Linha Vermelha escrita por NaruShibuya


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

FELIZ ANO NOVO, MEU POVO!!!
Espero que gostem.
E não me matem y,y



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/214886/chapter/16

• Misaki PDV •

Entrei no quarto e bati a porta com mais força do que eu precisava. Estou exausta, pensei sombriamente.

O dia na escola não tinha sido nem um pouco agradável... Acho que tudo que tinha para dar errado no maldito conselho estudantil, deu!

Como diabos alguém pode ser tão irresponsável como aqueles inúteis?! Argh! Arremessei o travesseiro na cama com revolta.

— Mas que por...caria! – sentei no chão, apoiando os cotovelos em minhas coxas. Coloquei as mãos sobre o rosto e dei um longo suspiro para tentar me acalmar. Por que eu sinto que estou fazendo tudo pela metade?

Duas leves batidas. Mamãe está fazendo turno hoje, então deve ser Suzuna. Não me incomodei nem um pouco em levantar o olhar para fitar minha irmã mais nova.

— Onee-chan – chamou. Continuei ignorando-a. – Onee-chan? O que houve?

— Por favor, Suzuna, – bradei com a voz rouca e a encarei – eu não estou bem hoje, não me incomode – vi seus olhos arregalarem por alguns momentos. Ótimo, assustei uma pessoa que só estava preocupada comigo. Respirei fundo novamente, tentando mais uma vez, inutilmente, me acalmar. Não funcionou...

Levantei e empurrei minha irmã para fora do meu quarto gentilmente e fechei a porta novamente, dessa vez trancando-a em seguida.

Tirei o uniforme e o arremessei em qualquer canto do quarto. Peguei uma roupa em meu guarda-roupas e me troquei. Preciso sair de casa agora, ou vou enlouquecer!

Desci as escadas de dois em dois degraus e corri para fora de casa sem nem sequer pegar minhas chaves ou um guarda-chuva.

Antes que eu conseguisse chegar à esquina eu já estava completamente ensopada, mas por alguma razão, isso me fazia sentir bem... Agora eu consigo me acalmar. Claro que eu provavelmente vou ficar doente depois, mas eu não me importo.

Andei até o pequeno parque para crianças que tinha ali perto e sentei no balanço, juntando as mãos para esquentá-las.

Lembrei do que eu havia feito poucos instantes antes com Suzuna e me senti culpada. Ela não tem culpa de nada... Estava apenas preocupada. Bem, quando eu voltar para casa, eu me desculparei com ela por ser uma idiota... Espero que ela entenda...

Agarrei a corrente com a mão boa e me balancei com leveza, apenas distraída.

— Eu não posso ficar doente... – murmurei. – Amanhã provavelmente o dia vai ser idêntico ao de hoje, cheio de idiotas tentando me irritar ou cheio de idiotas tentando me sabotar.

O dia hoje começou com todos os membros do conselho simplesmente fingindo que eu não existia, provavelmente a mando do antigo presidente. Quando finalmente perceberam que precisavam da minha ajuda, simplesmente jogaram os papeis em mim para eu ‘’fazer o que tinha que fazer’’, como eles disseram.

Eu me limitei a prender a respiração por alguns segundos para não explodir e tentar quebrar o pescoço de cada um daqueles idiotas. Quando finalmente me acalmei o suficiente para afastar os pensamentos homicidas de minha cabeça, me virei para os papeis e os ignorei até que eles resolvessem tentar me desestabilizar mentalmente novamente.

Depois disso a biblioteca foi atacada; as bolas para as atividades de Educação Física que estavam no estádio foram praticamente todas rasgadas em várias partes; alunos brigaram e quebraram alguns vidros com pedras ou com as mãos mesmo...

Eu fiquei sem reação devido tantas atividades contra mim. Eu não escolhi tomar conta da escola toda!

Claro que depois eu ainda esbarrei em Usui e ele fingiu que sequer podia me ver – a pedido meu, eu sei, mas isso não faz doer menos, muito pelo contrário.

