My Friend, My Love escrita por Marcela
Eram quatro e meia da manhã. Meus pés pressionaram o chão brutalmente e o som incessante do relógio de parede ecoava em meus ouvidos em um tom um tanto irritante que eu desejava gritar ali mesmo, mas me segurei. Me levantei da cadeira e comecei a andar de um lado para o outro naquele corredor imenso. Ouvi minha mãe suspirar ao longe e logo ela veio andando em minha direção. A ignorei completamente, fitando o teto, de braços cruzados.
- Marcela. - Beatriz chamou-me uma vez.
Fiquei de costas, e procurei por algum médico, mas não encontrei nenhum. Eu sabia que ela não desistiria tão cedo. E foi isso que aconteceu.
- Filha, me ignorar não vai ajudar em nada! - sua mão em meu ombro me fez virar e observar seus olhos chorosos.
De longe avistei os pais de Edu. Notei que Fernando estava mais bonito e, embora meu amigo não tenha me falado mais nada a respeito dele, eu sabia que ele estava se recuperando aos poucos da leucemia. Carla chorava consecutivamente abraçada ao marido e não viera falar comigo em nenhum momento, mas não sucumbi ao desagrado.
- Você tem a idéia de que eles estão querendo me matar agora, não é? - perguntei à minha mãe, sarcasticamente, engolindo o choro.
- Claro que não, meu amor. - depois de respirar fundo, ela continuou - Eles já têm tantos problemas e o estado do Eduardo só piora a situação, mas você não leva a culpa de nada.
- Por que todos vocês dizem a mesma coisa?! - me exaltei - EU NUNCA SOU CULPADA DE NADA?! É ISSO?
- Não é isso, querida. - a morena mexeu nos cabelos ondulados e revirou os olhos, cansada - Me escute, por favor.
- Sou toda ouvidos. - respondi ironicamente, cruzando os braços sobre o busto novamente.
- Ta certo que você errou de sair da casa da sua amiga no meio da madrugada e decidir vir à pé pra casa, mas o Eduardo também errou, portanto os pais dele não têm o direito de discutir somente com você, querida, mas vocês dois deviam ter pensado melhor antes de fazer alguma coisa desse gênero. - ela disse calmamente tentando afagar meus cabelos, porém desviei do carinho.
Não respondi ao seu questionamento, apenas me virei e andei até os pais do meu melhor amigo, parando perante Carla. Ela me olhou com os olhos afogados em lágrimas e se levantou para me abraçar.
- Ele vai sobreviver, não é? - sua voz estava trêmula e desesperada e as gotas do seu choro molharam meu ombro.
- Eu espero que sim. - conclui.
Senti o aroma dos cabelos dourados de Carla enquanto ela continuou abraçada comigo. Depois a loira me olhou novamente com aqueles olhos verdes, os quais Edu herdou, e afagou meu rosto com as mãos macias.
- Não vou ficar brava contigo, minha querida. - ela tentou sorrir fracamente - Você não sabe o quanto sou grata por te ter como melhor amiga do meu filho.
- Fico feliz por isso! - confessei, contente.
- Lembro-me de quando ele era criança e me dizia que, quando fosse mais velho, queria se casar com você! - ela sorriu largamente, ainda chorando.
Ela trouxe a reminiscência de um passado não muito distante, mas feliz, à tona. Sorri com a lembrança e ela me abraçou fortemente, tentando não voltar a chorar. Fiz o mesmo. De repente senti seu hálito em meus ouvidos e ela sussurrou somente para mim:
- Adoraria ser sua sogra. - e depois beijou minha bochecha rosada pelo comentário.
- Fico grata. - rimos juntas, embora eu tenha ficado um tanto encabulada com a confissão.
- Que nada, querida! Me sinto bem melhor ao seu lado. É como se você trouxesse de volta a felicidade que eu havia perdido. Seu olhar inocente me lembra muito os olhos do meu filho. - ela segurou meus ombros com as mãos trêmulas.
- Poderia dizer o mesmo, Dona Carla.
