OTAMV 2: A Prima escrita por Azzula


Capítulo 20
Febre estranha, "Saudade" e Comida Italiana


Notas iniciais do capítulo

Por favor, me desculpem por demorar tanto! Notas Finais e Boa leitura meus amores ♥



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   Eu estava completamente hipnotizada, perdida naqueles orbes castanhos que eu conhecia tão bem. As palavras fugiram de mim enquanto eu contemplava aqueles lábios roxos de frio, e a pele quase azul de tão gélida.

   Obriguei-me a piscar incontáveis vezes, e não ousei dizer nada ou gaguejaria vergonhosamente. Era um sonho. Com toda certeza do mundo, era um sonho! Quer dizer, não era possível...

   Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, um trovão estrondou no céu, fazendo-me gritar em desespero. Agarrei com força sua camiseta encharcada e escondi o rosto em seu peito, controlando meu pânico. Ele não disse nada também, apenas me abraçou com ainda mais força quando de repente ergueu-me em seus braços e conduziu-me até dentro de casa. No início teve dificuldades para fechar a porta atrás de si, mas o fez com sucesso, seguindo pelo corredor a procura de meu quarto sem se preocupar com o fato de estar encharcando toda a casa.

   O silêncio era um tanto incômodo, mas eu estava completamente pasma, de modo que não sabia o que ou como dizer. Pousou-me de volta no chão, investigando meus olhos a fundo enquanto eu oscilei alguns passos para trás. Eu tremia. Tremia por sentir frio e pela surpresa. Tremia de nervosismo ou ansiedade, não sei ao certo;

   A idéia de dizer qualquer coisa – por mais simples que fosse – parecia ridícula, uma vez que eu tinha certeza de que estava sonhando. Então eu apenas aproveitei pra matar a saudade, encarando-o como se tivesse todo o tempo do mundo para fazê-lo, e como se aquele frio horrível não passasse de uma impressão estranha no fim das contas. “É tudo um sonho” – repetia dentro de mim.

_ Por quanto tempo pretende ficar me olhando com essa cara de louca? – quebrou o silêncio.

_ Hm – resmunguei confusa.

   Eu mergulhei no castanho de seus olhos, sentindo minhas pernas bambas e uma vontade estúpida de chorar. Parecia que a qualquer momento estaria prestes a desmaiar, mas voltei à realidade assim que senti seus braços envolvendo-me a cintura e puxando-me para si. Aquele cheiro impregnando-se em minhas narinas; Era real.

   Lee Ki Seop estava parado a minha frente, segurando-me firme em um abraço. Não era um sonho. Não era.

_ O q-que você está fazendo aqui? – murmurei.

_ Longa história.

   E por mais que seja idiota, não consegui controlar meus primeiros instintos e acabei por chorar. Muito óbvio, mas foi a única coisa que pude fazer. Eu estava com tanta saudade, que meu coração chegava a doer de agonia. E inesperadamente ele estava ali quando eu mais precisava.

   Escondi meu rosto na curvatura de seu pescoço, abraçando-o com força e rezando para não acordar ao mesmo tempo – caso fosse um sonho.

_ Por favor, não... – envolveu suas mãos grandes em meu rosto, encarando-me ternamente enquanto enxugava as lágrimas com o polegar. – Não chore meu amor.

_ Você não devia ter vindo. – foi a única coisa que pude dizer.

   Considerando que eu não voltaria atrás em minha palavra, ele não tinha muito o que fazer ali. Tudo bem ele ficar alguns dias, seria até bom para pormos os pingos nos i’s e deixar tudo bem claro, mas se a intenção dele era me fazer mudar de idéia, sua viagem fora perdida. Eu não podia enganá-lo, ou me enganar com isso. Eu precisava mesmo perseverar em minhas decisões, e por mais que saiba que meu amor por ele jamais se apagara de dentro de mim, eu precisava ser decidida e não voltar atrás tão facilmente.

