Através da Tua Alma eu Posso Ver escrita por they call me hell


Capítulo 2
[S01E02] A luz da Shikon.




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Naquela manhã Inuyasha atravessara a barreira do Poço Come-Ossos e ficara observando Kagome escondido na copa de uma árvore. Ela fora até o templo e ali passara um tempo sem fim a fitar o poço, não pronunciando palavra alguma e aquecendo o coração do hanyou com um tipo de esperança. Talvez ela sentisse a falta deles e estivesse esperando que viessem buscá-la, afinal, já passara uma longa semana e o maior período de sua ausência fora de três dias. Inuyasha precisava de que ela quisesse voltar por vontade própria, assim sua detectora de fragmentos estaria pronta para outra longa jornada.

Do outro lado do poço, Shippou, Sango e Miroku faziam o possível para convencer o amigo de trazê-la de volta, por mais que nem imaginassem o motivo que a tivesse feito partir. Ela não dissera adeus, isso doía muito.

— Inuyasha-baka, por que não vai buscar a Kagome-chan? — Shippou choramingava desiludido ao pé da fogueira. Estava muito frio ali e se sentia sozinho sem o abraço aquecido da amiga para fazê-lo dormir. Era uma criança, de todo modo.

— Concordo com o Shippou. — Sango emendou. — Estou preocupada com a Kagome-chan, sequer veio se despedir de nós...

— É visível que algo está errado. Kagome-sama jamais permaneceria afastada por tanto tempo assim, seria isso obra de Naraku sem termos percebido?

— Feh, não seja besta Miroku. Que motivo Naraku teria para levar Kagome, se não nos preparar uma armadilha? Ele teria nos feito perceber isso se a tivesse levado.

Todos se calaram de repente, até mesmo pela idéia de Inuyasha fazer muito sentido. Mas se não fora obra de Naraku, o que teria sido?

— Talvez outros youkais maus tenham pego a Kagome-chan... KAGOME! Não, não, não. Sinto falta dela, Inuyasha. — Shippou continuou a conversa, recebendo um soco no topo da cabeça. — Ai, Inuyasha! Pare de ser mal comigo!

— Sem ela por aqui, não há nada que pare o Inuyasha. — Sango revirou os olhos em visível desprezo pela cena infantil que se desenrolava à sua frente.

— Talvez Kouga a tenha pego, não? — Miroku disse para checar o efeito da frase e confirmar suas suspeitas, o que prontamente aconteceu.

— Aquele lobo maldito não pôs suas mãos na Kagome, chega!

— Por que você ficou tão irritado de repente, Inuyasha?

— Não seja estúpida, Sango. Só estou cansado dessas perguntas todas sobre youkais a terem levado. É tão difícil crer que ela simplesmente foi embora?

Não, Kagome-sama jamais teria ido embora de repente. Inuyasha está escondendo alguma coisa.

— Acho que deveríamos ir descansar, não? — Miroku propôs contrariado, levando todos a concordarem consigo.

Então colchonetes começaram a serem arrumados e a fogueira foi checada por Sango mais uma vez, garantindo que o fogo não cessasse durante a noite que ameaçava esfriar ainda mais. Com um sorriso malévolo no rosto, Miroku a acariciou maliciosamente, recebendo um violento tapa no rosto seguido de diversos “BAKA!” berrados a plenos pulmões. A dor valia à pena, ele pensava ao sorrir.

Shippou revirava os olhos diante da estupidez da cena que presenciava e Inuyasha fingia convincentemente que dormia, algo que apenas Miroku percebera. Estava tudo indo pelos conformes. Essa noite ele descobriria o motivo da ausência da amiga e o que o hanyou escondia por trás das máscaras.

Do outro lado do poço, Kagome preparava-se para o longo dia que viria em seguida. Finalmente faria a prova que garantiria ou não sua ida para o colegial, prova esta que lhe fizera passar uma longa semana trancada no quarto apenas estudando, já que perdera muito conteúdo relevante em suas idas à Sengoku Jidai.

O dia seguinte também marcaria a sua volta para lá, lamentou infeliz. É claro que sentia falta de todos, mas sua vida estava tão bagunçada desde então... Fora muito bom ter uma semana para descansar e colocar as coisas em ordem. Decidira que passaria a tratar Inuyasha como um mero colega, supondo que assim as coisas se ajeitariam entre eles e tudo ficaria bem. Na teoria era muito simples, mas ela já começava a duvidar do sucesso da prática antes mesmo de iniciá-la.

