Linha Vermelha escrita por NaruShibuya


Capítulo 21
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Olá :). Eu falei que ia tentar postar mais, e que ia escrever no trabalho o máximo possível, e estou tentando cumprir. É meio complicado escrever lá, porque quando eu tenho alguma ideia, sempre vem alguém pra me perturbar, e eu acabo tendo que ficar me interrompendo toda hora, e isso me desanima bastante de pegar na fic, mas eu não vou desistir dessa estória!
11/04/2018



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• Misaki PDV •

 

Fui para casa o mais rápido que eu conseguia. Minha cabeça estava a mil, e não conseguia formar qualquer tipo de pensamento lógico no momento.

Se todos esses papeis forem verdadeiros, quer dizer que meus pais mentiram para mim e para Suzuna nossa vida toda. E mais, meu pai cometeu atos horrível, e vai saber mais o que ele fez.

Agora, parando para pensar, provavelmente o motivo de toda essa caça ao irmão de Usui, foi porque meu pai morreu, fazendo com que fosse necessário alguém assumir o seu lugar... E quem melhor para isso do que o próprio herdeiro?

Era uma jogada muito lógica. O herdeiro assumiria o lugar de alguém de uma família de fora, que estava "roubando"  uma parte do poder do duque, porque tinha poder aquisitivo quase em igualdade... Se Gerard assumisse o cargo que supostamente era de meu pai, o Duque teria todo o poder para si e para a sua família...

Não acredito! Isso não tem como ser real! Existe um limite de mentiras que os pais podem contar aos filhos, e o tanto de coisas que eles podem esconder!

Como minha mãe iria viver com essa mentira, sendo a pessoa que era?!, e como ela iria esconder essa quantidade absurda de dinheiro?!

Assim que entrei em casa, me esbarrei com minha mãe. A mulher que nos criou com tanto amor e ternura no momento me parecia uma pessoa tão estranha... Era como se eu nunca tivesse de fato a conhecido.

Ela viu minha expressão, e seus olhos desceram vagarosamente até a enorme pasta em minhas mãos.

Seu sorriso desapareceu de seus lábios e seu olhar, antes gentil, parecia ter endurecido.

Eu não sabia o que falar. Afinal, o que eu poderia dizer? Você mentiu a vida toda para nós e nós na verdade somos ricos?

— Misaki... - ela também parecia não saber o que dizer.

— Eu quero... - bufei. Eu não conseguia pronunciar as palavras. Ao invés de tentar falar mais alguma coisa, andei até a cozinha e coloquei a pasta em cima da mesa. Quando ela se aproximou cautelosamente, eu percebi que ela já sabia.

Tirei os documentos de dentro e comecei a espalhar eles sobre nossa mesa minúscula e a encarei.

Palavras não precisavam mais ser ditas. Eu queria respostas e ela sabia. Agora só me restava saber se ela iria manter a mentira, ou se ela iria me dizer toda a verdade.

Ela se sentou à mesa com a foto das passagens de avião em seu nome e em nome de meu pai, que estavam datadas de dois anos antes de eu nascer.

Me sentei à sua frente e esperei ela se pronunciar. Quando se acalmou, ela olhou em minha direção.

— Como conseguiu esses documentos? - foi a primeira coisa que perguntou.

— É com isso que você está preocupada?! - perguntei, frustrada. - Você deveria se preocupar com as mentiras que você nos contou e não em como eu consegui esses papeis!

— Eu não menti, Misaki, eu só preferi não envolver vocês em tudo isso - ergueu um papel qualquer e depois o colocou sobre a mesa novamente. - Você sabe o quanto foi difícil me afastar de tudo isso depois que seu pai f... depois que seu pai morreu?...

— Por quê? - foi tudo que eu consegui dizer, com a voz embargada. Senti minha garganta se fechar.

— Seu pai era um homem importante na Inglaterra. Ele nunca permitiu que seu nome ficasse conhecido no Japão, pois nós morávamos aqui, e ele temia pelo bem estar de sua família. Seu pai fazia negócios com a família do Duque, mas que ele fazia exatamente, eu não sei. Eu nunca quis me envolver. Depois de um tempo, ele começou a a reclamar comigo sobre a família Walker. Certa vez ele me disse que ele e o Duque tinham tido uma discussão, porque o duque queria monopolizar todo o negócio, para poder amplicar seu poder sobre a própria Inglaterra e, com ele se metendo, o duque não era capaz de ter o monopólio e queria desfazer a aliança que eles tinham.

— Por que vocês nunca nos contaram?! - quis saber.

— Porque era perigoso, Misaki. Seu pai era ameaçado diversas vezes ao dia. Não creio que o que ele fizesse fosse algo ilegal, mas era algo perigoso. Pessoas que têm dinheiro, que têm poder, querem sempre mais. E isso o assustava. Ele falou comigo várias vezes sobre desistir e sair do meio desse jogo de poder, mas parece que algo sempre o impedia. Seu pai sempre foi um homem muito simples, e nunca gostou de esbanjar. Você se lembra de como ele era, de como era a nossa vida... Ele nunca deixou nos faltar nada, mas ele também nunca utilizou mais que o necessário, porque ele achava que se um dia algo acontecesse com ele, isso poderia ser prejudicial a vocês.

— Mas por que nunca nos disseram?

— Ele pretendia contar quando tivessem idade o suficiente para entender o que significava ser e fazer o que ele fazia, mas ele não teve esse tempo. Eu pretendia tocar no assunto quando Suzuna fosse mais velha. Ela sente muita falta do pai, e pode ser que essa nova imagem dele a afete de alguma maneira. Diferente de você, sua irmã é mais sensível e sentimental, apesar de não parecer.

Por algum motivo, eu me senti ofendida. Não era como se eu não sentisse falta do meu pai, e muito menos que eu não o amasse, eu apenas lidei com a morte dele de uma forma diferente - talvez não tanto - da minha irmã.