_ Eu sei. – disse isso colando sua testa à minha, perscrutando o fundo de meus olhos. – Sou mesmo um idiota, mas não posso viver sem você!

   Segurei em suas mãos ao suspirar, queria desviar os olhos, queria pedir para ele ir embora o quanto antes e me esquecer, esquecer todo o estrago que causei em sua vida, mas não conseguia faze-lo. Sinto que se algum dia ele me esquece, eu morro. Sinto que se algum dia o esqueço... Não, é impossível! Eu jamais vou esquecê-lo, jamais!

_ Por favor, tome um banho! – disse sorrindo após eu espirrar. – Tome um banho ou ficará resfriada.

   Eu realmente precisava de um banho, mas a chuva forte lá fora fazia com que eu temesse um trovão. Outro trovão.

_ Hm, acho que posso esperar até que a chuva pare e...

_ Vamos, não seja medrosa! – sorriu – Eu posso ir com você... Se quiser. – sorriu de lado.

   Fui atingida por um frio horrível na espinha, e minhas pernas tornaram-se tremulas. Eu engoli a seco, encarando seu rosto seriamente, vendo aquele sorriso encantador desaparecendo aos poucos do canto de seus lábios. As gotas de água pingavam dos fios de seus cabelos, e ele já havia passado de azul para roxo de frio.

_ A-as toalhas estão no armário de cima. – disse baixo encarando-o, e o armário em seguida.

   Entrei no banheiro em pânico, encostando a porta e comecei por tirar a blusa encharcada do moletom. Tirei peça por peça vagarosamente, ficando apenas de roupa íntima, e liguei a ducha quente, ansiando por sentir a água morna aquecendo-me daquele frio insuportável.

   Deixei a água escorrer de meus cabelos até as costas, por meus braços e pernas até estar totalmente aquecida e finalmente relaxar. Fechei os olhos, tentando ordenar meus pensamentos, mas minha linha de raciocínio foi interrompida por ele abrindo a porta silenciosamente. Fechei os olhos ainda mais severa, sentindo minhas mãos tremulas enquanto ouvia o som que ele causava ao desfazer-se de suas roupas.

   “Aish, péssima idéia Chiao Ana, péssima idéia!” – pensei.

   Eu recusei-me a virar em sua direção, apenas ouvi os passos aproximando-se quando ele invadiu o Box e fechou a porta de vidro, trancando-se ali dentro comigo. A corrente de ar causou-me arrepios, e a sensação piorou quando eu senti seus braços envolvendo-me em um outro abraço. Sua pele exageradamente fria causando um choque térmico ao atritar-se com a minha. Deixei um riso acanhado escapar quando sua respiração causou cócegas em meu pescoço.

_ Eu fiquei ansioso, esperando você voltar – quebrou o silêncio após alguns segundos – Eu achei que mesmo com aquela mensagem, você não seria capaz de me abandonar. – apertou-me com ainda mais força – E deve ser por isso que eu amo tanto você, porque você sempre me surpreende, em tudo que faz!

   A água caia confortável sobre ambos os corpos, seu corpo já estava igualmente aquecido, e o abraço era delicioso. No entanto, me sentia mal pela situação no geral. Posso tentar a vida toda, mas jamais vou conseguir dizer o quanto amo esse homem, embora tenha tido-o pouquíssimas vezes. Realmente não sei o que fazer! A vida sem ele é cinza... Na verdade, não há vida sem ele, mas eu sinto essa obrigação de ser responsável! Sinto que tenho a obrigação de liderar com responsabilidade, tudo o que me fora deixado por meus pais. Não posso abandonar isso, não posso ser egoísta e desistir de tudo por esse amor irracional.

_ Me desculpe. – disse baixo, virando-me para encará-lo melhor. – É que, eu estou um pouco perdida agora. Na verdade, muito perdida! Eu não sei o que eu devo fazer...

   Estava bom ali. Eu não sentia o conforto daquele abraço a mais de uma semana, e de repente o mundo parecia ser apenas aquilo para mim. Nada parecia realmente importar naquele momento, nem a chuva forte lá fora. Éramos apenas nós dois, matando aquela saudade devastadora sem dizer uma palavra a mais.

