Linha Vermelha escrita por NaruShibuya


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Oi, meus amores ♥
Acharam que eu tinha abandonado a fic, né? Pois é... Demorei bastante pra postar mesmo, mas tive problemas pessoais nesse período em que fiquei afastada do Nyah!, e peço perdão pela minha falta de compromisso em postar.
Não vou dizer muito aqui em cima, vou deixar para falar mais lá embaixo.
Desculpem a demora, de coração... Eu queria muito ter postado no meio de março do ano passado, como eu prometi que eu faria, mas eu realmente não pude!
PS¹: As letras em itálico são representações de mensagens e vozes em chamadas (a voz/mensagem de quem está ''do outro lado'')
PS²: Negrito e Itálico sublinhado são representações de mensagens e vozes em chamadas (a voz/mensagem de quem está do ''lado de cá'')
11/03/2017



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 • Usui PDV •

 

 

Já fazia algum tempo desde o incidente com o membro do conselho. Ayuzawa parecia mais calma por esses dias, e diz que não se importa mais. Parece que a retirada do gesso e a conversa que teve com a mãe a fizeram ter uma perspectiva mais “madura” sobre a situação.

Entrei na sala do conselho e suspirei; não era sequer possível vê-la atrás de tantas pilhas de documentos... Me pergunto se todos eles são importantes e porquê não digitalizam tudo, disponibilizando um computador para que facilitasse e poupasse tempo aos membros do conselho.

Me aproximei por trás, me aproveitando de sua distração, e a fitei por sobre os ombros. Ela parecia indisposta e cansada demais até para me afastar quando comecei a lhe massagear os ombros.

Eu a observava com atenção. Atenção o suficiente para perceber ela recolhendo o breve sorriso que surgiu em seus lábios.

— O que faz aqui? – questionou por fim. – A escola já está fechada para alunos.

Dei de ombros e sorri quando a senti se arrepiar com a leve carícia que fazia em seu pescoço vez ou outra. – Estou te esperando – respondi simplesmente.

Ela encolheu os ombros. A resposta era óbvia, afinal de contas... Desde o dia do meu pequeno descontrole, eu não a deixo sair sozinha. Ela por vezes fica na escola até tarde, e depois dos últimos fatos eu cheguei à conclusão de que ela simplesmente é um ímã para coisas ruins...

— Já lhe disse que não precisa me esperar todos os dias, muito menos me seguir para todos os lugares, seu stalker! – falou, mantendo a calma em sua voz... o que realmente me deixa apreensivo. – Um dia eu juro que denuncio esse alien perseguidor – murmurou para si mesma. Sorri.

— Você deixa sua guarda muito baixa perto de mim, Ayuzawa – me inclinei e passei os braços ao seu redor, dando um beijo em seu pescoço. Seu corpo se retesou no mesmo instante, mas eu não a soltei, apenas “aprofundei” mais o beijo.

Escutei-a arquejar, e neste exato momento ela forçou o corpo para trás, levantando-se logo em seguida.

Seus olhos ardiam com um sentimento além da raiva: desejo. Puro e intenso, a ponto de quase não haver controle.

Sorri sacana.

— O que? Eu mexo tanto assim com você?

Empurrei a cadeira para o lado, a encurralando entre a mesa e eu. Ela se afastou o máximo que pôde, até chegar à superfície de madeira. Me aproximei e me inclinei, apoiando minhas mãos em cada lado de seu corpo. Ela se inclinou para trás exatamente como eu previra.

Estreitei a distância, movendo minhas mãos para sua cintura e tentei beijar seu pescoço, mas, prevendo minhas intenções ela desviou o rosto, impedindo de encostar na área novamente, percebendo apenas depois de meu sorriso que eu previra até ali, e que o movimento instantâneo era meu verdadeiro objetivo.

Em uma última tentativa de se afastar, apoiou as mãos em meus ombros e impulsionou o corpo para trás, porém o movimento não foi nem de longe o suficiente para que se livrasse de meu abraço, ainda mais sabendo que movimentos bruscos derrubariam facilmente as pilhas de papeis sobre a mesa.

Sorri e dessa vez diminuí a distância, unindo nosso lábios. Ela resistiu, me impedindo de aprofundar o beijo. Suas mãos ainda me forçavam para trás.

Sorri quando a senti tremer no momento que mordisquei seu lábio; a pressão em meus ombros diminuindo rapidamente. Ela passou a mão em meu rosto e se afastou, e dessa vez eu não a impedi. Acho que já abusei demais por hoje. Sorri de canto e apoiei as mãos na mesa. Ela não me olhava, observava algum ponto qualquer na parede à sua frente.

Esse era outro ponto que havia mudado... Quando eu tentava fazer qualquer coisa, ela não retribuía, e depois se mantinha silenciosa, como se estivesse perdida em pensamentos. Recentemente ela tem estado muito... calma...

— Ayuzawa?... – me afastei. Seus olhos me seguiram, mas ela continuou em silêncio. – Ok, eu já entendi...

— Não, você não entendeu... – disse por fim.

Afaguei sua cabeça. Ela aprecia menos calma agora, apesar de seu semblante pouco ter se alterado. Ela afastou minha mão com suavidade e se levantou da mesa. Foi até a porta e fez sinal para que eu a seguisse. Obedeci silenciosamente, permitindo-a a retornar aos seus pensamentos.

