Erik me observava a todo momento, como se esperasse que de repente eu me lembrasse de tudo que já acontecera comigo.

Apertando alguma coisa na parede, Erik fez o espelho de corpo inteiro se abrir, deixando à vista um corredor longo.

–E esse é o caminho de casa?

–Sim, pequena. - ele sorriu mais uma vez, mas os olhos não sorriram. Pareciam desesperados.

Ele me conduziu por túneis e corredores escuros, até chegarmos a um lago, para o qual ele inteligentemente tinha um barco. Ele remou até chegar ao outro lado e o que vi fez meus olhos saltarem das órbitas.

Era um lugar extremamente adorável. Era...a minha... a nossa casa?!

-Ah meu Deus! Esse lugar é muito lindo!

-Eu acho que esse lugar é muito escuro. - Erik disse.

Era a mais pura verdade, estava bastante escuro. Mas ainda assim...

Erik começou a acender velas que pareciam estar espalhadas por todos os cantos. A beleza do lugar era ainda maior a meia-luz.

Erik sorria enquanto eu tentava guardar cada detalhe do recinto familiarmente desconhecido, de queixo caído.

-Posso te reapresentar aos nossos quartos?

Assenti com a cabeça, sentindo Erik me guiar pela mão até uma grande porta de ébano, na mesma parede em que ficava encostado um belo órgão. A porta se abriu, e de fora podia-se ver uma cama de casal com um mosquiteiro rendado, um armário grande, vitoriano, uma escrivaninha, vários castiçais, tudo em tons de vermelho, preto e dourado.

-Uau!- exclamei, completamente boba.

-Esse é o quarto que, por uma boa razão, chamamos de quarto preto. Ele foi meu quarto por vários e vários anos. - Quantos anos será que Erik tem? , me perguntei. Ele parecia ter, no máximo, a mesma idade de Michelle. -Vamos ver o outro quarto agora, Catherine. - ele interrompeu meus pensamentos, 

O outro quarto era tão lindo quanto o primeiro. "O Quarto Branco", Erik disse. Era uma suíte, e a única diferença desse quarto para o outro era que esse tinha tons de creme, branco e azul esverdeado. Em outras palavras, também era maravilhoso.

-Está cansada? - Erik perguntou, ao que eu respondi com um simples aceno de cabeça. - Eu posso pegar suas roupas na mala, enquanto isso você toma um banho... Depois dormimos.

Assenti novamente, com um pequeno sorriso.

-Obrigada, Erik.

Tomei uma chuverada, amenizando uma pequena parcela do enorme cansaço que a viagem me causara. Quando saí do banheiro, encontrei uma camisola de seda e renda azul escura dobrada na cama do quarto. Eu a vesti, livrando-me da toalha na qual estava envolvida até então, agradecendo mentalmente milhares de vezes a Erik. Ele era a pessoa mais doce e gentil que eu conhecia. Mas, pensando bem, no momento eu só conhecia Erik, Michelle e Luigi. Droga, era horrível não poder me lembrar...

-Catherine? -Erik chamou, entrando no quarto depois de uma leve batida na porta. 

-Sim, Erik? - perguntei, meu olhar fixo na parede, meus pensamentos escoando de minha cabeça.

-Você quer dormir aqui, no quarto branco; ou no quarto preto?

-Ahm... Eu não sei, Erik...É que...

-Não precisa dormir comigo, Catherine. Eu te entendo.

-Não, tudo bem. - eu disse, rápido demais. Não pude resistir - ele era simplesmente muito carismático, não sabia ainda como dizer não aquele rosto estonteantemente bonito.

Ele sorriu.

-Tem certeza?

-Sim.

Ele estendeu a mão em minha direção e eu me aproximei dele, retribuindo o gesto. Minha mão parecia minúscula se compara à dele.

Erik me guiou até o quarto preto e abriu a porta para que eu passasse. Eu sorri com o gesto, ele era mesmo um cavalheiro. Me dirigi, meio sem graça, até a cama de casal.

-Não precisa ficar tímida, Cathy. - Erik estava rindo.

-É inevitável. - eu dei um sorriso de lado, e vi Erik respirar fundo ao me ver fazer isso. Sei lá, estranho. 

Nos deitamos, estranhando a situação. Parecia que estávamos a quilômetros e quilômetros de distância por causa da tensão entre nós. Fiquei encarando o rosto dele até sentir que estava pegando no sono.