Guardou o último livro na mochila amarela e deixou os sapatos alinhados próximo à cadeira onde descansava o uniforme escolar, permitindo que os pensamentos fossem embora de uma vez. Ao deitar em sua cama uma lembrança boba lhe veio à mente e se pôs a rir da imagem do ingênuo Houjo lhe convidando para ir ao cinema. Seria divertido até, se não sentisse um peso no coração simplesmente por considerar aquilo. Era errado dar esperanças ao garoto quando sentia apenas simpatia por ele.

Logo Kouga também chegou aos seus pensamentos trazendo atado a ele as lembranças de Inuyasha. Kagome se esforçou para voltar a pensar em Kouga, reconfortando-se com a imagem carinhosa do amigo. Essa era uma das coisas que precisaria fazer com urgência ao atravessar o poço: Visitar os lobos youkai. Até mesmo o modo como os companheiros de Kouga a chamavam de ‘irmã’, lhe parecia extremamente doce agora.

Estava mesmo sentindo saudades da Sengoku Jidai e não poderia mais adiar a sua volta, por mais que tivesse medo de como seriam as coisas depois disso. Seria alguém muito feliz, já sabia, mas antes a vida precisaria lhe ensinar a ser forte.

Inuyasha levantou-se devagar olhando para os lados desconfiado de que alguém pudesse estar notando a sua saída, algo que não aconteceu. Distanciou-se do local que haviam escolhido para dormir naquela noite e escolheu uma alta árvore para sentar-se, observando o modo como a lua irradiava sua luz pela extensão do horizonte.

Alguns minutos após, Miroku levantava-se e seguia o rumo por onde espiara o amigo partir, até chegar próximo de onde ele estava. Inuyasha murmurava sozinho palavras que não eram possíveis de entender devido ao baixo volume de sua voz, o que obrigou o monge a aproximar-se cada vez mais perigosamente.

Inuyasha calou-se de súbito e Miroku estremeceu como que de modo instantâneo, julgando ter sido descoberto. Mas não... Uma figura pequena de formas esvoaçantes pôde ser vista ao longe chegando cada vez mais perto, o que levou o meio-youkai a apanhar a bainha da Tessaiga levado por seus extintos.

A pequena forma revelou ser Kikyou, afinal, causando espanto em Miroku que passou a esperar por uma nova batalha incessante. Para seu espanto Inuyasha largara a Tessaiga e descera da árvore se aproximando da garota de barro que o abraçou carinhosamente. O houshi não podia acreditar no que estava vendo; O que dera na cabeça do hanyou pra se arriscar desse jeito? Mas vá, talvez fosse o modo dele de usar a fraqueza de Kikyou para derrotá-la.

Quando o casal compartilhou um beijo apaixonado Miroku logo entendeu tudo que havia acontecido entre Inuyasha e Kagome. Ela havia visto aquilo também, não haviam dúvidas. Mas seu amigo teria mesmo sentimentos pela falecida Miko? Não queria acreditar nisso, porém, sabia que Kagome havia apostado todas as suas cartas naquela hipótese. Que Inuyasha saiba o que está fazendo, Miroku desejou em seu íntimo.

Pobre Kagome-sama, estavam por vir tempos muito difíceis.

 

* * *

 

Ao acordar naquele dia, Kagome sentira como se sua alma houvesse passado por uma renovação. Estivera disposta e sorridente durante toda a manhã e fizera a prova escolar com uma facilidade que até a surpreendera, recebendo um resultado positivo que a tornara provavelmente a garota mais feliz do mundo naquele momento.

À volta para casa fora alegre, coberta pelo radiante brilho do sol que parecia querer tornar tudo mais bonito do que já estava. Kagome correra pela maior parte do caminho, desejando chegar em casa o mais rápido possível, fato que conseguiu realizar com sucesso.

Praticamente não comera e apenas jogara algumas coisas dentro da mochila antes de desaparecer dentro do poço no Templo Higurashi, deixando palavras doces e promessas à família antes de realmente atravessar a barreira para a Sengoku Jidai.

Se o céu estava muito bonito em sua Era, não havia adjetivos que pudessem dizer o quão maravilhoso ele estava ali à sua frente. Era tão bom estar ali agora, ela concluiu, apanhando a bicicleta e começando a percorrer a breve trilha até a vila. Neste meio tempo a expectativa corroera seu coração, isso até que pudesse avistar os primeiros aldeões no caminho, que lhe acenavam com respeito e admiração.

— KAGOME! — Shippou gritara ao vê-la se aproximando com velocidade.