— A Ayuzawa não está divertida hoje... – reclamei.

— E desde quando eu fui uma pessoa divertida?

— No passado... – deixei escapar antes que pensasse no que estava dizendo.

Ela parou no meio da calçada e me encarou.

— Aquela pessoa não existe mais – disse por fim.

Suspirei. Por que o passado é um assunto tão delicado?...

O resto do caminho foi feito quieto. O clima entre nós me incomodava, mas não tentei puxar mais assunto, já sabia que seria ignorado, de qualquer maneira.

Ela não parecia irritada, parecia simplesmente... triste...

Paramos em frente à sua residência. Dei um leve beijo em sua testa e me afastei a passos lentos. Suspirei. Às vezes essa falta de reação dela me frustra...

Senti o aparelho em meu bolso vibrar. Atendi a ligação sem sequer olhar o visor.

— Eu preciso te ver — a voz do outro lado disse assim que eu coloquei o fone no ouvido. — É importante. Você sabe o porquê...¹

Aonde? — respondi a contra gosto.

— No meu apartamento, você sabe o endereço. Mal posso esperar para vê-lo novamente, estou realmente ansiosa…

Não! — bradei. – É segredo, e você sabe porquê! Não posso deixá-la saber sobre você! — apressei os passos procurando algum meio de transporte, afinal a casa dela fica do outro lado da cidade, e ir andando não era uma opção nesse momento.

Sua risadinha me irritou.

— Eu já sei — comentou. – Você deixou isso bem claro na nossa primeira vez juntos... Você não quer que ela sofra. Eu sei, e eu entendo.

Sorri me lembrando. Realmente valeu a pena cada minuto que eu passei com ela.

Apesar do seu primeiro contato ter me deixado confuso, eu resolvi arriscar e procurá-la, e o resultado disso foi melhor do que eu jamais imaginei. Ainda me lembro de todas as sensações que atravessavam por meu corpo quando ela terminou o que pretendia. Confesso que minhas visitas e seus telefonemas estão ficando cada vez mais frequentes, mas isso é simplesmente imparável...

Me espere na sala.

— Por quê? Não quer esperar até chegarmos ao quarto? — seu riso demonstrava puro deleite.

Indiferente.

— Não me deixe esperando demais ou eu ficarei entediada… E não se esqueça de trancar a porta… Eu não quero que ninguém nos escute… Pode ficar realmente barulhento…— e encerrou a chamada.

Quando adentrei ao apartamento, todas as luzes estavam apagadas, com exceção a da sala. Sorri sentindo a ansiedade me invadir em antecipação. Fechei a porta e me virei, pronto para mais uma longa noite.

 

• Misaki PDV •

 

Sentei na cama enquanto secava meus cabelos. O sono insistia em aparecer, embora meu cérebro o lembrasse de que hoje seria mais uma noite em claro ou com poucas horas de descanso.

Passado uma quantidade considerável de dias, eu já não me incomodava mais com as atividades do conselho, embora eu ainda achasse ser absurdamente cansativo e irritante ter que trocar noites e mais noites de sono administrando e organizando documentos e informações.

Vi o visor do celular se acender em cima de minha mesa de estudos. Levantei e deixei a toalha em um canto qualquer para secar e peguei o aparelho. Havia um envelope na tela, e não precisei abrir a mensagem para saber que era de Ren.

Me sentei na cadeira decidindo se lia ou não seu conteúdo naquele momento. A quantidade de trabalho por fazer era enorme e eu sabia que a mensagem exigiria uma resposta, o que provavelmente estabeleceria um diálogo completo pela noite adentro.

No fim, resolvi ler o conteúdo da mensagem.

Boa noite.

Sei que está acordada, já que é uma presidente dedicada. — Era quase possível sentir o sarcasmo e ver seu sorriso.

Você sabe que não é bem essa a verdade — respondi. – Gostaria que não tivesse sobrado para mim a responsabilidade dos outros...

É justamente para isso que estou aqui. Para tornar seu sofrimento mais ameno... Você está disponível sábado? Bom, é uma pergunta retórica, já que você está SEMPRE disponível — zombou. – Enfim, a mensagem foi apenas para lhe avisar que sábado você é minha.

Esteja pronta às 8h.

Como sabe que eu não tenho nada para fazer sábado? Ou melhor, que eu quero sair com você? — provoquei.

A resposta demorou a chegar, então me foquei no trabalho que eu tinha que fazer.

Quando a resposta enfim chegou, o barulho do aparelho até me sobressaltou.

Você SEMPRE quer sair comigo! E isso não é opcional. Você precisa sair um pouco, se distrair, se divertir...

Suspirei. Ele não está errado, mas eu não estou com a mínima vontade de sair de casa...

Ok, ok — respondi por fim. – Estarei pronta às 8h da manhã... Aonde iremos?

Não se preocupe com os detalhes...

Você não sabe... — ri. Tão previsível...

Não... Mas já tenho algumas idéias. Não importa para onde, a ideia é te fazer sair de casa e relaxar.

Sorri, voltando minha atenção para minha tarefa. O sono me invadia, fazendo com que eu entendesse menos do que nada...

Me rendi, me jogando na cama. De que vai adiantar insistir quando eu sequer consigo me concentrar?

