram-se e ela engasgou-se com a própria saliva, estendeu a mão e deu um passo em direção ao dragão. Allan e Carfax entreolharam-se e Carfax suspirou voltando sua atenção para Lyra, isso não era algo realmente bom considerando o passado de Lyra com coisas que voavam.

— Se ele realmente me escolheu, vou poder tocar nele? — Lyra perguntou.

— Vai. Mas, caso ele não tenha te escolhido, sugiro que seja rápida — Tryna respondeu, meio que com escárnio, meio que séria. Era, de certa forma, uma situação hilária. Lyra deu mais alguns passos, engolindo em seco e quase tremendo ela finalmente conseguiu encostar a mão no dragão. É, ele realmente me escolheu. Provavelmente desmaiaria ou começaria a gritar, se era de felicidade ou não isso já era algo desconhecido. — Você realmente é a escolhida dele, vamos, escolha um nome para ele — Tryna sorriu.

— Um nome? — Lyra murmurou. Ele é meu cachorro de estimação ou o que? — Qualquer nome?

— Qualquer nome.

Lyra ponderou por um minuto. Qualquer nome valeria, mas ela não queria qualquer nome. Um nome bonitinho pelo menos serviria.

— Liem — ela encarou o dragão. — Seu nome é Liem.

Enquanto Lyra balançava a mão tentando fazer alguma espécie de afago em Liem, ele soltou um som estranho que a garota decidiu entender como um ronronado ou algo do gênero. Lyra sorriu mais calma e foi passando a mão pelo pescoço do dragão até que encontrou uma coleira de couro, negro igual as escamas do animal, com a largura de sua mão, observando o objeto mais de perto ela encontrou dois símbolos. Um deles mostrava um cálice com uma espada cruzando suas extremidades em horizontal e um símbolo do infinito desenhado no centro.

— O que é esse símbolo? — Lyra perguntou.

— Pensei que soubesse — Tryna arqueou uma sobrancelha.

— Se eu soubesse não teria perguntado — Lyra encarou a ruiva.

— Este é o símbolo das joias, é este símbolo que vocês vão ter que procurar depois de encontrarem Mármara — Tryna respondeu séria após cruzar os braços.

— Ah, obrigada por compartilhar seu nobre conhecimento conosco — Lyra sorriu teatralmente fazendo Carfax e mais alguns segurarem para não rir.

— Disponha, mas agora se apresse.

— Mas eu terei que montar nele e Liem não tem sela! — Lyra exclamou fazendo o dragão virar a cabeça.

— Então se eu fosse você trocaria os shorts por uma calça.

Se Carfax não tivesse puxado Lyra para dentro da casa, ela certamente teria dado um soco em Tryna.

De todas as garotas apenas Annelyse usava calças, todas as outras tiveram que se trocar. Vestiram a calça mais resistente que tinham, o que era basicamente um jeans, e voltaram para o jardim.

— Você vai ficar bem — Allan sussurrou para Lyra quando parou atrás dela. Ele a ajudou a subir no dragão e esperou até que ela passasse os braços ao redor do pescoço de Liem. — É só segurar firme.

— Quando estiver pronta, dê dois tapinhas no pescoço de Liem e ele começará a voar — Tryna sorriu novamente. — É melhor nos afastarmos, vai ventar.

Lyra respirou fundo três vezes, olhou para Allan e Carfax e engoliu em seco quando o animal começou a mudar de posição. É como um cavalo. Mesmo que cavalos sejam menores e não voem.

— Eu não... — Lyra interrompeu-se no meio da frase. Não iria admitir assim que estava com medo de voar. Renovada com a adrenalina que agora corria em seu sangue ela deu dois tapas bem leves no pescoço de Liem, sabendo que certamente se arrependeria disso. Um segundo depois Liem estava voando com uma Lyra que gritava agudamente montada nele.

— Não foi tão ruim quanto eu pensei que seria — Carfax disse enquanto encarava o céu. O grito de Lyra ainda podia ser ouvido, mas era impossível ver o dragão e a garota.

— Certamente, poderia ter sido pior — Tryna retirou as folhas que estavam presas em seu cabelo. — Certo, vamos continuar.

