Através da Tua Alma eu Posso Ver escrita por they call me hell


Capítulo 1
[S01E01] Outra noite que se vai.


Notas iniciais do capítulo

Essa foi a primeira história que escrevi, na época em um caderno até ter coragem para postá-la em 2012, então a leia com carinho. Ela já possui cerca de dez anos. Espero que goste e se divirta com esse capítulo tanto quanto eu me diverti escrevendo. No meu perfil você encontra outras histórias e minha tabela com datas de novos capítulos. Obrigada por ler e comentar! :)



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Ali estava Kagome, em meio a uma batalha de youkais em plena Sengoku Jidai. Inuyasha, o eterno hanyou teimoso, estava visivelmente cansado diante da extensa luta contra outro ser enviado por Naraku, mas negava-se a desistir por mais que aquilo lhe custasse à vida.

O youkai entendera que a garota era capaz de enxergar os Shikon no Tama quando esta berrou ao longe onde estes estavam escondidos no corpo do monstro, o levando a abandonar a batalha e persegui-la pela grande extensão de campos férteis onde estavam. Shippou conseguira se esconder em um espaço coberto de grama e agora lamentava por Kagome não ter aquela chance. Mas Inuyasha a salvaria, todos sabiam daquilo, principalmente no momento em que uma pontada nervosa atingiu o corpo do hanyou lhe dizendo instintivamente que deveria protegê-la.

 

— KAGOME!

 

Mais uma vez o corpo frágil da humana era lançado ao longe devido ao devastador ataque de um youkai, levando Inuyasha a correr o máximo que lhe era capaz com o mesmo objetivo que regera sua vida desde então: Manter a garota a salvo.

Por pouco conseguiu trazer o corpo dela para junto do seu, amenizando a queda de ambos e finalmente levando-a para um lugar mais seguro, ainda que próximo da batalha que não cessara. Ao se permitir olhar naquela direção, Kagome vira Shippou, Miroku, Sango e Kirara lutando com a força que ainda restava nos seus corpos exaustos. A verdade é que não sabia o que seria deles sem Inuyasha.

O hanyou lançou um último olhar para a mortal próxima a si como se quisesse dizer “Não se atreva a sair daí!” e empunhando a Tessaiga acima do ombro direito sumiu de vista, até estar a uma distância que valorizasse a potência do seu golpe contra o inimigo, empunhando a Tessaiga sob o ombro e acertando-lhe a cabeça, que logo se desfez gradativamente até que houvesse apenas um fragmento corrompido da Tama no chão. Estava morto finalmente, Kagome considerou, deixando escapar entre os lábios um sorriso triunfante.

 

Êh, você está bem, mulher? — Inuyasha perguntou com visível descaso ao se aproximar dela pouco tempo depois.

— S-sim, estou bem.

— Kagome-sama! — Miroku avançava com Sango e Kirara em sua direção, ambos visivelmente preocupados.

— Está tudo bem. — Ela trazia agora o fragmento na palma da mão, fazendo com que brilhasse cada vez mais claro. Estava purificando-o.

 

Kagome apanhou a bicicleta que deixara ali perto e com Shippou em seu colo começou a pedalar em direção à cabana de Kaede, vendo Inuyasha partir a frente e os demais irem planando com Kirara.

 

Não entendo por que Inuyasha sempre me salva para depois me tratar como alguém desprezível... Sou uma mera detectora de fragmentos, a garota pensou.

 

Estava se sentindo tão só, de repente. Shippou parecia decifrar seus pensamentos, pois se aconchegou em seu colo e sorriu contente por estarem todos bem agora, acompanhando o olhar vago de Kagome que seguia o hanyou solitário pelo caminho.

A volta para a vila fora comum ao que sempre ocorria nesses casos: Sango queixava-se levemente pelo cansaço tendo Miroku como apoio ao seu lado, Inuyasha escondia o quão mal estava e Shippou jazia tranqüilo nos braços da humana. Ao chegarem, Kaede sorrira confortável abandonando todos os pensamentos ruins que tivera até então; Era muito difícil não temer pela vida deles em tempos tão difíceis. Ainda assim, pôs-se a ajudar Kagome na árdua tarefa de apanhar suprimentos médicos, limpar ferimentos e fazer curativos, logo em seguida preparando um delicioso Ramen proveniente das viagens à outra Era.

 

Tendo em vista o usual comportamento do hanyou, Kagome pediu licença e se afastou dos companheiros após o término de suas tarefas, seguindo para o lado de fora da cabana de Kaede. Por um momento fitou o céu sob sua cabeça e agradeceu silenciosamente à alegria de poder admirá-lo recheado de tantas estrelas reluzentes, algo que seria impossível se estivesse em casa.

