A Pedra Vermelha escrita por Cambs


Capítulo 6
V. Animal Planet


Notas iniciais do capítulo

Oi :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/217812/chapter/6

Ela já conhecia a cena. Tinha oito anos e corria ao redor das lápides, em uma corrida imaginária com adversários invisíveis. “Pare de correr!” a tia gritara, mas fora ignorada pela garota, todas às cinco vezes. Só parou de correr quando avistou o homem da capa bonita parado do outro lado da rua. Ela parou na frente dos portões do cemitério, olhou para os dois lados da rua, precisava dizer ao homem que ainda estava cuidando do colar. O homem da capa bonita olhou-a de modo cuidadoso, a garota não deveria atravessar, ele levantou a mãe pálida e fina fazendo um sinal de negativo com o dedo. Ela parou no meio-fio e pendeu a cabeça para o lado pensativa, ele estava dizendo não para o que? Olhou para trás pensando que veria alguém ali, mas estava sozinha. Ignorou o sinal do homem e colocou o pé na rua no momento em que o carro apareceu.



— Acordar cedo é um hábito saudável! — Allan jogou um travesseiro em Lyra.

Ela sentou na cama e colocou o travesseiro que Allan jogara atrás das costas, apoiou os cotovelos nas pernas e colocou a cabeça entre as mãos. O pesadelo a tinha feito suar e ficar um pouco ofegante, sonhar com sua primeira experiência de quase morte não era algo agradável. Nenhuma das seis EQMs era, na verdade.

— O que foi? — Carfax sentou-se na cama perto dela.

— Tive um pesadelo, só isso — Lyra sorriu fraco, suspirou e passou a mão pelos cabelos.

— Bem, os pesadelos não podem te atormentar enquanto estiver acordada — Carfax sorriu. — O banheiro está livre.

— Ah não está não — Allan praticamente correu para a porta branca que era o banheiro. Carfax e Lyra sorriram.

Lyra reparou na música alta enquanto levantava da cama, era alguma música elethro pop irritante que ecoava nos ouvidos e que você conseguia gravar a pouca letra se a ouvisse apenas duas vezes. Ela ia perguntar o que estava acontecendo lá em baixo, mas lembrou que Carfax, Evelyn e Katrina haviam comprado um jogo de dança.

— Elas gostaram mesmo do jogo — comentou arrumando a cama. Carfax arrumou o colchão inflável em que ela e Allan haviam dormido e começou a esvaziá-los.

— É bem legal, você deveria jogar — Carfax disse. — E também ajuda a emagrecer.

— Está me chamando de gorda? — Lyra soltou o lençol para colocar as mãos na cintura.

— Sou inocente — Carfax balançou as mãos na frente do corpo enquanto sorria.

— Esse seu rostinho de anjo não me engana, garota — Lyra jogou um dos travesseiros em Carfax, a loira desviou e revidou. Lyra foi atingida na barriga, ela pegou o travesseiro e bateu nas costas da outra.

— É guerra e ninguém me avisa? — Allan saiu do banheiro.

— Divirtam-se na guerrinha de vocês, eu vou tomar um banho — Lyra soltou o travesseiro que tinha levantado. — Mas, se forem começar com alguma guerrinha que não seja de travesseiros, por favor, fora do meu quarto.

Allan e Carfax esperaram até que Lyra fechasse a porta do banheiro para sorrirem, eles se arrumaram na cama, Allan encostado na cabeceira e Carfax com a cabeça em seu colo.

— Está com sono? — Allan passou os dedos pelos cabelos dourados da namorada.

— Um pouco, você se mexe demais enquanto dorme.

Allan sorriu. Como o número de pessoas era maior que o deu quartos disponíveis, alguns foram obrigados a dormirem no mesmo quarto, que era o caso de Drake e Brandon que estavam no quarto de Carfax e Allan e Carfax que dormiam no quarto de Lyra, junto com a mesma, que se recusara a ceder o aposento.

— Bem, você pode dormir com sua amiga meio morta que fala dormindo.

Carfax riu e ela e Allan ficaram em silêncio por alguns minutos, ainda lutando contra o sono.

— Vocês ainda não desceram? — Lyra abriu a porta do banheiro, tinha uma toalha na cabeça, o roupão estava parcialmente molhado e os pés descalços.

— Ainda estamos aqui não é? — Allan arqueou a sobrancelha. — Vai se trocar?

— Não amigo, vou descer assim — Lyra colocou as mãos na cintura.