— Quando eu conheci seu pai, ele não me contou o que ele fazia. Várias vezes durante o ano ele viajava para a Inglaterra, mas ele nunca me contava o que fazia lá, e eu não perguntava. Eu não me achava no direito de impedir ele de fazer nada, e ele sempre me disse o mesmo... Que ele não tinha o direito de me impedir de fazer nada... Quando ele me pediu em casamento, ele me explicou que poderia ser perigoso me envolver com ele, me explicou o mínimo possível - porque eu pedi que fosse dessa forma - sobre o que ele fazia e me deu um tempo para pensar.

"Durante esse tempo, que foi de quase 6 meses, ele não entrou em contato comigo, apenas para me dizer ocasionalmente que ele não tinha fugido de mim... Era até fofo, sabe?" - riu levemente, se lembrando.

"E quando eu finalmente fui capaz de te dar uma resposta, eu o procurei."

Eu não conseguia entender. Minha mãe sabia que meu pai poderia estar envolvido com algo ilegal e perigoso, mas mesmo assim aceitou se relacionar com ele.

— Espera... Como vocês se conheceram? - perguntei, curiosa.

— No supermercado - ela sorriu. - Eu estava comprando as coisas para fazer a janta e ele estava procurando espuma de barbear... Bastante clichê, não é mesmo? - ela parecia ler meus pensamentos... Não consegui conter o sorrisinho que surgiu em meus lábios.

— Então a senhora não sabia?

— Eu sabia o que ele insistia em me contar, mas eu nunca quis me envolver. E também nunca quis esse dinheiro. Prova disso é que desde que ele morreu, as contas estão intocadas e a gente vive do jeito que a gente pode, com o meu salário do hospital...

— Mas têm passagens para a Inglaterra no nome dos dois - comentei, olhando para os papeis sobre a mesa novamente.

— Ah, isso?... Foi por causa da nossa lua de mel - sorriu amarelo.

Desviei o olhar, sem graça.

— Mas vejo que ainda tem algo que a preocupa... - disse. - O que houve?

— Parece que eu me envolvi no meio de uma briga, e não tenho mais como sair do meio disso tudo... - me recostei na cadeira, averiguando tudo o que estava acontecendo na minha vida nos últimos tempos.

— O que houve?

— Tem um garoto na escola... Eu não sabia quem ele era de verdade até hoje... Foi ele quem me deu esses documentos... - hesitei. - De forma resumida: depois que papai morreu, algumas coisas parecem ter entrado em colapso e agora o Duque de Raven Castle quer que seu neto e herdeiro primário assuma o comando as operações que meu pai comandava, mas seu neto, Gerard Walker, se recusou a fazer parte de tudo isso... Então eles estão se voltando para o herdeiro secundário, seu meio irmão... Usui Takumi...

Os olhos de minha mãe ganharam um brilho estranho e ela pareceu compreender de imediato o que estava acontecendo.

— Ele quer sua ajuda para se livrar do fardo, certo? - concordei vagarosamente, esperando para poder compreender aonde os pensamentos de minha mãe a estavam levando... - Uma união, imagino... Casamento? - murmurou para si mesma.

— O que? Não!

— Você gosta desse rapaz, não é mesmo? - me encarou profundamente, enquanto eu gaguejava de forma desajeitada.

— N-n-não... Não, é claro que não... - suspirei. - Eu não sei...

— Você é sempre tão sincera... - sorriu. - O que exatamente ele te pediu?

— Em namoro. Disse que por eu ser quem eu sou, filha de alguém insubstituível para eles, talvez uma união entre nós os impedissem de obrigá-lo a se casar e assumir parte dos negócios, fazendo com que o monopólio se torne, definitivamente, apenas da família do Duque...

— E por que hesita em ajudá-lo?

— Por quê? Porque eu não quero me envolver no meio desse tipo complicado de situação. E eu não quero namorar com ele somente por isso... Eu não vou ser usada dessa maneira.

— Mas admite que quer namorar com ele... - minha mãe sorriu sarcasticamente.

— Sim... NÃO! - bufei, tentando esconder meu rosto corado. - Você entendeu o que eu quis dizer...

— Sim, - sorriu - mas não resisti... - ela ficou séria. - Você tem que fazer o que achar certo, Misaki. Eu não posso opinar na sua vida. Porém, você tem que considerar todas as consequências que qualquer atitude pode significar em seu futuro - se levantou e parou ao meu lado. - Ajude-o se você puder e estiver disposta a ficar ao seu lado, independente do que ocorrer... Ou então seja sincera com ele, e mantenha distância. Para você, que chegou ao ponto onde se encontra agora, não existe um meio termo.

— Eu sei... - respondi por fim.

— Eu gostaria de te pedir apenas mais um último favor, Misaki... Não conte nada disso à Suzuna. Quando chegar a hora, eu mesma vou explicar a ela.

— Mas por que ela não pode saber? Ela já tem idade o suficiente para entender as coisas!

— Será mesmo? Como você se sente sobre tudo isso? Está confusa, frustrada e irritada, não é mesmo? Eu te disse antes, não foi? Sua irmã é mais sentimental e emotiva do que você... A reação dela não será a mesma que a sua...

— Mas! - tentei argumentar, mas ela pediu para que eu me acalmasse.

— E tem outra coisa. Eu não queria te contar isso, até porque é uma coisa que eu nego até para mim mesma, e a partir do momento que isso sair de meus lábios, vai se tornar real demais para eu lidar, mas eu preciso te dizer o motivo de eu não querer que Suzuna saiba de nada até ser madura o suficiente...

Ela não parecia confortável, e não parecia que ia continuar, e tinha algo dentro de mim que gritava que eu não ia gostar de ouvir o que ela tinha a dizer também.

Quando eu ia me pronunciar e dizer que ela não precisava me dizer mais nada, que já era informação mais que o suficiente, e mais do que eu poderia lidar no momento também, ela jogou suas palavras sobre mim de forma totalmente abrupta.

