Linha Vermelha escrita por NaruShibuya


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Weeey o/.
SIM, ESTOU DE VOLTA! E, como prometido, pelo menos um capítulo por mês :D



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• Ren PDV •

A primeira coisa em que reparei depois que desci do ônibus foi uma árvore de cerejeira do lado de fora da estação.

As flores róseas me trouxeram à memória os primeiros dias que eu e Misaki começamos a de fato nos tornar amigos.

Peguei o aparelho celular dentro de minha mochila para ver a hora e me lembrei da ligação. Não desistirei de você, Misaki. Até você dizer que finalmente ama outro, eu não vou desistir de você!

Ainda está cedo, mas a perspectiva de ter que conversar com o dono da casa que eu aluguei, ajeitar tudo ali dentro, ir a um mercado para comprar comida e preparar alguma coisa para mim, tudo isso hoje, me desanima de uma maneira inacreditável.

Misaki... Como eu queria poder te ver, mesmo que de relance. Isso recarregaria todas as minhas forças.

Eu sei que será um dia complicado e que você tentará me afastar, mas eu não irei ceder. Sorri. Ela é tão previsível...

Esperei pacientemente o ônibus na parada enquanto imaginava como colocar na cabeça dura de Misaki que eu apenas irei sossegar quando eu a tiver como minha de novo...

Vi o veículo se aproximando aos poucos enquanto freava para os passageiros subirem. Paguei a passagem e me direcionei ao fundo do ônibus. Creio que mais uma hora e finalmente estarei em casa...

–//-

Depois de organizar todo o pequeno apartamento e preparar algo para comer peguei o celular e digitei uma mensagem para Misaki pedindo para que me encontrasse em um local engraçadamente aconchegante que eu havia encontrado quando desci na parada errada enquanto vinha para casa.

Quando o celular vibrou com a mensagem de resposta não acreditei no que lia...

Isso terá que ser algumas horas após o horário de fechamento normal da escola... Como eu disse mais cedo: terei coisas do conselho estudantil para resolver.

Qual o nome do lugar?

Se não for incômodo para você, me espere lá às 18h.

Ainda meio chocado, lembrei que ela tinha comentado algo do tipo mais cedo... Conselho estudantil? Interessante... Preciso saber quem a obrigou a se envolver com ‘’coisas complicadas’’.

Parece que o café fica em outro bairro e eu o descobri por acidente quando desci na parada errada... É um lugar aconchegante para se conversar e as atendentes são super educadas... Apesar que teve uma que parecia querer me matar apenas por diversão.

Sorri ao lembrar da cena.

Ah, sim, o nome do lugar é Maid Latte e eu estarei te esperando.

Depois de enviar a mensagem tomei um banho e deitei para descansar um pouco. Amanhã ainda preciso ir à universidade resolver mais assuntos burocráticos...

• Misaki PDV •

Li a mensagem de Ren. Maid Latte? Eu já ouvi falar desse lugar, mas não me recordo onde... Ah, sim, é um daqueles lugares estranhos onde as garçonetes se vestem de empregada...

Não sabia que Ren gostava desse tipo de coisa. Dei de ombros.

Peguei uma toalha limpa e segui para o banheiro. Maldito diretor... A partir de hoje serei obrigada a acordar praticamente duas horas mais cedo para poder chegar ao colégio muito antes do horário apenas para supervisionar a escola.

Bufei. Tem como ficar pior?...

Sim, tem. Sempre tem!

Quando desci as escadas minha mãe me fitou com uma expressão além do espantado. Suspirei novamente. Até minha própria mãe...

Ela andou calmamente até a janela e fitou o céu, depois apoiou a mão no queixo e se virando para mim disse:

– Não faça chover hoje, filha... Eu prometi que levaria Suzuna para aquela loja nova para acompanhar o sorteio...

– Acredite quando digo que eu preferia tudo, menos ter que fazer o que estou prestes a fazer – disse, indignada com a falta de consideração das pessoas. Isso magoa, sabe?

– E o que você está prestes a fazer hoje?

– Ser responsável por toda a escola...

Sentando-se à mesa, ela apenas arqueou a sobrancelha, esperando que eu explicasse.