Levantei do balanço e comecei a voltar para casa, muito mais calma agora. Sorri, satisfeita. Agora eu posso me desculpar com Suzuna... Espero que ela não esteja muito chateada comigo, fiz careta.

Senti alguém agarrando meu ombro e puxando minha camisa para trás com força. Perdi o equilíbrio por alguns instantes, mas me agarrei à grade do parque antes que eu caísse.

Dessa vez, a pessoa colocou o pé em minhas costas e me empurrou. Meu ombro se chocou com um grande baque na mesma grade que havia acabado de me salvar. Quando meu pulso deslocado se chocou contra o chão um arrepio de dor percorreu todo meu corpo. Trinquei os dentes e joguei o corpo para o lado, virando de barriga para cima em tempo de desviar de outro chute. Quando a pessoa levantou a perna mais uma vez para me chutar, empurrei-o pela barriga com uma das pernas e com a outra, chutei sua perna para o lado com a maior força que consegui, fazendo-o cair também.

Me levantei e puxei o capuz do casaco que estava tampando boa parte de seu rosto para trás. Senti meu pulso latejar quando percebi que era um dos membros do conselho estudantil, mas por quê?!

Ele deu uma grande gargalhada e se levantou também. Agarrando meu rosto, se aproximou bem de mim. Ele está fedendo a álcool, percebi.

Sua mão saiu de meu rosto e foi descendo, chegou ao pescoço, depois ao ombro, aos meus braços e à minha cintura, então ele me derrubou novamente e se ajoelhou sobre mim, sentando em meu ventre. Arregalei os olhos quando o senti apertar meu pescoço enquanto sorria. Sua mão que ainda descansava em minha cintura subiu, por baixo de minha roupa.

Em desespero, tentei bater nele, chutar e arranhar, mas eu não sou canhota, e há pouco que posso fazer em minha defesa com meu braço direito engessado.

Quando ele estava perto de tocar meu seio, ele parou e desceu o rosto, dando uma forte mordida em meu pescoço e depois arranhou minha barriga por todo o caminho que ele tinha acabado de percorrer com a mão.

Senti o local arder enquanto ele aproximava seu rosto do meu. Virei a face poucos milésimos antes que ele encostasse em mim, mas ele agarrou meu rosto novamente e me forçou a virar em sua direção.

— Ora, vamos, kaichou... – disse em tom zombeteiro. Novamente o cheiro de álcool inundou minhas narinas, trazendo uma sensação nauseante.

Apertou meu pescoço novamente, dessa vez com mais força. Me sacudi, tentando fazer com que ele me soltasse, mas nada fazia efeito, eu estava sem saída. Comecei a tossir quando o ar começou a faltar; tudo começou a ficar escuro, e então eu apaguei.

Eu parecia estar voando. Em meio à inconsciência, senti algo em minha cabeça, e depois mais nada. Não sei quanto tempo levou para eu recobrar a consciência, mas quando finalmente abri meus olhos, estava em um local que eu não fazia ideia de onde era.

Olhei em volta, procurando alguém ou alguma coisa que pudesse me dizer que local era aquele. Tentei me sentar, mas minha cabeça rodava, parecendo que iria explodir a qualquer instante. Provavelmente bati quando ele me derrubou no chão pela segunda vez, embora eu não tenha de fato sentido nada, por causa do desespero e da adrenalina.

Suspirei e desisti de tentar levantar. Tsc. Eu devia ter ficado em casa. Escutei um Tic Tac e procurei pelo relógio, tentando me orientar pelo menos nisso. 23h51? Como?!

Senti meu corpo sendo dominado pelo pânico. Suzuna... Suzuna está sozinha em casa, e eu sequer disse para onde eu iria! Tentei levantar novamente, mas minha visão embaçou e minha cabeça pareceu adquirir mais 100kg, então caí deitada novamente. Meu celular... Onde está meu celular?! Eu preciso ligar para casa!

