OTAMV 2: A Prima escrita por Azzula


Capítulo 17
Ser Forte


Notas iniciais do capítulo

Ok, esse capítulo está um pouco tenso. Eu não sei se consegui passar minhas ideias direitinho, porque eu tinha muitas ideias, e acho que não consegui me expressar bem... Mas espero que não tenha ficado uma bosta, sinceramente! Não vou enrolar muito, só espero que gostem e tenham uma boa leitura meus amores ♥
Notas finais (:



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   Na maioria das vezes, eu não era tão boa segurando a barra. Não que eu não tente, mas eu geralmente não consigo ser forte... Se eu sempre consegui agüentar tudo, e passar por cima dos problemas com sucesso, devo isso aos meus amigos, a todos eles. Penso que se não fosse  JunHyung, eu não teria me levantado desde a primeira vez que cai. Desde a minha primeira queda ele estava lá sendo meu travesseiro, como costumávamos brincar. Talvez tenha ficado mal acostumada com todo esse cuidado.

   Mas a semana estava se passando de um modo difícil para mim, e desta vez, ninguém estava envolta. Era hora de crescer, e não depender dos outros para me reerguer. Eu era de fato, como um peso extra que meus queridos amigos tinham que agüentar, e não queria mais ser assim.

   Kiseop não falava comigo há quatro dias, desde o beijo. Lembro-me vagamente daquele dia... Lembro-me de duas garrafas de soju, mensagens de texto e da porta do quarto dele. Nada em detalhes, apenas flashs. Era ruim tê-lo tão perto e não poder falar com ele.

   Quer dizer, poder eu até podia, mas ele não respondia. Eu o encarava por minutos, horas, mas ele ignorava-me com toda a força. Talvez eu tivesse machucado-o demais, e ele estivesse com muita raiva de mim; Ele fez questão de ignorar as mil vezes que me desculpei. E sempre que eu chegava do trabalho, ele enfiava-se em seu quarto, deixando-me sozinha a assistir qualquer filme, ou a jantar. Era como se eu estivesse sozinha de fato.

   Então eu tomei uma decisão importante. Eu deixaria a Coréia, e voltaria para minha casa em Petrópolis. Estava com saudade dos meus pais e do calor humano do Brasil. Nada estava dando tão certo na minha vida, que eu precisasse mesmo ficar. Meus planos não estavam seguindo para frente, e eu não fazia nada para que isso acontecesse! Pra ser sincera, eu nem tinha cabeça pra fazer meus sonhos se realizarem... Eu só machucava as pessoas, e não importa quantas vezes elas me perdoem, eu sempre arrumo um jeito de decepcioná-las mais uma vez.

   Lógico que vai ser difícil me despedir da vida que construí aqui, e vai ser quase impossível esquecer meu amor por Kiseop já que meu coração inteiro está com ele, mas parecia não ser tão difícil para ele me ter por longe. Parecia ser indiferente eu estar ou não em casa, pois ele agia como se eu não existisse. Eu jamais me esqueceria de Onew, de JunHyung, Brookie, omma, appa e os meninos, mas sinto que já é hora de voltar para casa...

   Provoquei muitos estragos por aqui, nos corações de todos. E, como já ouvi muitas vezes, eu não sou especial em nada... Não mereço magoar pessoas tão importantes, não sou ninguém para isso. Pensei que talvez fosse uma grande desfeita partir assim, logo quando as pessoas se ajustaram tanto para que eu pudesse me sentir confortável, mas eu devia sair antes de provocar algo maior... Ai as pessoas não teriam lembranças boas para guardar sobre a minha pessoa.

   SoonHyun e JaeSoon chegariam pela manhã, então eu poderia informar minha decisão e, nos meus planos, partir em três dias. Passaria a noite arrumando as malas, e juntando as coisas que deixara espalhadas pela casa. As roupas no varal, minha caneca da sorte e algumas fotos na geladeira. Não me importei, e peguei minha foto com Kiseop no primeiro dia de aula... Ri de nossas caras tediosas, naquela época eu não fazia idéia do quanto o amava.

