Através da Tua Alma eu Posso Ver escrita por they call me hell


Capítulo 23
[S02E13] Vivendo o irreal.




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* * *

Meses haviam se passado desde que Rin e Sesshoumaru, Kagome e Inuyasha haviam se entendido melhor. As coisas agora fluíam entre eles de modo encantador, permitindo que vivessem momentos magníficos, cada casal ao seu modo e em sua respectiva realidade.

Naquela manhã, porém, Kagome acordara com um sentimento de vazio em seu coração. A Shikon no Tama estava muito bem protegida, ela e o amado estavam finalmente juntos sem preocupações maiores, mas havia algo que magoava muito seu coração: a distância da família.

— Inuyasha? — Virou-se para olhá-lo deitado ali ao seu lado, sussurrando baixinho.

— Eh. — Sua testa enrugou-se e ele lutou para abrir os olhos, embriagado de sono. — Está tudo bem, Kagome?

— Sim. Quer dizer, eu acho que sim.

— Conte-me. — Limitou-se a dizer, beijando-a brevemente.

— Eu... — Parou por um momento, procurando reunir as melhores palavras para expressar-se sem que aquilo soasse absurdo. — Eu quero tentar atravessar a barreira do poço mais uma vez.

— Hai. — Ele sorriu para ela, a abraçando. — Eu a acompanharei.

E assim lutaram por mais alguns instantes com o sono até levantarem-se por completo. A Miko não apanhou seu arco nem sequer as flechas, demonstrando um tipo de contentamento pelo simples fato de tentar. Sabia que aquilo não daria certo, assim como na última vez em que tentara, mas apegar-se àquela esperança fazia bem ao seu coração.

Durante o caminho a garota falara compulsivamente sobre as tantas coisas da sua Era, fazendo com que o hanyou demonstrasse grande interessante no diálogo. Na verdade, ele estava muito preocupado com o que aquela falha causaria na amada. Kagome passara um grande período de tempo poupando-se daquele tipo de dor, mas agora nada iria fazê-la desistir.

Assim, quando chegaram, ele concordou em esperá-la calmamente sentado na borda do Poço Come-Ossos, a fim de que ela se sentisse mais à vontade com a jóia para tentar atravessar a barreira para a outra Era.

Ao saltar para dentro do monumento, mesmo tendo o coração transbordando de esperança a garota frustrou-se. Tocou o chão do poço com força esbarrando em ossos de youkais diversos, mas não abalou-se. Inuyasha, forçando-se para não intrometer naquele momento, escutou o baque seco dos pés da garota tocando o solo e logo seu coração temeu por ela.

Kagome começou a bater com as mãos fracas no solo criando pequenos ferimentos em si, sentindo as lágrimas caírem pelo seu rosto. Por que não conseguia atravessar para a sua Era? Era doloroso demais. Tudo aquilo fizera com que de repente ela descarregasse sua dor com gritos de desespero, tornando aquele momento caótico.

Inuyasha, não agüentando mais ter que assistir tudo aquilo sem fazer nada, apoiou a mão direita sobre a borda do monumento e saltou. Naquele mesmo instante a Miko removia a jóia de quatro almas do pescoço, fazendo com que a mesma reluzisse de modo estupendo, abrindo a barreira para ambos.

* * *

Kagome abriu os olhos sem conseguir entender direito o que ocorrera. Secou as lágrimas que atrapalhavam sua visão e fitou Inuyasha, que naquela altura estava com uma expressão atônita. Olhando melhor ao seu redor ela notou que já não havia mais céu sobre suas cabeças, mas sim o usual teto forrado do Templo Higurashi.

O hanyou sorriu para ela em reconforto e a pegou no colo cuidadosamente, subindo para fora do poço com a garota nos braços. Ao colocá-la no chão pôde sentir como seu coração pulsava acelerado, certamente movido pelo êxtase de finalmente ter conseguido o que tanto almejava.

A Miko não esperou mais do que alguns segundos no lugar, posicionando nos fechos dos dois lados da porta as mãos que tremiam tanto. Respirou fundo uma última vez como se sentisse dificuldade em estar passando por tudo aquilo outra vez, mas as abriu logo em seguida deparando-se com uma forte luz rosada que não lhe permitia ver nada.

A luz dissipou-se aos poucos, revelando aos olhos de ambos um lugar totalmente igual ao que haviam ido da última vez. A casa, as árvores, a rua... Tudo permanecia exatamente igual. Ao sair dali, Kagome também notou que ela não trajava mais suas usuais vestimentas de Miko, mas sim o antigo uniforme escolar branco e verde.