Olhei em volta, para a pequena mesa de centro que estava ao meu lado, mas estava vazia.

Mas que diabos de lugar é esse? Não tem absolutamente nada aqui! Tudo que posso ver são cortinas grandes e de tecido grosso, impedindo qualquer luz de fora entrar, e que qualquer luz de dentro deste lugar saia também; o sofá no qual eu estou deitada e uma mesa de centro.

Escutei barulho de passos pela casa, então fiquei ainda mais apreensiva. Revirei os olhos. É claro que tem alguém aqui! Eu não parei nesse lugar sozinha! Certo?...

— Então você finalmente acordou – senti uma pressão no sofá perto de meus pés. Meu coração parou por um instante, apenas para recomeçar a bater de forma desesperadamente descompassada.

— Usui?! – murmurei, rouca. Minha garganta doeu de forma absurda ao falar. – Que lugar é esse? – tentei novamente; mesma intensidade na voz, dor mais intensa do que a anterior. Dei um pigarro, tentando fazer a voz sair normal... Péssima ideia. Trinquei os dentes quando senti a garganta arder como se eu tivesse engolido fogo.

— É minha casa – respondeu sombriamente, se levantando do sofá e se encostando na parede o mais longe possível de mim.

— Como você me encontrou? – grunhi enquanto tentava me sentar. Ele se aproximou agilmente de mim e me impediu, me recostando à almofada novamente. Se sentou do outro lado da mesa de centro, porém muito mais perto do que estava antes. Provavelmente para prevenir que eu fizesse alguma idiotice, o que provavelmente pode acontecer.

Ele olhou para as cortinas e me ignorou. Fechei os olhos, tentando ignorar todo e qualquer tipo de dor que eu sentia naquele momento, tanto as físicas quanto a emocional, mas ainda sim, senti meu orgulho ferido com aquele simples gesto.

Tentei levantar novamente, e dessa vez ele não moveu um dedo para me impedir. Senti algo repuxar em meu cabelo quando em fim consegui me sentar. Passei a mão com cuidado no local, sentindo algo que parecia com um tecido fino, talvez seja uma gaze.

Sentada no sofá, eu tinha uma visão um pouco mais ampla da sala, e só então eu percebi uma caixa com remédios e coisas para curativos, e uma bacia com água. Encarei aquilo por um tempo indefinido. A visão daquela água ensanguentada e imunda fez meu estômago revirar.

Apoiei a mão no sofá e tentei me levantar. Senti todos meus ossos protestarem quando comecei a fazer força e me erguer. Usui novamente se levantou e me impediu de continuar.

— Aonde você pensa que vai? – disse friamente.

Olhei para a porta de forma sugestiva e levantei uma sobrancelha. Já que eu não consigo falar direito, isso é mais que o suficiente para ele entender que eu vou embora.

Ele se sentou do meu lado e apoiou o cotovelo em sua perna, recostando sua cabeça em sua mão e me encarou de forma desinteressada. Depois sorriu e levantou a outra mão, que segurava um chaveiro com algumas chaves.

Me recostei no sofá, exausta.

— Como você me encontrou? – repeti a pergunta.

— Eu estava passando pelo local quando vi uma pessoa sendo derrubada e depois enforcada. Eu não estava tão perto quando isso ocorreu, mas eu corri e afastei o agressor antes mesmo de saber que era você. Como você estava inconsciente e eu não sabia o que fazer, eu te trouxe aqui... – deu de ombros.

Confirmei com a cabeça.

— Obrigada pela ajuda, mas eu preciso ir. Minha irmã está sozinha em casa e eu saí de lá realmente cedo e estou preocupada.

Ele simplesmente me estendeu meu celular de volta para mim e esperou que eu telefonasse.