— Eu suspeito que um dos Condes ao qual servem o Raven Castle tenham encomendado o assassinato de seu pai.

Senti o chão aos meus pés sumir. Era como se eu tivesse despencado de uma altura enorme e no outro segundo, eu estivesse me chocando contra algo.

Era uma sensação que não tinha como descrever.

— Como é? - encontrei minha voz em meio ao turbilhão que eu era.

— Seu pai foi morto para que esse menino, Gerard, não é?, pudesse assumir.

Me levantei e andei até meu quarto sem esperar qualquer outra palavra da minha mãe.

Tinha um monte de mensagens na caixa de entrada do meu celular, mas eu não me sentia nem um pouco com vontade de ler nenhuma delas.

Quando larguei o celular em cima da cama e me virei para pegar roupas limpas para poder tomar banho, ele tocou. Ponderei em não atender, mas enquanto eu pensava, meu corpo se moveu sozinho, e o aparelho acabou em meu ouvido, esperando a pessoa do outro lado se pronunciar.

— Misaki? - ouvi a voz de Ren, e ele parecia preocupado.

— O que houve? - perguntei, mas minha voz soou baixa e fria. Eu estava me sentindo cansada demais até para falar.

— Você está bem?

— Sim, é claro - que não! - por que não estaria?

Ele soltou um longo e pesado suspiro.

— Eu estou por perto. Daqui cinco  minutos chego aí. E nem ouse tentar me ignorar, porque eu invado seu quarto pela sua janela. Você não está bem.

— Ok... Eu vou apenas tomar banho. Minha mãe deve te receber se você chegar e eu ainda estiver ocupada - e então desliguei.

E de fato, quando eu saí do banho, ele já me aguardava na nossa sala.

Desci as escadas apenas tempo o suficiente para poder pedir para que me acompanhasse, e subi para meu quarto novamente.

Ele me seguiu de forma silenciosa, parecia quase hesitante.

Quando eu finalmente entrei no quarto, eu desabei. Toda a pressão do que tinha ocorrido nos últimos dias me subjugou de forma violenta.

Sem ter forças para lutar contra a enchurrada de lágrimas, apenas me sentei na cama e chorei.

Ren se sentou ao meu lado e me abraçou, agora verdadeiramente preocupado. Ficou ao meu lado o tempo todo calado e me fazendo carinho no ombro, até eu me acalmar.

Depois de algum tempo, ele me obrigou a deitar na cama e se deitou comigo, me abraçando de frente, e apoiou minha cabeça em seu peito.

Eu apenas me mantive encolhida, e tentei o máximo que eu podia não pensar no que minha mãe disse.

— Ren - murmurei.

— Hm? - ele perguntou carinhosamente.

Neguei com a cabeça e apenas o apertei mais forte.

Não sei dizer em qual momento, mas eu adormeci pensando em meu pai, e no que ele poderia ter passado em seus últimos momentos de vida.

Se já era ruim saber que meu pai havia morrido cedo, imagina saber que ele foi morto por uma família para poder ganhar poder... Sinceramente, eu não sei como me sinto sobre tudo isso.

Quando acordei, Ren ainda me abraçava e me aninhava a si com carinho e de forma protetora.

— Está mais calma? - murmurou em meu ouvido.

Suspirei e concordei.

— Você não quer saber o que aconteceu? - perguntei por fim.

— Não vou negar que estou curioso... Mas se algo te abalou dessa forma, deve ser algo bem ruim, então eu prefiro não forçar você a me contar. Se um dia você se sentir confortável para compartilhar comigo, ou quiser desabafar, eu vou te ouvir... Caso contrário, eu vou te dar apoio mesmo sem saber de nada.

Sorri fracamente. Às vezes é bom se sentir aconchegada, mesmo sem precisar se explicar.

— Eu gostaria de te falar, Ren, mas eu sinto como se fosse se tornar algo insuportável caso eu pronuncie essas palavras... - e eu entendi mais do que nunca como minha mãe se sentiu por todos esses anos. Deve ter sido algo quase no limite de se viver para ela.

— Então não fale. Apenas descanse. Organize seus pensamentos e se acalme. Não se preocupe comigo, nem em me explicar nada - depositou um beijo em minha testa e me puxou para mais perto, estreitando o abraço.

Me aninhei melhor e voltei a dormir.

Quando acordei no outro dia, senti o vazio ao meu lado na cama. Ren não estava em nenhum lugar do quarto, e não tinha nem sinal de que ele tinha passado a noite ali.

Desci as escadas depois de escovar os dentes e trocar de roupa, e o encontrei sentado à mesa da cozinha com minha mãe. A pasta com todos os documentos estava sobre a mesa, mas os papeis já tinham sido guardados, porém tinha algo na expressão de Ren ao me avistar que me fez ter a certeza de que minha mãe tinha lhe contado algo.

Ele sorriu ao me ver e se levantou.

— Eu estava te preparando o café da manhã... Você não parecia que iria querer sair da cama hoje. Me desculpe se te fiz pensar que eu tinha ido embora assim que você adormeceu.

— Eu não pensei isso... - dei de ombros, e ele sorriu.

— Ok, eu acredito - disse irônico. Revirei os olhos enquanto Ren praticamente me obrigava a sentar à mesa.

Tinha um sentimento meio pesado entre eu e minha mãe. Eu não sabia como agir perto dela e ela não parecia saber como agir perto de mim. Acho que agora eu também compreendo o motivo de ela não querer contar para a Suzuna até ela ser mais madura... Se eu não sou capaz de compreender e assimilar tudo, como ela iria?

— Misaki, eu estou indo trabalhar. Se precisar de qualquer coisa, não hesite em me ligar. O mesmo vale para você, Ren.

Concordei levemente e a observei sair.

