- O que você faz aqui? - resmungou Lily engolindo os soluços. - Aqui é o banheiro das meninas.

- Acho que a única que vai se incomodar de eu estar aqui será a Murta. - explicou Hugo encostando-se de costas na porta do cubículo.

- A Murta... - ao perceber do que o primo se referia, a ruiva deu um tapa na própria testa - Ah, não! - exclamou - Eu entrei no banheiro da Murta-que-geme? Era só o que faltava!

- Não importa, parece que ela está assombrando algum outro lugar, porque estamos aqui faz tempo e ela ainda não se pronunciou. Escuta - disse o garoto nervosamente querendo voltar para o assunto original - A gente precisa conversar.

- Sobre o que? - rugiu Lily - Sobre como você mentiu pra mim ou de como você me manipulou? 

- Lily, o que você esperava que eu fizesse? - suas orelhas coraram. Sentia que estava sem saída - Quando eu notei sua letra e percebi que você era RD -

Nem tivera a oportunidade de terminar a frase, pois a prima abriu a porta com tanta força que ele, por estar encostado na madeira, acabou caindo de costas no chão.

- Você sabia? - perguntou desacreditada. 

- Bem, preste aten-

Assim que ele tinha se levantado do tombo, Lily começou a lhe dar tapas na cabeça, nos ombros, nos braços e basicamente cada pedaço de corpo que ela conseguia alcançar.

- Você sabia que eu era RD antes mesmo de eu te contar? - a cada palavra ela o batia ainda mais forte.

- Quer - ai - Parar. Com - au - Isso? 

Percebendo que ela não ia ceder, Hugo a segurou dos braços impedindo os ataques.

- QUER ME ESCUTAR POR UM MOMENTO?

- Não! - gritou soltando-se de suas mãos - Você mentiu, você escondeu tanta coisa de mim, você -

- Você fez o mesmo! - exclamou em um tom ainda mais forte do que a outra.

O garoto não pretendia perder a cabeça daquele modo, ele esperava poder conversar tranquilamente, mas parecia que o único jeito de fazê-la calar era rugindo.

Assim que Lily amarrou a cara e ficou de bico calado, Hugo passou as mãos em seus próprios cabelos e suspirou cansado.

- Lily eu entendo que esteja com raiva - começou ao se acalmar - Sei que você esperava algo, bem, melhor - a garota arqueou uma sobrancelha - Mas o que você queria que eu fizesse? Nunca quis magoar você! Quando eu descobri quem era, não sabia o que fazer. Você estava agindo de uma maneira estranha, estávamos ainda mais distantes do que o normal e bem, eu... eu estava com inveja.

- Inveja? - perguntou sem entender - Inveja do que? De você mesmo?

- Bom, SIM! Você estava idolatrando um cara que nem sabia quem era. Você estava obcecada por essa pessoa desconhecida, dizendo o quão maravilhosa ele era e bem, o que isso dizia sobre mim? Você dizia coisas do tipo, "Ele me entende", "Ele é o único que se importa", eu sempre me importei! Você sabe que eu daria minha vida por você Lily e você nem se interessou. 

- Você fez todas essas coisas sem sequer saber que eu era RD, Hugo! Você não sabia que estava fazendo essas coisas por mim. Podia ter sido qualquer pessoa.

- Eu sei, mas é que... eu só queria animar alguém que parecia de algum modo triste, ta? Não foi você que tinha dito que por DD não saber quem era RD, fazia ele ainda mais bondoso? Pois ele estava procurando ajudar alguém desconhecido? - a garota não podia replicar aquilo. Hugo, tristemente, começou a olhar uma mancha no chão - Lily, uma das coisas que mais dói é saber que nós nos distanciamos de tal modo de que você nem sequer foi capaz de perceber que eu era ele, ou de eu ter notado logo de cara que você era RD - admitiu sentindo-se profundamente magoado - Eu nunca percebi o quanto você queria ter tido uma infância mais... bem, ter uma infância como toda menina tem. 

- Você nunca me contou que tocava violão - retrucou a ruiva - Ou que queria ser ator, ou de que na realidade era um gênio?