A ideia de sair com Ren me deixava ansiosa. Um sentimento de inquietação invadia meu peito, eu só não sabia se era algo bom ou ruim.

~~~~~~~//~~~~~~~

Acordei com o celular despertando. Me espreguicei e levantei, reunindo o uniforme e uma toalha e fui para o banheiro.

— Misaki, – escutei minha mãe me chamar – Usui-kun está te esperando na sala.

— Desço em 10mins – respondi.

Quando desci, ele me direcionou um sorriso cínico.

— Está dois minutos atrasada, Kaichou.

Bufei, só então reparando no loiro. O cabelo estava bagunçado, as roupas amarrotadas e os botões abertos. Mangas dobradas até os cotovelos e enormes olheiras.

O sorriso cínico se manteve, mas ao perceber que eu o avaliava desconfiada, seu olhar mudou. Se aproximou e parou ao meu lado.

— Noite agitada? – perguntei com sarcasmo. Seu cheiro me invadiu. Um cheiro que não era dele. Isso me incomodou. Muito!

Deu de ombros.

Fiquei o resto do percurso em silêncio, pensando apenas nas aulas e no conselho. Vez ou outra percebia que Usui me olhava, mas simplesmente suspirava e se resignava com o silêncio.

Entrei na escola e um dos professores me abordou.

— O diretor deseja falar com você.

Dei as costas para ele e para Usui. Passei em frente à minha sala, mas não entrei, seguindo direto pelo corredor até a sala do diretor. Entrei sem antes bater ou me anunciar, sentando na cadeira que estava disposta à sua frente.

Ele ergueu a sobrancelha e me encarou, esperando talvez alguma reação, ou que eu falasse algo. Após perceber que eu não iniciaria o assunto, fosse ele o que fosse, ele deu um pigarro e decidiu falar.

— Gostaria de lhe dar os parabéns... O desenvolvimento da escola triplicou desde que você assumiu a presidência do conselho estudantil; o índice de faltas, notas baixas e atos de vandalismo diminuíram e até os professores demonstram estar mais satisfeitos com os comportamentos e desenvolvimento em sala – disse. Deixei escapar uma leve risada cheia de escárnio. Ele suspirou. – Mas é claro que os professores ainda se queixam de seu mau comportamento e sua constante falta de presença nas salas ou atividades acadêmicas.

— E você me chamou aqui para me dizer o que eu já sei ou para me dar outra lição de moral? – como a resposta não veio, continuei: - Não me sinto na obrigação de ter presença em aulas ou atividades, visto que o trabalho de presidente ocorre em período integral, inclusive eu perco noites incontáveis de sono tentando colocar essa escola nos eixos, mas ao contrário do que as reclamações sugerem, minhas notas ainda são as mais altas da escola... – apesar de eu estar realmente irritada, eu não impedi que o sorriso arrogante e sarcástico brotasse em meus lábios. – Posso ir agora?

— Seu comportamento está ficando cada dia pior – comentou, tentando controlar a irritação. – Você sabe que deveria dar o exemplo aos alunos...

— E eu dou – o cortei. – Você mesmo acabou de dizer que o índice de faltas, notas baixas e vandalismo diminuíram!

— E é a verdade – sua voz soou suave.

— Então me relembre, por favor: por que eu estou ouvindo isso aqui mesmo?... – perguntei ironicamente.

— Eu queria falar sobre seus formulários de pretensão profissional – e finalmente chegamos à pergunta de ouro... – Você deixou os formulários em branco novamente, e isso me preocupa.

— Você chama todos os alunos que não preenchem os formulários na sua sala?

Ele sorriu amarelo.

— Bom, não. Na verdade não. Meu interesse em você é... diferente... Eu vejo em você uma capacidade que os outros alunos não demonstram, por isso lhe incumbi da tarefa de presidente. E confesso que fiquei muito satisfeito ao constatar que eu não me enganei a seu respeito.

— Então quer dizer que eu estou nessa posição totalmente inconveniente para mim para você me fazer de sua cobaia?!

— Você já pensou em trabalhar com algum tipo de administração ou gestão? – me ignorou.

— Não interessa o que eu farei ou não, - o cortei, irritada – você não tem o direito de me usar! – me levantei da cadeira e fui em direção à porta.

— Seu encargo de presidente permanece – escutei-o dizer antes de eu fechar a porta.

Bufei. Ótimo. Então foi esse o real motivo dele ter me colocado nessa posição. Passei direto pela sala, indo para a sala do conselho. Joguei minha bolsa no chão, ao lado de minha cadeira e me sentei.

As diversas pilhas de papeis estavam absolutamente do jeito que eu as deixei, o que significava que os membros ainda estão em sua greve de trabalho... Comecei a analisá-los e separá-los, já que no momento qualquer atividade mais complexa do que isso vai ser praticamente impossível de concluir.

Peguei o celular, imaginando se falar com Ren me ajudaria. Disquei o número e esperei que ele atendesse. Ele atendeu ao fim do primeiro toque.

— O que houve?— perguntou, sem sequer me dar tempo de abrir a boca.

— Oi para você também – soltou uma risadinha. – Como sabe que tem algo errado?

— Porque você sempre me liga quando tem algo te incomodando e quer desabafar com alguém.