Assim que ela passou pela porta e a fechou atrás de si, me virei para Ren e perguntei:

— O que ela te contou? -

— Nada - deu de ombros. - Apenas me pediu para te dar apoio, porque você recebeu algumas notícias que te deixaram meio abalada...

— Você não estava com uma "cara de nada" quando me viu mais cedo.

— Sua mãe não iria trair sua confiança dessa maneira, Misaki. É sério, ela não me contou nada. Eu estou apenas preocupado com você, por isso estava com uma cara estranha.

— Ok. É só que tem muita coisa acontecendo nos últimos dias, e eu acho que não estou mais conseguindo lidar com a quantidade de informação. Acho que ontem eu cheguei no meu limite. Me desculpe se eu te deixei preocupado.

— Eu pude ver a Misaki dormindo... Você é tão fofinha assim... Já fazia tanto tempo que eu não te via daquela maneira - corei.

— Da próxima vez eu te deixo trancado do lado de fora - resmunguei, mas sorri. A presença de Ren me acalmava. Sem perceber, eu havia parado de pensar em tudo aquilo que estava me preocupando e dei lugar apenas a ele em minha cabeça.

Tomamos o café da manhã e voltamos para o quarto. Ficamos a manhã toda e boa parte da tarde deitados e conversando. Não havia mais tensão e nem preocupação, era apenas nós dois.

Ele fazia o possível para me fazer rir, e eu estava fazendo o possível para não ceder às suas brincadeiras.

Quando Suzuna chegou em casa, ela preparou a janta e Ren a ajudou. Ficamos na cozinha, até que minha mãe chegasse.

Embora, por um breve momento, eu tenha pensado que eu ia voltar a me sentir estranha perto dela quando ela voltasse para casa, isso não ocorreu. Eu me sentia mais leve e mais tranquila. Eu não posso mudar o que aconteceu, mas talvez eu possa mudar o que vai acontecer.

 

• Usui PDV •

 

— Você fez o quê?! - Cedric gritou, perplexo e furioso.

Parece que alguém já tinha contado para ele que eu entrei em contato com a Ayuzawa ontem e falei mais do que eu era suposto. Ou ele tem escutas em meu apartamento...

Acho que nunca vi alguém chegar tão rápido aqui em casa... E tão irritado...

— Eu contei para a Ayuzawa - repeti, apesar de ele já saber.

— Por quê? Você acaba de colocar a vida dessa garota em risco!

— Você acha que ela já não estava sendo almejada?! - perdi a paciência e rebati. - Se ela é realmente filha de um dos Barões mais importantes da Inglaterra, é claro que meu avô já está atrás dela! Ela é herdeira dele, droga!

Pela primeira vez Cedric se calou.

Ele não parecia ter considerado esse fato. Nem eu tinha na verdade, só me ocorreu agora...

— Por isso que você a colocou no meio do problema - sua voz era mais branda. - Seu avô não estava ciente de que Sakuya tinha tido uma filha. Ele era um homem muito metódico e muito cuidadoso, e nunca levou a família para fora do Japão, também nunca permitiu que seu nome fosse conhecido de uma forma muito ampla. Ele sempre escondeu a família, por isso ninguém sabia de sua existência.

Respirei fundo.

— Miyazono Maria entrou em contato com ela há três dias para alertá-la de que ela é uma peça valiosa e que pode ser utilizada por mim. Você acha mesmo que meu avô não sabia da existência das filhas dele?

— Filhas? - Cedric perguntou, abalado. - Ele tem mais de uma filha?!

— Ayuzawa tem uma irmã mais nova... - dei de ombros.

— Mesmo que a filha mais velha deixe de ser uma ameaça, a mais nova ainda será a herdeira por direito... E é certo que ele deixou documentos que comprovassem isso...

— Ela pode se unir a mim. Se ela fizer isso, nós vamos tirar o Gerard do perigo.

— Não vai ser tão simples assim... Uma união para agradar ao seu avô significa casamento. Você acha mesmo que ela vai abdicar da vida dela para salvar seu irmão? Ela não corre os riscos que ele corre, ou que você corre. Se ela assumir ou não, não vai mudar muito para o Duque. O poder já está nas mãos dele. Ele só quer que alguém ligado pela linhagem sanguínea o controle.

— Se ela forjar uma relação comigo, mesmo que seja um simples namoro, eu posso fazê-lo acreditar que eu tenho esse controle. Como ela não sabia sobre nada disso, e pela personalidade dela, eu não consigo imaginá-la querendo se envolver nesse tipo de coisa.

— É bom que seu plano funcione - Cedric disse de forma sombria. - Ou algo muito ruim pode sair disso...

 

• Misaki PDV •

 

Deitei na cama. Ren me encarava meio perplexo, deitado ao meu lado.

— Agora eu entendo porque você estava tão abalada...

Concordei.

— Eu demorei um pouco para conseguir associar tudo, mas agora tudo está mais claro.

— E o que você pretende fazer, Misaki? - ele me olhava preocupado.

— Eu não sei ainda, mas eu estava pensando em algo que pode ser arriscado.

— Você não está pensando em se envolver, não é?...

— Sim, estou. Se eles foram capazes de fazer isso com meu pai, que era alguém importante, eles também são capazes de fazer conosco. Se tudo isso é um jogo de poder, eu e Suzuna também estamos em perigo.

— E o que você pretende fazer?

— Assumir o lugar do meu pai - disse, enquanto me virava para olhar no fundo dos olhos de Ren.

— Você vai o quê?... Eu acho que não te escutei direito...

— Eu falei que vou assumir o lugar do meu pai.

— E como se meter no meio do fogo cruzado vai te proteger?! - ele parecia querer gritar comigo.

— Simples - fiz carinho em seu rosto, que estava realmente próximo ao meu. Se eu me esticasse apenas alguns poucos centímetros, nossos lábios se tocariam. - Mas não posso te explicar agora.

Fez careta, e aproximou mais ainda o rosto do meu.

