Linha Vermelha escrita por NaruShibuya


Capítulo 24
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

22/11/2018



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• Misaki PDV •

 

Depois que a chamada foi desconectada, pensei em ligar para Usui, mas hesitei.

Continuei a segurar o aparelho em minha mão, enquanto o observava, por um período que pareceram ser de horas, mas não tive coragem de mover um dedo sequer.

Nos momentos que eu sentia que estava com coragem o suficiente e iniciava a chamada, no mesmo segundo a encerrava, sem que desse tempo sequer do aparelho do outro lado tocar.

Respirei fundo. Por que todo esse estardalhaço? É apenas um telefonema...

Mas não consegui me acalmar. Tudo parecia um pouco mais urgente quando se tratava desses assuntos, entretanto, tinha o sentimento de algo não resolvido entre nós desde o beijo.

O sentimento de covardia que me atingiu no momento e que me fez fugir também está aflorando, o que está me deixando ainda mais nervosa.

Finalmente criei coragem e liguei para Usui. Quando ele atendeu, com uma voz sonolenta, senti meu estômago contorcer levemente, mas me controlei para não desligar, e muito menos para não jogar o aparelho longe.

— Usui – disse, de forma mais casual que consegui -, desculpe, eu te acordei?

Ele murmurou alguma coisa que não consegui entender, mas parecia surpreso.

Ouvi um leve barulho do outro lado, e deduzi que ele estivesse se sentando, para que não adormecesse novamente, e ficasse mais confortável.

Bocejou levemente antes de se pronunciar de forma clara.

— Não tem problema... Para você me ligar, deve ter um motivo. Aconteceu alguma coisa? – pergunta pausadamente.

— Sim. Acabei de receber uma ligação de um homem que desconheço. Ele não me abordou como os outros, de forma direta. Ele foi totalmente esquivo, e quis marcar um encontro comigo. Não me disse seu nome e nem do que se tratava, e eu sugeri em levar você, e ele concordou, embora tenha praticamente exigido que te deixasse totalmente no escuro sobre esse e qualquer outro assunto.

Usui permaneceu quieto, e por um momento cheguei a cogitar a hipótese de ele ter caído no sono novamente, até ele finalmente se pronunciar, com certo receio.

— Você não tem nenhuma pista de quem poderia ser?

Suspirei pesadamente.

— Infelizmente não. Era um número desconhecido, provavelmente nem era um telefonema do mesmo país que o nosso. Tudo que eu posso dizer era que a pessoa parecia ter um leve sotaque, que eu não consigo identificar, e uma voz grave, quase senil...

Ouvi novamente barulhos do outro lado da linha, e comecei a me indagar sobre o que ele estava fazendo...

— Eu acho que sei quem era – diz por fim, com uma voz séria.

— Você parece irritado – comentei, apesar de ser muito mais uma observação pessoal do que uma frase diretamente dirigida para o loiro. – Quem era?

— Meu avô.

Senti novamente aquele peso no estômago, percebendo finalmente a delicadeza da situação.

— Ele estava te sondando. Nos sondando. Ele queria saber sobre sua relação comigo, e te convencer a se encontrar com ele, para te dissuadir dos seus planos, o que atrapalhará diretamente com seus negócios, inclusive sua ambição de prender a mim e Gerard sob seu domínio, para poder controlar todo o seu império, pelo menos as partes que ele não tem total controle, como ele sempre quis.

— Espera, o quê? Usui, isso não tem sentido! Seu avô jamais ligaria diretamente para mim apenas para fazer esse tipo de abordagem! Não faz sentido! Seria muito mais tático enviar alguém para nos vigiar...

— Sim, eu concordo. Ele já fez isso – respirou fundo, antes de continuar. – Eu já percebi vários indícios de que existem pessoas nos seguindo a todo momento, e estão, inclusive, transmitindo relatórios nesse exato momento para todos os que estão trabalhando a mando dele.

Suspirei. Todo esse clima pesado está me fazendo sentir sufocada. Sorri, me esforçando para afastar a situação o máximo possível da minha cabeça.

— Se ele acha que vai me fazer recuar apenas com isso, acho que ele se enganou – Usui suspirou do outro lado, derrotado. Sim, eu sou teimosa.

— Não faça nada precipitado, Ayuzawa. Esse não é um jogo que nós podemos jogar achando que nada vai acontecer porque somos adolescentes. Essas pessoas são perigosas.

— Eu tenho consciência disso – disse amargurada. – Mas nós também não podemos recuar!

Ficamos em silêncio por alguns momentos. Provavelmente ele estava irritado comigo por causa da minha teimosia, mas eu simplesmente não me importo. Mais importante do que isso, tem algo me incomodando com relação ao que Usui disse sobre quem poderia ter me telefonado mais cedo, então decidi externar isso para ele.

— Usui, tem algo me incomodando sobre esse telefonema... – antes que ele tivesse tempo de dizer qualquer coisa, eu completei a frase: - Essa pessoa entrou em contato com a minha mãe primeiro, antes de conseguir falar comigo, na verdade. E minha mãe cedeu meu número de telefone para ele.