   Demoramos um tempo ali, fiquei apenas encolhida em seus braços, a água quente escorrendo por nossos corpos enquanto ele brincava com a alça de meu sutiã. Ele estava tão perfeito como da ultima vez que o vi. Honestamente, não me lembro de tê-lo visto diferente de perfeito alguma vez. Mesmo quanto seus cabelos insistem em parecer um ninho de passarinho ou quando a cara de sono transforma seu semblante, mesmo assim ele parece perfeito para mim.

   Finalmente criamos coragem para deixar o Box, o vento frio batendo contra nossas peles quentes enquanto seguíamos calmos até a cama. Eu precisava de muitas explicações, principalmente porque ele não carregava uma mochila sequer consigo.

_ E agora, gênio, vai vestir o que? – disse seguindo até o guarda-roupa.

_ Não pensei muito nisso. – uma toalha enrolada na cintura enquanto esfregava a outra em seus cabelos.

_ Claro que não pensou... – suspirei. Encontrei uma calça larga de moletom cinza e joguei-a em sua direção, virando-me de costas para que ele se vestisse. Troquei-me rapidamente também, vestindo um short e uma camiseta colorida e seguindo para debaixo dos cobertores.

   Fiquei sentada sobre o acolchoado, encarando-o enquanto ele fitava a si mesmo em frente ao espelho. Idiota.

_ Acho que a gente precisa conversar, não é? – disse depois de muito hesitar.

_ Hm. – assentiu com a cabeça, aconchegando-se do meu lado na cama de casal.

   Ele envolveu seu braço por meus ombros e entrelaçou nossos dedos. A mão livre pousou em minha barriga, onde ele tamborilou uma música qualquer enquanto provavelmente pensava por onde começar.

_ Como você me encontrou? – perguntei pousando a cabeça em seu ombro.

_ Na verdade nem eu sei, acho que foi pura sorte! – sorriu – Eu peguei o seu endereço no escritório do meu pai e minha mãe me encorajou a vir até aqui... – beijou-me a testa. – Pedi a um taxista para me deixar nesse endereço, mas vi você correndo de longe, então desci do carro e corri ao seu encontro.

_ Entendi. Você é louco? – repreendi-o – Onde você estava com a cabeça Kiseop? E se algo ruim acontece, você fala português? Onde estão suas roupas, veio só com essa do corpo?

_ Não tem por que esse estresse agora! – resmungou – Se eu for como você e ficar pensando demais nas conseqüências, nunca vou chegar a fazer aquilo que me da vontade.

_ Você é um idiota! – cutuquei-o.

   O silêncio incômodo voltou a tomar conta do ambiente. Eu queria dizer muitas coisas, e principalmente me desculpar, mas não sabia por onde começar. Estava mergulhada na culpa de tê-lo deixado para trás sem me despedir como deveria. Ele passou a acariciar minha barriga enquanto sua respiração saia calma por seus lábios entreabertos. A chuva acalmara um pouco, apenas pingos mansos caindo sobre e calha e o gramado do lado de fora.

_ Juro que tentei apagar você de mim. – quebrou o silêncio – Eu me senti tão traído quando você não voltou... Pra falar a verdade, passei esses dias pensando que jamais seria capaz de sorrir novamente! Tentei mesmo apagar o seu sorriso, o seu abraço, e as milhares de marcas que você deixou em mim, mas é impossível! – ergui a cabeça, contemplando seus olhos imediatamente. – Achei que fosse morrer de saudade...

_ Eu também. Me desculpe por fazer você se sentir assim, estou muito envergonhada por isso! Eu estava a ponto de morrer de saudade também;

   A noite caíra do lado de fora, e o barulho calmo da chuva embalava nossos sonos quando nos deitamos. Uma dor de cabeça incomoda surgia sorrateiramente, mas eu estava concentrada demais em mil pensamentos para dar atenção a ela.

