Linha Vermelha escrita por NaruShibuya
• Misaki PDV •
– Por que você está irritado? – perguntei ao avistar a entrada do hotel.
– Porque a Ayuzawa não é sincera... Não é sincera consigo mesma, e não é sincera comigo.
– Sincera? O que você... – ele me encarou, como se pudesse ver através de minhas mentiras. Senti meu corpo tremer.
– Onde vocês estavam?! – perguntou o professor. Me esqueci completamente que eu ainda estou em uma excursão escolar... Senti minha garganta coçar, e logo em seguida espirrei. Ótimo, porque tudo que eu precisava agora era ficar doente. – Você está bem, Ayuzawa-san? Você está pálida. E ensopada. Devia voltar para seu quarto e se trocar.
Fiz um pequeno gesto afirmativo.
– Estou apenas um pouco cansada.
– Usui, por favor, leve sua colega para o quarto das garotas. Mais tarde mandarei um médico para examiná-la... E não saiam deste hotel!, mais tarde conversarei com vocês.
Fiz uma careta e me dirigi para o quarto das garotas. Usui me seguiu, mas continuou quieto e me fitando. Suspirei.
– Você está bem, Ayuzawa?
– Eu pareço bem, Usui? – o vi arquear uma sobrancelha e me senti culpada. Ele só está preocupado... Ele só está preocupado. Me senti mal por tratá-lo daquela maneira. – Desculpe. Eu estou bem, só não quero continuar aqui mais tempo que o necessário – entrei no quarto e o esperei entrar, então fechei a porta e sentei na cama.
Ele negou com a cabeça, me repreendendo.
– Você deveria se trocar primeiro. Eu esperarei você retornar.
Peguei minhas roupas e saí do quarto, indo me trocar no banheiro. Quando retornei, ele também já havia trocado de roupa, apenas os cabelos continuavam pingando.
Joguei minha toalha em sua direção.
– Seque-se, ou ficará doente – ele colocou a toalha na cabeça, e se virou em minha direção.
– O que há com esse lugar que, desde que você chegou aqui, a incomoda tanto?
– Não é o lugar, Usui... Não exatamente o lugar.
– Me conta? – pediu.
Neguei com a cabeça. Não quero lembrar sobre essas coisas mais que o necessário... E ter que explicar tudo para o Usui...
Ele me abraçou, me puxando para que sentássemos na cama e eu ficasse apoiada em seu peito.
– Tudo bem. Eu esperarei você estar pronta. Eu não tenho a intenção de sair do seu lado, de qualquer maneira – apertou os braços ao meu redor, e eu posso jurar que ele está sorrindo.
Não tem a intenção, não é? E quanto tempo mais será que essa paz irá durar?
Me virei em sua direção, ficando de joelhos sobre a cama, e comecei a secar seus cabelos com a toalha.
– Você devia voltar ao seu quarto, Usui. Espera... Cadê os outros alunos? – perguntei, apenas agora dando por falta das outras garotas que deveriam estar no quarto nesse momento.
– Outra atividade sobre a excursão... – escutei a porta bater. Olhei em sua direção, fazendo uma careta a seguir. – Eu não sabia que era permitido esse tipo de comportamento entre alunos em uma excursão escolar – disse Yui. Suspirei. O que essa garota quer, afinal de contas?
Usui a encarou, frio. Parecia irritado novamente.
– Usui-san, você não tem nada melhor para... fazer? – indagou. – Essa garota é perigosa. Você devia realmente ter cuidado com ela.
E, está aí, mais um problema desnecessário para eu lidar.
– Talvez você precise de algo melhor para fazer, Sasaki-san – respondeu friamente.
Vi um rápido sentimento de dor e ódio relampejar pelos olhos claros da garota a nossa frente. Ela se virou e saiu do quarto, batendo a porta com violência.
Usui olhou pra meu rosto, cauteloso.
– Você a conhece? – é claro que ele iria perguntar...
– De certa forma – confirmei.
– Tem a ver com essa cidade e o que aconteceu aqui? – confirmei levemente com a cabeça.
– De certa forma... Isso é algo que aconteceu há muito tempo, de qualquer maneira – as palavras pareciam pairar no ar, sendo rodeadas pelo silêncio que se instalou, até serem totalmente suprimidas pelo mesmo.
• Usui PDV •
Ayuzawa, o que aconteceu com você antes de sair dessa cidade?
Suspirei.
Não adianta perguntar; ela não irá me responder até estar pronta, e eu não quero pressioná-la.
Segurei carinhosamente as mãos que passavam a toalha em meus cabelos, retirando-as em seguida junto ao pano úmido.
Observei seu rosto relaxar enquanto seus lábios se separavam sutilmente um do outro, soltando o ar que prendera.
– Bonito – a escutei murmurar enquanto me observava, perplexa. Sorri.
Ela passou as mãos por meus cabelos, desgrenhando-os mais do que provavelmente já estavam, e continuou a observar.
– Gosta do que vê, Ayuzawa? – ela corou. – Gostaria de uma foto? – ela continuou a me encarar, como se não tivesse me escutado.
– Parecidos... – murmurou novamente, os olhos um pouco mais abertos do que o normal.
Ela se afastou abruptamente, levantando-se da cama. Virou de costas para mim, andando em direção a janela.
– Ayuzawa? O que houve? – levantei da cama e parei atrás da garota que observava o céu chuvoso.
Ela me encarou como se não pudesse me ver. Como se não pudesse ver nada.
A segurei pelos ombros e ela pareceu despertar.
– Usui? Desculpa... – olhou novamente pela janela, estremecendo.
– Ayuzawa, você está bem?