– Eu sou a nova presidente do conselho estudantil, mãe... – ela abriu um enorme sorriso, mas logo o reprimiu.

– Eu imagino que isso seja um péssimo castigo para alguém como você...

Revirei os olhos. Apesar de minha mãe ser uma pessoa ocupada, ela ainda tinha tempo para saber sobre minha vida escolar, e claro que ela fazia total questão de saber de tudo. E, também é claro que ela sabia que eu raramente assistia à uma aula completa...

– Não me espere. Depois que sair da escola irei me encontrar com Ren.

Até o momento minha mãe parecia um tanto desinteressada com o assunto, mas o nome de Ren mudou completamente a expressão em seu rosto.

Seus olhos arregalados e sua boca trêmula pareciam não conter o sentimento de felicidade que seus olhos transmitiam.

– Ren? Tsuchiura Ren?! – questionou, um tanto alto.

– Sim... – murmurei, muito menos empolgada que ela.

– Vocês voltaram?

Abri a boca para responder alguma coisa, mas nada saiu de lá...

– É complicado...

– Não entendo como pode ser complicado, Misaki. Seus olhos brilham apenas falando o nome de Ren – sorriu. – Viu?

– Nós não voltamos, mãe. Desculpe, mas eu preciso ir agora. Não sei que horas volto para casa.

Minha irmã desceu pelas escadas e sentou-se à mesa em frente a nossa mãe. Com seu habitual rosto sem expressão disse:

– Onee-chan, a mamãe prometeu me levar a um lugar mais tarde, então, por favor, não faça coisas que possa fazer chover... – revirei os olhos. Até minha irmã... Não é tão raro assim eu acordar cedo...

– Estou indo.

Saí de casa e andei rapidamente. Olhei a hora no celular e amaldiçoei o tempo. Eu estou atrasada. Quase correndo para chegar à escola, esbarrei em um garoto. Ele agarrou meu pulso quando o impacto me empurrou para trás, fazendo-me quase cair no chão.

– Desculpe – disse apressadamente. Apenas depois de me abaixar para pegar minha bolsa do chão percebi que era o garoto que eu encontrei em Sendai. – Hinata? O que faz por aqui essa hora? Ainda está cedo para você ir para o Seika.

Ele sorriu largamente, parecendo contente.

– Eu estava indo falar com o gerente de uma loja nova que tem por aqui. Eu vi um papel ontem dizendo que eles estavam precisando de atendente, então estava pensando em pedir por um emprego de meio período.

Sorri.

– Entendo. Bem, boa sorte. Desculpe-me, mas eu estou apressada e preciso ir agora.

Me afastei, voltando a andar rapidamente. Suspirei aliviada quando atravessei os portões do Seika.

Andei por toda a escola procurando algo errado, mas pelo menos isso estava tudo certo, então fui para a sala do conselho.

Arqueei a sobrancelha quando vi o antigo presidente sentado sobre ‘’minha’’ mesa. Ele parecia bem irritado comigo e tinha um sorrisinho maldoso nos lábios. Me pergunto se terei algum dia sem me meter em problemas nessa escola...

– Posso ajudá-lo? – questionei. Não acredito que ele se deu ao trabalho de chegar na escola quase uma hora e meia antes do período de aulas apenas para me atormentar.

– Não, não quero atrapalhar, apenas vim desejar boa sorte no seu primeiro dia como presidente do conselho – ele se levantou e se apoiou em uma das pilhas de papel com o cotovelo.

Cruzei os braços sobre o peito quando vi o seu sorriso aumentar e seu braço empurrar a pilha de papeis para fora da mesa. Juro que nunca vi tanto papel se espalhar tão fácil e tão rápido. A quantidade era tamanha que até no corredor eles foram parar.

Prendi a respiração e jurei mentalmente não matar aquele infeliz nesse exato momento. Em vez disso, gargalhei. O mais alto que pude. Ele ficou atordoado alguns segundos, certamente não era a reação que ninguém esperaria nesse tipo de situação.