_ Por favor, volte! – sussurrou em meu ouvido. Pousei minha testa em seu peito, fechando os olhos enquanto sua proposta soava tentadora demais. Neguei com a cabeça, sem um pingo de coragem de dizer. – Por favor. – insistiu. Sua mão ergueu meu rosto para que pudesse encarar-me seriamente, o peito de sua mão acariciando-me a bochecha enquanto a ponta de seu nariz passeava pelo meu.

_ Eu não posso. – murmurei baixo demais. Meus olhos mergulhados nos dele enquanto meus dedos enlaçavam-se em seus fios.

_ Pode sim! – beijou a cicatriz. – Só me dê a oportunidade de fazer você feliz! – beijou um de meus olhos. Sua mão envolveu minha cintura e ele puxou-me mais contra seu corpo. – Eu realmente entendo o que esta tentando fazer, mas não desista dos seus sonhos, não desista de nós, por favor!

   Talvez não houvesse o que dizer. É claro que eu queria voltar, mas tinha a tal da perseverança e o comprometimento.

   Estava com saudade de sentir aquela respiração tão próxima a minha, o calor natural de sua pele, e o cheiro único que só Kiseop tinha. Seus lábios selaram um beijo no canto de meus lábios e arrancaram um suspiro. Sentia falta do beijo, e as borboletas povoaram meu estomago assim que cogitei a hipótese de beijá-lo. Encarei seus lábios por segundos eternos, enquanto seus olhos cobiçavam os meus. Íamos aos poucos, exterminando a distância entre nós, até que finalmente formamos um beijo urgente.

   Ele segurava-me com demasiada força pela cintura, apertando-me cada vez mais, e com mais força contra si. Os lábios sedentos um pelo outro, enquanto as línguas dançavam harmoniosas. Arrancou-me suspiros, arrancou-me o fôlego, arrancou-me até gemidos. Estávamos tão desesperados um pelo outro, que permanecemos minutos incontáveis assim, nos beijando sem proferir uma palavra sequer. Às vezes parava para contemplar seus olhos, rezando para que ele entendesse tudo o que eu tinha a dizer e não conseguia, e como resposta, seus lábios encontravam os meus mais uma vez, sempre calmos e preguiçosos. Mordia-me o lábio inferior e sorria, agia lentamente, como se tivéssemos todo o tempo do mundo.

   Depois de muito encarar seus olhos, sem interromper o contato, senti uma necessidade de dizer a única coisa que se passava em meu coração. Acariciei calmamente sua nuca, acariciando também as mexas de seu cabelo e selando incontáveis vezes meus lábios nos seus.

_ Eu te amo muito. – finalmente disse.

   Não esperei uma resposta. Apenas notei que os olhos alheios encheram-se de lágrimas, mas orgulhoso como sempre, ele não deixou que nenhuma escapasse. Escondeu seu rosto na curvatura de meu pescoço e o beijou gentilmente, causando-me arrepios.

   Permanecemos assim um bom tempo. KiSeop acabou adormecendo com o rosto escondido em meu ombro, sua respiração fazendo cócegas e impedindo-me de embalar tão cedo quanto ele. Mas cansada de tanto martelar sobre as coisas, acabei dormindo também.

___

   A dor de cabeça da noite anterior havia piorado. Estava cumprindo com minha higiene matinal enquanto KiSeop ficava dando cabeçadas na porta, perguntando se eu estava bem a cada dois segundos. Claro que não dava pra responder com a boca cheia de espuma, então ele agia como se eu estivesse morrendo dentro do banheiro.

_ Eu estou bem meu amor, eu estou bem! – disse.  

   A dor estava realmente forte, mas talvez fosse uma conseqüência por ter pegado aquela chuva. Um resfriado, claro...

   Após deixar o banheiro, procurei esfomeada por qualquer coisa na geladeira, mas não tinha nada. Meu estomago gritou um coro de aleluia quando vi o resto do bolo em cima da mesa, mas os pontinhos pretos não eram gotas de chocolate, e sim formigas, tão famintas quanto eu.