- E foi um erro ok? Eu deveria ter te contado tudo isso, mas isso são coisas que me envergonho. Ainda me lembro das malditas palavras do chapéu "Você tem o conhecimento e a habilidade de ser um Corvinal, mas alguém com o potencial é uma coisa e essa casa não merece uma pessoa que não tem a sede do conhecimento. Pode ser inteligente, mas seu coração não está nos estudos, mas sim em um outro lugar." Em vez de cair lá, igual a Rose, eu cai na Lufa-Lufa! Você acha que eu não me lembro das piadas que todo mundo contava da minha casa antes de eu cair lá? Pois eu ainda lembro muito bem e se quer saber, algumas delas eram realmente cruéis. 

Lily não dizia uma palavra sequer, somente escutava cada palavra do primo. Seu olhar era estreito e ela negava com a cabeça como se não aprovasse as palavras que saiam de sua boca.

- E do momento que nós dois fomos separados pelas casas, nós nos afastamos. Tivemos menos tempo um para o outro e de algum modo, quando eu comecei a me apaixonar pela música trouxa e a me interessar no entretenimento, tive medo de que você fosse rir de mim, ok? Tinha pânico de que ao descobrir isso, fosse rir de mim e desaparecesse da minha vida. De que ficássemos ainda mais longe um do outro do que já estávamos. Você tem toda a razão de ter raiva de mim, eu deveria ter dividido tudo isso à você e ao invés disso, eu só guardei mais e mais segredos.

- Raiva de você? - ela perguntou como se estivesse insano - Não estou com raiva de você! É que me sinto uma idiota Hugo, ta legal? Como você acha que me sinto, sabendo que a pessoa pela qual, como você disse estava obcecada, era meu primo? Meu melhor amigo? Eu... Eu sou uma pessoa horrível! 

As lágrimas voltaram a cair de seus olhos castanhos e Lily tampou seu rosto com suas mãos a procura de esconder seu rosto.

- O quê? - Hugo parecia confuso. Como é que ela mudou de odiar ele para odiar a si mesma? 

- Eu fui uma idiota! Quero dizer... Nem reconheci sua letra! 

Hugo, cuidadosamente, abraçou a amiga, que sem hesitar devolveu o gesto e começou a chorar em seu uniforme, molhando sua gravata da Lufa-Lufa.

- Pensei muito sobre isso - admitiu - Você não percebeu por que... Porque talvez estivesse tão presa na ideia de como DD poderia ser, na perfeição dele, que nunca imaginou que seria seu primo babaca.

Lily se soltou bruscamente do abraço e lhe deu um beliscão no braço. Sua expressão era dura e fria.

- Nunca - ela mandou apontando seu dedo indicador em frente do nariz do outro - Chame Hugo Weasley de babaca. Te avisei uma vez e estou repetindo!

Estava aguentava a vontade de sorrir, Hugo parecia estar tentando fazer o mesmo, mas diferentemente da prima, ele estava falhando.

- Além do mais, pare de ser idiota - continuou no mesmo tom severo - Nenhum de seus motivos é verdade.

- Então, por que você não reconheceu minha letra, por que você não havia percebido que era eu? Quero dizer, você não estranhou como Tyto é carinhoso comigo? Como ele gruda em mim pior do que cola?

- Talvez, e isso é só um talvez... No fundo, eu não quisesse realmente saber quem era DD?

De repente, Lily sentia que os dedos de seus pés eram muito interessantes, mesmo que estivera usando sapatos e não tivesse a capacidade de vê-los através do couro.

- Você estava certo, eu estive obcecada pela ideia de quem DD era, provavelmente, eu tinha medo de que meus sonhos deles fossem... só sonhos. De que ele não fosse o que eu imaginava ser. Tinha pavor de ter colocado minhas esperanças em alguém que não merecia... Tinha tanto medo disso, que todas as pistas que indicavam a identidade de meu Destinatário, foi tipo, simplesmente ignorado inconscientemente.

- Bem... - as bochechas do garoto agarraram a mesma cor que suas orelhas. Nervosamente, ele colocou uma de suas mãos atrás da cabeça - Parece que isso acabou de acontecer, não? DD não é nem um pouco parecido com a pessoa que você imaginava... Sinto muito por ter te decepcionado, Lily.

Hugo não sabia o que esperar. Aquela conversa era muito desconfortável para ambos.