— Eu sou assim tão previsível? – brinquei, me sentindo mais relaxada apenas por estar falando com ele.

— Não, mas eu te conheço muito bem...— sorri.

— O diretor finalmente me disse o motivo de ter me colocado na presidência... Para me fazer de cobaia.

Ele riu.

— Não se preocupe, você é uma boa cobaia.

— Não tem graça! – reclamei.

Depois de explicar tudo, ele apenas ficou quieto.

— Ren! – chamei após alguns minutos.

— Bem... Não foi algo legal de se fazer. Sei que combinamos final de semana, mas se quiser, podemos sair hoje. O que acha?

Pensei a respeito por um instante, indecisa.

— Quer saber? Eu acho que está ótimo.

— Ok. Que horas você sai do colégio?

— 15h...

— Estarei te esperando na saída nesse horário.

— Obrigada – falei.

— Pelo quê? Eu estou usando seus problemas para poder te ver — ri.

— Você não está. Você sabe disso. Eu sei disso. Você quer apenas me ajudar.

— Fui descoberto... Sei que você provavelmente está na sala do conselho, olhando para um monte de papeis, então irei desligar. Até daqui a pouco.

— Até.

— Você vai sair? – me virei, quase derrubando os papeis da mesa devido ao susto.

Usui estava parado, apoiado na porta com os braços cruzados.

— Sim – ele se aproximou de mim, puxou uma cadeira e se sentou.

— Ren? – como um nome pode transmitir tantos significados? Dei de ombros. Ele já sabe a resposta.

O sentimento de que estava tudo fora do lugar me preencheu de novo. Como é possível que eu o magoe apenas confirmando algo?

Me voltei para os papeis, tentando ignorar o lampejo de dor e mágoa em seus olhos.

— O diretor queria falar sobre meu futuro profissional – comentei, sem levantar o olhar. Ele pareceu prestar atenção no que eu falava. – Disse que viu um potencial em mim que não vê nos outros alunos, por isso me colocou nessa posição – Usui sorriu, talvez por eu estar demonstrando confiar nele, me abrindo um pouco... coisa que eu não faço com frequência.

— Por isso passou tão irritada pela sala?

— Não gosto de me sentir usada. Não penso que seja algo que ele deveria estar se preocupando... Até o fim do ano eu estarei livre dele, e todo esse esforço terá sido em vão...

— Eu não acho que ele esteja errado – arqueei uma sobrancelha e virei meu olhar para ele. – O método que ele utilizou foi errado e incômodo, mas a perspectiva dele com relação a você não.

Suspirei, deixando meu tronco cair de encontro ao encosto da cadeira.

— Talvez – admiti por fim. – Eu já pensei em muitas possibilidades, ou em muitas coisas, mas eu simplesmente... não me importo mais – falar aquelas coisas com Usui era estranho. Ninguém sabia das minhas ambições. Bom, na verdade, uma pessoa sabia, mas nem com ele eu estava disposta a tocar no assunto novamente. – Tudo isso reabre velhas magias, antigas decepções. Eu não estou disposta a viver todas aquelas coisas novamente.

— Você deveria esquecer o passado, Ayuzawa. Ele não te levará a lugar algum...

— Fácil falar.

— Não tanto. Eu também tenho minhas preocupações, minhas lembranças ruins e dolorosas... Algumas me perseguem até hoje, e eu também não sei lidar com elas, mas eu continuo tentando.

— Isso é raro... Você falar sobre você, sobre seu passado. Você é sempre tão quieto com relação a você mesmo – ele pareceu sair de um pequeno transe.

— Ninguém gosta de relembrar as mágoas do passado... Eu apenas as distancio o máximo que posso dos meus pensamentos... as lembranças...

No fim das contas, ele compreende perfeitamente o que eu penso sobre tudo isso.

— Obrigada – falei com sinceridade. – Às vezes é bom poder me abrir com alguém.

— Pensei que você saíssem com ele para poder desabafar – falou, me fitando no fundo dos olhos; como se naquele momento, ele pudesse ler minha alma.

— Ele me ajuda a lidar com as coisas de formas diferente. Maioria das vezes eu sequer preciso falar nada; embora existam vezes que eu preciso falar tudo... – sorri.

— Ele te faz bem – sua voz soou grave, e eu sabia que o assunto o estava incomodando.

— Sim – eu não iria mentir. Não havia necessidade, ainda mais quando a verdade estava estampada em minha face. – Apesar que...

O celular do loiro tocou, me interrompendo. Seus olhos se arregalaram por uma fração de segundo. Enfiando a mão no bolso, pagou o celular rapidamente e saiu da sala com o aparelho encostado ao ouvido, escutando atentamente.

Ele me olhou rapidamente através do vidro da porta e então se afastou, com pressa.

Olhei o relógio, com a esperança de estar perto do horário da saída, mas os ponteiros ainda apontavam 8h07. Resignada com a saída repentina de Usui e com a hora que cismava em não passar, me recostei sobre a cadeira e peguei a pauta com afazeres e estatísticas.

As estatísticas mostravam crescimentos positivos e diminuição em índices negativos, assim como o diretor dissera, embora o número de reclamações sobre a nova presidente também estivesse crescendo...

A pauta mostrava os índices gerais mensais da escola. Esta era, na verdade, a primeira pauta recebida por mim, e havia sido deixada em minha mesa naquela mesma manhã.