– Ora, temos um aluno rebelde aqui, não? Espero que se lembre que eu sou a nova presidente do conselho e que você não passa de mais um aluno – me aproximei vagarosamente dele. Ele me encarava com olhos arregalados, talvez por causa de meu olhar frio e profundo e minha voz ameaçadora. Quando parei em sua frente, murmurei em seu ouvido, fazendo-o arrepiar-se: - Isso vai ter volta.

Ele saiu de lá o mais rápido que conseguiu sem olhar para trás. Suspirei e me agachei, começando a catar os papeis do chão. Fiz pequenos montes desses arquivos em cima da mesa, ao lados das pilhas maiores. Escutei um leve estalo atrás de mim.

Virei instantaneamente para saber o que era e vi Usui parado com uma pilha de papeis em sua mão.

– Eles estavam em boa parte do corredor e como pareciam importantes eu os recolhi – disse de forma apressada e distante. Se esticou e os jogou em cima da mesa, fazendo alguns papeis caírem novamente no chão e se virou, sumindo pela porta em poucos passos.

Ele nem sequer olhou em minha direção, percebi. Senti uma forte pontada no peito, mas resolvi ignorar. Não preciso de mais esse tipo de coisa logo cedo.

Sentei na cadeira e comecei a separar os papeis: enfermaria, reclamações de estudantes, dicas, relatórios financeiros, relatórios de festivais de esportes, relatórios sobre as eleições do conselho estudantil e outras pilhas de assuntos foram aparecendo ao longo da mesa.

Quando terminei de organizar a terceira pilha de papeis o meu celular vibrou. Era o alarme que eu havia colocado para soar alguns minutos antes do início das aulas, assim eu não me atrasaria.

–//-

O período de aulas passou rapidamente. Apesar de eu não ter dormido nem por um segundo, também não prestei atenção nas aulas muito mais tempo que isso. O que se passa na cabeça desse professor para passar a mesma matéria novamente?

Quando enfim estava livre das aulas e dos arquivos que eu ainda tive que terminar de separar dei um longo suspiro. Apenas em pensar que terei que fazer isso todos os dias até o final do ano letivo...

Duas leves batidas na porta. Era Sakura.

Ela deu um leve sorriso ao me ver e entrou na sala.

– Você parece meio desanimada, Misaki, o que houve? – olhei em volta sugestivamente e ela, novamente, sorriu. – Eu escutei que você seria a nova presidente do conselho, mas você não parece feliz com isso.

Bufei.

– Claro, eu vou ficar feliz por ter que tomar conta de toda a escola e ainda fazer o trabalho acumulado daqueles idiotas que ficavam aqui antes de mim – me levantei de forma abrupta, provavelmente assustando-a. – Eles sequer faziam o maldito livro caixa! De onde diabos vou tirar os valores e organizar tudo isso?! – a frustração era evidente em meu tom de voz. – Desculpe, não queria tê-la assustado.

– Você está muito tensa, Misaki, por que não chama Usui-kun para sair e se diverte um pouco? – travei por alguns segundos, prendendo a respiração. Desviei o olhar pedindo mentalmente para que ela não tenha percebido e me sentei novamente na cadeira.

– Eu... Nós... As coisas mudaram, Sakura. Desculpe, mas você precisa de alguma coisa?, eu estou um pouco ocupada...

– Oh, sim, sim, desculpe-me também... Era apenas para avisar que tem alguns garotos importunando uma menina, parece que tentando obrigá-la a sair com eles.

Levantei e saí da sala com Sakura logo atrás de mim. Quando chegamos ao local, a menina estava chorando e os outros dois rapazes a cercavam, rindo e falando coisas estúpidas.

A minha vontade de deixar que continuassem torturando a garota foi imensa quando percebi que se tratava da pessoa que me ameaçou outro dia, mas, infelizmente, eu não posso, então me aproximei, parando na frente dela, impedindo que os outros dois rapazes a tocassem novamente.

– O que vocês pensam que estão fazendo?... – disse sombriamente.

Eles riram e se olharam. Se afastaram alguns passos e me cercaram da melhor maneira que duas pessoas podem cercar: um em cada flanco.

– Vocês realmente querem brigar? Não deviam fazer isso, podem se arrepender... – e, novamente, eles riram, só que bem mais alto dessa vez. Suspirei. Eu só queria terminar de organizar aqueles papeis... Por que as pessoas têm que deixar tudo mais complicado pra mim?...