   Precisávamos ia ao mercado urgentemente! Em meia hora conseguimos sair de casa. Por sorte, eu gostava de roupas exageradamente largas, de modo que uma de minhas camisetas discretas acabou servindo em Kiseop. Ele usou a própria calça jeans, que estava um pouco úmida, mas servia, já que ele não sairia na rua de moletom de jeito nenhum.

   Nós compramos muitas coisas. Coisas importantes, como arroz, feijão, legumes, verduras, frutas e temperos, etc; E porcarias, como um pacote de alcaçuz que ele fez milhões de aegyos só pra me convencer a levar, biscoitos, salgadinhos e refrigerante.

   Fiz uma breve explicação sobre a moeda brasileira (real) e tentei converter algumas coisas para won’s, só pra ele ter uma noção de como algumas coisas aqui eram mais baratas, como a tangerina, por exemplo.

_ Você cresceu aqui, nessa cidade? – perguntou enquanto voltávamos andando para casa.

_ Cresci.

_ É uma cidade linda e ensolarada! O clima aqui é diferente, julgando por como o sol está lindo hoje, nem parece que ontem enfrentamos uma tempestade...

_ Tem razão. – sorri. – Logo ali na frente tem a praia, mas já da pra ouvir o barulho do mar daqui, presta atenção...

   Ele abriu um sorriso lindo ao notar. Seus olhos brilharam e ele perguntou com entusiasmo se poderíamos passear pela praia mais tarde.

_ Omma adoraria conhecer aqui! – disse quando estávamos quase chegando.

_ Verdade, ela combina com esse clima, e esse sol... Algum dia vocês podem vir me visitar... – ao dizer isso, o sorriso de seu rosto desapareceu.

   Eu não perguntei o porquê, pois já sabia. Então seguimos o restante do caminho em silêncio. Perguntava-me sobre o que ele poderia estar pensando, ou no que deveria dizer, mas apenas deixei que o silêncio nos rondasse, até que finalmente chegamos em casa.

   Abri a porta e ele foi direto para a cozinha, completamente a vontade e deixando as sacolas plásticas sobre o balcão. Abriu o pacote da guloseima e fez uma careta fofa na primeira mordida, mas fez questão de revirar os olhos quando eu ri.

   Guardei alguns mantimentos no armário e outros na geladeira, pensei em algo gostoso para fazer de almoço, enquanto KiSeop devorava sozinho algumas dúzias de alcaçuz. Não demorei muito e comecei a lavar alguns legumes, indo até outro armário e buscando por um vasilhame grande.

_ Quer ajuda? – perguntou baixo. Eu apenas afirmei com a cabeça e ele se aproximou em seguida. – A cozinha aqui é realmente grande! – disse indiferente.

_ É – sorri – Minha mãe adorava cozinhar, e fazia isso muito bem! Então ela equipou esse cômodo com um pouco mais de carinho do que os outros, pois passava a maior parte de seu tempo aqui, inventando coisas gostosas... – era atingida por algumas lembranças, enquanto sentia o olhar alheio amolecendo sobre mim – Algumas de suas invenções davam certo, mas outras ficavam simplesmente horríveis! Claro que todo mundo comia, digamos que era um sacrifício por amor... – sorri novamente enquanto ele se aproximava. – Eu sinto falta deles... – Me virei de frente para a pia, apanhando uma faca afiada para cortar os legumes.

_ É normal sentir saudade... – disse abraçando-me por trás. – É admirável que você esteja tentando ser forte, mas não precisa ser assim o tempo todo! Você sabe que sempre pode contar comigo, pra tudo...

_ Obrigada! – me virei novamente a seu encontro, sentindo seus olhos pesando sobre os meus.

   Em questão de segundos, seus lábios já haviam tomado os meus novamente, mas de um jeito diferente. Ele hesitava a cada movimento, suas mãos deslizando cautelosamente até minha cintura, até que invadiu os bolsos traseiros de minha calça e me apertou. Foi impossível não arrepiar e sentir um frio na barriga assim que notei sua excitação.