Os resultados me surpreendiam. Apesar da resposta arrogante dada ao diretor, não fazia ideia de que havia tido alguma melhora significante nos índices da escola, e também não esperava que fossem aparecer resultados tão rapidamente.

Apesar disso, os pensamentos insistiam em me levar para longe, afastando-me do compromisso. As memórias que passavam como flashes transformavam tudo em um misto de sentimentos. Lembrei do meu pai e da infância sossegada, antes do emprego da mãe nos obrigarem a mudar sempre; lembrei do funeral, do olhar perdido e vago no rosto de Suzuna mais nova... as lágrimas da mamãe... lembrei do dia em que Ren me protegeu pela primeira vez; do início repentino de meus sentimentos pelo garoto, e o início do namoro. Minha visão embaçou ao relembrar a dor de ter que dizer adeus naquele dia chuvoso, mas não permiti que as lágrimas caíssem.

Lembrei também do encontro com Usui e do acidente, assim como de meu reencontro com o loiro.

Não tinha como negar que os sentimentos mais fortes estavam presentes nas lembranças com Ren. Até mesmo quando o reencontrei em Sendai... Todos os sentimentos que eu lutei para esquecer e suprimir quando tive que ir embora me invadiram no segundo em que escutei sua voz novamente.

Suspirei.

— Eu deveria parar de pensar nessas coisas e voltar a trabalhar – mas não o fiz. A cabeça estava pesada, longe e focada exclusivamente no passado.

Apesar de minha distração as horas continuavam se arrastando, ao ponto que meu alívio era quase palpável quando me levantei para seguir até a saída.

Avistei Ren antes mesmo de chegar ao portão. O sorriso contido no rosto do jovem se alargou e ele se aproximou, pegando a bolsa do meu ombro e segurou minha mão, entrelaçando os dedos.

— E então, para onde vamos? – questionei, ignorando a sensação estranha que me preenchia por causa de sua mão segurando a minha.

Deu de ombros.

— É a sua cidade... Me guie – sorriu de lado.

Revirei os olhos.

— Eu não estou realmente com vontade de ir a lugar algum – resmunguei.

— Ora, vamos, não seja chata. Você concordou em sair comigo. Não é como se fosse um encontro ou algo do tipo...

— Sério? Eu jurava que você ia tentar me agarrar no meio do caminho – ironizei.

— Talvez... – fiz careta, fazendo com que ele risse. – Já que você não está afim de sair, por que não vamos para a sua casa?

— Hã... – ele revirou os olhos.

— Sabe que eu não quis dizer nesse sentido, certo?

— Sim, eu sei. É só que eu não tinha considerado essa opção. Eu sei o que eu prometi, mas se não tiver problema pra você...

— Com uma condição: - esperei pacientemente que ele falasse. Queria que nós começássemos a nos mover, afinal de contas, estamos começando a chamar a atenção parados na frente da escola. – que você não chegue sequer perto de qualquer coisa relacionado à escola, e nem fale sobre.

— Sério? Você sabe que nós estamos ''saindo’’ para eu esquecer a escola...

— Sim... E eu também te conheço o suficiente para saber que assim que chegarmos lá você vai inventar alguma desculpa para se trancar no quarto e não sair mais de lá até ter resolvido tudo... Por isso quero que prometa, porque se tentar fugir de mim, eu te pego de volta – e sorriu, confirmando a promessa com aquele simples ato.

— Certo... Eu prometo que vou me manter o mais afastada possível de qualquer coisa relacionada à escola ou ao conselho enquanto você estiver comigo! Satisfeito agora?

— Eu sempre estou satisfeito ao seu lado – arqueei a sobrancelha. – Você está corando – debochou. – Que fofo.

— Eu sei que você adora me provocar, mas será que você pode fazer isso enquanto a gente anda? Caso você não tenha reparado, está todo mundo olhando para nós dois.

Começamos a andar. O caminho até minha casa não era tão longo, então tudo que conversamos foi meia dúzia de besteiras, nos focando em acontecimentos passados.

— É meio inacreditável tudo isso, certo? Nos encontrarmos novamente de uma forma tão impensável...

Ri de forma irônica.

— Impensável? É uma boa definição... – já que eu sequer parei para pensar que eu poderia encontrá-lo ao visitar minha antiga casa.

— Você se arrepende? – perguntou, sério.

— Não. Eu nunca vou me arrepender de ter te conhecido, ou de ter te reencontrado...

— Mas?... – paramos em frente ao portão de minha casa.

— Às vezes eu penso se é realmente justo com você. Eu não sou mais a mesma pessoa, e apesar de eu ainda te amar, desse sentimento ter se mantido por todos esses anos, não é mais tão simples quanto era antes.

— Porque você se apaixonou por outra pessoa e tem medo que esse sentimento se transforme algum dia, reiniciando o ciclo.

Suspirei.

— Não é o medo de me mudar ou sofrer tudo aquilo novamente, Ren – afaguei seu rosto, tentando espantar o semblante triste dali. – O meu medo é continuar sendo o motivo dessa sua feição. O problema é eu continuar te magoando, Ren. E não só você. Eu voltei atrás com a minha decisão de me afastar porque eu percebi que isso não seria uma solução para nenhum dos lados, mas eu continuo perdida.