– Quem você pensa que é, garota? Você é apenas uma novata na escola, por que acha que iríamos ter medo de você?

Deixei um risinho escapar.

– Eu não sou nova na escola... Embora isso também não seja de seu interesse. Mas, respondendo à sua pergunta: para o seu e para o meu azar, eu sou a nova presidente do conselho estudantil – ele me encarou como se eu fosse louca. – E, a partir de agora, toda a zona que era essa escola será desfeita, então se não quiser arrumar problemas pelo resto do seu ano letivo, sugiro que dêem meia volta e sumam do meu campo de visão.

Enquanto eu falava a outra garota já estava agarrada à minha camisa, talvez achando que fosse super seguro fazer aquilo.

Um dos garotos fez uma mesura e me fitou com sarcasmo e se afastou. O outro apenas deu de ombros e o seguiu.

Escutei Sakura dando um pesado suspiro, parecendo que ela havia segurado a respiração durante todo o ocorrido.

Com a maior delicadeza que consegui no momento, afastei os braços que rodeavam minha cintura e me virei em direção à menina que ainda chorava.

– Não pense que eu esqueci o que você tentou fazer comigo – afirmei de forma severa. – Mas também é meu dever agora zelar pelo bem dos alunos da escola então, se eles aparecerem novamente para fazer qualquer coisa contra você, basta me procurar.

Fitei Sakura por alguns segundos e me despedi com um leve aceno de mão e comecei a me afastar, parando quando escutei a menina dizer baixinho:

– Eu me enganei a seu respeito, Ayuzawa... Obrigada por me ajudar – deixei um sorriso torto escapar e voltei a andar, mas Sakura logo correu atrás de mim.

– Posso te perguntar uma coisa?... – começou, meio sem jeito. Dei de ombros. – O que você quis dizer com ‘’eu não sou nova na escola’’? Você não começou a estudar aqui esse ano?

– Ah, isso... – cocei a nuca sem jeito. – É uma verdade que apenas uma pessoa, tirando a minha família e os professores do Seika conhecem...

– Deixa eu adivinhar: Usui-kun.

Sorri e concordei com a cabeça.

– Há alguns anos, quando minha mãe se mudou para essa cidade, houve um incêndio no Seika...

– Eu ouvi sobre isso – me interrompeu. – Parece que alguns alunos se machucaram seriamente e ficaram bastante tempo no hospital.

– Sim, sim, quase isso. Na verdade, apenas uma pessoa se machucou a ponto de ficar no hospital para cuidados posteriores.

Ela me encarou com olhos arregalados e eu concordei novamente com a cabeça.

– Enquanto eu tentava sair da escola, eu não me lembro direito, mas parece que eu caí nas escadas e desmaiei, talvez pela grande quantidade de fumaça ou porque eu bati minha cabeça. O motivo de Usui saber sobre isso é porque foi ele que me encontrou inconsciente nas escadas e me levou para fora do prédio.

– Mas por quê ninguém se lembra de você? – dei de ombros.

– Isso aconteceu há alguns anos... Maioria dos alunos que estudavam no Seika naquela época já se formaram ou pouco se importavam em decorar a fisionomia da garota que se machucou no incêndio. De qualquer forma, eu prefiro dessa maneira... – paramos em frente ao portão da escola para nos despedirmos. Sakura foi para a direita e eu fui para a esquerda, em direção à estação de trem.

–//-

Fitei a fachada do café. Nunca imaginei que fosse entrar nesse tipo de ambiente um dia. Não que eu tenha algo contra esse tipo de entretenimento, eu apenas nunca parei para pensar como seria fazer parte dele.

Assim que entrei avistei Ren sentado em uma mesa afastada. Uma jovem de cabelos longos e castanhos encaracolados veio me atender. Perguntou-me educadamente se eu estava sozinha ou se esperaria por alguém, e eu apenas respondi que era a companhia do rapaz que se sentou à mesa ao fundo.

Com uma mesura ela me guiou até a mesa, dizendo que voltaria daqui alguns instantes com o menu.

Sentei-me e esperei que Ren dissesse alguma coisa, mas ele se limitou a sorrir.