   Pressionou-me ainda mais contra seu corpo, enquanto nos beijávamos lenta e preguiçosamente. Meu coração saltando para fora, e a sensação só piorou quando ele enlaçou seus dedos em meus cabelos e os puxou gentilmente.

_ Ei... – empurrei-o devagar, sorrindo quando o beijo se desfez.

_ O que? – perguntou baixo sem abrir seus olhos, seus braços ainda me prendendo em seu abraço e sua testa colada a minha.

   Antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, seus lábios tomaram os meus mais uma vez, só que de uma forma mais urgente. Levantou-me pela cintura e sentou-me sobre o inox frio da pia, afastando alguns legumes com a mão livre, e deixando que alguns caíssem e se espalhassem pelo chão. Foi impossível não rir pela surpresa, mas o mesmo sorriso desapareceu quando notei seu olhar diferente sobre mim. Seus olhos estudando cada centímetro do meu rosto, investigando meus olhos; Sua testa colada a minha, enquanto mordiscava-me o lábio inferior.

_ Estou com saudade. – disse e rapidamente atacou-me novamente. Permaneci inerte, martelando sobre o que aquela mudança repentina de comportamento significava. Não demorou até que eu entendesse que tipo de “saudade” ele estava sentindo. Tive mais certeza ainda, quando seus lábios rastejaram preguiçosos de meus lábios até meu pescoço, o que automaticamente arrancou-me um suspiro, e em seguida bufei contrariada.

   Suas mãos apertando com força minhas coxas, e eu automaticamente enlacei as pernas em seu tronco. Porque diabos eu estava correspondendo?

_ Kiseop... – sussurrei grudando em seus cabelos. – Kiseop, não... – disse baixinho.

_ Sim. – brincou com meus lábios, sorrindo com minhas reações.

   Eu também estava com “saudade”, e nem sabia. Na verdade, eu nem me lembrava disso até aquele exato momento. Mas eu não estava pronta. Sem contar que minha cabeça doía e eu sentia meu corpo queimando;

   Neguei algumas vezes com a cabeça, tentando escapar de seus beijos, mas eu sempre acabava cedendo. Ele afastou-se um pouco, desfazendo-se de sua camiseta, e quando o fez, voltou a beijar-me com urgência. Eu mal conseguia respirar; As vezes me afastava, e contemplava seus lábios rubicondos a minha frente, e não resistia. Sua pele quase tão quente quando a minha, macia e naturalmente cheirosa; Agarrei com força em seus ombros quando suas mãos seguiram até o cós de minha calça, desabotoando-a. Ergueu suas mãos por debaixo de minha blusa, suas mãos frias em minhas costas quentes, arrepiando-me mais uma vez.

_ Kiseop... – eu não conseguir completar a frase. Sempre que ameaçava dizer algo, ele calava-me com um beijo. – Ya...

_ O que foi, hm? – sussurrou. – Eu quero você pra mim e

   Eu daria a ele o que ele quisesse! Sentia-me despreparada, mas já estava completamente entregue a situação. De mais a mais, eu também queria. Mas, talvez atendendo aos pedidos desesperados de minha consciência, o soar estridente da campainha ecoou por todos os cômodos da casa, e ele recusou-se a acreditar, bufando em reprovação.

_ Quem faz isso? Me diz... – afastou-se um pouco, sem livrar-me de seus braços.

_ Preciso abrir a porta. – empurrei-o gentilmente, selando meus lábios nos seus rapidamente, mais como uma provocação.

   Recuperava o fôlego enquanto me dirigia a porta, perguntava-me sobre quem poderia ser, até que lembrei que Duda e eu havíamos combinado que almoçaríamos juntas. Claro que a vinda inesperada de Kiseop havia tirado-me de órbita, mas ela ficaria realmente surpresa, e eu estava ansiosa por ver sua reação.