No total foram necessários sete dragões para que todos pudessem viajar. Já no céu, Allan estava preocupado com Lyra. Quando seu dragão finalmente alcançou Liem, ele acreditou que veria Lyra desmaiada ou com uma crise de choro ou até mesmo uma crise de pânico, mas ficou surpreso ao ver a garota consciente e com o rosto escondido no braço, ela até se arriscava a retirar alguns fios de cabelo que entravam em sua boca com o vento.

— Você está bem? — Allan gritou para Kerry.

— Estou! — ela gritou em resposta enquanto olhava para trás. — Parece que Carfax está a um dragão de distância! E acho que ela está com Brandon!

— Certo!

Com a escolha a comando dos dragões, Allan e Carfax se separaram, assim como o resto dos trios. Praticamente ninguém tinha ficado com seu “grupo original”.

Allan encarou seu dragão e suspirou. Chamado de Meds, o dragão em que Allan e Kerry estavam era um pouco maior que Liem, tinha as escamas coloridas de um vermelho vivo e os olhos eram de um profundo azul safira. Meds era, provavelmente, o dragão mais calmo de todos os sete, esperou até que Kerry se sentisse segura o suficiente para iniciar o voo e se não fosse o dragão em que, supostamente, Carfax e Brandon estavam, Meds seria o último na linha de voo.

Meds balançou a cabeça para os lados e esticou as asas, eles começaram a descer em linha reta e em direção a água, Kerry apertou os braços ao redor da cintura de Allan e só soltou a respiração quando voltaram a planar, centímetros acima da água.

— Dê uma olhada — Allan praticamente sorriu.

Assim que Kerry levantou a cabeça, deu um sorriso surpreso. A paisagem que se estendia ao redor deles era realmente bela. O oceano estendia-se até além de onde os olhos podiam ver e juntava-se com o céu claro de uma tarde de verão, acima havia os outros dragões e alguns pássaros enquanto embaixo era possível imaginar facilmente golfinhos saltando por sobre a água.

Kerry inclinou-se para frente e passou a mão pelo pescoço de Meds, sorrindo e dizendo “muito bom garoto”.

Ficaram naquela cena por mais alguns minutos até que Meds voltou a ganhar altura. O dragão voou um pouco mais rápido e voltou a ficar perto dos outros. Da posição em que estava agora, Allan conseguia visualizar alguns dragões. Ele viu Carfax e Brandon, confirmando o que Kerry havia dito, em um dragão azul. Montados em um dragão verde estavam Jesse, Evelyn e Johnny e pouco mais a frente estavam Pietro, Amara e Shane em um dragão branco. Allan não conseguiu ver Lyra e Liem.

— O que é aquilo? — Kerry perguntou. — É uma... nuvem?

— Acho que sim.

Uma nuvem cinza passou a cobrir grande parte do céu. Eles passaram por ela, sendo acompanhados por trovões e relâmpagos. Estavam no meio da nuvem quando os dragões pararam no ar, um ao lado do outro formando uma linha reta.

— O que está acontecendo? — Kerry gritou com sua voz sendo abafada por um trovão.

— Estamos em uma nuvem de tempestade — Allan virou-se para ela. — Mas os dragões pararam, é como se estivessem com medo.

— Medo da tempestade? E nós não estávamos com um céu claro minutos atrás?

— Nós mudamos rápido de lugar, pode ser que lá atrás ainda esteja claro.

Eles ouviram um grito e procuraram a origem do som. O dragão em que Evelyn, Jesse e Johnny estavam rosnava e guinchava, balançava a cabeça de um lado para o outro e soltou uma rajada de fogo em direção ao nada. Os demais dragões começaram a se agitar e alguns a rosnar.

— O que eles estão fazendo? — os braços de Kerry voltaram a apertar a cintura de Allan.

— Eles estão agitados com alguma coisa — Allan segurou mais forte na coleira de Meds, enquanto o mesmo balançava a cabeça de um lado para o outro e rosnava. E não é com a tempestade. Allan manteve o pensamento para si, não ajudaria em nada deixar Kerry mais assustada do que já estava. Ele olhou para Carfax rapidamente e voltou a encarar a nuvem a sua frente, que agora tinha uma sombra estranha que crescia rapidamente, quando a sombra finalmente tomou forma, Allan agradeceu por ninguém estar prestando atenção nele.

