Através da Tua Alma eu Posso Ver escrita por they call me hell


Capítulo 4
[S01E04] Selando destinos.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/216572/chapter/4

 

 

Desde que presenciara o ressurgimento da Miko Kikyou aquele dia na floresta, Kagome voltara às pressas para a sua Era e jurara a si mesma nunca mais retornar a Sengoku Jidai. Sentia uma imensa falta dos amigos Miroku, Shippou e Sango, mas a memória de Inuyasha lhe causava um ódio imenso.

Ela estivera dedicando-se mais à escola e seu relacionamento confuso com Houjo estava até mesmo criando forma, considerando que agora ela estava se tornando uma aluna secundarista e ele um rapaz formado. Não que o hanyou estivesse completamente fora do seu coração, mas ela mudara suas prioridades desde o que lhe acontecera.

Assim, passaram-se meses sem que ela e Inuyasha sequer tentassem cruzar a barreira do Poço Come-Ossos. Até aquele dia, aliás.

Movida pela curiosidade, ela fora até o Templo Higurashi com passos rápidos, sentindo aquela já conhecida sensação que lhe causava a presença de um youkai. Sentia medo, principalmente, porque sabia que o hanyou não viria jamais lhe salvar a vida, independente do que acontecesse.

Ao entrar no templo, a garota não viu nada exceto a escuridão silenciosa e confortadora, assim, resolvendo saltar para dentro do poço sagrado. Não que planejasse ir até a vila; Apenas gostaria de descobrir o que seria aquele estranho sentimento de modo tão preocupante em sua mente.

Caiu desconfortavelmente no fundo do poço sem sequer cruzar a barreira, amedrontando-se. Escavara porções de terra, gritara, chorara, mas nada modificara o fato de que continuava ali vivendo o seu pior pesadelo: Estar impossibilitada de ir à Sengoku Jidai.

Kagome sentia-se segura até aquele momento crendo que era forte e não atravessava o poço por ter excessivo autocontrole, mas no momento em que se tocara de que sem a Shikon no Tama não poderia nunca mais atravessar a barreira, o mundo caía aos poucos diante de si. Era como se não tivesse percebido até o presente instante que estava findada a permanecer em sua Era pelo resto dos dias. Talvez aquela tivesse sido a estranha sensação, mas por que só agora?

Do outro lado do poço, Inuyasha jazia sentado no chão pútrido do interior do monumento tendo a cabeça apoiada pelas mãos de um jeito completamente infantil. Já não via Kagome havia meses e aquilo corroia seu coração de um modo que não conseguia compreender. Podia sentir o cheiro dela invadindo cada milímetro do lugar e sorriu para si mesmo ao imaginar que ela estivesse ali no poço do Templo Higurashi.

Tocou a terra como se pudesse sentir a mão dela a fazer o mesmo do outro lado da barreira, julgando até mesmo poder ouvir a sua voz. Como era estúpido. Estragara tudo tendo ressuscitado Kikyou.

Não que considerasse isso ruim, pelo contrário – era uma das melhores coisas que fizera na vida. Porém, seus amigos não viam isso do mesmo modo e aquilo causara diversas intrigas, separando-os.

Era maravilhoso poder acordar nos braços de Kikyou todos os dias, mas ter visto Kagome partir para a sua Era fora um tormento. Tristeza ainda maior fora no momento em que tivera que assistir Miroku e Shippou acompanhando Kirara e Sango de volta à vila dos Taijiya, sem sequer darem adeus.

Ignorou por completo os pensamentos que estava tendo com bastante freqüência e saiu do poço com um único salto, percorrendo todo o caminho de volta a vila. Diante do leito do rio pôde encontrar Kikyou com uma expressão magoada, o que lhe atraiu a atenção. Ela lhe olhou nos olhos dourados ao ver que se aproximava rapidamente e esboçou um sorriso fraco, lhe arrepiando o corpo.

