— Porque somos tão ricos? – Max perguntou ao mais velho.

Ele e Scorpius estavam almoçando comida tailandesa porque, graças a genetica, nenhum dos dois possuia habilidades culinárias. E depois de alguns remédios e chás medicinais, Max estava se sentindo muito melhor. Bem o suficiente para encher o pai de perguntas. Como você conhceu a minha mãe? Quando você se formou? Como foi seu primeiro beijo? E agora fizera a pergunta que o Malfoy mais temia responder.

A história por trás da fortuna de sua família era cheia de falcatruas das quais queria manter o filho distante. Scorpius sentia medo de que seu filho se fastasse depois de descobrir como seus antepassados foram baixos e inescrupulosos. Contudo, sabia que precisava lhe dizer. E talvez se soubesse diretamente por ele, e não por terceiros, entendesse que sua família havia mudado.

— Primeiro eu quero que me prometa que vai tentar entender tudo isso sem odiar a mim ou ao seu avô. Nós te amamos e não temos culpa pelo erro de outros. Tudo bem? – o pai perguntou ao filho.

Max balançou a cabeça enquanto mastigava sua comida.

— Os Malfoy sempre foram poucos. Nunca mais do que um filho por geração e nunca houve uma mulher, até onde eu possa me lembrar. Então as heranças possuíam uma boa quantia, já que não havia dotes e os homens eram criados para economizar cada centavo do bolso. – Scorpius fez uma pausa para tirar o gosto forte dos temperos da boca. – Quando o meu bisavô descobriu que tinha uma pequena fortuna, decidiu investir em alguns imóveis e em si mesmo. Ele se tornou um advogado e se casou com uma moça de boa família. As vezes eu imagino que é uma maldição, mas nós tendemos a amar apenas uma mulher durante toda a vida. E a fazer qualquer coisa por ela. Abraxas Malfoy não foi diferente quando sua esposa ficou doente. Ele dava a ela uma boa vida, mas não tinha dinheiro suficiente para dar a ela o tratamento adequado.  Então ele começou a defender alguns crimes, casos que nenhum outro advogado sentia-se confortável em fazer. Com o tempo ele estava trabalhando para homens realmente perigosos e com muito dinheiro. Quando seu filho se tornou um adulto, passou o negócio adiante. Nenhum deles estava preparado para perder o luxo e o prestígio que vinha com o dinheiro. Meu avô, Lucius, defendia com sucesso assassinos, ladrões, traficantes e um dos maiores grupos de contrabando da Europa. O trabalho dele era fazer que todas as atividades se tornarem legais diante do Governo.

Scorpius observou Max deixar sua comida de lado e mudar de expressão. Ele parecia decepcionado e confuso ao mesmo tempo. O mais velhos decidiu continuar sua narrativa.

— Foi nesse período que a rivalidade entre os Weasley e os Malfoy cresceu. A família da sua mãe é muito grande e nunca teve muitas posses. Eles eram motivo de chacota. E como todo rico arrogante, Lucius precisava aumentar seu ego diminuindo o de alguém. Nessa mesma época, um maníaco psicótico deixava um rastro de corpos por toda Grã-Bretanha. Meu pai era um pirralho, assim como seus avôs e eles levaram a rixa para um nível muito pessoal. Você deve saber que o melhor amigo de Ronald é Harry Potter e que, infelizmente, os pais dele morreram muito cedo. Lucius Malfoy era o maior defensor de Tom Riddle, o homem que matou os pais de seu tio-avô, Harry.

O mais novo estava de boca aberta, perplexo com a história macabra que o homem a sua frente contava.

— Ninguém nunca me disse que eles foram assassinados, pensei que era um acidente ou algo parecido. Eu nunca quis tocar no assunto.

— Esse homem, Tom, se auto-intitulava Lord Voldemort e tinha uma obsessão doentia com Harry. Os Weasley o protegiam da forma como podiam, mas com poucos recursos era uma tarefa quase impossível. Quando meu pai se tornou velho o suficiente para assumir a responsabilidade de defender Voldemort, Harry e Rony faziam tudo o que podiam para condená-lo. Lucius tinha medo do que Tom podia fazer com ele e sua família e por um tempo até abrigou o homem.

— Você tá brincando! – Max exclamou.

