A Pedra Vermelha escrita por Cambs


Capítulo 11
X. Visitantes




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/217812/chapter/11

Não funcionou. Bateu palmas novamente, apenas para frustrar-se outra vez. Nada. Estaria surda? Era tudo que precisava agora. Surda e cega. Deixou o peso de seu corpo vencer e caiu no chão. Bem, pelo menos no que ela achava que era o chão, era plano e frio pelo menos. Não queria pensar no que seria se aquilo não fosse realmente um chão. Por que estava tudo tão escuro? Droga, não conseguia enxergar nem a própria mão! Respirou fundo tentando afastar o pânico, já desistindo de afastar a agonia, sabia que, enquanto não voltasse a ver e ouvir, o sentimento não iria embora. Sentiu um arrepiou e levantou a cabeça, tentando desesperadamente enxergar o que havia ao seu redor. Inútil. Droga tinha alguém ali, já não estava mais sozinha, não via, mas sentia e isso era o suficiente para fazê-la entrar em pânico novamente. Engoliu em seco e ficou em pé, com os ouvidos produzindo um zunido irritante e absurdamente alto. Bem, estava ouvido algo pelo menos. Deu um passo para frente e congelou no segundo em que sentiu alguém tocar-lhe o ombro.



— Lyra! — a voz de Carfax trouxe a garota de volta à realidade. Lyra livrou-se dos braços da amiga e sentou. — Pesadelos outra vez? — a loira retirou uma mecha de cabelo da testa suada de Lyra. — Não, você não gritou e nem nada parecido, só estava agitada, caso pergunte.

— Perdi alguma coisa? — Lyra perguntou em meio a um bocejo. Sua voz ainda apresentava sinais de rouquidão e sua garganta parecia estar cheia de areia, mas Lyra não se lembrava do motivo por trás da sensação. Gritara tanto assim no sonho?

— Ahn, bem... Sim — Carfax sorriu sem graça, para morder o lábio inferior logo depois. — Vamos nos separar, cada grupo vai, junto com os dragões, fazer uma busca por Jesse, Evelyn e Johnny, e com isso aproveitar para descobrir onde estamos. Achamos que seria melhor não te acordar, desculpe.

Lyra suspirou e olhou ao redor. Se com todo mundo ali o lugar já parecia enorme, com os poucos que estavam a “tigela” parecia ter o dobro do tamanho e, bem, parecia vazia. Manteve, pelo menos, sua magnitude verde e a perfeição natural. Lyra bocejou mais uma vez e, passando a mão pelos cabelos, contou quantas pessoas havia. Pouco distante de onde estava, avistou Shane e Brandon tendo alguma espécie de treinamento, aparentemente com facas, logo atrás estavam Kerry e Allan. Quatro. Carfax estava parada em sua frente e havia ela própria na contagem. Seis. Olhou para trás e avistou Liem, Kórin e Meds reunidos ao redor de uma das lagoas do fundo do lugar. Seis pessoas e três dragões.

— Que horas são? — decidiu perguntar.

— Segundo Allan, umas onze da manhã — Carfax enrolou uma mecha do cabelo louro no dedo indicador. — Nossa única tecnologia é o celular de Katrina e o IPod de Brandon, o resto simplesmente não funciona.

— Pelo menos vamos poder ouvir alguma música.

Carfax sorriu e levantou, limpou a calça com uma mão enquanto estendia a outra para Lyra. Assim que ficou em pé, a morena espreguiçou-se de modo preguiçoso e sorriu de canto observando Brandon e Shane treinarem.

— Se você chamar Liem e pedir para ele ficar na margem de uma das lagoas, você até que consegue tomar um banho — Carfax apontou para uma das lagoas.

— Vou comer alguma coisa — Lyra franziu a testa. Ela e Carfax caminharam até a área em que as mochilas estavam agrupadas, pegaram barras de cereais na mochila de Allan e encontraram a mochila de Lyra, a única que tinha algum detalhe na frente.

— Precisa de ajuda? — Carfax perguntou.

— Não, obrigada — Lyra virou-se. — Liem!

Enquanto o dragão se aproximava, Carfax afastou-se e caminhou até Allan e Kerry, sentou-se ao lado do namorado e passou a observar Brandon e Shane.

— Como ela está? — Allan perguntou.

— Bem, como sempre fica — Carfax deu de ombros.