Tudo que ele tinha certeza, é de que não esperava aquela reação da prima.

Por vários segundos torturantes, havia somente silêncio, mas então, absolutamente do nada, a risada aguda de doer os tímpanos de Lily ecoou pelo banheiro.

- Ai Hugo! - ela disse apoiando sua testa com uma mão - Será que o único que você sabe fazer é mandar o seu autoestima para o submundo? - mas então, ela se controlou e procurou voltar a ficar séria - Se eu fiquei surpresa? Sim. Sai correndo que nem uma mula? Sim. Estava com raiva? Sim, mas comigo mesma. Mas decepcionada com você? Nunca.

Lily sentia seu coração acelerar, o frio na barriga e um estranho choque em sua espinha.

Estava sentindo-se nervosa, mas não havia mais dúvidas.

Sentindo-se estranha, ela disse as palavras mais sinceras que já havia dito em sua vida. A frase era verdadeira e ela só percebeu aquilo, agora que sabia a identidade dele. 

Ainda se sentia idiota por nunca ter percebido antes, mas "antes tarde do que nunca".

E sem medo ou hesitação, ela disse:

- Hugo, eu tinha medo de que DD não fosse alguém a altura da ideia louca que eu tinha dele. Ao invés disso era alguém melhor que meu devaneio. Era você.

Antes mesmo que Hugo tivesse a oportunidade de realmente absorver o que estava acontecendo, Lily jogou seus braços no pescoço do ruivo e selou seus lábios em um beijo. 

Sem sequer pensar, ele enrolou seus braços em sua cintura e desfrutava aquela sensação maravilhosa que somente ela era capaz de fazê-lo sentir.

Podia sentir o cheiro de seus cabelos, seu estômago dar voltas e de seus pelos se arrepiando, mas não havia duvidas de que era incrível estar ali com Lily.

- Sempre foi você - ela adicionou assim que suas bocas se separaram depois de vários segundos.

Hugo sorriu e roçou seu nariz no da prima. Quando estava pronto para voltar a beijá-la, o som de um bater de palmas assustou os dois e os fez separar.

- Que lindo! - exclamou a fantasma que voava alegremente pelo banheiro - E NOJENTO! - gritou dessa vez com raiva atravessando Hugo que sentiu um calafrio. - Agora saiam do meu banheiro! Como ousam fazer um cena dessas quando sabem que eu estou sozinha. - Murta começou a soltar várias lágrimas prateadas - A Murta é solitária, a Murta nunca encontra amor, por isso vamos mostrar o quanto nos queremos em sua frente para que sinta inveja!

- Achávamos que você estava assombrando outro -

- SAIAM!

Aquele grito fez com que o Hugo se calasse.

Ao invés de falar alguma coisa, ele simplesmente agarrou a mão de Lily e a puxou para fora do banheiro.

- Que mau temperamento, não? - riu a ruiva.

Mas Hugo não estava mais ouvindo, ele estava preocupado demais em observar os lábios vermelhos onde anteriormente seus lábios estavam selados.

- Sabe o que eu percebi? - a garota provocou ao perceber o que seu primo queria. Ela voltou a envolver seus braços no pescoço dele e juntou seus narizes.

- O quê? - ele perguntou sem tirar seus olhos na boca da ruiva.

Lily mordeu seus lábios e lentamente aproximou seus lábios na orelha de Hugo.

Em um sussurro disse:

- Você nunca realmente me esclareceu a história do gato.

- É nisso que você está pensando agora? - ele perguntou caindo na risada.

- Eu nunca paro de pensar nisso. - retrucou satisfeita ao notar que sua pergunta havia causado o efeito que queria.

- Você é doida.

- Sim. - concordou voltando a aproximar seu rosto no dele - Mas sou sua doida.

Hugo estava prestes a afirmar o argumento, quando Lily o beijou mais uma vez.

Estavam tão distraídos um com o outro, que não haviam percebido que em cima de suas cabeças, voava uma coruja de celeiro com seu cachecol amarelo e preto a procura de um deles.

Às vezes o destino é engraçado. Ele pode juntar duas pessoas com motivos tolos.

Para essa história, foi só preciso  de um gato passando mal e obviamente de uma coruja cometendo um erro.

Sim, o destino prega peças, mas no final, ele nunca erra.