— Vamos, deixe a garota — Carfax levantou e puxou Allan. De mãos dadas, os dois deixaram Lyra no quarto e desceram até a cozinha. — Bom dia — ela sorriu para o ali presentes. Jesse e Evelyn conversavam sentados à mesa, Brandon, Annelyse e Johnny estavam no balcão revezando entre si um pacote de bolachas recheadas.

— Bom dia — Brandon foi o primeiro a responder.

— Vocês fizeram café ou não? — Carfax encostou-se a pia.

— Preferimos não arriscar — Johnny disse.

— É a casa pode pegar fogo — Brandon disse com a boca cheia.

Carfax riu e pediu que Allan pegasse o pó de café no armário enquanto colocava a água para ferver. Drake entrou na cozinha e sentou-se entre Brandon e Annelyse, pegou o pacote de bolachas e quando Carfax sugeriu sanduíches ele se ofereceu para cortar o salame.

Quando Lyra desceu, cerca de vinte minutos depois, o café e os sanduíches já estavam prontos. Ela remexia os bolsos do short jeans em busca de algo, a alça direita de sua blusa estava caída e os cabelos castanhos recém-secos e escovados já estavam parcialmente bagunçados.

— Bom dia Bela Adormecida — Brandon disse com a boca cheia, novamente.

— Bom dia — Lyra sorriu.

Enquanto ela pegava uma xícara para servir-se de café, Carfax reparou no rosto da amiga. Mas ela não usa maquiagem para ficar em casa. Não era uma maquiagem forte, os olhos verdes de Lyra estavam enfeitados por um lápis de olho preto e uma linha bem fina de delineador da mesma cor, nos lábios havia apenas um brilho labial e as bochechas estavam livres de blush, Lyra odiava blush.

— Alguém precisa chamar os que estão na sala, ou levar algo para lá — Johnny disse.

— Vou separar uma bandeja para levar até lá, é melhor deixarmos que eles se divirtam antes que Tryna apareça — Carfax disse, ela e Annelyse montaram uma bandeja com sanduíches e enquanto Anne levava a comida para a sala, Carfax voltou para a pia, encostou-se a Allan, que a abraçou por trás e colocou o queixo em seu ombro.

— Então, quer treinar hoje? — Drake perguntou enquanto sentava entre Brandon e Lyra.

— Se estragar minha blusa eu corto seu cabelo — Lyra olhou séria para Drake.

— Mas que bela maneira e se começar o dia — Johnny riu.

— Você é a maldade encarnada — Drake não evitou o sorriso.

— Eu tento — Lyra sorriu.

— Reparou nos olhos dela? — Allan sussurrou para Carfax.

— A maquiagem? Reparei... Estranho ao acha?

— Se você observar bem, não é assim tão estranho.

— Hey, casal ternura — Lyra chamou — onde está Shane?

— Ainda está dormindo — foi Drake quem respondeu.

— Não por muito tempo — Lyra sorriu travessa e levantou, passou a mão pelos cabelos enquanto saía e acabou por bater o cotovelo na porta. — Ai!

— É hoje que Tryna aparece, não é? — Evelyn perguntou.

— Pelas minhas contas, sim — Johnny respondeu.

E desde quando ela está prestando atenção no que acontece ao redor? Carfax pensou enquanto observava Evelyn concordar com a cabeça e voltar a conversar com Jesse, como se não tivesse parado. Estavam tão absortos um no outro que um meteoro poderia cair ao lado deles e seria o mesmo que nada, um barulhinho no máximo.

Amara e Aaron entraram na cozinha, ambos ofegantes e molhados de suor, resultado do treinamento matinal que faziam. Era impressionante der ver a habilidade dos dois em combate. Amara decidiu ir para o café enquanto Aaron se manteve na água gelada, os sanduíches haviam acabado então um segundo pacote de bolacha recheada foi aberto e revezado entre os que estavam no balcão. Assim que Pietro passou pela porta trazendo a badeja vazia, Carfax reparou que algumas coisas eram engraçadas. Pietro tinha um porte grande, um “mini guarda-roupa ambulante” como Lyra dizia, ela precisaria das duas mãos para poder segurar o braço de Pietro enquanto Aaron não possuía tantos músculos e tinha um porte menor, mas a graça maior estava no fato de que Pietro era um bom lutador, mas não tão bom quanto Aaron.

Alguém tocou a campainha.

— Com licença — Allan soltou-se de Carfax. Ele caminhou até o hall de entrada e abriu a porta. — Tryna?

— Allan — a ruiva sorriu.