– Sim, apenas incomodada porque não para de chover... Desculpe se... Se o fiz se preocupar comigo.
• Misaki PDV •
Encarei Usui e vi um rosto conhecido. Um rosto que eu não via há anos...
De fato, os cabelos bagunçados me lembravam muito ele.
Pisquei com o barulho repentino. Usui me encarava, suas palmas ainda unidas depois de usá-las para me chamar a atenção.
– Perdão, Usui – ele continuou a me fitar, preocupado. – Hey, eu acho que está na hora de você voltar para o seu quarto. Eu estou bem, é sério.
– Você...
– Eu prometo que eu não irei sair novamente – levantei a mão direita, como que para dar a ele certeza de que falava a verdade. E, de fato, eu não tinha nenhuma intenção de sair deste quarto, ainda mais para a chuva.
Ele suspirou. Parecia ponderar se era seguro me deixar sozinha novamente.
– Qualquer coisa, me chame – depositou um beijo em minha bochecha e foi embora sem dizer mais uma palavra.
Eu o estou magoando, percebi.
Escutei a porta bater novamente e me virei, pensando ser Usui.
Encarei a garota parada a minha frente. Ela me fuzilava com os olhos, os cabelos bagunçados e pingando.
– Yui... – suspirei. – O que quer?
– Que se afaste de Usui Takumi.
Arqueei uma sobrancelha. Ela ainda está com isso?
– E se eu não quiser...? – perguntei, cautelosamente.
– Você o está magoando! Será que não percebe?! Você pretende fazer com ele o mesmo que fez nesse lugar? – senti minha garganta apertando e uma leve pontada no peito.
– E... e o que você tem com isso?
– Ele era meu – me empurrou contra a parede, segurando minha blusa com força. – Você o levou!
– O q... Você nunca disse nada! Nem ele sabia! A culpa não foi somente minha! Eu gostaria de poder mudar o passado, Yui, mas eu não posso. Você não foi a única que saiu machucada por causa dessa confusão. Tanto eu quanto o...
Me deu um tapa, fazendo-me parar de falar. Suspirei ao sentir o local atingido arder. Isso vai deixar uma bela marca mais tarde... Olhei em seus olhos e vi que aquilo ainda doía nela.
– Eu vi... – ela me soltou e se afastou, a voz repleta de mágoa. – Eu vi vocês se beijando! Eu vi quando ele pediu, e mesmo você sabendo, você aceitou!
Senti meu rosto esquentar, de vergonha e raiva.
– Eu não podia negar... Você... Você também sabia! Você disse que não se importava! Mesmo eu o tendo conhecido primeiro que você, eu perguntei se estava tudo bem! – acusei. – Você disse que se eu quisesse, como também gostava dele, poderia fazer o que eu bem entendesse!
– Afaste-se dele, Misaki.
– Não posso.
– Afaste-se dele! – me encarou novamente, olhando em meus olhos, até parecer encontrar algo lá.
Se afastou de mim como se tivesse levado um choque, então começou a gargalhar.
A encarei, perplexa.
– Não pode, não é? Isso é realmente muito bem feito para você, Misaki. Você sabe como isso irá terminar – saiu do quarto com uma toalha em uma mão e uma muda de roupa em outra.
Me joguei na cama, sentindo algo embaixo de meu corpo, puxei o objeto, curiosa. Um celular?
O coloquei em cima do criado-mudo que tinha perto da cama e virei em direção para a parede.
• Usui PDV •
Coloquei a mão no bolso procurando o aparelho que deveria estar ali. Vasculhei a cama, a mochila e o resto das roupas, mas nem sinal do celular. Eu provavelmente o esqueci no quarto das garotas...
Voltei pelo caminho que eu acabara de fazer, parando em frente a porta ao escutar duas vozes vindo de dentro do quarto.
– Que se afaste de Usui Takumi – encostei-me a parede e esperei, curioso.
– E se eu não quiser...? – Ayuzawa respondeu, desafiadora. Sorri.
– Você o está magoando! Será que não percebe?! Você pretende fazer com ele o mesmo que fez nesse lugar?
– Não consigo identificar a voz... – murmurei, distraído.
– E... e o que você tem com isso? – Ayuzawa questionou.
– Ele era meu – escutei um barulho alto de algo se chocando contra a parede vir de dentro do quarto.Pensei em entrar para intervir. Quando coloquei a mão na maçaneta para girá-la, escutei a outra garota dentro do quarto a acusar, furiosa. – Você o levou!
– O q... Você nunca disse nada! Nem ele sabia! A culpa não foi somente minha! Eu gostaria de poder mudar o passado, Yui, mas eu não posso. Você não foi a única que saiu machucada por causa dessa confusão. Tanto eu quanto o...
Escutei um estalo agudo. O local ficou em silêncio por alguns instantes, mas logo pude escutar as vozes novamente.
– Eu vi... Eu vi vocês se beijando! Eu vi quando ele pediu, e mesmo você sabendo, você aceitou!
– Eu não podia negar... Você... Você também sabia! Você disse que não se importava! Mesmo eu o tendo conhecido primeiro que você, eu perguntei se estava tudo bem! – acusei. – Você disse que se eu quisesse, como também gostava dele, poderia fazer o que eu bem entendesse!
– Afaste-se dele, Misaki.
– Não posso.
– Afaste-se dele!
O quarto ficou em silêncio novamente, então a outra garota começou a gargalhar.
Algo mais foi dito dentro do quarto, mas não alto o suficiente para que eu conseguisse entender.
Me afastei do quarto, e a porta não demorou a ser aberta. Observei Sasaki Yui se afastar a passos largos do local, parecendo mais triste do que com raiva.
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