— Eu também não sei o que fazer – confessou. – Às vezes eu sinto como se eu estivesse te colocando contra a parede, embora eu use a desculpa para mim mesmo de que eu, acima de tudo, sou seu amigo, e quero te ver bem... – fez uma pausa, escolhendo melhor as palavras. – Não é que eu me aproxime de você com segundas intenções, eu realmente prezo acima de tudo a nossa amizade... Eu só... Eu só não consigo tirar da cabeça que em tão pouco tempo ele foi capaz de desarmar todas as suas defesas, e que eu posso perder a oportunidade de aproveitar tudo aquilo que nós vivemos a qualquer momento.

O abracei, sem saber exatamente o porquê. Talvez fosse medo – ou culpa.

— Ren – murmurei. – Ele não desfez defesa alguma. Eu não sei se o que eu sinto por ele pode sequer ser comparado assim. É diferente. Eu não sou capaz de amar alguém novamente, não do jeito que aconteceu conosco. Você foi a única pessoa que me desarmou – o afastei carinhosamente. – Eu não permitiria que ninguém fizesse o que você fez aqui, - coloquei minha mão sobre meu peito – por medo, e porque eu não quero te esquecer nunca; não quero esquecer tudo que eu vivi, que eu senti e que eu sinto. Então vamos esquecer isso, ok? Mesmo que um dia meus sentimentos por ele mudem, nunca será igual ao que eu sinto por você.

Ele sorriu de forma tristonha.

— Mas mesmo assim você não vai mudar de ideia...

— Porque eu cansei de magoar vocês. Agora vamos entrar, já ficamos parados aqui por tempo demais – e sorri, depositando um beijo em sua bochecha.

Abri o portão e destranquei a porta para podermos entrar. Demos de cara com minha mãe no corredor. Primeiro ela pareceu confusa, mas logo sorriu de forma afetiva para Ren.

— Olá, Minako-san – sorriu e se aproximou, pegando-a em um abraço apertado.

— Você não mudou nada, - alisou os cabelos bagunçados de Ren – exceto seu sorriso, que parece ainda mais bonito do que antes.

— Obrigado. A senhora também não mudou nada dez da última vez que eu a vi.

Minha mãe sorriu-lhe, sincera.

— O que o traz aqui? Não ouço notícias sua desde que nos mudamos.

— Eu consegui uma bolsa para a universidade aqui. Ela eu já reencontrei em sua viagem escolar – sorriu, rodeando meus ombros com o braço.

— Então você foi para Sendai? – dei de ombros. – Misaki não falou nada sobre ter te reencontrado, ou de você vim estudar aqui...

— Ela provavelmente esqueceu, sabe como é... muita coisa na cabeça – me lançou um breve olhar, e eu entendi o duplo sentido.

— Misaki se esquecer de algo relacionado a você? – riu baixinho. – Improvável – piscou um olho para mim de forma debochada.

— OK! Já chega disso! Eu achei que esse complô de vocês não existiria mais, mas parece que eu me enganei – tirei o braço de Ren dos meus ombros e comecei a empurrá-lo pela casa até a escada que levava aos quartos no segundo andar.

Ele riu.

— Você não deveria rir – alertei. – Ou eu encontrarei formas muito dolorosas de me vingar.

— E eu acredito – riu novamente. – Mas não é a mesma coisa sem te irritar – adentrou o quarto e se jogou na cama, me puxando para o seu colo.

Rodeei seu pescoço com meus braços por reflexo, diminuindo ainda mais nossa distância. Seu cheiro me invadiu, deixando-me tentada a beijá-lo.

Ele apertou os braços ao redor da minha cintura e aproximou o rosto, apoiando a bochecha em meu ombro. Apoiei minha cabeça na sua e enlacei meus dedos nos cabelos de sua nuca, iniciando um leve afago.

Seus ombros relaxaram e ele levantou a cabeça para me olhar, mas eu continuei, absorta, a mexer em seus cabelos.

Ele sorriu e me abraçou mais forte, então eu afundei o rosto em seu pescoço como eu sempre fazia, mesmo sem perceber.

— Você está parecendo uma criança assim, Misaki.

— Você disse que eu deveria relaxar, então é o que eu estou tentando fazer.

Acariciei seu pescoço com as pontas dos dedos, sentindo-o se arrepiar.

— Relaxar ou me enlouquecer?

— Relaxar... – dei bastante ênfase à palavra. – Eu não tenho culpa de que certas coisas que me relaxam mexem com você... – sorri.

— Certo... – levou sua mão ao meu queixo para que eu pudesse olhá-lo nos olhos. – Isso é um jogo que dois podem jogar, não é?

— N... – mas seus lábios já esmagavam os meus.

Tentei me afastar, porém meu corpo já não obedecia mais as minhas ordens, fazendo com que minhas mãos ao invés de empurrá-lo, o agarrassem de forma ávida.

Ele se virou, me deitando na cama e apoiando os braços de cada lado de minha cabeça, e eu finalmente cedi, fechando os olhos e respondendo.

Senti uma corrente percorrer meu corpo quando ele se ajeitou, puxando a gente mais para cima na cama, logo depois apoiando a mão em minha cintura, descendo-a até minha coxa.

Percorri a mão do seu peito até sua barriga, subindo ela para seus ombros por baixo da jaqueta e a tirei enquanto ele descia os beijos até meu pescoço para depois voltar aos meus lábios de forma sedenta.