Casa... Como estariam Souta, Mama e Jiiji? Desde sua primeira ida à Sengoku Jidai, via e conversava tão pouco com a família... Havia colocado a sua Era em segundo plano e junto com ela as pessoas que a amavam, a escola e aquilo que deveria ser a vida cotidiana de uma garota de quinze anos. Às vezes considerava se estava mesmo fazendo a coisa certa, mas Inuyasha sempre fazia com que se parecesse o certo.

 

Lembrou o motivo real de estar ali fora e olhou tudo ao redor. Mesmo sendo noite, o céu clareava a maior parte do ambiente, mas ela não podia vê-lo em lugar algum. Talvez tivesse ido mais longe ou estivesse na copa de alguma árvore, como gostava de fazer, concluiu.

Porém, algo lhe provocou uma estranha sensação desconhecida que já havia tido em alguns momentos específicos desde que chegara ali. Era algo que ela definia como ‘sexto sentido’, por ainda não entender bem. Apenas sabia que aquela sensação que irradiava todo o seu corpo pedia para que subisse as escadarias até o túmulo de Kikyou. Não protestou, subindo cada degrau o mais silenciosamente possível, torcendo para que o garoto de orelhas de cão não estivesse ali, mesmo que isso parecesse um pensamento sem nexo.

Ele realmente estava e com certeza teria sentido a presença dela ali – mesmo que ouvindo seus passos ou sentindo seu cheiro do qual ele tanto reclamava, afinal -, se não estivesse tão concentrado. Ou seria perturbado? A expressão em seu rosto causava dúvidas. Sentado em frente ao túmulo vazio, ele brincava com uma flor arroxeada que dali nascia, parecendo perdido em pensamentos. Kagome se amaldiçoou por estar ali naquele instante tão íntimo do hanyou, até porque isso estava causando uma sensação muito ruim no seu coração.

 

— Kikyou... — A voz dele pôde ser ouvida baixinho. — Sinto sua falta todos os dias. Por que o destino foi tão cruel conosco?

 

Então ele sente mesmo falta dela, Kagome pensou, como sou tola!

 

— E-eu... Ainda amo você. — As palavras doeram no coração da garota. — Do mesmo modo como amei desde o primeiro dia.

 

Inuyasha levantou bruscamente ouvindo passos corridos escada a baixo. O cheiro de Kagome estava ali, droga; ela devia ter escutado tudo. Sentia-se tão estúpido por ter sido flagrado assim. Não gostava de parecer frágil ou machucado e era exatamente assim que estava agora, querendo ou não. Certamente todos estavam na cabana de Kaede a rir dele graças à estúpida mortal.

Ainda pensando em todas aquelas coisas, pôs-se a descer as escadas sem medo do que encontraria lá em baixo. Na verdade, não estava planejando entrar mesmo. Estava ferido e sabia disso, mas era forte o suficiente para se curar sem a ajuda de todas aquelas bugigangas que sempre eram trazidas da outra era.

— Inuyasha. — Aquela voz ecoou dentro da cabeça do hanyou, o fazendo parar próximo da árvore onde estava naquele momento.

 

Seria... Sim, era a voz de Kikyou. Mesmo após tanto tempo seu coração não havia parado de bater por ela e aquilo o fazia se sentir um estúpido depois de tudo que ocorrera entre eles. Ela havia tentado matá-lo da última vez que se encontraram e agora parecia ser uma mera estátua oca daquela que um dia fora a doce Miko que o conquistara. Por que havia de existir apenas para exalar o ódio dos poucos resquícios de alma que detivera em si?

 

— K-Kikyou? — Não se conteve em dizer.

 

Aquele cheiro o estava cercando por todos os lados, entorpecendo seus sentidos. Ela estava por perto, sabia disso, e agora temia que estivesse ali desejando uma nova batalha, pois ele jamais seria capaz de matá-la. Mesmo sabendo que aquela não era a Kikyou de verdade.

 

— Eu estou aqui, Inuyasha. — Ela apareceu próxima ao leito do rio que agora começava a refletir a lua e as estrelas que chegavam aos poucos.

 

Você precisa seguir seu rumo, Kikyou. Por mais doloroso que seja.

 

Mesmo tendo pensado, não ousou dizer uma palavra sequer, indo lentamente até ela. Quando ela o abraçou com a expressão coberta de tristeza, ele desejou que pudesse sentir algum calor humano vindo dela. Kikyou estava de volta.