— Eu posso sentir o cheiro do Poço Come-Ossos em você, Inuyasha. — Riu-se atormentada. — Estaria então arrependido da sua decisão? Já não vejo mais o mesmo brilho nos seus olhos.

— Feh. Não diga bobagens, Kikyou. — Murmurou gentilmente, aninhando-se entre os braços dela. — Só... Só sinto falta dos meus amigos, às vezes.

— Agradeça-os em alma pelo favor que fizeram a nós. Eles estão bem, independente de onde estejam.

Talvez sequer estejam sentindo a minha falta...

 

* * *

No dia seguinte, Inuyasha fora chamado às pressas para deter um youkai na vila vizinha a alguns quilômetros dali. Era exageradamente estranho vê-lo tão humanizado, mas desde que Kikyou ressuscitara, ela trouxera o melhor de seu coração à tona. Isso não era algo que se pudesse negar.

Então naquela tarde era possível ver a maravilhosa Miko caminhando entre as bordas da floresta enquanto a neve começava a cair, formando um cenário admirável. A beleza dela era capaz de tornar qualquer paisagem digna dos céus e Inuyasha parecia apreciar isso com todo o amor que havia em seu coração.

Ainda assim, o motivo que trouxera Kikyou até ali não era algo tão simples. A presença de Naraku nos arredores era notável, o que a colocara em estado de alerta. De repente lhe parecia claro que ele enviara um youkai poderoso à vila vizinha apenas para que Inuyasha estivesse distante naquele momento, tornando-o oportuno para quaisquer que fossem os seus planos.

— Naraku. — Kikyou chamou-lhe o nome ao sentar-se na grama forrada de branco.

— Você sempre me surpreende. — Ele riu com o sarcasmo digno de seu usual tom de voz.

— O que lhe traz aqui?

— Você. — Kikyou expressou desentendimento diante da frase. — O coração de Onigumo não deixou de amar você. Está me sufocando.

— Eu não sou tola, Naraku.

— Obviamente que não... Jamais ousaria pensar nisso. Pelo contrário, é a mais forte das mulheres na face dessa terra atormentada.

Kikyou sentiu o corpo se aquecer diante de tal elogio e um sorriso vaidoso lhe escapou pela boca. Logo não se sentia mais intimidada ou desprotegida, era apenas uma conversa sincera. Por mais que Naraku fosse cruel e desonesto, havia algo naquela força excepcional que atraía a Miko como a um ímã, principalmente ao lembrar-se do coração enlouquecidamente apaixonado do ladrão Onigumo.

— Você seria preciosa ao meu lado. Não se acha reduzida demais ao lado de um mero hanyou?

— Inuyasha é muito forte mesmo sendo um hanyou, você sabe disso por ser este o seu caso também. Além disso, há bondade em seu coração e isso é apreciável.

— Mais apreciável do que a vida que eu poderia lhe dar? Veja nos meus olhos, Kikyou. Veja no coração de Onigumo que bate em mim. — As palavras certeiras do poderoso youkai faziam cada vez mais efeito na garota. — Inuyasha é capaz de ser facilmente enganado, como você pode ver. Deixou-te aqui, frágil diante de alguém que poderia lhe fazer mal.

— Não estou frágil, Naraku. — Empunhou rapidamente o arco e flecha com uma precisão assustadora. — Nós dois poderíamos estar aniquilados caso o outro quisesse.

— Isso é muito interessante de se pensar, Kikyou. Até porque eu já lhe disse o motivo de tanto querer te ver bem... Mas cá entre nós, qual seria o seu?

Kikyou fora pega de surpresa em seu próprio jogo, caindo em si. Por que não atacara Naraku, aliás? Estava se permitindo vulneravelmente a manter aquela conversa além do que seria aconselhável, lhe fazendo entender de uma vez por todas que fazia sentido o que o youkai estava a lhe dizer.