   Senti uma pontada no coração só por pensar em partir, mas a mesma pontada machucava quando lembrava-me de meus pais. Com tantas coisas a fazer, eu geralmente não pensava neles, mas nos últimos dias meu coração estava inquieto, como um pressentimento. Era saudade.

   Era triste partir, mas rever meus amigos alegrava meu coração. As experiências que acumulei morando neste país maravilhoso sempre acrescentariam em minha vida, e talvez algum dia, eu pudesse voltar como visitante.

   Adormeci chorando. Pensei por um momento que se Kiseop me perdoasse, eu voltaria tudo ao seu devido lugar e esqueceria essa história de partir, mas ele parecia estar decidido a me ignorar, e atuar como se eu não fosse nada em sua vida.

   KISEOP’S POV:

   Era difícil tê-la tão perto e tão tristonha e continuar ignorando-a, mas ela sabia por que eu estava fazendo aquilo. Eu já havia desculpado-a. Ana é idiota, muito idiota... Ela é estúpida e cabeçuda, e eu não posso culpá-la pelo que aconteceu. Mas eu posso estar furioso por ela ter quebrado a promessa, e ter enchido a cara de soju só porque brigamos! Quer dizer então que não vamos mais poder brigar porque ela sempre vai ficar bêbada?

   Assim que ela disse “Por favor meu amor, me desculpe!”, meu coração se derreteu e eu quis abraça-la com todas as forças, mas – NÃO SEI PORQUE – decidi ouvir os conselhos de Eli.

   Ele disse “Dê um castigo a ela, mulheres são assim, se você ignora elas ficam tão frustradas que nunca mais cometem o mesmo erro... Vai ser bom hyung, ela nunca mais vai fazer isso...”. Porque diabos eu dava ouvidos a Eli?

   Bem, de qualquer forma, eu desistiria de tudo! Cinco dias sem dizer o quanto a amava eram demais pra mim. Sem contar que a ouvi chorando noite passada, e só não entrei naquele quarto por culpa do meu orgulho...

_ Kiseop ya, acorde! – pulou em cima de mim.

_ Hm? – abri os olhos lentamente, despertando de meus pensamentos. – HY-HYORI? – arregalei os olhos, empurrando-a para o chão. – Hyori, o que esta fazendo aqui?

_ Chegamos oppa, sentiu minha falta? – atirou-se em cima de mim novamente.

_ Caralho, sai de cima... Aish... SAI HYORI, SAI, DA UM TEMPO!

_ Oppa, isso é jeito de tratar alguém que acaba de chegar de viajem?

_ Onde estão meus pais? – perguntei.

_ Na sala, conversando com a nojenta... Ela fez aquela cara de bunda e disse que tinha algo importante pra falar com eles...

_ O que era? – sentei-me sobre o colchão com um mal pressentimento.

_ Não sei oppa, não fiquei la pra ouvir, estava com saudades de você então vim correndo acorda-lo! Arruma esse cabelo – passou suas mãos por meu cabelo.

_ Aish... sai! – livrei-me de suas mãos. – Sua mãe, esta bem?

_ Sim! – sorriu. – Ela vai receber alta amanhã, e vai poder voltar pra casa... Tudo está bem, obrigada por se preocupar oppa, por isso te amo. – tentou beijar-me.

_ Nem vem Hyori, pare de ser nojenta! – levantei-me procurando os chinelos.

_ Seus pais voltaram da China antes do que previam, e passaram lá pra me pegar... – acrescentou.

_ Sai do meu quarto, por favor... Vou me trocar. – disse seco.

   Ela enrolou alguns segundos e foi, deixando-me curioso sobre qual assunto Ana teria para conversar com meus pais. Ela não fazia o tipo de menina que se queixaria por eu não estar falando com ela. Hyori era esse tipo, Ana não. Ela era mais do tipo que agüentava sozinha, e esperava as pessoas perceberem.

   Ela é realmente forte, só não vê o quanto. Tem essa mania idiota de se rebaixar a todo momento, mas eu a admiro por ser assim, tão humana e modesta.

_ Kiseop, venha filho, precisamos conversar... – appa apareceu em uma fresta da porta, fechando-a em seguida.

   Vesti-me o mais depressa que pude, e corri para a sala. Appa não tinha uma boa cara quando apareceu na porta, nem sequer me deu oi depois de semanas de viagem, então parecia grave.