Liguei para casa e inventei alguma desculpa e também pedi desculpas pelo o que havia acontecido mais cedo. Minha irmã estava realmente preocupada comigo, e eu não podia fazer nada a não ser mentir, já que se eu falasse a verdade, iria ser muito mais preocupante para ela, ainda mais já que eu provavelmente não vou voltar para casa hoje...

— Precisa de alguma coisa? – Usui perguntou, ainda frio e mantendo distância.

Eu não posso me sentir incomodada com isso! Essa situação é por minha causa... Não tem sentido eu ficar irritada com ele. Ele... Ele provavelmente está sofrendo mais do que eu...

— Água – murmurei tão baixo que eu mesma quase não me escutei. Ele apenas se levantou e entrou em um lugar, provavelmente na cozinha, e voltou alguns segundos depois com uma garrafa de água em mãos. Sério que ele me escutou? Ele me entregou e só então eu vi, em um canto afastado na sala, havia um lindo piano de cauda preto. – Piano – sussurrei, pensando alto.

Ele congelou e se afastou, voltando para a cozinha.

Como vou fazer para lidar com esse clima estranho entre nós dois, ainda mais comigo em um estado tão deplorável e sem poder voltar para casa nesse exato momento? Fitei meu corpo e só então percebi que não estava vestindo minhas roupas, e sim uma blusa preta de manga e uma calça, ambas largas em mim.

Minha cabeça rodou... Oh, meu deus. Senti meu rosto esquentar quando avistei a pilha que provavelmente eram minhas roupas no chão, do lado da bacia de água. Agarrei a almofada e a apertei em meus braços. Reação idiota, eu sei, mas isso me faz sentir melhor...

Usui saiu da cozinha. Quando viu que eu agarrava a almofada me encarou, erguendo uma sobrancelha. Meu rosto corou mais ainda e eu desviei o olhar, enfiando a face no tecido macio em meus braços. Pensei ter escutado uma pequena risada, mas o ignorei.

— O que foi, Ayuzawa? – murmurou gentilmente... Gentil até demais. Levantei a cabeça vagarosamente e ele estava sentado na beirada da mesa de centro, olhando em minha direção com um olhar sereno.

Abri a garrafa d’água e bebi um pouco.

— Não está mais irritado comigo? – questionei. Minha voz saiu muito mais normal depois de beber um pouco de água, mas ainda sim um pouco baixa, e ainda doía quando eu falava.

— Eu nunca estive irritado com você... – respondeu por fim, após avaliar a pergunta e uma resposta lógica. – Eu só estava pensando em novas abordagens – sorriu de canto.

Senti meu coração pulsar, forte, rápido, descompassado... Me perdi naquele sorriso. Não tinha como explicar, eu só queria continuar olhando para ele o resto da noite.

— Ugh! – abaixei a cabeça, apoiando a mão boa nela. Fechei os olhos, tentando amenizar a pressão súbita que estava me deixando desnorteada.

Senti as mãos de Usui em meus ombros, me dando apoio, mas de repente o toque sumiu. Não demorou muito para eu sentir que ele estava perto de mim novamente. Escutei um pequeno estalo e então ele estava falando comigo:

— Abra a boca, Ayuzawa – pediu. Senti algo amargo em minha língua, mas não reclamei. Logo senti a textura de um canudo em minha boca também, então comecei a beber da água que ele me oferecia para que o remédio pudesse descer.

Esperei algum tempo e a dor foi diminuindo, apesar de eu ter certeza que ainda não era por causa do remédio. Abri os olhos e dei de cara com Usui ajoelhado na minha frente com um olhar ansioso em sua face.

— Eu já estou melhor, obrigada – ele suspirou aliviado e se sentou novamente na mesa de centro. – Eu bati a cabeça mais forte do que imaginei...

— Você provavelmente vai precisar de pontos... Foi um milagre eu ter conseguido estancar o sangramento – comprimi os lábios e virei o rosto na direção oposta. Novamente ele soltou uma leve risada. – Você fica fofa fazendo biquinho, sabia? – tirou sarro. – Não se preocupe, apesar de ter, de fato, um machucado em sua cabeça, não creio que precise de pontos, caso contrário, você estaria no hospital agora, e não aqui.