   Não olhei para trás, Kiseop estaria provavelmente fuzilando-me com os olhos, apenas abri a porta com entusiasmo, abraçando minha melhor amiga.

_ E-du-ar-da – silabei seu nome com um sorriso maior que a boca.

_ Nossa, que sorriso é esse? – disse entrando com algumas sacolas – Trouxe comida italiana!

_ Jura? Hm... E-eu fui ao mercado, mas não tem nada pronto de qualquer forma... Espero que tenha trazido comida suficiente... – ergui a sobrancelha.

_ Vejo que alguém aqui esta entusiasmada... Ta até mais animadinha em comer – sorriu – Posso saber por quê?

   Eu não precisei dizer mais nada. Ver a cara surpresa de Duda ao ver Kiseop na cozinha foi algo hilário; Quer dizer, era de se esperar que ela ficasse boquiaberta, pois o senhor ulzzang estava descamisado no meio do cômodo, agarrado a um punhado de legumes que antes estavam espalhados pelo chão. E claro, descabelado.

_ Q-q-q-q-quem é esse? – perguntou-me com olhos arregalados enquanto ele se aproximava com um sorriso.

_ Quem é ela? – perguntou confuso.

   Seria difícil novamente ter que traduzir do português para o coreano, mas eu fazia questão de almoçarmos todos juntos. Eu apenas sorria enquanto eles encaravam um ao outro. Pelo olhar de Duda, ela havia aprovado-o. O olhar de Kiseop estava mais como “Como você ousa tocar a campainha?”, então eu decidi quebrar o silêncio, mesmo um tanto envergonhada.

_ Duda, esse é o KiSeop. – disse sem saber como encara-la. – Lee Kiseop.

_ OMG sério? O q-que ele ta fazendo aqui? Como? Quando?

_ Ele é louco, apareceu ontem, no meio daquele toró e nem trouxe roupa! Pegou passaporte, celular, carteira e veio com a roupa do corpo... Juro que não sabia disso! – despejei as palavras com entusiasmo.

_ Ya, o que vocês estão falando? – ainda mais confuso. – Por acaso esta dizendo pra ela o quanto eu sou bonito em brasileiro? – sorriu cínico.

   E não importa quanto tempo passe, ele nunca muda.

_ Idiota. Kiseop, essa é Duda, minha melhor amiga!

_ E quanto a Brookie?

_ Ya! Por acaso você tem só um amigo? – calou-se.

_ Eu por acaso interrompi alguma coisa? É que o senhor testosterona está com os músculos a mostra, e nem está tão calor assim... Queridinho... – olhou pra ele – Você pegou esses legumes, mas a sua camiseta está ali no chão, olha... – apontou e ele olhou em seguida, entendendo o suficiente sobre o que ela falava.

_ Não seja tão podre. – sussurrei.

_ Se ele por a camisa vou me arrepender, olha só que bonitinho... – disse quando ele deu as costas envergonhado.

_ Ei! – soquei seu braço.

_ Com todo respeito amiga! Sempre... – suspirou – Se você o odiava, acho que não estou preparada emocionalmente pra ver o tal JunHyung pessoalmente...

_ Não diga isso... – disse baixo, sentindo meu coração apertar.

_ Vamos comer? Você me conta tudo enquanto isso... Estou faminta! – disse entrando na cozinha. KiSeop e Duda encaravam-se como quem estaria prestes a fazer um interrogatório.

   Pusemos a mesa e nos sentamos. Ele sentou-se ao meu lado, e Duda do lado contrario da mesa, comíamos aquela incrível variedade de massas, e Kiseop parecia aprovar tudo.

_ Eu posso só chama-lo de Sr. Testosterona já que não vou conseguir dizer o nome dele direito?

_ Não chama ele assim não! E pra que vai precisar dizer o nome dele, você fala coreano? – ri.

_ Do que estão falando? Por favor, estou me sentindo deslocado... Francamente...