   Apontei desesperado na sala, deparando-me com omma aos prantos no sofá, e Ana segurando em suas mãos. Hyori estava sentada na poltrona com um sorriso sutil nos lábios, e appa pousou suas mãos em meu ombro logo que me viu.

_ O que aconteceu? – perguntei confuso.

_ Tem certeza disso querida? – omma dizia à Ana. – Por favor, pense de novo... Pense com carinho... Não me esconda nada, o que aconteceu pra você querer ir assim? – continuou chorando.

   Todos ali pareciam me ignorar, e eu encarei com olhos arregalados o rosto de Ana, esperando que nossos olhos se cruzassem. Mas ela evitava, permaneceu com seus olhos marejados, encarando suas mãos tão presas as de minha mãe.

_ Não aconteceu nada omma, nada mesmo! E-eu só estou com saudade de casa... – disse, e eu comecei a entrar em desespero.

   Calma, nada de dar uma de Chiao Ana e criar opiniões precipitadas!

_ Ninguém vai me dizer o que esta acontecendo? – perguntei, meu tom de voz um tanto descontrolado.

_ Finalmente a mestiça se tocou que esta atrapalhando e vai embora... – Hyori disse, gargalhando em seguida.

_ O q-que? – aproximei alguns passos, cessando-os assim que vi Ana caindo em prantos.

_ Hyori, por favor... Agora não é hora. – appa disse.

_ Meu amor, fique! O que aconteceu nesse tempo que passamos fora? Eu juro que me esforçarei para ser uma mãe mais presente, só pense mais uma vez...

_ Omma, pro favor não torne isso mais difícil... – chorou – Nunca vou conseguir dizer o quanto sou grata a vocês, por me amarem e cuidarem de mim como se eu fosse da família, mas sinto que as coisas não dão mais certo... Que eu sou um incomodo e que por fazer tudo errado sempre, é melhor partir... Eu estou decidida. – disse e encarou-me por fim. – Eu espero que entendam... Queria conversar com vocês primeiro antes de tomar qualquer decisão, mas amanhã ligarei para a assistente social responsável pelo meu intercâmbio, e providenciarei as coisas para a viagem.

_ A-Ana, você esta falando sério? – disse baixo em estado de choque. Ela apenas assentiu com a cabeça baixa, deixando algumas lágrimas escaparem.

   Meu coração parou de bater por um segundo, e eu entrei em desespero. Eu precisava dizer que a amava e implorar para ela não ir. É claro que aquilo era culpa minha, se eu não tivesse ouvido Eli, e amado-a durante toda a semana como pretendia ter feito, ela não teria tido tanto tempo pra pensar em coisas idiotas... No entanto, seus olhos pareciam tristonhos, e ela parecia realmente determinada a ir embora. Mas eu precisava tentar. Eu a faria ficar, nem que tivesse que prende-la tempo o suficiente para convence-la de que sem ela eu não poderia viver...

   E antes que eu pudesse abrir a boca, o toque estridente do telefone soou por toda a sala, chamando a atenção de todos. Não fazia idéia de que horas eram, mas a julgar pelo sol que entrava pela fresta da janela, era quase hora do almoço. Volta das onze horas, um horário incomum para se receber telefonemas no telefone de casa. Cada um tinha seus respectivos celulares, quem poderia ser?

   Appa atendeu o telefone paciente, respondendo apenas à algumas perguntas feitas do outro lado da linha. Primeiramente, pensei que tratava-se de minha tia, mãe de Hyori, todos ficamos tensos pois ela podia ter piorado, mas meu pai estendeu o telefone em outra direção;

_ É pra você Ana... – suspirou – É Kim JunHee, assistente social da agencia de intercâmbios. Ela disse que é importante.

   Olhos confusos formaram-se em sua face, ela parecia realmente perdida enquanto levantava-se do sofá em busca do telefone.

_ Você já conversou com eles? – omma perguntou.

_ Não. – respondeu baixo e confusa. – N-não liguei, o que pode ser? – colou o telefone em seu ouvido.