Era, sem dúvida, o maior dragão de todos, quinze metros no mínimo, a cabeça era quase um retângulo perfeito, os dentes afiados e tortos estavam à mostra, as escamas eram da mesma cor que as de Liem e os olhos tão vivos e vermelhos quanto às escamas de Meds. O dragão desconhecido pairou no ar e rosnou, voou para baixo e então desapareceu.

— Meds, sai daqui — Allan sentiu um arrepio na espinha.

Antes que Meds ou qualquer outro dragão pudesse voar em frente, o dragão desconhecido apareceu por trás do grupo e os atacou cuspindo fogo.

Foi como atirar um graveto contra um bando de pássaros. Os dragões dispersaram-se e alguns atacaram de volta, Meds foi para baixo e voou até a parte de trás do dragão desconhecido e, se não fosse pelo puxão na coleira que Allan deu, ele teria batido de frente com o dragão de Brandon e Carfax.

— Você está bem? — Carfax gritou para Allan.

— Estou e você?

— Considerando a situação bastante surreal — ela fez uma pausa e sorriu — estou ótima!

— Teremos que sair daqui, não podemos contra ele! — Brandon apontou para o dragão desconhecido, que balançava cabeça e pescoço para desviar-se dos ataques.

— Somos sete contra um! — Kerry gritou, ela levantou a cabeça para mostrar à Brandon que estava bem e voltou a esconder o rosto as costas de Allan.

— Só o tamanho dele acaba com nossa vantagem numérica — Brandon disse. — Vamos passar o recado adiante... Nós precisamos sair daqui agora!

— Não dá para chegar perto dos outros dragões e com tantos ruídos duvido que consigam nos ouvir! — Allan gritou fazendo Meds desviar-se de uma faca. Então não eram apenas os dragões cuidando do contra-ataque. Só espero que não tenha ninguém lá embaixo.

— Use seu dragão — Carfax disse.

— Como?

— Eles têm alguma espécie de comunicação única, não sabemos, mas parece que se um sabe os outros também sabem.

— E para onde vamos? — Kerry voltou a erguer a cabeça.

— É uma ótima pergunta — Brandon olhou ao redor. Não tinham noção alguma de onde estavam e voar para frente parecia suicídio já que o dragão desconhecido parecia apto para segui-los. Brandon e Allan chegaram à mesma conclusão. Teriam que confiar nos dragões. — Vamos, Kórin, nos tire daqui.

Kórin, o dragão de Carfax e Brandon, bateu as asas e distanciou-se, Allan acompanhou a trajetória do dragão até que o mesmo desapareceu na nuvem. Passando a mão pelo pescoço de Meds, Allan pediu que o dragão os tirasse dali. Acatando as palavras de Allan, Meds voou para longe do dragão desconhecido e subiu até sumir na nuvem. Allan ainda conseguia ouvir alguns ruídos da cena que deixara para trás, o barulho dos dragões foi aos poucos diminuindo, ele já não sabia se era pela distância ou se era porque tinha acabado, a única coisa que sabia era que não estava sendo seguido.

Pouco mais atrás de Meds estava Liem, também escondido na nuvem. Ele voava rápido e de maneira silenciosa enquanto Lyra segurava sua coleira com tanta força que seus dedos doíam, mas não eram apenas seus dedos que lhe causavam dor. A cabeça, escondida entre o braço e o pescoço de Liem, latejava e as pernas formigavam, os ombros estavam rígidos e o maxilar doía de tanto tempo cerrando os dentes. Liem foi para baixo e planou por alguns segundos, continuou descendo e voando cada vez mais devagar até que finalmente parou. Lyra levantou a cabeça quando percebeu que Liem havia pousado.

— Liem, — a voz de Lyra saiu trêmula — onde nós estamos?

Era uma cratera, grande e verde, com várias lagoas, turfeiras e pequenas "ilhotas", duas compridas e cinco redondas. A terra era praticamente toda plana e ao redor estavam paredes de terra e grama que se estendiam até cerca de trezentos metros de altura.

Lyra desceu de Liem e caiu no chão, suas pernas doíam demais para sustentá-la no momento, ela virou-se e apoiou em Liem para ficar de pé, gemendo e mordendo o lábio inferior. Ela olhou ao redor, estava sozinha na imensidão da cratera que para si parecia uma tigela com o fundo mais plano. Olhando para Liem, ela visualizou o cansaço do animal e passou a mão por seu pescoço.