Ele deu passagem para Tryna e fechou à porta, os dois se encaminharam para a sala de estar, assim que Tryna foi vista, o videogame foi desligado e que estavam ali se arrumaram. Tryna cumprimentou a todos e sentou-se no sofá enquanto Derek ia até a cozinha para avisar da chegada da mulher, Drake subiu para chamar Lyra e Shane e somente quando os três desceram Tryna começou a falar.

— Olá — ela sorriu. — Bem, já que todos estão reunidos podemos dar continuidade à missão. Vocês terão que levar as joias para o Castelo Léllynos, conhecido como Castelo Schwerin para os que não foram escolhidos, localizado na Alemanha. Lá haverá a cerimônia de coroação e o baile onde a Princesa Mármara assumirá o controle das joias. Lembrem-se: apenas as entregadoras podem cometer o ato de entregar as joias à princesa na coroação. O prazo de vocês é até o início de Setembro. É possível que haja alguns imprevistos pelo caminho. Assim que a coroação acabar, cada um estará livre para continuar seu destino sem mais interrupções.

— E o que acontece se a coroação não acontecer? — Annelyse perguntou.

— Existem vidas demais e mortes de menos. Cada um tem o seu tempo de vida e isto está saindo do controle, mortes prematuras e vidas em sobrecarga.

— Você disse que alguns imprevistos poderiam acontecer — Pietro cruzou os braços.

— Exato, mas eu não sei se haverá mesmo imprevistos, Tânato foi o responsável por essa parte e quando se trata dele nada possui certeza. Mas de qualquer maneira, tomem cuidado.

— Precisa nos contar mais alguma coisa? — Shane perguntou.

— Sim, antes de irem para o Castelo Léllynos vocês precisam buscar Mármara, assim que ela for encontrada lhes será dado um símbolo, este símbolo fará com que a entrada de vocês no castelo seja permitida.

— E onde ela está? — Evelyn perguntou.

— Da última vez que soube ela estava na Itália.

— Então você quer que encontremos uma pessoa que nem você sabe onde está? — Lyra colocou as mãos na cintura.

— Nem eu sei de tudo — Tryna limitou-se a sorrir novamente.

— Ótimo, mais alguma coisa? — Allan perguntou enquanto observava Lyra cerrar os punhos.

— Não, é só isso — Tryna levantou. — Quando pretendem viajar?

— Hoje — Lyra respondeu. — Quanto mais cedo acabarmos com isso melhor.

— Ótimo. Irei providenciar o transporte de vocês. Você tem um jardim dos fundos, não é Lyra?

— Tenho, fique à vontade — Lyra sorriu falsamente. A simpatia por Tryna era praticamente nula. Assim que a mulher saiu Lyra voltou-se para Allan. — Que transporte é esse?

— E porque você acha que eu sei? — ele arqueou uma sobrancelha.

— Não sei, talvez porque quem conhecia Tryna era você — ela rebateu.

Allan e Carfax se entreolharam, isso já era previsível.

— Eu não faço ideia — Allan suspirou.

— Independente do que seja é melhor irmos arrumar nossas coisas — Johnny intrometeu-se impedindo que Lyra dissesse algo. Seguindo suas palavras, quinze minutos depois todos já estavam com suas mochilas prontas, incluindo as duas extras com comida e água que Allan e Aaron acharam melhor levar, apenas por precaução.

— Encontro vocês no jardim, eu esqueci uma coisa — Lyra subiu as escadas e voltou para seu quarto, passou os olhos pela penteadeira e encontrou o que queria. Era um anel fino de ouro com uma única pedra de ametista, ganhara de seu pai aos cinco anos, mas naquela época o objeto era grande demais para suas mãos. Colocou o anel no dedo e desceu. Estava no último degrau quando ouviu o estrondo e sentiu o tremor que o seguiu. Correu para o jardim dos fundos e quase desmaiou com o choque.

Era grande, bem grande, sete metros ou mais. As escamas eram de um preto bonito e brilhoso que lembrava petróleo, as asas eram do mesmo tom e mais compridas que o corpo, possuía dedos finos que se esticavam até a dianteira da asa formando garras, a cabeça estava pendendo para um dos lados com a curiosidade e era uma mistura estranha de triângulo com retângulo em seu formato, tinha presas à mostra, brancas, polidas e afiadas, suas garras eram do mesmo jeito. Um dragão.

— Acredito fielmente que o Animal Planet iria adorar isso — Lyra engoliu em seco enquanto observava os olhos brancos do dragão voltar-se para ela.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

ignorem isso:::: tá horrível eu já sei, desculpem.