   Ela respondeu algumas perguntas, e cumprimentou a assistente com um sorriso forçado. Todos nós assistimos aquilo enquanto em minha cabeça só passavam coisas que eu tinha a dizer à ela, e sobre o quanto a amava. Eu não deixaria ela partir assim, tão facilmente... Se dependesse de mim, ela não iria!

   Omma segurou em minhas mãos e encarou em meus olhos por alguns segundos... Seus olhos estavam vermelhos e inchados enquanto ela perguntou-me baixinho o que havia acontecido, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, a voz mais fria e estranha do mundo chamou nossa atenção.

_ O que? – Ana perguntou. Seus olhos congelaram-se no tapete, e todos estávamos concentrados nela, uma vez que acabou por gritar ao invés de somente perguntar.

   E uma seqüência estranha de atos aconteceu dai por diante. Ela primeiramente engoliu a seco e reprimiu o que pareciam ser lágrimas, depois deixou escapar algo como um “Ta” e em seguida desligou o telefone, partindo para o corredor.

_ Ana? – omma perguntou confusa enquanto ela desaparecia de nossas vistas. – Ana?

   Eu não estava entendendo nada. Absolutamente nada. Mas meu coração estava apertado, e eu não tinha um bom pressentimento.

_ Essa menina é estranha – Hyori disse – Dêem graças a Deus que ela vai embora, vocês correm um grande risco com ela aqui! E agora podemos ser só nós dois Kiseop oppa! – sorriu.

   Fuzilei-a com os olhos, e antes de mandá-la calar a boca, ouvimos um grito. Um grito que ninguém além de Ana poderia ter dado.

   Eu corri em sua direção. Meu coração estava ansioso, e eu sabia que ela não havia visto uma barata para gritar daquela forma. Não parecia ser um grito de medo, foi um grito que me assustou de tal forma, que senti todos os meus pelos arrepiando-se. Foi um grito de dor, que pareceu ser abafado por algo... Como se ela tivesse feito de tudo para reprimi-lo.

   A porta de seu quarto estava aberta, de modo que entrei desesperado, procurando-a por todos os cantos. Nada. Abri então a porta do banheiro, e lá estava ela sentada no box, o chuveiro ligado despejando água sobre seu corpo vestido ainda com suas roupas. Vê-la daquela forma chocou-me; primeiro porque ela abraçava as pernas e escondia sua cabeça nos joelhos, e segundo porque ela chorava; Chorava alto demais, de uma forma como nunca havia ouvido.

   Fiquei ali, parado em frente à porta por alguns segundos sem saber o que fazer. Não emiti nenhum som, e ela não percebeu que eu estava ali.

   Seu corpo inteiro tremia-se de tanto soluçar, os gritos eram graves e ecoavam por todo o banheiro. Ela parecia chorar por um motivo tão forte, que era impossível não gritar. E vê-la daquela forma fez com que eu chorasse também. Antes que pudesse perceber, lágrimas escapavam por meus olhos eu me aproximava aos poucos do vidro do box.

_ Ana... – disse baixo.

   Após ser ignorado, abaixei-me à sua frente, encostando em seus braços e sendo molhado pela ducha forte e quente.

_ Saia. – soluçou. – N-Não encoste em mim! P-por f-f-favor, saia – seu rosto ainda escondido em seus joelhos.

_ Meu amor, por favor me desculpe! O q-que aconteceu? E-eu sinto muito, não vá embora... Eu amo você, fique! Fique por mim, eu prometo que vou fazê-la feliz, e nunca vou te abandonar! – disse, especulando uma razão para ela chorar tanto.

   Quando dei por mim, estava totalmente dentro do box, abaixado a sua frente. Ela surpreendeu-me quando encostou sua cabeça na parede, vermelha por tanto chorar... Sua face exausta enquanto seu pranto não cessava. Vê-la chorando daquele jeito estava me deixando louco, mas eu sabia que se perguntasse o que havia acontecido, ela não responderia. Então eu a peguei em meus braços. No começo ela foi relutante, fez de tudo para que eu tirasse as mãos dela, mas ela precisava se acalmar.

   Seu corpo estava completamente encharcado, seus cabelos grudados em seu rosto. Eu a segurei em meu colo, livrando seus olhos de sua franja ensopada enquanto ela escondeu seu rosto em meu ombro, soluçando ainda.