— Você vai fazer besteira, não é? - seu nariz roçava o meu levemente. Era uma sensação boa.

— Não, não vou. Não se preocupe com isso.

— Quando você pede para eu não me preocupar, eu me preocupo mais ainda, porque você só fala isso quando pretende fazer alguma loucura...

— Eu não vou fazer nenhuma "loucura"... - disse. - Eu vou planejar cada mínimo movimento antes de me envolver de qualquer forma, mas eu também não posso ficar de braços cruzados esperando que algo aconteça!

— Ok, ok, não se irrite - murmurou. - Você já passou por bastante coisa ontem, e eu não estou aqui para piorar ainda mais o seu dia. Eu já te falei, não foi? Eu vou te apoiar em tudo que você precisar - deu um beijinho em meu nariz e sorriu, travesso.

Sorri, agradecida. Ele era assim. Nunca perguntava o que estava acontecendo, mas sempre me apoiava da forma que podia.

Senti meu celular vibrar embaixo do travesseiro que Ren estava deitado. Ele enfiou a mão sob o objeto macio e pegou o aparelho.

Antes que eu pudesse fazer qualquer movimento, ele abriu a mensagem e começou a ler. Suspirei e esperei que ele me passasse o celular, ou dissesse alguma coisa.

— Parece que a disputa por você agora aumentou - disse em tom debochado.

— Deixa eu adivinhar: - falei - é uma mensagem de Usui falando algo sobre namoro para poder unir forças e derrotar o avô malvado dele...

Ren riu com o meu tom de voz, mas concordou.

— Aqui diz: Eu sei que você provavelmente não quer falar comigo agora, e sei que isso não é algo fácil de lidar, mas eu preciso da sua ajuda. Acredite em mim quando eu digo que eu não queria ter te envolvido nisso... - Ren arqueou uma sobrancelha. - Ele não parecia preocupado assim quando te jogou todas aquelas informações no outro dia.

— Ren... - disse em tom brando, e peguei meu celular de sua mão. Não me preocupei em ler a mensagem porque sabia que ele não mentiria sobre o conteúdo. - Você sabe que eu vou precisar dele...

— Então você está pensando em aceitar o pedido de namoro daquele cara?, mesmo sabendo que ele está fazendo isso para te usar?...

— Não é como se eu fosse namorar com ele de verdade... Eu nem vou beijá-lo, se é isso que te preocupa - disse zombeteira.

Ele fez uma careta.

— Ah... Então é isso que te preocupa - disse, sarcasticamente.

— É claro que não - bufou. - Eu me preocupo com você.

Ri de sua expressão. Pelo menos por alguns momentos eu estou me livrando de toda a tensão. O que aconteceu, não me importa mais; e o que vai acontecer, não me preocupa. Não nesse momento.

Agora eu sou somente eu, e sou somente de Ren, e estou apenas aproveitando as coisas como elas estão, e como elas são.

Eu não sei como será quando eu começar a me mover, então eu vou apenas aproveitar os meus dias calmos.

Mas me lembrei que a calmaria não duraria muito tempo, e eu já precisaria estragá-la agora. Aproveitei que meu celular ainda estava em minha mão e rapidamente digitei uma mensagem para Usui, dizendo que gostaria de falar com ele amanhã no terraço do colégio, na hora do intervalo.

A resposta positiva não demorou a aparecer.

Ren tomou o celular de minhas mãos e o colocou sobre o criado mudo atrás de si.

— Agora chega desse assunto chato - resmungou, enquanto me aninhava em seu peito. - Aliás, Misaki... Sua mãe não se importa comigo ficar em seu quarto? - abaixou o olhar para poder me encarar.

Ri levemente.

— Nem um pouco... Ela confia em mim... Além do mais, nós não estamos fazendo nada - sorri sarcasticamente.

— Você queria estar fazendo?

— É claro... - sorri maliciosamente e ele me encarou, chocado.

Sem conseguir segurar, comecei a rir de sua expressão.

— Você é uma pessoa muito cruel, sabia?... Não se deve brincar com os sentimentos de um homem apaixonado, - se inclinou para sussurrar em meu ouvido - e muito menos com os desejos de um.

Senti um arrepio percorrer meu corpo e meu rosto começou a esquentar rapidamente.

O afastei bruscamente.

— Não faça isso - reclamei, ainda sentindo leves arrepios percorrer por meu corpo.

— Por quê? Te faz pensar como seria? Te faz querer provar?— sussurrou novamente em meu ouvido, de forma sedutora.

Trinquei os dentes para evitar que qualquer tipo de som estranho deixasse meus lábios.

Pigarreei, tentando encontrar minha voz, enquanto nevaga freneticamente com a cabeça.

Ele se afastou levemente de mim e puxou o cobertor, colocando-o entre nós dois e sorriu maliciosamente.

Acho que todo o sangue do meu corpo estava em meu rosto. Quem era essa pessoa na minha frente? Certamente eu nunca vi esse lado de Ren antes.

— Sem fôlego, Misaki? - fez um leve floreio em meu nome. Abri e fechei a boca, mas nada saiu dela.

Vagarosamente ele se esticou, colocando o peito sobre meu corpo, e aproximou os lábios de meu pescoço. Coloquei a mão para impedir o avanço dele, enquanto ele mordiscava meu pescoço.

Sem conseguir controlar, deixei escapar um leve gemido, que tentei disfarçar tossindo.

Sem mais se conter, ele deixou parte de seu peso cair sobre mim, e começou a gargalhar.

Riu até chorar, e quando eu achei que finalmente havia parado, ele recomeçou a rir.

Bufei, e o afastei de mim.

— Desculpe, Misaki - disse, com dificuldade. - Eu não sabia que teria um efeito tão grande em você... - riu mais um pouco.

— Tsc - resmunguei. - Não faça isso novamente... Ou vai ter que terminar o que começou - provoquei e sorri de forma pervertida.