 

— Você não imagina quanta saudade eu senti. — Forçou um sorriso, selando os lábios do hanyou com os seus. — Vamos ficar juntos, Inuyasha.

— Sim, nós vamos. — Ele sussurrou após o fim do beijo, sentindo que as mãos delicadas dela percorriam pelo seu haori vermelho intenso.

 

Permaneceram abraçados no silêncio da noite por um tempo que pareceu infinito, apenas escutando o bater do coração do meio-youkai diante do barulho das águas que corriam harmoniosamente pelo seu curso natural.

Centenas de pensamentos inundavam as mentes de ambos, mas ninguém queria interromper aquele momento com palavras. Não sabiam quando poderiam se ver de novo, por mais estranho que isso parecesse. Inuyasha lhe beijou a testa com carinho e estreitou ainda mais o abraço, como se por um momento considerasse perdê-la.

 

— Junte-se a mim. Nós procuraremos os fragmentos restantes da Shikon no Tama e eu finalmente poderei voltar à vida. Não te farei mais esperar por mim, gomen.

 

Ele apenas concordou com um aceno de cabeça, sorrindo satisfeito com o fato de a jóia já estar praticamente completa e pura. Talvez esse fosse o real destino da Tama: trazer de volta à vida aquela que morrera, sem hesitar, pelo bem do mundo. Estariam juntos! Isso seria muito mais perfeito do que ele conseguira imaginar nos seus sonhos mais profundos.

 

* * *

 

— Onde está o Inuyasha? — Kaede indagou curiosa.

— Deve estar sentado em algum lugar lá fora. — Miroku respondera sem muito ânimo.

— Ultimamente ele anda muito pensativo. — Acrescentou a Taijiya.

 

Hai, Inuyasha anda pensativo desde que se encontrou com a Kikyou ressuscitada do barro. Talvez esteja preocupado com o fato de ela ser uma grande adversária na busca das Shikon no Tama.

 

— Kagome? — Shippou a tirou de seus pensamentos usuais.

— Eh?

— Você está tão calada... — Ele engatinhou até perto de si, olhando-a com grande expressão de análise.

— Não é nada. — Riu tentando passar naturalidade e despreocupação. — Acho que estou apenas cansada.

— Hoje o dia foi muito difícil, Kagome-sama está certa. Deveríamos descansar. Bem, Oyasuminasai.

— Oyasuminasai, yoku nete kudasai!¹

 

Logo todos ali dormiam, com exceção de Kagome que ainda estava pensando em como seriam as coisas de agora em diante. Naraku estava sendo um inimigo em potencial como ela jamais esperara encontrar e já não tinha mais tanta certeza se queria continuar com aquilo, por mais que sentisse a culpa de ter partido a Shikon no Tama lhe doer nos ossos.

Levantou-se devagar checando se todos estavam mesmo dormindo e deslizou para fora da cabana com o máximo de silêncio a que podia se submeter, caminhando pelo usual trecho que a trouxera até ali numa primeira vez.

 

Ali estava a garota: Encontrava-se sentada no Poço Come-Ossos com as pernas dentro dele, as mãos segurando as bordas como se precisasse de um impulso para partir; impulso este que não conseguia dar a si própria.

 

— Por que eu tenho que estar me apaixonando por esse hanyou ignorante? — Ela sussurrou, brincando inocentemente com alguns pedaços de grama nas mãos. — Ele ama a Kikyou, sempre soube disso. Não posso amá-lo.

 

— Kagome...

 

A garota assustou-se de um modo tão intenso que foi preciso que Inuyasha a segurasse para que não caísse dentro do poço, o que a fez corar por se sentir tão boba. E claro, pela proximidade dele após ela ter dito ao léu todas aquelas palavras.

 

— O que houve? — Ele riu em deboche.

— Gomen, Inuyasha. Eu não queria...

 

O hanyou tinha uma expressão confusa e aquilo infelizmente incentivara o coração magoado da garota a se expressar, independente de quais pudessem ser as conseqüências.

 

— Eu ouvi tudo, Inuyasha. — Aquilo escapou da sua boca como que sem querer.

 

Ele a olhou intrigado, já supondo do que se tratava, mas querendo que ela continuasse. Estivera no túmulo de Kikyou a choramingar sua ausência e agora ali estava a escutar críticas sobre ter demonstrado seus sentimentos uma única e mísera vez. Até ele estava sem entender, mas era sincero em tudo que fazia, sabia disso.

 

Eu não entendo meu coração, Kagome. Passei muito tempo fingindo não possuir um.

 

— Como pode ser tão estúpido? — Ajeitou a mochila nas costas, agora realmente pronta para ir. — Como eu posso ser tão idiota, aliás?