   Eu a deitei na cama, sem me preocupar com os lençóis e cobertores. Ela simplesmente ficou ali, estagnada enquanto ainda chorava, sem dizer uma palavra. Não movia um músculo sequer, além dos que se movimentavam por seus soluços... Não sabia o que fazer, ou como fazer, mas antes de qualquer coisa, minha mãe entrou no quarto chorando também.

   Já não entendia mais nada.

_ Meu amor, eu sinto muito! – omma abraçou-a chorando, mesmo encharcada.

_ Mãe, o que aconteceu? – perguntei o que havia acontecido enquanto appa entrava pela porta. – Pai, o que aconteceu? Da pra alguém me dizer o que aconteceu por favor?

   Ele arrastou-me para fora do quarto e começou a cochichar uma explicação enrolada, até que eu o pedi para que fosse mais claro e direto.

_ Os pais de Ana faleceram nesta madrugada. Na verdade, acho que lá era quase noite, quando o carro deles capotou em uma avenida, e eles colidiram com outro carro e houve uma explosão. Foi um acidente, mas só conseguiram entrar em contato com a assistência daqui agora, por ela não ter nenhuma outra família lá. Ela vai precisar ser forte... – suspirou.

_ Explosão? – como coisas assim acontecem? Eu não podia acreditar, era inusitado demais para ser verdade. Talvez, toda a inquietação de Ana para ir embora, fosse como um pressentimento de que algo estava por acontecer.

_ Sim, sua mãe conversou com JunHee-shi, mas parece que foi um acidente feio. Não sobraram formas de identificar o corpo, mas puderam reconhecer pelas placas do automóvel... – explicou. Eu não ouvi o resto, apenas entrei no quarto, afastando minha mãe e abraçando Ana com o máximo de força que consegui ter.

   Ela chorava ainda mais em meus braços, e eu chorei com ela. Afaguei seus cabelos com o máximo de carinho, e beijei sua testa milhares de vezes, mesmo sabendo que nada naquele momento faria com que sua dor passasse.

   Omma deixou o cômodo pouco tempo depois, e eu fiquei ali, deitado com ela, acariciando-a enquanto ela chorava. Meus pais foram cuidar das coisas, e saber de mais detalhes... Foram em busca de orientação, pois nenhum deles sabia como proceder nessa situação.

   Ana ainda estava ensopada, então afastei-me um pouco, pegando um conjunto de moletom na gaveta mais próxima e o estendi em sua direção. Ela não se moveu. Não chorava mais, mas estava em estado de choque, sem expressar nenhuma reação, então eu comecei a tirar sua camiseta molhada.

   Pensei que ela fosse me afastar, pedir para que eu parasse, mas não fez nada. Tirei sua camiseta lentamente, vestindo-a com a blusa quente de moletom. Desfiz-me de seu short do pijama, e vesti-a com a calça velha, mas que parecia ser bem confortável. Sequei seus cabelos na toalha mais próxima, e a deitei, deitando-me ao seu lado.

   Ela semelhava um bebezinho indefeso, não disse uma palavra, e acabou por adormecer enquanto chorava baixinho, sua cabeça escondida em meu peito. Eu acariciei-a enquanto embalava no sono, e não sai dali mesmo quando ela dormiu. Ficaria ali, o tempo todo se ela precisasse...

ANA POV:

   Era como se mais um daqueles pesadelos ruins estivesse me prendendo. Foi difícil acreditar, mas quando ouvi a notícia, meu coração já parecia saber que algo estranho estaria por vir.

   Talvez isso explicasse o fato de estar tão inquieta nos últimos dias, e ter entrado nesse desespero de querer voltar para casa. Não sabia o que fazer.

   Eu não sabia os detalhes; não fui forte o suficiente para ouvir o resto e acabei desligando o telefone na cara de Kim JunHee, mas eu nem sequer me dava o direito da dúvida. Eu sentia que estava sozinha.

   Abri os olhos lentamente, e senti um vazio na cama. Meus olhos estavam estranhos, provavelmente inchados, pois eu mal conseguia abri-los direito. Percorri os quatro cantos do quarto, e pousei os olhos em Kiseop aos pés da cama, um prato do que parecia ser sopa em suas mãos.