E isso me lembra...

— Por que estou com essas roupas?

— Porque eu queria ver Ayuzawa apenas de roupas íntimas, então me aproveitei da situação... – senti meu rosto esquentar enquanto ele se esborrachava de rir, quase caindo da mesa. Joguei a almofada em seu rosto, apenas fazendo as risadas mais intensas por parte do loiro. Bufei. – Não se preocupe, eu pedi para a síndica te trocar enquanto eu esperava obedientemente do lado de fora do apartamento... Eu não vi nada, eu juro!

Bem, menos mal... De qualquer forma, eu não creio que ele fosse fazer esse tipo de coisa comigo...

— Mas eu vi enquanto eu te trazia para cá – sorriu pervertidamente. Ou talvez eu esteja enganada... – Ayuzawa, não sabia que gostava desse tipo de roupa íntima – fuzilei-o com o olhar. Já que não posso gritar com esse idiota e nem arremessar mais nada, vou apenas ficar resignadamente quieta. Ele se inclinou em minha direção, apoiando uma mão no sofá de cada lado do meu corpo. Me apoiei no encosto estofado, buscando um pouco de distância dele, mas ele se aproximou mais. Ficando face a face comigo, murmurou: - Espero que você tenha consciência do quão sexy você fica fazendo essa expressão, Ayuzawa... E ver você com minhas roupas me faz querer tirá-las bem vagarosamente... – sorrindo de canto, deu um leve beijo em minha testa e se afastou.

Senti meu coração tropeçar nas próprias batidas. Qual é a maldita magia que tem nesse sorriso que me afeta tanto?!

— Hey, Usui, – ele me olhou com curiosidade – como você vive num apartamento desse tamanho? Quer dizer... isso deve ser caro, e ainda tem o piano – e, se eu não estou enganada, isso aqui é a cobertura...

— Meu irmão... – respondeu simplesmente. Seus olhos ficaram vagos e seu rosto adquiriu uma expressão diferente, eu não sei se interpretei direito, mas era culpa?... – Esse apartamento é do meu irmão – completou quase num sussurro. – Agora você precisa descansar! – disse, sorrindo. Ele é bipolar... Suspirei.

— Se você não quer tocar no assunto, é só dizer que eu nunca mais falo sobre isso novamente – falei.

— Eu não quero tocar no assunto – disse sem hesitação. Confirmei cuidadosamente com a cabeça.

Me apoiando e com cuidado, deitei novamente. É melhor aceitar logo que não posso ir para casa agora e descansar. Além do mais, esse clima estranho que surgiu quando eu toquei no assunto do apartamento está me sufocando.

Apenas espero que Usui não continue com essas coisas, ou meu autocontrole vai ser totalmente destruído – junto à minha promessa.

• Usui PDV •

Sentei no chão e fiquei observando Ayuzawa dormir. Ela parece tão tranquila, sequer parece que passou por uma experiência ruim há apenas algumas horas.

Uma pena que não deu tempo de fazer nada com aquele maldito antes que ele fugisse, afinal, quando me aproximei e constatei quem era que ele estava enforcando, eu fiquei sem reação além de tirá-lo de perto dela, mas quando ele me viu, ele correu, se afastando.

O pensamento de perseguir aquele lixo passou pela minha cabeça por alguns segundos, mas escutar a dificuldade que Ayuzawa estava tendo para respirar me preocupou muito mais que uma vingança – que eu com certeza vou elaborar melhor depois -, então eu a trouxe comigo.

Perto da entrada do meu apartamento ela pareceu recuperar a consciência e disse meu nome baixinho, sorrindo. Eu fiquei instantaneamente mais aliviado.