Seu rosto adquiriu uma coloração levemente rosada, mas ele não recuou, como eu achei que faria... Esse jogo está ficando perigoso.

Ele novamente deu um beijo em meu pescoço e se afastou.

— É melhor parar... Não é uma boa ideia ficar brincando com esse tipo de coisa.

O que será que ele faz se eu... Sorri e ele arqueou uma sobrancelha. O puxei para perto e num rápido movimento, troquei de lugar com ele. Tomei todo o cuidado possível para não encostar em nenhum lugar que não fosse do umbigo para cima.

Seus olhos se arregalaram enquanto ele olhava fixamente para o sorriso que eu não consegui conter.

Apoiei as mãos no colchão, uma em cada lado de sua cabeça, e me inclinei. Nunca esperei que ele fosse paralizar dessa forma. Segurei o riso o máximo que pude, mantendo apenas o sorriso.

Quando meus lábios estavam perto o suficiente para quase encostar os seus, eu murmurei:

— O que foi, Ren? Nervoso? - sorri. - É apenas brincadeira, fique tranquilo.

Saí de cima dele e me sentei em minha cadeira, longe o suficiente para ele se recuperar.

— Você é realmente uma pessoa má... - resmungou.

Sorri.

— Já está tarde. Amanhã tem aula, então eu vou dormir.

— Ok. Eu vou descer, para dormir na sala. Eu também vou embora amanhã cedo... - me encarou de forma acusatória. - Eu não confio mais em você...

— Não fica assim, Ren. Era só uma brincadeira... Você é muito sensível.

Fez beicinho e levantou da cama, andando até a porta. Saiu do quarto sem dizer palavra. O segui até a sala, onde o vi se deitar no sofá.

Segurei o riso. Ele parecia verdadeiramente chateado comigo.

Sentei ao seu lado e fiz carinho em sua cabeça.

— Não fica chateado - ele sorriu.

— Eu não estou - afirmou. - Mas eu realmente acho mais seguro não ficar perto de você agora...

Concordei. Foi uma brincadeira meio perigosa... Tenho certeza que os efeitos dela não estão presentes somente em meu corpo.

Sorri e depositei um beijo em sua testa.

— Boa noite, Ren - sussurrei carinhosamente.

— Boa noite, Misaki.

 

~//~

 

Entrei no terraço e vi que Usui já me esperava. Seu rosto estava sereno, mas tinha algo em seu olhar que mostrava sentimentos totalmente antagônicos àquele.

Ele esperou que eu fosse até ele, mas eu apenas fechei a porta e me encostei na parede.

— Sobre o que queria falar comigo, Ayuzawa? - disse, de forma neutra.

— Parece que houveram maus entendidos ontem... Sobre meu pai, e sobre outras coisas também.

— Que tipo de mal entendido?

— Sem muito tempo para falarmos disso agora... - cortei. - Eu vim falar sobre outra coisa com você.

 

• Usui PDV •

 

— Eu decidi o que eu vou fazer a partir de agora... - ela transmitia uma determinação ímpar, que eu nunca tinha visto antes.

Era a notícia que eu queria ouvir, mas por algum motivo, existia o sentimento de que eu não iria gostar de escutar o resto.

— Eu decidi que vou assumir o lugar de meu pai... - em seu olhar não restava dúvidas de que ela estava ciente do que estava dizendo.

Senti meu corpo ficar dormente. Se ela vai assumir o lugar de Sakuya, significa que além de não poder me ajudar, ela ainda vai me colocar mais em perigo ainda a vida de meu irmão, e consequentemente, a minha.

— Por quê? - perguntei, num fio de voz.

— Porque meu pai foi morto por causa de tudo isso. A nossa vida tem sido um inferno por causa da ganância dessas pessoas.

— E como você pretende fazer isso? Você tem o contato de alguém ou sequer ideia do que o seu pai fazia?...

— Minha mãe tem o contato de todas as pessoas que apoiavam ou tinham qualquer vínculo com meu pai. Todos eles entraram em contato com ela desde o dia que meu pai foi enterrado e pediram para que eu tomasse a frente de tudo, pois eles querem se vingar do duque. Eu não estou sozinha, Usui.

— E o que possivelmente você quer conversar comigo? Se você realmente se envolver dessa forma, eu e meu irmão não vamos obter nenhum lucro, pelo contrário... Eles vão intensificar ainda mais a caçada a Gerard e as ameaças contra mim, para tentar fazer com que você não chegue sequer perto de abalar a supremacia deles.

Suspirou e andou até mim, parando a minha frente.

— Você vai poder fingir que está no comando de tudo, como sugeriu ontem.

Fiquei confuso.

— E o que você ganha com isso?

— O apoio da sua família... Enquanto você "estiver no comando", eles não vão te negar o apoio que você necessitar, e consequentemente, eu também vou ter esse apoio.

— Então a sua ideia é, no momento certo, mostrar que você não está em apoio ao Duque, e sim agindo por seus próprios interesses.

Deu de ombros.

— Mais ou menos isso...

— Você sabe que isso significa uma união muito diferente de apenas um namoro, não é?

Deu de ombros novamente.

— Você quer se casar comigo? - falei, espantado. - É isso que você está sugerindo?

— É claro que não, Usui - revirou os olhos.

— Então o que?

— Você vai entender depois. Por enquanto, você vai entrar em contato com quem você tiver que falar, e vai falar o que precisar falar. Aja como o arrogante que você foi criado para ser, e diga que me tem e que tem todos os contatos de meu pai sob seu controle. Se eles sugerirem que nós devemos firmar uma união, tudo que você tem que dizer é que está trabalhando para ficar em poder de todos os dados, sem precisar me levar de brinde - seu olhar parecia me atravessar.

Concordei.

