Rolei na cama e escondi meu rosto na coberta, tentando me proteger da claridade que atravessava as frestas da janela semi-aberta do meu quarto. Corri com meus olhos até o relógio digital que descansava sobre o criado-mudo, e notei já ser mais de nove horas da manhã, naquele domingo. No dia seguinte começaria minhas aulas e o Edu não estaria lá comigo. Santo Deus, o Eduardo! A essa hora ele já deveria estar se mudando e eu ainda estava deitada em minha cama tão aconchegante.

Tratei de me arrumar e ficar decente para me despedir do meu melhor amigo. Apesar de que ainda era cedo, já fazia calor e eu resolvi trajar um par de shorts jeans e colocar uma blusinha branca e básica. Penteei meus cabelos ondulados e os trancei, fazendo um lindo e rápido penteado. Os chinelos, que se encontravam ao lado da estante, se acomodaram em meus delicados pés. Procurei rapidamente, pelo saquinho de presente, o qual brilhava na luz, por causa de sua cor prateada. Não demorou muito para eu descer escadas a baixo.

Minha pressa era tanta que nem notei se meus pais se encontravam em casa naquela manhã. Abri a porta da frente, sem hesitar e corri até o final da rua, onde, pela última vez, estava a casa do meu melhor amigo, do meu amor. O imenso caminhão de mudanças estava estacionado em frente à moradia do meu loirinho - apelido um tanto íntimo, porém carinhoso - ele me chamava de minha morena e eu não via nenhum problema dele ser o meu loiro.

Eu estava na metade do caminho, quando ele me avistou e colocou a caixa de papelão, que estava segurando, no chão e correu ao meu encontro, contente. Seus cabelos, de um tom dourado, oscilaram com a brisa que beijava nossos corpos naquele momento. Um sorriso torto, o qual eu mais amava, era desenhado aos poucos em um dos cantos de sua boca vermelha e perfeita. Seus olhos, de um verde bonito, encontraram os castanhos dos meus e eu sustentei seu olhar.

- Má! - Senti um tom de felicidade em sua voz - Você veio! Eu... Eu disse que ia até sua casa, mas é que... - O interrompi, colocando meu dedo indicador em seus delicados lábios.

- O que importa é que estou aqui né? - Sorri encabulada - Está indo rápido essa mudança não é? - Disse, olhando os pais dele e os outros homens, que ajudavam na mudança, colocarem as coisas dentro do caminhão.

- É... Infelizmente. - Ele fitou o chão, desanimado - O que significa menos tempo juntos.

- Os melhores minutos da minha vida. - Tentei sorrir novamente.

Eduardo riu, sem vontade e depois ficou sério. Peguei em uma de suas mãos, e nela coloquei o presentinho que eu estava guardando, já fazia um tempo, para dar à ele. Agora ele sorriu encabulado e fitou meus olhos antes de abrir o plástico. Mordi os lábios inferiores, pensando na possibilidade dele não gostar da “surpresa” que eu havia preparado. Seus dedos envolviam duas correntes de colares com pingentes de coração, em um estava escrito o nome dele, em outro, o meu.

- É pra você nunca se esquecer de mim. - Disse monotonamente.

Ele não disse nada naquele momento, apenas riu contente. Pedi para o mesmo virar de costas, assim eu poderia colocar o acessório em seu pescoço - ele fez o mesmo comigo. Agora eu podia ver o meu nome pendurado em seu peito. Fiquei com o colar que estava escrito Eduardo. O loiro me puxou para mais perto de seu corpo e suas mãos envolveram minhas costas, formando um delicioso abraço entre amigos, entre amantes.

Meus dedos enlaçaram em seus fios dourados. Fechei os olhos, quando sua respiração, que saia lenta e calmamente de suas narinas, bateu contra meu pescoço. Não demorou muito para seus lábios colarem nos lóbulos da minha orelha direita e começarem a pronunciar calorosas palavras, que me faziam arrepiar.

- Obrigado Má. Obrigado pelo colar. Obrigado por ser minha melhor amiga, por... Por me fazer feliz. - Ele hesitou e riu - Eu... Eu te amo demais minha morena.

- Não precisa agradecer. Foi... De Coração. - Soluços abafados começaram a escapar da minha boca trêmula - Não vá embora, não me deixe só; Eu te amo demais também.

Sua boca colou em minha bochecha avermelhada e um beijo carinhoso ficou grudado ali por alguns segundos, os suficientes para minha alma se desprender do meu corpo e lágrimas de um choro de saudades, rolar pela minha face lúgubre. Edu as enxugou e sorriu, sem vontade novamente. Seus dedos acariciaram meu rosto, fazendo movimentos circulares em minha bochecha molhada - tentei rir com o ato, mas minha tentativa falhou, pois Seu Fernando nos interrompeu.

- Desculpem-me de atrapalhar vocês, crianças, mas temos que ir, filho. - Sua voz era tranqüilizadora.

- Só um momento pai. - Ele se dirigiu ao homem e voltou com o olhar para minha pessoa - Não é a distância que vai nos machucar ta, meu amor? Não vai ser ela que vai nos separar, nos impedir de amar. - Sua voz ecoava em meus ouvido, me fazendo suspirar.

- Me leva junto com você? - Brinquei, tentando rir.

- Uau! Por que não pensei nisso antes? - Ele gargalhou.

Edu me pegou no colo e andou até o carro, me colocando no banco traseiro - rimos juntos. Seus pais terminavam de arrumar as coisas, enquanto nós aproveitávamos os nossos últimos minutos juntos. Logo apoiei minha cabeça em seu ombro largo e ele beijou, carinhosamente, meus cabelos ondulados e castanhos. Fechei os olhos quando ele começou a cantarolar baixinho e apertei suas mãos nas minhas. Sim, era nosso último momento juntos e eu não queria pensar nisso, pois as lágrimas quentes e teimosas pulavam dos meus olhos cor de mel, sem cessar.