~ Flash Back ~

Subimos. Destranquei a porta e a coloquei cuidadosamente em cima de meu sofá, sequer me importando se iria sujá-lo. Eu não tive muito tempo de examinar a situação em que a morena estava, então apenas quando tirei meu casaco que eu percebi que ele estava com sangue onde a cabeça dela esteve apoiada em meu braço.

Com um tipo diferente de urgência, me aproximei e comecei a examinar seu corpo de forma cuidadosa e minuciosa.

Suas calças estavam molhadas e sujas, mas não parecia haver qualquer machucado em seus membros inferiores. Sua camisa estava com manchas de sangue e rasgada, bem perto de sua cintura, revelando marcas profundas vermelho-arroxeado. Subi cautelosamente sua blusa, tentando ver até onde as marcas iam, temeroso de que chegassem até seus seios e que eu visse algo que pudesse chateá-la. Decidi então deixar o tecido parcialmente levantado, deixando à mostra apenas sua barriga... Se os ferimentos vão acima disso, eu não sei dizer, mas será apenas até aqui que eu irei tratar.

Subindo mais um pouco o olhar, percebi outra marca em sua pele clara, dessa vez em seu pescoço. Era, muito obviamente, uma marca de mordida. E também havia, é claro, a grande marca vermelho escuro que estava em toda a extensão de seu pescoço. Senti meu sangue ferver enquanto passava a mão delicadamente pelo local, vendo Ayuzawa se encolher, fazendo careta.

Tentei afastar a vontade de encontrar aquele cara e bater nele até que não houvesse mais nada de reconhecível em sua face. Sentei então na beirada da mesa de centro, respirando fundo. Me inclinei e comecei a vasculhar cuidadosamente em sua cabeça, tentando encontrar o corte e determinar se ela estava mais machucada do que eu temia que estivesse. Notei a não tão pequena marca de sangue que já estava se formando na almofada em que ela se recostava, então com cuidado, a ergui um pouco, procurando mais para a parte de trás de sua cabeça, e só então encontrei o ferimento.

Suspirei em alívio quando tive a certeza de que era apenas um corte superficial e que não precisaria levar pontos.

Levantei mais que depressa, procurando algum recipiente para colocar água e gelo para poder diminuir e parar, gradativamente, o sangramento, enquanto eu a limpava e cuidava dos outros machucados menos importantes.

Molhei a toalha que trouxe comigo e a torci, deixando apenas úmida. Coloquei algumas pedras de gelo e a enrolei, colocando sobre o machucado em sua cabeça. Peguei outra pequena toalha e molhei uma ponta, passando pelas marcas em sua barriga. Ela se remexeu, inquieta, mas eu continuei.

Após limpar toda a sujeira que estava em seu corpo, eu finalmente me voltei para sua cabeça. A toalha estava pingando sangue, e isso me preocupou. Achei que o corte não fosse tão ruim a ponto de deixar o tecido nesse estado.

Mergulhei o pano na bacia e o tirei, torcendo. Repeti o processo até ele estar o mais próximo de sua cor original, apenas um pouco róseo. Coloquei novamente sobre a cabeça de Ayuzawa, dessa vez sem o gelo, e esperei. Quando o pano estava, novamente, encharcado com seu sangue, levantei e o lavei, procurando meu celular para ligar para uma ambulância.

O sangramento não está diminuindo e ela está cada vez mais pálida. Quando avistei o celular dela jogado em frente a porta, me levantei para pegá-lo e ligar para a emergência. Me agachei na frente do aparelho e disquei ali mesmo... Tocou uma... Tocou duas... Tocou tr-

— Usui... – a escutei sussurrar novamente. Me virei em sua direção, pensando que ela tinha finalmente acordado. Mas não tinha... Porém percebi que, dessa vez, o pano estava intacto, sem qualquer vestígio de sangue. Me aproximei, agachando em frente ao sofá e abri o kit de primeiros socorros que eu tinha pego quando trouxe a bacia. Limpei o ferimento com um pouco de álcool e depois coloquei um remédio. Encarei aquilo por um tempo. O que está faltando?... Ah, sim, vou colocar algo para proteger o ferimento. Revirei o kit e encontrei faixas, esparadrapos e, bem lá no fundo, um pacote com gazes. Aliviado, terminei o curativo.