Logo todos cercavam a garota demonstrando felicidade pela sua chegada e preocupação pela sua prolongada ausência, enchendo-a de perguntas que eram respondidas do modo mais simples possível, refugiando o coração magoado de Kagome. Até mesmo Inuyasha aparecera ali e a surpreendera com um abraço amigável, lhe dizendo que era bom revê-la.

Inuyasha está... Diferente. Será que se arrependeu pelo que fez?

— Venha Kagome, você precisa comer alguma coisa. — Kaede a chamara com gentileza na tentativa de acalmar todo aquele alvoroço. — Teremos muito tempo para conversar.

 

Na verdade, o dia passara mais rápido do que ela imaginara. Estivera auxiliando os camponeses com os afazeres da vila, sempre recebendo o calor do olhar das crianças e o agradecimento sincero de todos que estavam à sua volta. Naquele dia estava muito mais centrada do que costumava estar.

Ao cair da noite, Kagome sentara-se ao pé de uma árvore com a Shikon no Tama em mãos. O brilho suave que dela surgia lhe encantava os olhos e logo se pôs a pensar no real significado daquela jóia e em como ela afetava tanto a vida de todos que cruzavam o seu caminho.

Sango aproximou-se dela dizendo que Miroku, Shippou e Inuyasha descansavam do longo dia de treinamento que haviam tido com Kirara, prática que agora estava se tornando cada vez mais freqüente. Ambas olhavam o horizonte e tinham seus pensamentos à flor da pele, mas mesmo sabendo que podiam contar uma com a outra, preferiam manter-se em silêncio naquele momento.

— Falta apenas uma pequena parte da Shikon agora. — Kagome rompeu o incômodo vazio que se instaurara entre elas.

— Tenho medo do que venha a acontecer agora.

— Eh?

— O que será de nós quando tudo tiver acabado? — Sango olhou para a amiga com ternura. — Voltaremos as nossas vidas solitárias, estando eternamente marcados pelos horrores dessa guerra.

Kagome apenas acenou a cabeça em sinal de concordância. Nunca pensara naquilo, na verdade, mas fazia um sentido maior do que supunha. Sentia medo de que se separassem ao completar a jóia, de que voltasse para a sua Era e jamais visse a Sengoku Jidai e todos os amigos que ali fizera. Até mesmo sentia medo de perder seus amigos na batalha com Naraku que seria inevitável.

A garota abraçou Sango demoradamente, num primeiro momento lhe causando surpresa, mas logo em seguida sendo reconfortada também. Em tempos tão difíceis era muito complicado não sentir-se só, elas sabiam muito bem. Logo Kagome pensou no que seria de Sango; A amiga perdera toda a família e sua vila fora dizimada... Como uma jóia podia fazer tanto mal?

Após um tempo, ambas se levantaram e trataram de ir até a cabana de Kaede, onde causaram espanto em todos os presentes pelo modo rígido que estavam se comportando. Por um momento Inuyasha temeu que Kagome tivesse contado à Sango tudo o que ocorrera na última vez em que haviam se visto, mas aquilo não condizia com uma expressão tão triste em seu rosto, então abandonara a suspeita.

Ao deitar-se em seu colchonete de costume, Shippou viera deitar-se com Kagome, dando-lhe um beijo carinhoso no topo da testa. Mesmo sem abrir os olhos ou dizer algo ela sorriu, contente por saber que não estava só.

 

* * *

 

Kagome sentira a presença da Shikon no Tama aproximando-se no dia seguinte, o que levou todos a seguirem para a direção da floresta onde seria menos possível acontecerem danos à vila. Kagome mantinha o espírito tranqüilo naquele momento, por mais estranho que parecesse. Talvez por que a presença de Naraku não pudesse ser sentida em lugar algum ou talvez porque ter os amigos por perto fosse simplesmente reconfortante.

O youkai tinha uma aparência difícil de definir, lembrando Kagome dos monstros que temia na infância, pensamento este que lhe deu ainda mais força para seguir em frente. Era só mais um obstáculo dentre todos aqueles pelos quais eles haviam passado. Seriam vitoriosos, afinal.

Inuyasha tampouco esperara que algo ocorresse, partindo para cima do youkai que se desviara do ataque com mais precisão do que se poderia supor, deixando o hanyou surpreso. O nervosismo podia ser lido no seu olhar, mas Inuyasha usava um sorriso malicioso na face como se a batalha já estivesse ganha.

A atenção de Kagome foi atraída para o youkai que se dividia em três réplicas idênticas, cada uma portando um fragmento da Shikon no Tama que ela ainda não conseguira encontrar origem. Seriam esses os últimos fragmentos da jóia? Estremeceu ao considerar aquilo, tentando recuperar o foco.

