A Pedra Vermelha escrita por Cambs


Capítulo 14
XIII. Ataques




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A voz lutava para sair, queria passar pela boca a qualquer custo, finalmente virar som e ecoar pelo local em formas de palavras, expressões e gritos, contudo não conseguia. Estava presa, incapaz de sair da garganta, sufocada pela incredibilidade do acontecimento. A imagem de Annelyse caindo voltava a sua mente a cada três segundos e aterrava sua voz cada vez mais. Sentia a mão de Lyra em seu braço, como se ela fosse impedi-lo de seguir Annelyse. Não que ele fosse jogar-se precipício abaixo, mas ele tinha que ver.

— Derek...

Virou a cabeça o suficiente para ter, ao menos, uma visão periférica de Lyra. Os olhos verdes da garota, geralmente repletos de ironia e diversão, estavam agora arregalados e assustados, sem conseguir esconder o medo que ela tentava reprimir. O aperto de Lyra no braço de Derek ficou mais forte, e, quando Derek percebeu, ambos caminhavam para trás, afastando-se cada vez mais do penhasco. Lyra fez com que Derek se sentasse e ajoelhou-se diante dele.

— Eu... sinto muito, Derek.

O próximo momento inesperado foi quando os braços de Derek foram para o pescoço de Lyra em um abraço. Já que a voz não conseguia sair, as lágrimas fizeram o serviço, elas rolavam pela face do garoto e molhavam os cabelos de Lyra, que permanecia parada, tentando decidir se abraçava Derek de volta ou se simplesmente esperava até que ele a soltasse. Escolheu a segunda opção.

— Precisa voltar — ela disse, mesmo que suas palavras não passassem de sussurros. — Quem sabe Jesse já voltou e esteja procurando por você. E talvez seja melhor você mesmo informar o que aconteceu.

Lyra ouviu Derek limpar a garganta e, embora não tenha virado a cabeça para vê-lo, sabia que tinha algo relacionado com o que acabara de dizer. Será que tinha dito algo inapropriado?

— Agora não — Derek soluçou antes de respirar fundo para tentar fazer com que seu choro parasse.

— Derek...

— Só cuide de Reyna por enquanto — ele se mexeu até ficar deitado, deixando a cabeça repousar em cima do braço. — Por favor.

Lyra suspirou e acabou concordando, assim que levantou, chamou Liem e pediu que ele cuidasse de Derek. Com o dragão deitado ao lado do garoto, Lyra encaminhou-se para a floresta, determinada a buscar Drake. Passou pelas árvores finas e altas quase que marchando e, com a enxaqueca atacando, começou a chamar por Drake, perdendo o equilíbrio uma vez ou outra. Sem a lanterna e sem qualquer coisa que possa ser usada como arma, Lyra andara a esmo e gritando por Drake, desviando de pedras, árvores e galhos caídos, com a garganta já começando a protestar pelos gritos. Continuou andando, ganhando arranhões pelo corpo, até que foi puxada para trás.

— Não grite — Drake sussurrou em seu ouvido, esperando Lyra parar de se debater para retirar a mão de sua boca. — Sou eu Lyra, calma — ele sentiu a respiração da garota desacelerar e, instantes depois, retirou a mão de sua boca, libertando a garota.

Lyra virou-se e, ainda assustada, levou a ponta do pé coberto pelo tênis até a canela de Drake em um chute.

— Qual é o seu problema?! — exclamou com a voz esganiçada.

— É bom ver você também — Drake gemeu, passando a mão no local atingido pelo chute.

— Da próxima vez não faça isso — Lyra respirou fundo, levando a mão até os cabelos. — Quer me matar do coração?

— Você morta não me parece uma boa ideia — Drake endireitou-se, ainda fazendo caretas, e jogou os cabelos para trás. — Acharam Annelyse?

Lyra engoliu em seco. Conseguiria enfrentar o fato de que vira alguém cometer suicídio? Já havia visto gente morta, mas nunca alguém morrendo. Eram duas situações completamente diferentes.

— Achamos — respondeu por fim, usando os braços para se abraçar. Drake percebeu a mudança de atitude de Lyra, porém manteve-se em silêncio. — Agora que eu já encontrei você, acho que podemos voltar.

— Antes, preciso te mostrar algo — ele usou os dedos para mandar Lyra se aproximar. Passando a puxar a garota pelo braço, eles caminharam por um curto período de tempo, com Drake dando pequenos sorrisos sempre que Lyra gemia com os galhos finos e pontiagudos que arranhavam sua pele. — Ali está.

Era uma espécie de clareira, fazendo um círculo perfeito de grama curta, livre de pedras e galhos, rodeada pelas altas árvores da floresta. No centro da clareira, erguendo-se solitária e com madeiras gastas, totalmente deslocada e irregular, havia uma pequena cabana.

— O que acha? — Drake questionou. — Acredito que nós quatro caibamos ali dentro.

— Três — Lyra corrigiu.

— Como?

Lyra abraçou-se novamente, encolhendo os ombros enquanto Drake a olhava, confuso e indagador.