 

Quando empurrou o corpo para dentro do poço lançando um último olhar para o meio-youkai, tudo que pôde ver fora um rosto magoado ficando para trás, mas aquilo não a impedira de atravessar a barreira da Sengoku Jidai para a outra Era.

 

Hanyou estúpido! Baka! Baka!

 

Com um pouco de dificuldade ela subiu pela escada precária carregando a mochila um tanto pesada. No fundo, estava se perguntando por que ele não a impedira de ir embora. Será que realmente queria que ela desistisse e o deixasse em paz para amar Kikyou sem remorsos? Talvez por isso estivesse ali naquele instante: remorso. Ele sabia que ela estivera no túmulo da Miko naquele momento ouvindo cada palavra que ele proferia; Talvez tivesse sentido pena dos sentimentos que ela nutria por ele. Diria tudo isso a ele da próxima vez, isso é... Se chegassem a se ver de novo.

Deixou o templo sem olhar para trás nenhuma vez sequer e ao perceber que não era notável a presença de Inuyasha, considerou que ele aceitara as palavras dela e permanecera na Sengoku Jidai sem reclamações.

 

— Aquele hanyou maldito! Acha que pode jurar aos céus o amor eterno dedicado a uma única mulher e trazer esperanças ao meu mero coração ingênuo... Como me odeio agora, principalmente por não conseguir odiá-lo.

 

Suspirou demoradamente com os olhos fechados antes de seguir seu caminho até a entrada de casa, se sentindo um pouco mais aliviada pelo rápido desabafo e agradecendo por sua família estar adormecida, o que evitaria uma longa e exaustiva conversa naquele momento. Ela nunca chegara da outra Era assim no meio da noite, talvez porque ela nunca se decepcionara tanto com Inuyasha.

 

Ele continuava ali encarando o Poço Come-Ossos vazio que aos poucos ia perdendo o cheiro adocicado de Kagome. Não entendera a essência do que ela dissera e aquilo estava remoendo o seu coração. Por que não tornava as coisas mais simples e dizia logo tudo de uma vez?

Ao contrário do que era real naquela situação, Inuyasha não imaginava que existisse algum sentimento por ele no coração da garota, mas acreditava que Kagome estava irritada com ele por saber com todas as letras agora que ele ainda nutria sentimentos por Kikyou, talvez isso fosse claramente um problema na busca dos fragmentos da Shikon, na cabeça dela. Deveria estar temendo pelo sucesso das batalhas agora que imaginava um hanyou bobo de amores.

 

Tola! A Shikon no Tama agora ganhou um motivo ainda maior pra ser recuperada e eu não vou desistir disso.

 

Como Kagome podia ser tão boba em pensar que o amor dele por Kikyou o impediria do seu grande objetivo? Não fazia sentido, mas vá, quem entende as mulheres? De todo modo, era melhor que ela pensasse assim. Se temesse pelo sucesso em recuperar a Tama, se dedicaria bem mais a isso e assim a incrível Miko poderia voltar à vida o quanto antes.

Sorriu como bobo para si e começou a voltar para a vila, sentindo o vento refrescante batendo no seu rosto conforme corria por entre as árvores. Pensara até mesmo em tratar Kagome um pouco melhor para ela se sentir mais confortada em continuar prosseguindo em sua busca, soltando uma gargalhada de felicidade por entre a floresta.

 

Por outro lado, Kagome jurava que já haviam se passado algumas horas, mas ainda não adormecera. Diversos pensamentos iam e viam na sua mente bagunçada pelos acontecimentos do dia. Estava achando que não havia sido clara o suficiente com Inuyasha pelo modo como ele a olhara antes de partir. Seria melhor se confessasse seus sentimentos ao hanyou? Duvidava que sim.

Virou-se na cama mais uma vez entre tantas e fitou a parede a sua frente tentando encontrar algum ponto de coragem, que parecia insistir em não aparecer. O que Inuyasha estaria fazendo naquele momento? Ela queria estar lá com seus amigos. Imaginou como seria se da próxima vez que tentasse atravessar a barreira ela lhe impedisse. O pensamento lhe pareceu horrível demais e ela agitou a cabeça de um lado para o outro como se tentasse apagar aquilo, rindo baixinho em seguida.

 

Dormiu pouco tempo depois, murmurando inconscientemente um “Eu te amo, Inuyasha.” que não pôde ser ouvido por ele estar longe demais a pensar em uma garota chamada Kikyou.

 


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Notas finais do capítulo

"Oyasuminasai, yoku nete kudasai!"¹: Boa noite, durmam bem!