Estranhou tudo aqui, obviamente, mas não importava no momento. Assim, fechou as portas atrás de si virando-se a tempo para ver a mãe e o irmão que corriam apressados para fora da casa, tendo ouvido o barulho e desejando ver Kagome.

Mais lágrimas surgiram nos seus olhos quando eles a abraçavam demoradamente, enquanto palavras doces eram pronunciadas. Quando tudo aquilo acabou-se apenas adentraram na casa, tomando à mesa um delicioso chá. Souta perguntara por que Kagome demorara duas semanas para voltar à casa, algo que ela não compreendeu, mas apenas desculpou-se brevemente sem querer pensar em tudo aquilo.

* * *

— Feliz aniversário, oneesan! — Souta gritou ao ver a irmã chegando à cozinha.

Dois dias já haviam se passado ali e a Shikon no Tama começara a emanar uma estranha aura que Kagome nunca havia visto em todos esses anos. Talvez isso indicasse que já era hora de partir de volta para a Sengoku Jidai, mas pelo menos até o final daquele dia especial ela havia de ficar.

Aniversário. A Miko já nem se lembrara mais do significado desse termo. Em meio a tantas guerras, preocupações e situações diferentes, sequer havia pensado em seus aniversários nos últimos anos. Celebrar esse tipo de acontecimento não fazia parte do cotidiano dos aldeões, por mais que fossem um povo alegre e festivo.

Assim, sorriu ao ver a mãe trazendo um lindo bolo coberto de velinhas. Dezenove, ela contou, a idade que teria feito no ano em que a barreira do Poço Come-Ossos se fechara para ela. Aquilo tudo soava muito estranho, deveria dizer, porém mais uma vez evitara pensar em tudo aquilo. Sequer havia se olhado no espelho ou em reflexos, evitando assustar-se ainda mais.

Tal como ela, Inuyasha estava confuso sobre tudo que ocorria. Kagome estava se saindo muito bem diante dos acontecimentos, mas isso não os tornava mais ‘normais’. Ela voltara a ter a aparência de seus dezenove anos, tal como as velas sobre o bolo acusavam, mas na verdade não estava ela mais velha? Não que a diferença fosse gigantesca, mas mesmo assim era surpreendente.

De todo modo, haviam passado momentos lindos naqueles dois dias em que estiveram naquela Era. As coisas impressionavam ao hanyou conforme ele as observava e a garota sentia-se muito feliz por ter conseguido rever a família mais uma vez. Haviam sido muitos anos de distância na Sengoku Jidai, mas ela já não sentia mais o vazio no peito por ter abandonado toda a sua vida usual.

Por mais que as coisas estivessem ocorrendo de modo tão estranho, estavam prestes a partir com o coração leve. Kagome não dissera nada à família sobre essas circunstâncias misteriosas que cercavam sua estadia ali, crendo que a família já se preocupava demais com ela.

Logo todos estavam em frente ao Templo Higurashi despedindo-se mais uma vez. O avô de Kagome, que estava passando por uma leve gripe a desejara boa sorte de seu confortável leito algumas horas antes, mas tudo estava bem. A mãe, como sempre, dava-lhe a mochila carregada de bons itens e a esquecida bicicleta, coisas das quais a Miko também sentira muita falta apesar de ter se acostumado bem aos modos da outra Era.

— Cuide-se, oneesan. — O irmão disse ao abraçá-la.

— Você também. — Ela sorriu. — E Souta, seja um bom companheiro. Sou uma Miko agora, devo me ausentar por grandes períodos de tempo.

— Você está mesmo muito mais madura, Kagome. — A mãe riu, dando-lhe seu abraço confortante. — Não se preocupe, tudo está indo muito bem por aqui.

— Eu sei. As coisas estão indo muito bem na Sengoku Jidai também, já cessaram-se as violentas lutas, instaurando-se certa paz. — Riu. — Eu amo vocês.

— Nós também te amamos, querida.

Inuyasha tocou o ombro da amada em sinal protetor, indicando-lhe que não era prudente estender ainda mais seu adeus. Estava tudo bem, teria outras oportunidades para voltar e a questão em que a Shikon no Tama se manifestava o estava assustando de certo modo.

Ambos abriram as portas do templo e ao entrarem fitaram mais uma vez a adorável família de Kagome que acenava contente. Kagome deixou que as lágrimas rolassem através dos seus olhos pelo resto do rosto alegre, enquanto a luz rosada lhe cegava a visão gradativamente.

Ao dissipar-se, a luz trouxera consigo um lugar muito diferente do que Kagome estivera vendo. Inuyasha respirou pesadamente ao reparar que de repente as ruas, a casa e tudo ao redor deles estava modificado do que costumara ser.