Onde estariam os fragmentos?

— Não vamos perder tempo. — Inuyasha começou a dizer, concentrando-se na proporção de youki que rondava a si e aos youkais. — KAZE NO KIZU!

Como todos ali já haviam visto diversas vezes, Inuyasha acertara o chão com a Tessaiga fazendo dali surgirem múltiplas garras de youki que percorreram toda a distância entre a lâmina brilhante da espada e os youkais, que surpreenderam o hanyou não tendo sofrido nenhuma penalização. Estavam todos vivos e fortes, eretos sobre as pernas traseiras urrando como os animais provocados diante da maior expansão de sua fúria, demonstrando a quem quisesse ver a grande marca de Naraku em suas costas de onde Kagome pôde ver os Shikon no kakera.

— INUYASHA! — Kagome gritou desesperada. — Os fragmentos da Tama estão sob a marca de Naraku!

Longe dali, o próprio Naraku observava a batalha entre os youkais e o pequeno grupo, rindo divertido. Torcia para que Inuyasha não fosse estúpido o bastante para morrer, destruindo todo o plano que ele havia idealizado em sua mente. Sim, tudo o que o hanyou precisava fazer era matar os youkais e apanhar os últimos fragmentos da Shikon no Tama, proporcionando que tudo ocorresse como o previsto. Era um excelente plano, o rival pensou.

Como que imerso em pensamentos, Inuyasha estudava qual a melhor estratégia para derrotar os youkais, tendo a respiração dificultada pela pressão da cena em si. Miroku, que já estivera pensando num modo eficaz desde que notara a falha do Kaze no Kizu, avançou diante de todos e retirou o selo da mão direita libertando a Kazaana para sugar tudo àquilo que estivesse a sua frente.

Naraku, por algum motivo que agora Inuyasha e Kagome procuravam entender, não enviara os seus venenosos Saimyoushou, permitindo que a Kazaana fosse perfeita para esse momento. Exceto pelo fato de que junto com os youkais Miroku também sugaria os Shikon no kakera, o que o acabaria matando por ser um simples humano.

— MIROKU! — Sango aproximou-se do houshi fazendo-o interromper a Kazaana que estava prestes a sugar um dos seres de Naraku. — Se você sugá-los vai acabar morrendo com eles!

Estava imposto mais um problema, mas isso não deteve Inuyasha, que voltara a atacar os youkais com seus golpes certeiros da Tessaiga, tendo como companheiros de batalha os amigos Miroku, Sango e Kirara. Ainda assim, mesmo com todo o grande poder que aqueles três possuíam juntos, nada parecia ter efeito.

Surgiu então a Hama no Ya brilhando em direção ao principal youkai, acertando-lhe em cheio e fazendo com que flecha espiritual de Kagome lhe atravessasse o abdômen, libertando o fragmento da Tama que fora dado por Naraku. Momentaneamente os youkais restantes se imobilizaram e voltaram ao corpo do primeiro que os originara, youkai este que sem o poder dos Shikon no kakera logo foi morto por um ataque certeiro de Inuyasha, desintegrando-se aos poucos.

Estavam ali os últimos quatro fragmentos da jóia reluzindo com o brilho negro do youki de Naraku, tão próximos de Kagome que ela sequer conseguia correr para tocá-los. Mesmo assim ela pôs-se a andar até eles, sentindo o aperto dolorido no coração. No mesmo instante vieram à sua mente a conversa com Sango e todos os momentos que havia passado nesses últimos meses, e lágrimas diversas escorreram pelo seu rosto fazendo com que seus amigos se perguntassem o que é que estava ocorrendo de errado.

— Kagome-sama? — Miroku aproximou-se dela antes que se abaixasse para pegar os fragmentos, lhe abraçando os ombros frágeis. — O que houve?

— Não seja estúpido, Miroku. Deixe que ela apanhe logos os fragmentos para que possamos voltar logo à vila.

— Como você pode ser tão estúpido, Inuyasha? — A frase de Kagome trouxe ao hanyou as lembranças de quando ela se fora naquela noite. — Isso te parece o final de tudo, mas você se engana. É só o começo.

A humana apanhou os fragmentos na mão levemente machucada pelo empunho do arco e flecha, e distanciou-se gradativamente deixando que todos permanecessem ali digerindo o significado de suas palavras. Sango, que sabia exatamente a que ela se referia e compartilhava sua dor, correu até alcançá-la alguns metros dali.

Ela estava certa, aquele era só o começo.


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