— Onde estão os outros? — Lyra perguntou, deixando suas pernas vencerem, sentada na grama fria, ela olhou para o céu claro e sem nuvens. O que acabara de acontecer? Foram atacados por um dragão, completamente gigante e feio e agora ela estava ali, apenas com Liem, em um lugar que não tinha ideia de onde era. Encostou-se no dragão e fechou os olhos, tentando pensar em alguma coisa, principalmente em comoo sair dali. Talvez tivesse conseguido se não houvesse interrompido a linha de pensamento com o barulho que ouviu.

— Lyra! — Allan gritou de cima de Meds. Lyra levantou-se com dificuldade novamente e reparou que ele não estava com Carfax e sim com Kerry. Ela observou os dois descerem do dragão e esperou até que estivessem perto o bastante. — Você está bem?

Lyra olhou para Allan com desdém e levantou a mão, dando um tapa no peito de Allan.

— Você disse que eu só precisaria segurar firme! — ela levantou a mão novamente, mas dessa vez Allan segurou seu pulso.

— Resolvemos isso depois — Allan a soltou e Lyra voltou a sentar na grama. — Estamos sozinhos aqui?

— A menos que você esteja vendo mais alguém — Lyra arqueou uma sobrancelha. Allan respirou fundo e balançou a cabeça em negativo, virando-se de costas para olhar o lugar, ele passou a mão no lugar em que Lyra o havia batido e pouco depois olhou para Kerry.

— Será que Brandon estava certo?

— Acho que vamos ter que esperar mais um pouco para saber, mas acredito que sim — Kerry cruzou os braços, olhando a paisagem. — Não acredito que encontrar Lyra aqui tenha sido uma coincidência.

Lyra cruzou os braços, curiosa como era, queria saber sobre o que Allan e Kerry estavam falando, mas não perguntaria. Não demorou muito e Brandon apareceu ali com Carfax. Ninguém ficou junto então. Lyra levantou-se novamente.

— Oi meu piloto — Carfax sorriu antes de beijar Allan. Brandon passou o braço pela cintura de Kerry e a balançou sorrindo, feliz por vê-la a salvo e sem machucados.

— Acho que você estava certo — Allan olhou para Brandon. — Sobre a comunicação dos dragões.

Liem levantou-se e foi caminhando lentamente até uma das lagoas, cheirou a água por alguns minutos e afundou a cabeça ali, bebendo água. Kórin e Meds os seguiram e depois de saciarem a sede, sentaram-se em volta da lagoa e começaram a jogar água um no outro.

— Eles estão... brincando? — Lyra cruzou os braços.

— Acho que sim, isso deve significar que estamos sem nenhum perigo por perto — Allan abraçou Carfax. — Aliás, porque está sentada?

— Porque não estou em pé — Lyra fez uma careta e usou as mãos como apoio para se levantar, cambaleou um pouco e parou em pé como se nada tivesse acontecido.

— Alguém sabe onde estamos? — Kerry perguntou.

— Não — a resposta veio em uníssono.

Não demorou muito e outro dragão apareceu, trazendo agora Aaron e Katrina. Os dois juntaram-se ao grupo enquanto o dragão ia para a lagoa. Pouco depois Derek, Annelyse e Drake também pousaram. Faltava agora apenas Jesse, Evelyn e Johnny. As horas foram passando e nenhum sinal deles apareceu. O sol já estava começando a se por quando os dragões começaram a se agitar.

— O que eles estão fazendo agora? — Drake perguntou, sentado ao lado de Lyra.

— Perceberam algo de errado — Aaron respondeu, observando Elsen, seu dragão.

Com um gemido coletivo em direção para o céu crepuscular, os dragões anunciaram que havia algo errado.



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Notas finais do capítulo

Oi, demorei e isso tá ruim, desculpem.
Ahn, tá.... JOD ganhou um tumblr que é esse aqui: http://jewelsofdeath.tumblr.com/ vejam lá porque tem bastante coisinha legal tá. :3
Acho que é só isso, não lembro. Até o próximo capítulo (que um dia sai, amém).