— Próximo — Brandon passou a mão pelos cabelos loiros, anunciando o fim de seu treinamento com Shane. Carfax esperou Allan levantar, mas Kerry foi mais rápida e parou na frente de Brandon, fazendo o loiro sorrir. — Corpo a corpo?

— Claro.

Eles tomaram posição e Kerry foi a primeira a atacar. Era estranho vê-la atacando, ela era tão frágil, jovem e delicada contra Brandon, mas ele não se vazia de fraco, acertava golpes e os revidava.

— Nós poderíamos treinar também não acha? — Carfax olhou para Allan e sorriu ao ver sua expressão surpresa. — O que? Você luta super bem e eu realmente preciso aprender pelo menos o básico. E, você sabe que se você não concordar pedirei para outra pessoa. Provavelmente Aaron ou até mesmo Amara.

— Não adiantará nada eu dizer que isso é algo desnecessário, não é? — Allan suspirou.

— Não.

— Você está passando tempo demais com Lyra — Allan bufou.

— Tudo é minha culpa, verdade — Lyra apareceu e jogou-se na grama ao lado de Shane. Allan a observou enquanto Carfax ria. Lyra havia trocado apenas a camiseta, usando agora uma regata preta no lugar da camiseta de banda, havia também prendido o cabelo em um coque desarrumado que deixava mais fios soltos do que presos, os olhos de Allan foram para o pescoço da garota e ele viu alguns hematomas, certamente provenientes dos dedos de Rhagnar. No geral, ela parecia bem. — Deveria parar de me olhar assim, você é bonito, mas sua namorada é minha melhor amiga então se aquiete, Allan.

— Fique calada — Allan revirou os olhos —, só estava pensando nos comentários que teria se alguém visse seu pescoço.

— Seria, talvez, culpa do Tom? — Carfax sorriu.

Lyra riu e olhou de Shane para Brandon, para só então olhar para Allan e Carfax. — Só calem a boca.

Após uma risada coletiva, até mesmo de Shane que não entendera nada, voltaram a prestar atenção no treinamento de Brandon e Kerry. Allan pronunciou-se como próximo, e, quando ele parou na frente de Brandon, Lyra praticamente prendeu a respiração. Aquilo seria realmente interessante. Assim como o treinamento de Kerry, Brandon e Allan optaram pelo corpo a corpo que se iniciou com um ataque direto de Allan. Desviando do ataque, Brandon estendeu o braço e se esticou até conseguir alcançar o punho de Allan, para depois virá-lo para trás, fazendo com que Allan ficasse de costas para ele, dificultando assim seus ataques futuros. Allan girou o punho que Brandon segurava e virou o corpo para o lado oposto do braço paralisado, pegando Brandon de surpresa e o empurrando para trás, livre outra vez, Allan deu um passo para trás e retribuiu o sorriso que Brandon o mandara. Iniciando o segundo ataque, Brandon teve o soco interceptado pelo braço de Allan, dando início a uma série de ataques e defesas, chaves de braços, socos, interceptações, pulos, agachamentos e até mesmo pontapés. Até que depois de meia hora Allan finalmente caiu no chão, suado, cansado e rindo, dando fim ao seu treinamento com Brandon.

— Vamos lá Kinney — Lyra levantou e estralou os dedos antes de limpar a calça.

— Para onde? — Shane arqueou uma sobrancelha.

— Treinar, meu caro rapaz — ela revirou os olhos.

— Eu passo, obrigado.

— Anda logo Kinney, é nossa vez de fazer um show.


— Ilha do Corvo — Aaron disse pensativo, encarando o pedaço de terra a quilômetros de distância, quase desaparecendo em meio à neblina, estranha ao meio dia.

— É aquela mesmo? A ilha em que ficamos? — Katrina perguntou, segurando-se no braço de Aaron enquanto esticava o corpo para frente tentando ver o mar batendo contra as rochas bem embaixo de onde estava, como um mini precipício.

— É — Aaron puxou Katrina para trás e caminhou com ela para longe da borda.

Ouviram passos e entraram em posição de ataque, com Aaron empunhando sua adaga e Katrina atrás dele, agarrada em sua camisa. O barulho dos passos foi aumentando, até que seus donos apareceram.

— Opa, calma — Pietro parou de andar e ergueu as mãos, fazendo com que Amara se chocasse contra ele pela parada repentina.

— Qual é a joia de Katrina? — Aaron perguntou, ainda apontando a adaga na direção de Pietro.