O coração da garota pesou de modo angustiante e ela se viu novamente trajando suas roupas branca e vermelha de Miko. O que estava acontecendo ali? Tampouco teve tempo para considerar aquilo, correndo a passos largos em direção àquela que parecia um dia ter sido a sua casa, berrando a plenos pulmões pelo nome da mãe e do irmão, enquanto seu rosto encharcava-se de lágrimas numerosas.

Sem se preocupar com o certo ou o errado, Kagome apenas abriu a porta com força, notando que um Inuyasha atordoado vinha atrás de si. O que a garota vira ao observar melhor fora um cômodo modificado, aparentemente com tecnologias mais avançadas. Nele, um senhor de idade muito acelerada jazia tendo ao lado três crianças, provavelmente seus netos.

— Oneesan, é você? — O senhor pronunciou em baixo tom ao notá-la ali. Seu queixo caíra em surpresa e logo ele compartilhava de suas lágrimas, vindo devagar em sua direção.

As crianças, que antes estiveram a brincar com ele, agora dissipavam-se pela casa, correndo como sempre fazem. Algumas vozes calmas podiam ser ouvidas no andar superior, mas a garota não reconhecia nenhuma delas. Seria mesmo Souta que estava ali diante dela, tão envelhecido? Não teve dúvidas ao vê-lo de perto.

— Sou eu, Souta. — Ela o abraçou demoradamente. — Kagome-chan.

— Passou-se tanto tempo, oneesan.

— O poço não me permitira mais voltar, perdoe-me.

— Mama dissera isso diversas vezes. — Ele riu em meio as lágrimas. — Mesmo assim, não escondia a esperança de te ver de novo.

— E ela...? — Sua expressão esfriou repentinamente, sentindo que a tristeza a preenchia por completo.

— Hai. Jiiji se foi pouco tempo após você partir pela última vez. Sua gripe se tornara uma forte pneumonia e já estava muito velho para suportá-la bem. — Souta a olhava nos olhos sentindo seu desespero. — Já Mama faz alguns anos, teve um descanso tranqüilo.

— Me perdoe por não estar aqui, Souta. — A Miko soluçava, tendo Inuyasha a segurá-la para que não desabasse ao chão.

— Como você está tão jovem, oneesan? — Souta mudou o rumo da conversa, tentando fazê-la melhor. — Eu passei de você.

— Essa é uma longa história. — Ela se permitiu rir momentaneamente pela piada dele.

Assim, sentindo-se um pouco melhor, Kagome compartilhara com o irmão tudo o que havia lhe ocorrido nos últimos anos. As guerras, as vitórias, a morte dos amigos, o selamento e como a vila expandira-se tanto contando agora com a ajuda dela e de Inuyasha.

Souta parecia maravilhado com tudo aquilo, assim como fazia nos tempos de criança. A verdade era que, mesmo com a ausência dela, aquela garota era sua grande admiração. O modo como a irmã esforçava-se e possuía uma tarefa tão importante na outra Era sempre lhe soara como algo maravilhoso. Infelizmente esse algo a havia levado para tão longe.

Infelizmente a hora de ir tornava-se clara, visto que a Shikon no Tama transmitia-se de modo impreciso. Kagome agora sabia que provavelmente jamais veria o irmão de novo, mas evitara pensar nisso por hora. Assim, apenas fora até a entrada do Templo Higurashi, sentindo que seu corpo doía de modo absurdo.

Souta os acompanhara o suficiente para poder despedir-se deles diante da entrada do poço. Estava velho, cansado, mas aquilo lhe valeria o esforço.

— Eu te amo muito, oneesan. — Ele sorriu para ela.

— Eu também te amo muito, Souta. Sempre.

— Não se preocupe, estamos todos muito orgulhosos de você. Nos encontraremos algum dia. — Ele acenou para ela.

— É ter a certeza disso que me dá forças todos os dias.

— Imagino. — Ele riu, levando-a a fazer o mesmo. — Sabe, seu nome esteve nos meus livros de história da escola. Gostaria de os ter mostrado à você.

— Mesmo? — Ela sorriu diante de tal cena. — Você é a maravilhosa Kagome Higurashi, a mulher que levou paz à Sengoku Jidai. Ainda que os livros não saibam dizer como. Pensando bem, acho que vou escrever algo assim agora.

Em meio aos risos e lágrimas Kagome saltou para dentro do poço, sentindo que a barreira se abria para ela e Inuyasha. Logo que chegara ao outro lado, sentira que nunca mais conseguiria voltar à sua Era.

Tal sentimento afetou-lhe o coração de modo intenso e ali ela permaneceu durante horas a chorar compulsivamente, tendo o colo de Inuyasha e seu carinho a acompanhá-la.


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