_ Qual é, ele nem sabe o que isso significa! Testosterona, testosterona, testosterona... – repetiu encarando-o como uma palhaça enquanto ele fazia-se cada vez mais confuso.

_ Vocês dois falando de uma vez... Está me enlouquecendo... É sério. – disse a ele rindo. Por debaixo da mesa, pousei minha mão em seu joelho, acariciando-o ternamente.

   Depois de muito zombar de mim, Duda deixou que eu explicasse a ela tudo o que havia ocorrido nas ultimas 24hrs. Consegui aos poucos fazer com que ele entrasse no assunto, mesmo – as vezes – trocando os idiomas e falando em português com ele, e coreano com ela.

_ Mas diga... – limpou sua boca com o guardanapo – Agora que ele está aqui, você vai voltar?

_ Nós precisamos conversar direito sobre isso ainda... Eu preciso explicar a ele, que não voltarei atrás em minha decisão!

_ O que? Por quê? Você é idiota? – perguntou indignada.

_ Duda, é que...

_ É que o que? – bufou – Quantas vezes você acha que vai encontrar alguém que atravesse o mundo por você? Ana, eu amo você! Você é minha melhor amiga... Minha irmã! E eu morro de saudade... Pode-se dizer que eu sou a única pessoa que você tem aqui, então por favor, me escute! Você está tão preocupada em não desapontar pessoas que já se foram, que não se da conta de quantas pessoas está desapontando! Não o desaponte... Não ME desaponte! – suas palavras eram duras, mas talvez eu precisasse daquilo. Realmente, havia me cegado com relação a desapontar as pessoas a minha volta. Estava sendo egoísta a ponto de ignorar o que as pessoas a minha volta estavam sentindo com a minha decisão.

_ Eu só estou tentando fazer algo certo... – disse, minha voz tremula enquanto eu repreendia uma lágrima.

_ Sei disso meu amor! – ergueu sua mão, acariciando a minha. – Mas, por favor, pense em você e seja feliz! Não viva o sonho de seus pais, viva o seu! Não há como desapontar alguém por correr atrás do que se quer... Eu conheço você, sei que por dentro não queria nem ter saído de lá! Amiga, não se aprisione em uma vida que não deve ser a sua... Sua vida está ai, bem do seu lado... Não deixe que ele vá!

   Quando escondi o rosto em meus braços, Kiseop já estava afobado, com a boca suja de molho de tomate, perguntando o porque de eu estar chorando.

   Eduarda como sempre tinha razão! Eu estava me obrigando a viver uma vida que meus próprios pais sabiam que eu não viveria. Eles sabiam – e até se preocupavam com isso – que eu não sonhava em seguir com os negócios. Estavam sempre a se perguntar, o que seria de tudo quando envelhecessem;

_ Ya, meu amor... Por que está chorando? – perguntou acariciando meus cabelos, tentando ver meu rosto – O que você fez com ela? O que você disse? – perguntou a Duda, como se ela fosse capaz de entender. – O que ela disse? Porque está assim?

   Então eu finalmente tive forças, e levantei o rosto provavelmente vermelho como um pimentão. Em outra ocasião, iria rir meu fígado e meu baço pela quantidade de molho de tomate espalhado por suas bochechas e boca, mas eu me concentrei apenas em seus olhos.

_ Eu vou voltar. – disse baixo, afundando a cabeça em seu ombro – Eu vou voltar com você!


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Notas finais do capítulo

Bem, escrevi esse capítulo no mínimo umas quatro vezes, e de jeitos diferentes... De todos os jeitos esse foi o que eu mais gostei, mas ainda estou insegura... Acho que quanto mais demoro pra postar, mas fico com medo de desapontar as expectativas de vocês, mas espero que tenham gostado, e que não tenha sido muito confuso ou rápido...
Não sei bem quando vou postar o proximo, pois estou com tendinite e isso está me matando, mas escreverei nem que for um pouquinho por dia... Obrigada a vocês que leem e deixam seu review, de verdade, são a unica razão para que eu continue escrevendo essa história ♥



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