— Ganhe confiança e os despiste o máximo possível. Telefonemas e conversas sobre qualquer coisa estão completamente vetadas em sua casa, ou em qualquer lugar. Nós precisamos ser muito cuidadosos e discretos sobre qualquer coisa. Se precisar me exibir para alguém, para que as mentiras pareçam mais reais, você falará comigo e então vamos tentar organizar um encontro, ou qualquer coisa desse tipo.

Perplexidade. Esse era o sentimento que me dominava neste momento.

— Você pode fazer o possível para salvar o seu irmão, eu não me importo. Mas lembre-se: eu não sou mais uma peça descartável para você.

Sem dizer mais nada, ela se virou e andou a passos largos para a porta. Ela parecia muito irratada comigo.

— Ayuzawa - a chamei. Ela parou e me olhou, esperando eu falar algo. - Eu sei que os seus motivos não são os mesmos que os meus, e que eu vou ficar em uma situação muito complicada se nós formos descobertos, mas obrigado.

Ela sorriu, abaixando a guarda pela primeira vez comigo desde que saiu da minha casa ontem.

— Eu pesquisei tudo sobre o passado, Usui. Você e seu irmão não têm culpa. Não vejo motivos para não tentar ajudar, se isso for algo possível para mim.

— Não é todo mundo que faria isso...

— Eu sei - concordou.

— Mas se você não está com raiva, por que estava tão fria até agora pouco?

— Porque, apesar de tudo, você tentou me usar, Usui... Mas eu percebi que se fosse o contrário, eu faria a mesma coisa que você fez... E eu não tenho certeza se eu teria sido tão honesta com você como você foi comigo...

Sorri, aliviado.

— Se prepare - avisei. - Não vai ser fácil, e a gente vai ter muito problema. Eu sei que você está se envolvendo por um motivo muito diferente, mas eu vou perguntar mesmo assim: você está pronta para isso? Tem certeza de que quer realmente se envolver?

Afirmou com a cabeça.

— Por favor, Usui, você não pode contar a verdade para ninguém! Se nós não tomarmos cuidado... Eu não quero nem imaginar o que pode acontecer.

— Não se preocupe, eu não vou contar... Mesmo que seja para o meu irmão, eu não vou contar - afirmei. Eu sei tudo o que está em jogo.

— Eu preciso ir agora - disse.

Como se prevesse que ela havia saído, meu celular tocou. Olhei o visor e vi um dos nomes que eu menos queria no momento.

Atendi a contragosto.

— Eu estou na escola - respondi friamente. - Sabe que não pode me ligar enquanto eu estou aqui.

— Não seja tão chato, Takumi... - resmungou. - Qual seria a graça da vida, que não quebrar algumas regras?

— Não faço ideia - resmunguei. - O que você quer, Maria?

— Te ver - aveludou a voz. Me arrepiei, mas não de uma forma boa. - Preciso que venha à minha casa hoje...

— É importante?

— É sobre a sua namoradinha... - rapidamente pensei que eles poderiam ter descoberto nossos planos, mas tentei tirar essa ideia da minha cabeça. A gente falou há menos de dez minutos sobre isso... É impossível ela ter ficado sabendo tão rápido... Não é?...

— Mais tarde - respondi com simplicidade.

Seria sensato informar para a Ayuzawa esse tipo de coisa? Acho melhor não falar nada ainda, afinal de contas, eu não sei o que a Miyazono quer.

Por outro lado, se for uma armadilha dela para tentar me encurralar, seria útil para mim e para a Ayuzawa, porque assim nós poderíamos agir de alguma maneira...

Me mantive nesse impasse até o horário que estava me preparando para sair de casa. Finalmente me decidi por não ligar, e esperar para ver o que ela queria.

Quando adentrei seu apartamento escuro e a avistei sentada no sofá, me aguardando, com um olhar condescendente, senti que fiz a escolha correta.

— Sente-se, por favor.

— O que você quer? - obedeci ao seu pedido, mas repeti minha pergunta daquela manhã.

Ela suspirou.

— Informação é essencial, você sabe. No nosso mundo, não é só dinheiro que é poder. Quem tem informação, também tem poder; mas quem tem ambos, dinheiro e informação, lidera. Neste momento, você tem informação, e eu tenho poder. Eu preciso da sua ajuda, e você precisa da minha.

— Que tipo de informação? - não estava gostando do rumo daquela conversa.

— Não se faça de desententido. Nós não temos mais tempos para joguinhos. Foi bom brincar com você enquanto pude, mas agora, chegou o momento de nos comportarmos como adultos de verdade, não acha?

Resolvi entrar no jogo, então mudei minhas feições e concordei.

— Sei que você envolveu a Ayuzawa nisso. As regras agora mudaram, Takumi. O que antes era proibido, agora é necessário, então você agiu bem. Nosso interesse não está mais apenas em te colocar no comando de tudo o que você vai herdar, mas sim te colocar a frente dos negócios que também eram administrados por outras famílias.

— Você quer que eu force a Ayuzawa a colaborar conosco?

— Forçar, não. Convencer. Você vai manipular ela, e quando estiver com o controle de tudo, se livrará dela.

— Eu não preciso que você me diga isso - respondi de forma arrogante. - Já está tudo planejado. Eu a estou cortejando, e eu sei que não vai demorar até ela se apaixonar de vez por mim e aceitar pelo menos o pedido de namoro. Depois que isso acontecer, tudo que eu preciso fazer é convencê-la de que todas essas questões políticas e financeiras são melhores resguardadas por alguém que compreende do assunto. Ela é o tipo de pessoa que não gosta de se envolver com questões complexas, e é o tipo de pessoa que não sabe desconfiar dos outros...

— Bom - ela parecia satisfeita. Acho que dessa vez eu consegui enganar ela... - Então você está livre para fazer o que achar certo, contanto que traga resultados... E logo! - ela se levantou e andou até a minha direção e fez carinho em meu rosto. Me arrepiei, sentindo vontade de me afastar de seu toque.

Com calma, para não parecer muito rude e que eu não queria que ela me tocasse, peguei sua mão o mais delicadamente que eu pude e a coloquei de lado.