Sua mão subiu novamente por baixo de meu uniforme até a minha barriga, acariciando-a até chegar aos botões e começar a abri-los. Se afastou e retirou a própria camisa, jogando ela ao lado da cama.

Marquei levemente seu peito com minhas unhas enquanto ele beijava meu pescoço, voltando a desabotoar meu uniforme, e então, ele parou.

Puxou uma grande quantidade de ar pela boca e o soltou lentamente. Apoiou a cabeça em minha clavícula e retirou a mão de perto de meu busto.

Se jogou para o lado, deitando-se de barriga para cima ao meu lado e levou as mãos ao rosto. Sua respiração saía rápida e pesada.

Me sentei e comecei a abotoar minha blusa novamente. Peguei sua camisa no chão ao lado do meu pé e me virei para olhá-lo, e só então reparei na marca vermelha em seu abdome.

Pensei em chamá-lo, mas eu não era capaz de encontrar minha própria voz. Um misto inacreditável de sentimentos rodavam a minha cabeça, assim como a lembrança dos recentes toques e o calor que percorria minha pele nos locais onde ele tocou e beijou.

Toquei em seu braço, sentindo-o tremer.

Lentamente puxei seus braços, baixando-os até eu ser capaz de ver seu rosto. Esperei pacientemente até que ele abrisse os olhos e que eu encontrasse minha voz novamente.

— O que houve? – minha voz soou estranha até em meus próprios ouvidos. – Por que parou? – a pergunta foi inevitável.

Seus olhos brilharam de uma forma que eu nunca vi antes.

— Você não queria que eu tivesse parado?! Nós... Eu quase... – ele não conseguia formular uma resposta ou organizar os pensamentos.

— Não é isso. Não me leve a mal, mas eu fiquei aliviada quando você parou... Eu só fiquei curiosa – entreguei-lhe a camisa enquanto ele se sentava.

— Eu apenas percebi o que eu estava prestes a fazer. Eu quero que isso seja a sua escolha, e não algo feito em um momento de fraqueza.

Suspirei.

— Foi uma péssima ideia ter vindo para cá – comentei. Tirei o colete verde e o joguei na cama, ficando somente com a blusa branca. – Se a ideia era esvaziar a minha mente, agora eu tenho muito mais coisa para pensar.

Ele riu, percebendo que eu queria desfazer o clima estranho que tinha surgido.

— Me desculpe – murmurou em meu ouvido após me abraçar.

Beijei seu pescoço e o apertei em meus braços.

— Não se preocupe. Não é como se eu também não tivesse feito nada. Você não pode assumir a responsabilidade sozinho, Ren, sabe disso...

— Mas fui eu quem comecei.

— E quem terminou. Não é como se eu estivesse pensando a ponto de parar. Não faça isso, ok? Sendo um erro ou não, não aconteceu nada para você ficar assim.

— Tudo bem – deu um leve sorriso e se afastou.

— Ah... Me desculpe por isso – apontei para seu peito ainda desnudo.

Sorriu de forma maliciosa e disse:

— Eu gostei – e me roubou um selinho. Colocou a camisa e se levantou. – É melhor sairmos antes que algo aconteça de fato.

Desviei o olhar para esconder meu rosto corado, mas concordei e me levantei.

— Eu só preciso de um banho. Não vou demorar.

— Te espero na sala.

Andei até meu guarda-roupas e peguei as peças de roupa que eu iria usar e fui para o banheiro. Lá dentro, no cômodo vazio e silencioso, eu finalmente fui atingida pelo o que quase aconteceu.

Coloquei o chuveiro no frio para tentar acalmar os pensamentos que rodeavam minha cabeça, mas isso não parecia diminuir o fluxo de informação em minha cabeça.

Meu corpo estava quente, mesmo sob a água fria. Sem alcançar o efeito de paz e ser capaz de relaxar com a água gelada, encerrei o banho e me vesti, pronta para descer.

Encontrei Ren sentado no sofá conversando animadamente com minha mãe e com Suzuna, apesar de Suzuna se pronunciar apenas quando citada.

Os cabelos bagunçados dele me lembraram do que aconteceu – ou quase – agora pouco. Ele sorriu, decifrando minha expressão. Desviei o olhar e segui para a porta, parando apenas para esperar por ele.

Rodeou minha cintura com o braço apenas para me irritar. Revirei os olhos e afastei seu braço.

— O que houve?

— Nada – respondi sarcasticamente.

— É sério, Misaki. Não seja chata e me diz o que você está pensando – sua expressão de criança tentando descobrir um segredo muito importante me fez rir.

— Estava apenas pensando. Só isso.

— Pensando em que?

Bufei.

— Já te falaram que a curiosidade matou o gato?

— Ou seja: eu vou me arrepender se você me dizer, não é? – ah, mas que merda!

— Você sabe no que eu estava pensando – respondi à contra gosto.

— Oh, isso? Estava pensando em como apenas um beijo meu te levou quase à loucura? – seu tom zombeteiro me irritou um pouco.

— Sim, na verdade estava – respondi séria. – Estava pensando que isso está virando um jogo perigoso. Dessa vez algo te impediu, mas e se na próxima isso não acontecer?! E se eu não for capaz de te impedir novamente?!

— Você já está pensando na próxima que pode ou não acontecer?

— Você sabe que há uma chance disso acontecer de novo. Bom, não exatamente. Vou me lembrar de ficar bem longe de você para que isso não aconteça de novo.

— Agora você me magoou.

— Eu falo sério, Ren.