- Me chame apenas de Carla. - ela pediu, ainda com um sorriso desenhado em sua face chorosa.
- Carla. - repeti.
- Obrigada, meu anjo.
- Não há o que agradecer.
- Por que não vai pra casa descansar? - ela perguntou ao olhar minhas roupas molhadas - Você precisa tomar um banho e dormir.
- Não quero ir embora. - respondi calmamente.
- A Carla tem razão, filha. - mamãe se aproximou de mim e sorriu - Vamos. Qualquer coisa ela nos avisa.
- Claro! Ligarei assim que tiver alguma notícia! - A loira concordou.
Acabei concordando também assim que meus olhos arderam de sono. Beatriz segurou meu braço direito e eu tombei contra seu corpo, exausta. Cambaleamos juntas, mas ela me colocou em pé e firme novamente. Sorri ao encontrar seu olhar protetor me fitando e saímos do hospital, entrando no carro.
O percurso para casa não fora tão demorado, mas, ao chegar, corri para o banheiro, pois precisava de um banho bem relaxante. Antes de ligar o chuveiro, me olhei no espelho, uma única vez, notando estar horrenda. Os olhos castanhos pesavam em minha face e as olheiras arroxeadas e profundas começavam a aparecer sob eles. Retorci os lábios tentando esconder a dor e afaguei o peito nu com as mãos ainda um tanto trêmulas. Então entrei debaixo da água quente.
O banho demorara o tempo suficiente para que eu me sentisse mais calma. Vesti meu pijama confortável e me joguei na cama, literalmente. Afundei o rosto no travesseiro inalando o cheiro dos meus cabelos. Fechei os olhos, na tentativa de dormir, mas fora inútil. O sono não viria, eu sabia que não. Abri a janela ao lado da minha cama e notei que agora apenas garoava. No céu não havia estrelas e a lua se escondia atrás de algumas nuvens no negrume da noite.
Observei um casal que andava sob a proteção de um guarda-chuva, ao longe, e ambos riam. Logo pararam em frente à uma casa de um tom de oliva e ele beijou carinhosamente a moça, após ficarem abrigados em frente a porta. Ela o abraçou com força e deram um último beijo. Um beijo de despedida. Então a moça entrou na casa. O homem ainda sob a proteção do guarda-chuva, andou calmamente na mesma direção de onde vieram. Logo ele desapareceu de minha visão, quando virou a esquina. Suspirei cansada e apoiei minha cabeça sobre os braços apoiados na janela.
- Filha? - Uma voz masculina, vinda da porta do meu quarto, me chamou baixinho.
Olhei para trás rapidamente e avistei meu pai encostado no batente da porta, sorrindo para mim.
- Oi pai. - respondi monotonamente.
Felipe veio em minha direção, mas, por fim, sentou-se na cama. Olhou para mim, fraternalmente e pediu para que me sentasse em seu colo. Hesitei, mas eu precisava de um carinho naquele momento. Repousei a cabeça em seu peito, ouvindo seu coração pulsar lá dentro. Papai não disse nada, apenas acariciou meus braços e beijou meus cabelos ondulados, ainda úmidos. E então eu chorei. Chorei para que minha alma se libertasse de todo medo que a corroia lentamente. Chorei na tentativa de aliviar minha tensão. Chorei por perceber que estava protegida por alguém a qual eu amava muito.
- Isso - o moreno me apertou contra seu corpo -, chore.
Solucei com a boca pressionada em sua camisa e fechei os olhos, me entregando à exaustão mais uma vez.
- Durma bem, meu anjo. - Seus lábios beijaram minha bochecha uma última vez naquela noite e, depois, senti os devaneios me abraçarem, levando-me ao mundo dos sonhos.
Ou, pelo menos, era para lá que eu achava que iria.
Fim do vigésimo capítulo.
Oi povo! :D Mais um capítulo para vocês! Desta vez não demorei taaanto para postar, né? Hihi. Espero que tenham gostado! *----* Comentem por favor :*
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