— Se eu vou iniciar um relacionamento, eu não posso fazer esse tipo de coisa... - respondi, para disfarçar.

— Tão certinho... E tão chato... - revirou os olhos. - Por que você deve fidelidade a uma pessoa que você nem sequer gosta, e vai ficar somente por interesse?

— É o mínimo que eu devo a uma pessoa que eu estou usando para benefício próprio, não acha?

— Não - respondeu. Eu também não penso de fato assim. Se eu estou me aproveitando de alguém, quer dizer que eu não tenho interesse algum na pessoa além do benefício, entretanto, esse não é o caso com a Ayuzawa... Eu não a estou usando por interesse próprio, e eu também não a vejo apenas como um mero objeto... E acima de tudo, eu não quero que essa pessoa me toque novamente, ainda mais tão intimamente. - Você está estranho - comentou. - Você não costumava me afastar - sorriu maliciosamente.

— Como eu te falei: eu acho que é o mínimo que eu posso fazer por ela. Além do mais, não é como se eu também já não estivesse farto desses nossos joguinhos.

— Você realmente se afeiçoou à garota... - riu.

Dei de ombros.

— Caráter, eu acho... Eu não me afeiçoei a ela, e você sabe disso.

— Tudo bem, isso não interessa. Você está livre para fazer o que quiser, como eu disse antes, então apenas faça o seu trabalho.

Concordei e me levantei.

— Eu preciso ir agora. Vou chamá-la para sair, ou algo parecido...

Andei até a porta e me despedi rapidamente.

 

• Misaki PDV •

 

Recebi uma mensagem de Usui. O tom parecia urgente, e ele pedia um breve encontro comigo.

Concordei, e fui andando até o local que ele disse.

Quando cheguei, ele já me esperava, mas suas feições demonstravam apenas preocupação.

— Eu não sei se tem alguém me seguindo, - começou apressadamente - mas eu achei mais prudente me encontrar com você para poder te deixar ciente...

— Aconteceu alguma coisa?

— Sim, de certa forma... - me contou muito vagamente sobre sua conversa com aquela mulher. - Eles estão seguindo cada passo que a gente dá, então eu vou precisar que você ature algumas atitudes em determinadas situações.

Não falei nada. Ele parece bem nervoso com relação ao que a Miyazono disse.

— Eu vou te tratar como se você não significasse nada, ou como se você fosse de minha propriedade, como um objeto, porque é isso que eles esperam de mim. Por favor, não se sinta ofendida com isso. Você, pelo contrário, tem que me tratar como se eu fosse, sei lá, algo muito importante. Assim quem vir de fora, no caso da minha família, vai saber que eu consegui fazer com que você cedesse à mim.

— Entendo. Não se preocupe, eu vou tentar agir o mais normal, conforme o que eles esperam de nós dois. Apesar de não ter sido criada no mesmo ambiente que você, eu sei exatamente o que eles esperam de mim e de você.

Ele sorriu, tristonho.

— Quando foi que essa bagunça ficou tão grande que nos envolveu assim?...

— Eu acho que, mesmo que seu irmão não tivesse fugido para tentar se salvar e salvar você, você teria sido envolvido... E eu, também, creio. Acho que não era algo que pudesse ser evitado - disse, em um leve consolo.

— Obrigado, Ayuzawa.

Sorri de canto.

Eu não sentia mais as mesmas sensações quando eu estava com Usui... Era como se algo tivesse sido apagado dentro de mim.

Aquela atração de antes, que era algo difícil de lidar só de estar em sua presença, estava diferente... Ele também parecia muito indiferente a mim. Chegava a parecer que viramos ímãs de mesmo pólos... Chegava a ser engraçado.

— Eu preciso ir agora, Usui. Se precisar de mim, me avise amanhã na escola. Vamos diminuir o nosso contato o máximo possível pelo celular.

Ele concordou de forma relutante.

— Ayuzawa... - esperei que ele fosse falar alguma coisa, mas ele acabou me pegando completamente desprevenida quando se aproximou e me envolveu em um beijo intenso, de uma forma que nunca fez antes.

Em choque, não entendi realmente quando cedi ao beijo, mas as sensações que apareciam quando ele me beijava estavam lá, presentes, fazendo com que minha mente ficasse turva.

Quando ele se afastou, tive que me agarrar a sua camisa para não cair.

O encarei de forma interrogativa.

— O que você?...

— Eu estava com saudades, de certa forma... - me abraçou. - E acho que você vai precisar se acostumar com isso - segurou meu queixo com carinho e me beijou novamente.

Eu estava perdida. Já fazia tanto tempo desde que eu tive esse tipo de contato com Usui, que eu tinha até me esquecido.

Me afastei vagarosamente.

— Nós não podemos - murmurei. - Nós não podemos nos envolver, você sabe.

— Sim, eu sei - concordou, - mas eu estou cansado de me refrear, Ayuzawa.

— Me desculpe, Usui, mas eu não posso me envolver emocionalmente com você, ainda mais agora... - senti uma leve dor apertar em meu peito, e me afastei, fugindo.


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Notas finais do capítulo

Então é isso, galera. Espero que vocês ainda não tenham desistido de mim, porque eu certamente não desisti da fic.
Sei que acabo sumindo por grandes períodos de tempo, mas eu estou fazendo o meu melhor para continuar postando.
Espero que vocês compreendam que eu não tenho mais a vida de uma adolescente de 15 anos, que só se preocupava com o colégio.
Agora eu tenho 22 anos, e tenho muitas responsabilidades, e isso me atrapalha na hora de poder sentar e escrever, por isso tenho feito isso no trabalho, de certa forma, mesmo sabendo que não posso.
Eu estou me esforçando, e estou demonstrando isso trazendo capítulos novamente, mesmo em meio ao caos que minha vida está.
Obrigada e me desculpem, de coração.



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