“O que me incomoda é o simples fato de que eu conheço minha mãe, e ela simplesmente não iria dar o meu telefone para alguém que ela não conhece e que não lhe é de extrema confiança. Outra coisa que não faz sentido é: se é realmente o seu avô e minha mãe por um acaso o conhece e confia nele, por que ela não tentou sequer me dissuadir sobre me envolver com tudo isso? Ou melhor, por quê ela não desmentiu ou confirmou o fato de qualquer envolvimento dele ou de qualquer pessoa a mando dele na morte de meu pai?”

“Isso simplesmente não se encaixa, você não concorda?”

Ele ficou em silêncio novamente, avaliando o que eu acabei de falar, mas por fim, concordou.

— Se isso o que você está dizendo sobre sua mãe é verdade, e na verdade faz muito sentido ela não te expor a qualquer um, então eu também não entendo como ele pode ter conseguido o seu contato através da sua mãe. Pode ser que ele tenha ameaçado ela, ou algo parecido...

— Improvável – o cortei. – Minha mãe não é do tipo que se dobra a ameaças quando se trata de suas filhas. Ela não iria ceder, e iria arcar com as consequências.

Ele suspirou pesadamente do outro lado.

— Ele pode tê-la ameaçado ao ameaçar vocês... – disse, como se fosse óbvio.

Bufei, revirando os olhos.

— Continua sendo improvável. Todos que conhecem minha mãe, e eu imagino que eles a conheçam por intermédio do meu pai, ou até mesmo por espionagens externas, sabem que ela não iria ceder, mesmo que nós fossemos ameaçadas. Pelo contrário. Essa é a única maneira de fazer minha mãe querer se envolver em qualquer assunto que a desagrade.

— Vamos apenas nos manter cautelosos. Se algo der errado, recuamos – respondeu por fim, simplesmente ignorando o que eu havia dito.

Me senti irritada, e não consegui conter minha resposta, que atingiu mais rápido meus próprios lábios do que meu cérebro:

— Quando você se tornou tão covarde?

— O quê? – perguntou, abismado.

— Eu disse: quando você se tornou tão covarde?!

— Ser cauteloso não é ser covarde, Ayuzawa! Eu estou zelando por nós dois!

— Está mesmo, Usui? Porque tudo que eu vejo é você se afastar quando tudo fica complicado.

— E o que você quer que eu faça? Viaje para a Inglaterra, invada o castelo em meio a gritos e desafie meu avô para ver quem tem mais capacidade? Tudo que eles estão esperando é um deslize meu... Um deslize nosso! E no momento que eles colocarem as mãos em mim, eles vão conseguir matar meu irmão!

— Usui, você já parou para pensar que se eles quisessem te pegar, tudo que eles iriam precisar era invadir seu apartamento e te levar a força para lá?... – disse, deixando transparecer todo o meu enfado. Ele ficou quieto, então eu prossegui. – Também parou para pensar que provavelmente era o que seu avô pretendia fazer com seu irmão e por isso ele teve que desaparecer, se fingindo de morto até para você?... Se eles ainda não fizeram isso, é porque eles estão esperando algo.

— Eles estão esperando você... – disse ele por fim, o que me calou por alguns instantes. – Você é o elo que vai unificar o poder de todos os que não estão sob o controle dele, e eu vou liderar tudo o que ele tem. Sendo assim, tudo vai estar sob a jurisdição da minha família. É por isso que todos aqueles nobres estão te ajudando, mas diferente do meu avô, eles querem que a nossa união traga paz e harmonia. Eles estão te ajudando porque veem em você toda a capacidade que Sakuya tinha para o bem, e sabem que se conseguirem unificar todo o nosso poder, não tem mais nenhuma chance de toda essa guerra sangrenta continuar.

— Então pare de fugir. Enquanto não aceitarmos de que já estamos completamente rodeados pelo problema e que não tem para onde escapar, nós não vamos chegar a lugar algum. Nós nunca seremos livres dessa forma...

Ele soltou um leve riso pelo nariz, discordando sutilmente do que eu havia acabado de falar.

Me irritei de vez, jogando as palavras sem o menor remorço.

 

• Usui PDV •

 

— Você quer ter a sua liberdade, não é? – praticamente bradou. Era a primeira vez que ela citava de forma tão direta o meu interesse em todo esse rolo em que estávamos nos metendo. – Eu quero a minha liberdade também, Usui, mas mais do que isso, eu quero mostrar para todos aqueles envolvidos naquele fato que nem tudo é resolvido da maneira ilegal. Vou mostrar para eles que eu posso e irei superar o meu pai, e isso não é necessariamente bom para todos os envolvidos. Eu não tenho um motivo lógico para fazer o que eu estou fazend---

— A não ser por vingança – cortei-a. Apesar de discordar completamente desses motivos, eu não posso julgá-la, afinal de contas, eu tenho certeza de que minha reação seria a mesma caso o que aconteceu com ela acontecesse com Gerard.