— Bem que eu queria. Eu não orgulho disso e nem meu pai, por isso ele fez o que pode para salvar sua alma. Quando ele percebeu o quanto aquilo era errado, ele entregou a Harry Potter a prova de que ele precisava para mandar Voldemort para a cadeira elétrica. Depois que ele foi condenado e morto, nossa família se retirou por algum tempo. Era vergonhoso para nós, principalmente para meu pai, o que ele havia feito. Nessa época nós já eramos muito ricos, as aplicações nos davam muito lucro. Quando meu pai voltou a Londres, conheceu minha mãe. Ele se transformou em um homem melhor ao lado dela e fez o que pode para se redimir de seus pecados. Ele e Lucius perderam o contato, mas quando eu nasci eles voltaram a se falar. Ainda somos vistos como pessoas ruins pelas famílias mais tradicionais e os rumores são terríveis. Eu tento fazer tudo o que eu posso para mudar isso e você será o próximo.

Max olhava para o chão e aquilo machucou seu pai.

— Filho, nós herdamos muito mais do que posses quando nascemos. Herdamos um passado, uma história. Você não pode separar o bom do ruim e escolher com qual fica. Todos os dias eu tento fazer com seu fardo seja mais leve, mas não significa que ele não vai existir.

— Eu... Eu entendo. – disse depois de um longo suspiro. – Eu realmente entendo. Uau. Eu não seria capaz de renegar essa parte da nossa vida, da nossa história. Meus avós só me mostraram amor e gratidão. Eu não conheci a parte odiosa da família e acho que isso não importa.

— Você não sente vergonha?

— Eu seria um idiota se eu sentisse. E eu não sou um idiota. – o loiro mais novo disse sorrindo.

— Nenhum filho meu é idiota! – Scorpius disse um pouco mais alto.

— Além de praticar bullying, quais são as características de um verdadeiro Malfoy? – Max perguntou.

— Somos orgulhosos, arrogantes e muito determinados.

— E esse lance de amar só uma garota? Você acredita nele?

— Eu acredito que eu nunca vou amar alguém como eu amo sua mãe.

— Tempo presente... Vocês estão juntos? – o mais novo perguntou ao pai.

— Mais ou menos. Nós nos beijamos, mas não conversamos sobre isso. Sinceramente, eu me casaria com a sua mãe hoje e jamais me arrependeria.

— Eu fico me perguntando se já encontrei essa garota, mas é tão confuso às vezes...

— Selene? – Scorpius falou.

— Sim. Eu não sei bem o que eu sinto por ela, é tão confuso. Quando eu estou perto, fico com medo; quando estou longe, fico falando com ela o tempo todo. Eu não consigo dormir antes de falar com ela por alguns minutos no telefone. Eu fico me perguntando o que ela pode estar fazendo e perco o sono. Isso é normal?

— Você está apaixonado, é claro que é normal. – o loiro disse ao filho. – Eu vejo como vocês se tratam desde o funeral. Ela te olha como quem vê o sol pela primeira vez ou descobre o melhor presente na manhã de Natal. E você fica falando sobre ela o tempo todo.

— Eu não faço isso...

— “Hoje eu tive educação física, mas Selene não foi.” “Selene está lendo um novo romance.” “Eu vou ao cinema com os meus amigos, Selene quer ver um filme.” – Scorpius imitou o timbre do filho.

— Tudo bem, talvez eu fale dela o tempo todo. Isso não significa que estou apaixonado.

— Você quem sabe. Mas não reclame quando um cara como Andrew Pikks passar na sua frente e roubar sua garota. – o mais alto falou ao se levantar.

Ele recolheu o lixo do almoço e levou em direção a cozinha. Max estava estático no sofá, parecia ter levado um choque.

— Você tem razão, eu estou apaixonado. – o mais novo disse levantando do sofá com um pulo. -O que eu faço?

— Já pensou em chamá-la para sair? – Scorpius disse da cozinha.

— E se ela disser não? E se ele estiver com outra pessoa? Porque eu posso não ter percebido isso...

— Filho, eu vou te dar um conselho sobre mulheres... Sempre pergunte à elas antes de tirar conclusões.

— Eu deveria comprar um presente. O que você acha?

— Tudo bem. Podemos ir mais tarde. Tenho que comprar algumas coisas da lista que a sua mãe deixou. Como você está se sentindo?

— Um pouco emotivo, mas bem. Aquele chá realmente ajudou.

— Um segredo de família. – Scorpius disse de forma sombria.

Max olhou para ele do sofá e não pode conter uma gargalhada.