Por que contentar-se com uma vida simples de Miko em uma vila tão fragilizada ao lado de um hanyou que demonstrara preferir seus amigos humanos a ela? Estava ali o homem que poderia lhe transformar em uma rainha, que poderia protegê-la como ela ansiava.

Lembrou-se de como Inuyasha parecia tão incrível há cinqüenta anos e riu de si mesma. Era óbvio que ele mudara depois de todo esse tempo e aquilo já não lhe parecia tão deslumbrante quanto imaginara ser. A idéia de viver ao lado de Inuyasha sempre fora o seu maior sonho, mas na prática não aparentava ser tudo aquilo que desejava para si.

Na época, ela era uma Miko fiel à Tama que mesmo humana jamais deveria demonstrar sentimentos, medos, sensações. Era viver naquela situação que a fazia ser tão parecida com Inuyasha e tão apaixonada, claro. Agora as coisas eram diferentes e ela, uma mulher livre e mais viva do que nunca.

— E o que você espera de mim, afinal?

— Eu virei buscá-la, Kikyou. Você saberá onde me encontrar.

Naraku desaparecera tão repentinamente quanto havia surgido, deixando Kikyou incerta sobre suas atitudes. Ela considerou, porém, que se havia desejado escutá-lo, era naquele youkai que deveria depositar os anseios do seu coração renovado. Até mesmo porque se desejasse viver eternamente feliz com Inuyasha, jamais teria ido até ali para se encontrar com Naraku.

A imagem do hanyou lhe veio à cabeça, mas já não parecia tão doce quanto antes daquela conversa. Talvez estivesse cometendo um grande erro, mas estava disposta a tentar sem temer por nada.

Enquanto Kikyou prendia-se aos milhões de pensamentos conturbados que iam e viam diante dos seus olhos, Inuyasha voltava para a vila após uma luta que havia sido simples até demais. Estava se sentindo entediado há algum tempo, costumava brincar, já que parecia não haver mais youkais fortes o suficiente para confrontá-lo de igual para igual.

Ao encontrar Kikyou no alto da escadaria que levava ao que um dia fora o seu túmulo, ele apenas tratou de acelerar seus passos em sua direção. Não importava o quão ruim pudessem ter sido os momentos que passara, sempre haveria a sua amada o esperando no final do dia e isso era até muito mais do que ele precisava para ser feliz.

Esqueceu por um momento dos youkais, do poço, dos amigos e da Shikon no Tama, abraçando-lhe o corpo perfeitamente esculpido e depositando um beijo amoroso em sua testa, mas não percebeu correspondência por parte dela. Perguntou-se em silêncio se ainda estaria irritada com ele por saber que estivera no poço, mas isso não fazia sentido algum.

Kikyou não era de se aborrecer com as coisas fora de ordem ou guardar mágoas, não essa nova Kikyou. Ela era objetiva, carinhosa e mais humana que jamais fora, talvez por ter visto a vida lhe escapar pelas mãos dolorosamente.

Ele apenas apanhou a sua mão de um modo carregado de carinho e brincou com a ponta dos seus dedos, beijando-os um a um. A Miko entrelaçou os dedos de ambos com doçura e sentaram-se ali nos degraus forrados de neve enquanto o fraco sol sumia no horizonte.

Os dois desejavam falar infinitas palavras que jaziam inquietas em seus corações, mas lhes faltava coragem. Inuyasha desejava mais do que nunca trazer os amigos de volta a vila e Kikyou agora sentia-se muito atraída a idéia de unir-se ao esplendido amor do coração de Onigumo que batia no peito do poderoso youkai Naraku. Por mais que nada fosse dito, todas as decisões já haviam sido tomadas e o fato de terem guardado-as apenas para si causaria mais problemas do que era possível supor.

O que acontecera com aquele amor puro que jamais teria permitido que ferissem um ao outro? Talvez a Shikon no Tama jamais pudesse consentir para que estivessem em paz.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!