— A pulseira de ônix e ela não é o receptáculo — Pietro suspirou.

— Qual é o sobrenome de Aaron? — foi a vez de Katrina perguntar.

— Korkov — Amara respondeu. — Esse não é o de registro.

Aaron abaixou a adaga. Eram mesmo Amara e Pietro, sem ameaças, sem inimigos, sem demônios.

— Encontraram alguma coisa? — Katrina perguntou soltando-se de Aaron, Pietro olhou de Katrina para Aaron com uma sobrancelha arqueada.

— Civilização — Amara não escondeu o sorriso.

— Mas nada de Johnny, Jesse e Evelyn. Os dragões estão fazendo uma varredura por esta ilha, procurando pelo dragão dos três. — Pietro disse.

— A ilha em que estamos agora é a Ilha dos Açores e, segundo o que pesquisamos, caímos na Ilha do Corvo, que é aquela bem ali — Amara apontou para frente, para a ilha que Aaron e Katrina olhavam minutos antes.

— Disso nós já sabíamos — Aaron disse.

— Tem algum shopping? — Katrina perguntou.

— Isso é uma ilha Katrina, tenha piedade! — Pietro exclamou enquanto revirava os olhos.

— Eu preciso fazer compras! — ela protestou.

A discussão que se seguiria não teve a chance de acontecer. Com o arrepio coletivo, Aaron e Pietro armaram-se e entraram na posição de ataque, enquanto Katrina voltava a agarrar a camisa e Aaron e Amara permanecia parada ao lado de Pietro, desarmada.

— Abaixem isso.

Virando-se em um salto, Pietro observou a ponta de sua faca perder-se em uma névoa negra, para só então levantar os olhos e ver o rosto de um homem. Pietro deu um passo para trás e puxou Amara consigo, deixando a faca presa no que deveria ser o peito do homem.

— Você me deu uma facada e isso não foi nem um pouco legal — o homem pareceu aborrecido enquanto retirava a faca de seu corpo, para em seguida jogar o objeto no chão, sem uma única mancha ou gota de sangue. — Estou acostumado com recepções ruins, mas nunca recebi uma facada. Vocês me surpreendem às vezes.

— Quem é você? — Aaron perguntou.

— Azrael² — foi Amara quem respondeu, fazendo o homem arquear uma sobrancelha, tanto de surpresa como de desgosto.

— Será que algum de vocês irá aprender a dizer meu nome corretamente? — Azrael murmurou. — Morte, por favor, não é tão difícil, na verdade é até mais fácil.

— O que quer? — Aaron rolou os olhos. Parecia audácia falar assim com a Morte, ou Azrael tanto faz, mas ultimamente ele não se importava tanto com certas coisas.

— Direto, gostei — Azrael deu um sorriso rápido. — Só passei para dizer que você deveriam se preocupar um pouco menos com Johnny, Jesse e Evelyn.

— Quer dizer que eles estão vivos? — Katrina soltou Aaron.

— É — Azrael sorriu.

— Jura? — Amara perguntou, mas logo se arrependeu. Meu Deus, o quão ridículo e estranho aquilo estava sendo? Riu de si mesma.

— Como é que vocês dizem? — Azrael pareceu pensativo. — Ah sim! Palavra de escoteiro.

— Você não é escoteiro — Katrina disse fazendo um brilho de diversão passar pelos olhos gélidos e azuis de Azrael.

— Mas vale do mesmo jeito — Azrael sorriu e levantou a cabeça em direção ao céu, suspirando pesada e dramaticamente logo depois. — Um infarto bem agora Sr. Calloway... — ele murmurou e então lembrou-se de onde estava. — Ah sim, vocês... Bem, acredito que deveriam dar uma passada no núcleo comercial da ilha e comprar alguns mantimentos e talvez roupas, e, quando Celler e Elsen voltarem, não voem imediatamente, esperem pelo menos uma hora.

Em um piscar de olhos e sem qualquer despedida, Azrael desapareceu na frente dos quatro, deixando-os mais confusos, surpresos e atônitos do que já estavam. Mas não tiveram tempo para raciocinar sobre o que acontecera, o grunhido dos dragões no céu não permitiu.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Azrael = é o Arcanjo da Morte islâmico. Ele também é o Anjo da Morte na tradição e folclore Judaíco-Cristã. O nome literalmente significa "aquele a quem Deus ajuda".Também é conhecido como Samael.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Pedra Vermelha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.