Ele suspirou. Paramos no parque perto da minha casa. Preferia não ter que entrar aqui de novo, mas como não lhe contei toda a história sobre o ataque e nem onde ele ocorreu, preferi não comentar nada.

Sentamos no balanço para podermos conversar mais a vontade,

— Eu sei que é sério. Eu só parei porque eu entrei em pânico. Na verdade eu ainda estou. Eu nunca imaginei que iria perder o controle assim tão facilmente assim perto de você.

— Isso te assustou tanto assim? – perguntei.

— Sim, mas o que me travou de verdade foi pensar que depois você poderia se arrepender... – bagunçou os cabelos e apoiou o rosto nas mãos.

Como responder algo como isso?... Simplesmente não posso responder...

— Ren – alisei seus ombros tentando demonstrar apoio. – Vamos esquecer isso, certo?

Ele virou o rosto para mim e sorriu fracamente em concordância.

— Vamos fingir que nunca aconteceu nada – sua voz soou um tanto quanto magoada.

— Não é fingir que nunca aconteceu nada – sua voz soou um tanto quanto magoada.

— Não é fingir que não aconteceu nada, Ren, mas de que vai nos adiantar ficar pensando nisso?

— Eu não sei...  Eu só... – suspirou – Não sei...

— Você não vai ser o único que vai passar por maus bocados tentando esquecer de tudo, ok? – Tentei me acalmar um pouco para poder continuar. – Desculpe.

— Eu sei. Sei que não está errada, eu só estou um pouco confuso com tudo isso. Quando eu consegui organizar meus pensamentos eu vou melhorar. Eu só não queria fingir que nada aconteceu ou tratar como algo sem significado. Sei que não aconteceu nada, - fez menção de dizer quando viu que eu ia falar algo – mas apesar desse fato, foi algo que ficou marcado, assim como o dia em que nós começamos a conversar, depois daquela confusão na frente da escola.

— Você quer que eu trate isso como algo especial? – perguntei sem entender.

— Não. Não é que o ''ato’’ tenha sido especial, é que ele transmite a sensação de que algo mudou em nossa relação.

— Ok, eu não entendo aonde você quer chegar com tudo isso, – falei – mas se isso te faz sentir melhor, prometo que não pensarei no episódio como algo banal ou que ocorreu apenas por descontrole de ambas as partes. Assim está melhor?

Sorriu novamente, ainda que um sorriso sem ânimo algum, mas acabou concordando.

— Eu acho que eu estou meio sensível ultimamente – riu. – Isso é culpa sua. Eu fico assim quando eu penso demais em você.

Sorri.

— Eu acho melhor eu ir. Está ficando tarde e eu realmente preciso descansar.

Ele se levantou e me deu um abraço apertado.

Às vezes quando ele me abraça eu sinto como se ali fosse o meu lugar, mas têm ocasiões em que o contato me faz sentir como se eu estivesse  fazendo algo errado. Infelizmente essa era uma dessas vezes.

Comecei a andar, sabendo que ele iria me acompanhar até em casa antes de ir embora.

— Está entregue – sorriu e depositou um beijo em minha testa e outro em minha bochecha – não se esforce demais.

— Não se preocupe, hoje eu não vou sequer olhar para qualquer coisa que não seja a cama.

— Espero mesmo...

— Não tenha dúvidas disso – sorri maliciosamente apenas para deixá-lo constrangido e entrei.


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Notas finais do capítulo

¹: Essas conversas são originalmente em inglês, mas me deram um puxão de orelha, então decidi fazer o contrário do que eu iria fazer (colocar a parte em inglês aqui, ao invés da tradução)
— I need to see you now - a voz do outro lado disse assim que eu coloquei o fone no ouvido. - It's important. You know why...
— Where? respondi a contra gosto.
— At my apartment, you know the adress. Can't wait to see you again, I'm really nervous...
— Don't! - bradei. - It is a secret and you know why! I can't let her know about you!
— I know it already - comentou. - You said it loud and clear at your first time with me... You don't want her to suffer. I know it, and I get it...
'- Wait for me at the living room.
— Why? Don't wanna wait 'til get to the bedroom? - seu riso demonstrava puro deleite.
— Not really.
— Don't let me waitin for too long or I'll get bored... And don't forget to lock the door... I don't wanna anyone to listen us... It might get noisy - e encerrou a chamada.

Então... A parada da data é pra eu me lembrar sempre de quando foi postado cada capítulo e tentar consertar meus hiatos de tempo.
Agora eu estou trabalhando, fazendo faculdade E estágio, e meu único momento livre pra escrever é no trabalho, porque por enquanto eu ainda posso, mas depois que começar a ficar movimentado, eu realmente não sei como eu vou fazer.
Acho que eu não tenho mais nada para falar, até porque as notas já estão um absurdo de grande...
Novamente peço perdão pelo tempo que levei a postar... sei que não foi uma semana, nem um mês, mas sim UM ANO!, mas juro que eu estava tentando escrever por todo esse tempo, só que os dias foram passando, e os problemas não me deixavam escrever, porque me roubavam toda a minha criatividade.
Bom, é isso, gente, até o próximo capítulo.



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