— Vingança? – ela riu levemente. – Eu nunca disse que eu quero vingança, Usui – sua voz não parecia trazer uma mentira, o que me deixou confuso.

— Mas se não é por vingança, então por quê? – perguntei por fim.

— Seria um pouco mentira se eu dissesse que isso não passou pela minha cabeça em nenhum momento – comentou -, mas eu percebi que não vale a pena, afinal de contas, papai não vai voltar, mesmo que eu faça todos os envolvidos pagarem, que os humilhe, os deixe sem dinheiro algum. Tudo que eu quero é seguir adiante. Eu quero realmente provar que eu posso me igualar ao meu pai, ou até mesmo superá-lo, mas isso é apenas para satisfação própria... Aliás, se eu posso utilizar toda essa situação para ajudar outras pessoas e impedir que muitas mais sejam mortas durante todo esse jogo de poder, eu me doarei sem hesitar.

De certa forma, sinto um tipo de orgulho que não sei explicar. Era como se o fato de ela querer se vingar manchasse um pouco a imagem que eu tinha feito dela em meu subconsciente, e agora com essa revelação, a imagem está intacta novamente.

— E o que pretende fazer sobre o possível encontro? – retomo o assunto, lembrando o motivo do telefonema.

— Se ele entrar em contato novamente, eu irei. Espero poder contar com o seu apoio.

Sorri.

— Estou sempre à disposição. Gostaria de te fazer uma proposta – emendo, antes que ela tivesse tempo de falar qualquer coisa, ou desligar.

— Que tipo de proposta – ela soou desconfiada. Quase não pude segurar a risada.

— Não é nada do que você está imaginando, não se preocupe. É um tratado de paz.

— Tratado de paz? – pergunta por fim, ainda desconfiada.

— Primeiro, eu gostaria de te pedir desculpas pela minha atitude de mais cedo. Eu fui um completo canalha, um idiota, e egoísta. Eu deveria ter agido pensando mais em como você iria se sentir, e eu me arrependi muito do que eu fiz, por isso, te peço perdão.

Ela pigarreou levemente, mas enfim respondeu, com cautela.

— Eu preciso de um tempo para digerir isso – antes que eu pudesse falar, ela completou: - não as desculpas, mas o ato em si. Eu sei que você espera uma resposta direta minha. Eu entendo o suficiente para saber pelo menos isso... E eu não vou mais fugir – disse, resoluta.

Pego totalmente de surpresa, não soube o que dizer, então ficou um silêncio estranho.

— E então, sobre o que é esse tratado de paz? - desconversou por fim.

— Apenas quero que voltemos a ser como éramos. Sem segundas intenções, sem beijos forçados ou avanços desnecessários. Apenas nós da forma que é correta, pelo menos correto o suficiente para não ultrapassar nenhuma barreira que te deixe constrangida ou te faça se sentir insegura em ficar perto de mim. Claro, ainda precisamos continuar com a nossa novela: eu fingindo que sou superior a você e que te tenho em minhas mãos pronto para te utilizar da forma que eu achar melhor, sem me importar com seus sentimentos, e você fingindo que se arrasta aos meus  pés e dá o mundo por mim.

Ela suspirou.

— Você está se contendo novamente.

Parei de andar para lá e para cá no quarto e me sentei novamente na cama, confuso.

— Bom, sim, estou – respondi com sinceridade -, mas essa não é a questão. O ponto é que, mesmo que eu te deseje de todo o meu coração, eu não posso forçar um avanço sobre você. Principalmente se esse avanço te faz sentir acuada, confusa, ou te transmita qualquer sentimento negativo.

— Obrigada.

— Vou te deixar dormir agora. Está tarde, apesar de eu não ter ideia de que horas são – ela riu levemente, e eu sorri, me sentindo mais leve. – Boa noite, Ayuzawa.

— Boa noite, Usui.

Desligamos, e eu voltei a me deitar.

Parece que eles começaram a se mover.

O que será que eles querem agora? Concordo com Ayuzawa que é suspeito sua mãe ter dado uma forma de contato tão direta para esse homem misterioso, que eu julgava ser meu avô, mas agora não tenho mais tanta certeza.

Em meio a todos esses pensamentos, eu acabei adormecendo.


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Notas finais do capítulo

Então, gente, eu tive bastante dificuldade para escrever esse capítulo, devido a falta de tempo e os estresses que eu venho passando em minha vida particular. Vou resumir em dizer que tá difícil.
Enfim, eu acabei o capítulo meio sem graça, e sei que não aconteceu absolutamente nada nesse capítulo, mas eu preferi postar logo de uma vez do que ficar prendendo o capítulo, porque só Zeus sabe quando vou conseguir postar isso.
Enfim, desculpem a demora; desculpem o capítulo sem graça; desculpem por tudo.
Espero que vocês ainda encontrem pelo menos algum mínimo prazer nessa fic, e que ver que ela foi atualizada depois de alguns meses traga pelo menos a menção de um sorriso em seus lábios.
Até o próximo.



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