_ Eu já ia acordá-la. – disse baixo – Você precisa comer, então eu trouxe pra cá, pra você não ter que sair...

_ N-não tenho fome. – murmurei baixo.

_ Coma, por favor! Coma só um pouquinho... – insistiu, seu tom preocupado.

   Eu apenas neguei com a cabeça, deitando-me novamente e encarando minhas mãos. Pude ouvi-lo deixando o recipiente em cima da cômoda, e ele rapidamente se aconchegou do meu lado, livrando meus olhos da franja e acariciando minha cicatriz. Sem querer deixei escapar outra lágrima, e ele a enxugou com o polegar. Não disse nada, talvez não houvesse o que dizer...

   Não tinha forças pra nada, e a pouca força que tinha, usava para desejar que tudo aquilo fosse um mal entendido.

   O dia todo se passou, e eu não deixei minha cama por um segundo sequer. Não conseguia comer, e conversei muito pouco. Soube que JunHee foi até a casa conversar com omma e appa. SoonHyun explicou-me algumas coisas, mas eu não conseguia prestar muita atenção, ficava apenas me lembrando dos momentos que gostaria de me lembrar sobre meus pais, e que o meu amor por eles seria eterno.

   Eu estava acostumada com perdas. Quer dizer, essa parte em minha ‘maturidade’ estava bem resolvida. Eu sei que a vida não é pra sempre, e que por mais que amemos as pessoas, elas simplesmente vão de nossas vidas e não há como prever quando isso acontecerá, mas eu não esperava perder minha família de uma maneira tão trágica.

   Cada um tem seu momento exato de partir, e levar parte de nossos corações consigo, mas não significa que eu tenha que gostar. Eu gostaria de pelo menos estar perto, ou ter dito que os amava pessoalmente, por uma ultima vez.

   Sei que esse amor de filha, tempo nenhum vai apagar do meu coração. Mas ao mesmo tempo, sei que quando precisar de um carinho de mãe, e um conselho de pai, uma lacuna ocupara meu coração. Será sempre um espaço vago, que ninguém jamais vai substituir, porque eu jamais vou conseguir amar tanto a alguém, quanto amo meus pais.

   Eu sei que sentirei falta enquanto eu viver.

   Sentia saudade, mas eu sabia que quando voltasse para casa eles estariam ali, sorrindo para mim, sorrindo com minhas conquistas. E de repente, deixaram de existir. De um dia para o outro, seus sorrisos se apagaram, e o espaço que eles ocupavam no mundo e em minha vida, tornou-se vazio.

   Não sabia ao certo como seria daqui pra frente, mas eu evitei pensar muito. Ainda estava digerindo os fatos, e me preparando psicologicamente para a Chiao Ana que precisaria me transformar. Eu teria de ser forte e agüentar firme, pois mesmo com o carinho de omma e appa, eu estava sozinha. Órfã.

   Apenas martelava sobre essas coisas enquanto Kiseop envolveu-me em um abraço. A ponta de seu queixo pousou em minha cabeça enquanto eu escondi meu rosto em seu pescoço. Não queria pensar em mais nada... Estava apenas esperando ansiosa um telefonema que desmentisse tudo aquilo, mesmo sabendo que aquilo não aconteceria.

_ Não pense um segundo sequer que você está sozinha, porque você não está... Eu vou estar aqui pra sempre, porque eu amo você! Então por favor, seja forte... – murmurou. – Não precisa ser amanhã, ou semana que vem, mas só me prometa que vai voltar a sorrir... – pediu.  


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Notas finais do capítulo

Então, foi isso que eu aprontei essa semana... Quero ja antecipar que os dias de drama estão por acabar... logo logo teremos um capítulo tão, ou quase tão engraçado quanto o capítulo do absorvente (que eu acredito ser o melhor ♥ meu preferido kkk) isso é, se eu estiver tão inspirada quando aquele dia... Mas ja tenho algumas ideias... Espero que ninguem me odeie por essa morte tão inesperada, mas ela ja estava nos meus planos a algum tempo! Enfim, vejo vocês :D:D:D



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