— Annelyse... ela... — ensaiou palavras, porém nada saía. O olhar de Drake mudou de confusão para preocupação e Lyra sentiu-se obrigada a falar logo o ocorrido. Respirou fundo. — Annelyse está morta.

Um minuto contado estendeu-se pelo silêncio dos dois. O primeiro som veio de Drake, que soltou um ruído entre suspiro e resfolego, antes de levar a mão até a boca e depois para os cabelos, totalmente incrédulo.

— Onde acharam o corpo? — acabou perguntando.

— Ela estava viva quando a encontramos — Lyra respondeu, com a voz mais baixa que um sussurro. Fale de uma vez e acabe com isso. — Droga, Annelyse pulou do penhasco!

Drake boquiaberto e procurando palavras, no tempo em que Lyra cruzava os braços e encarava as árvores. Por um lado, não estava sendo tão ruim quanto imaginara, mas a imagem de Annelyse pulando insistia em voltar para sua mente, causando-lhe arrepios. Não vou me esquecer disso tão cedo.

— E Derek? — Drake pareceu finalmente lembrar-se do garoto. — Lyra, onde está Derek?

— Está com Liem.

— Derek viu Annelyse pular?

— Viu.

— E você o deixou sozinho com um dragão?!

Lyra travou. Virou a cabeça para encarar Drake, sentindo-se quase que ofendida com o tom da pergunta.

— A culpa não foi minha! — exclamou dando um passo para o lado.

— Eu não disse que era.

— Não. Só disse que sou irresponsável por deixar Derek com Liem.

— Olha — Drake aproximou-se de Lyra, passando os dedos por um dos braços da garota antes de segurar levemente o mesmo. — Eu não vou discutir com você. Não agora. Vamos apenas voltar e esperar Reyna se recuperar a ponto de voar.

Mas Lyra estava pronta para discutir. Costumava ser assim. Dominada pelos sentimentos mais mesquinhos em questão de segundos, nos momentos menos propícios para tais sentimentos, e então, logo depois, ela se acalmava e agia como se nada houvesse acontecido. Era uma montanha-russa emocional. Ah sim, Lyra ia, de fato, discutir com Drake, porém não o fez. Fora impedida pelo alto e repentino uivar de lobos, que rasgavam o silêncio da madrugada.

— Lobos — murmurou. — Maravilha.

— Vamos voltar. Se estiverem com fome e encontrarem Derek, o garoto já era — Drake soltou Lyra.

— Tem um dragão com ele Drake, por favor!

— Quem garante a você que Derek não resolveu vir atrás de nós? Ou pior, atrás de Annelyse?

— Está bem, está bem — Lyra exclamou após engolir em seco. — Você ven...

Interrompeu a frase para arregalar as orbes verdes que tinha como olhos e prender a respiração. Aproximando-se com uma pata na frente da outra, devagar e ameaçadoramente, encontrava-se um lobo de pelagem que variava entre o creme e o marrom, com um riso sardônico brincando nas mandíbulas que escondiam os afiados dentes. Na medida em que o animal avançava, Lyra e Drake iam para trás, tentando se aproximar cada vez mais da cabana.

— Tem alguma arma? — Lyra sussurrou, vendo Drake negar com a cabeça. — Teremos que ir até a cabana.

— Sem movimentos bruscos.

Passo a passo, sem retirar o olhar do lobo feroz, indo lentamente para trás, os dois receptáculos aproximavam-se da cabana. Ambos sabiam que teriam que correr uma hora ou outra, e, quando acharam o momento mais propício, fizeram uma rápida contagem até que finalmente correram. Dispararam para a cabana, com o rosnado do lobo ecoando em seus ouvidos, enquanto as pernas se esforçavam para irem mais rápido que as patas do animal. Quando alcançaram a porta, Drake empurrou Lyra para dentro, fechando a porta com força e usando o tronco ainda nu para impedir a entrada do lobo.

— Procure alguma coisa que possa nos ajudar — ele exclamou, com o corpo balançando junto com a porta que recebia os ataques do lobo, que arranhava a porta tentando entrar. — Agora!

Perdida em seus movimentos, Lyra rodopiou tentando encontrar alguma coisa que pudesse ajudar. Revirou as lenhas e retirou as teias de aranha dos objetos, até encontrar um pequeno pedaço de um vergalhão de ferro jogado entre pequenos montes de papel e pedaços de pano.

— Assim que eu abrir a porta, o lobo vai entrar e então você o mata — Drake disse.

— Mas porque matar o lobo? — Lyra ergueu as sobrancelhas, assustada e hesitante com o que aconteceria a seguir.

— Ou o lobo morre ou a gente morre.

Um lobo poderia fazer todo esse estrago ou Drake estava apenas exagerando? Droga, não tinha tempo para descobrir. Apertou o vergalhão na mão, deixando os nós dos dedos brancos de tão forte que era o aperto. Trocaram olhares e então, com um suspiro em conjunto, Drake deixou de segurar a porta e deixou o lobo entrar. O animal rosnava e, em questão de segundos, avançou em Lyra.


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Notas finais do capítulo

Milagres são reais. Pois é. Tumblr: http://jewelsofdeath.tumblr.com/
Até.



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