Minhas pernas fraquejaram sob mim, em torpor e felicidade, então me deixei cair, sentando ali por minutos ou horas, não sei dizer, mas tudo que eu conseguia fazer era observá-la, aliviado.

Levantei em um salto quando me lembrei que ela estava ensopada, e que isso provavelmente vai prejudicar ainda mais seu estado, então fui até meu quarto e peguei uma calça, uma blusa de manga e um cobertor. Voltei rapidamente para seu lado e fiquei encarando a garota adormecida a minha frente... Como diabos eu vou trocar ela?!

O desespero me dominou. Um estalo: a síndica! Isso! Era só eu pedir para ela me ajudar!

Saí porta afora como um lunático procurando pela senhora sempre tão gentil e prestativa, mas, como se fosse de propósito, eu não conseguia encontrá-la em canto algum! Bufei, frustrado, e voltei para o apartamento.

— Desculpe, Ayuzawa – disse, enquanto abria os botões de sua blusa, tento todo o cuidado de olhar para o lado e afastar o máximo possível o tecido de seu corpo para que eu não acabasse tocando em nada acidentalmente. Quando senti que tinha terminado de abrir todos, coloquei meu braço cuidadosamente em baixo de seu pescoço e a ergui, rezando para que ela não acordasse. Fechei os olhos e coloquei a mão em seu ombro, sob o tecido, e o empurrei vagarosamente por seu braço – não sem deixar de notar o quão sua pele era macia. Mordi o lábio e amaldiçoei aquela síndica por ter simplesmente desaparecido.

Quando ele estava afastado o suficiente, ergui seu braço e o puxei, tirando a primeira manga da blusa. Repeti todo o processo no braço direito, aumentando a dificuldade e o medo devido o gesso.

Levantei a blusa de seu corpo e a coloquei perto da bacia de água suja. Peguei minha blusa e virei em sua direção, lembrando tarde demais que não devia olhar para uma pessoa seminua e desacordada.

Tentei desviar o olhar, tirar os pensamentos que vinham livremente e preenchiam minha cabeça, mas tudo que eu de fato conseguia fazer era continuar fitando o busto de Ayuzawa.

— Oh, deus... – pigarreei, tentando encontrar a voz. – Com o uniforme eles parecem tão... menores... – fechei os olhos e sacudi a cabeça fervorosamente. Isso está errado! Não é legal ficar olhando!

Quando a imagem vívida apareceu em minha memória, abri os olhos imediatamente. Respirei fundo enquanto tentava manter o foco e – provavelmente – parar de devorar a garota com o olhar.

Peguei a blusa que eu havia largado no chão sem sequer perceber e a coloquei em Ayuzawa de forma desajeitada. Desci as mãos e abri com o maior cuidado e com o menor contato possível o botão e o zíper de sua calça e comecei a puxá-las para baixo, pelas pernas.

Dessa vez não me esqueci de fechar os olhos quando virei em sua direção com minhas calças, que por bondade do destino, eram de um tecido leve e ficavam folgadas em Ayuzawa, e isso facilitou muito na hora de vestir elas na garota.

Joguei sua calça suja em cima da blusa, ao lado da bacia de água, e a fitei. Ela estava simplesmente... sexy... e a imagem de seu tronco quase desnudo não ajudava em nada.

De uma coisa eu tenho certeza: eu jamais posso contar à ela que fui eu quem troquei suas roupas, ou ela me mata. Suspirei. Para todos os efeitos, foi a síndica quem fez isso.

Sorri pervertidamente e fui para a cozinha, imaginando mil coisas não muito puras com a garota que estava desacordada em meu sofá.

Continua...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Usui safadenho :3
Então é isso, pessoal...
Até o próximo xD



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Linha Vermelha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.