– Como foi a viajem? – comecei meio sem jeito.

– Foi ótima, embora a melhor parte de ter passado todo aquele tempo dentro do ônibus seja poder estar sentado de frente para você nesse momento – seu sorriso apenas se alargou quando meu rosto começou a esquentar. – Mas sei que você não pediu para conversar comigo para saber sobre a minha viagem.

– De fato – afirmei de forma muito mais sombria e distante.

Pensei em mil formas de começar o assunto, mas se com Usui foi difícil, com ele era absurdamente impossível falar qualquer coisa.

A maid se aproximou de nós, entregando o menu. Disse qual era o prato do dia e deu sua opinião sobre qual era o melhor para pedirmos. Pedi apenas um suco e Ren pediu um sorvete.

– Você quer que eu me afaste de você, certo? – provou um pouco do sorvete e sorriu. Suspirei. Como diabos ele consegue saber tudo o que se passa na minha cabeça?!

– Como você faz isso?...

Deu de ombros.

– Eu estou conectado à você, Misaki, por isso não tenho intenção alguma de deixar você me afastar.

Por que será que eu já sabia? Oh, sim, porque eu consigo fazer com ele a mesma coisa que ele acabou de fazer comigo: entender dos pensamentos mais leves aos mais complexos sem esforço algum.

– Eu não quero mais... Eu não posso mais! Não vou magoar ninguém por um desejo tão egoísta! Se eu estou tão confusa assim, eu prefiro me afastar! – me recostei na cadeira, fitando o rosto de Ren. Seu sorriso tinha sumido de sua face.

– Confusa? – seu tom de voz brincalhão havia mudado completamente para um tom de voz sério. Ele levantou uma mão e a maid de antes retornou. Ele pagou pelo sorvete e pelo suco que eu sequer havia tocado e saiu do lugar. Eu o acompanhei até um pequeno parque. – Como assim confusa?

– Eu... – suspirei. – Eu não sei mais o que eu estou fazendo, Ren. Até o início das aulas, tudo que passei com você estava marcado em minha memória. Aquele sentimento que me aquecia por dentro quando eu pensava em você nunca havia mudado... Mas algo em mim mudou. Eu não sei o que foi... Tudo que eu sentia por você ainda está aqui – coloquei a mão sobre meu peito -, mas eu conheci pessoas... – ele fechou os olhos e inspirou com dificuldade.

– Está falando daquele garoto que eu vi em Sendai.

Concordei. Senti um gosto amargo em minha boca. A expressão de Ren fazia meu peito queimar.

– Ren... – me aproximei e acariciei seu rosto. – Eu não quero te machucar mais do que estou fazendo agora, por isso não vou escolher ninguém e vou me afastar de tudo isso. Eu já disse: eu prefiro ficar sozinha a fazer a sua face ficar desse jeito novamente.

– Você ainda me ama... – afirmou. – Essa coisa de ‘’qualquer coisa para mim está bom, contanto que a pessoa que eu ame esteja feliz’’ é furada, Misaki! Ninguém faz isso! Eu não vou desistir de você até você dizer que não me ama mais.

Ele me abraçou e eu, novamente, enterrei meu rosto em seu pescoço. Eu sabia que ele estava sorrindo por causa do ato involuntário.

Me afastei para poder fitá-lo.

– Por favor, Ren, não torne as coisas mais difíceis para mim... ou mais dolorosas. Eu preciso que você se afaste de mim... Para sempre...

Ele sorriu. Parecia ter recuperado o bom humor de antes.

– Apenas quando você não me amar nem me desejar mais perto de você, até lá, você não tem opção alguma a não ser me aturar. Se você achou que seria fácil assim se livrar de mim, Misaki, se enganou – colocou a mão em minha bochecha e a acariciou levemente. Me arrepiei com o mais leve toque de seus dedos em minha pele.

Ele se aproximou vagarosamente, apenas para testar qual seria a minha reação. Quando ele estava quase tocando meus lábios, coloquei o dedo indicador entre nossas bocas, sussurrando:

– Isso apenas tornará as coisas mais difíceis...

Carinhosamente ele entrelaçou seus dedos aos meus, tirando minha mão da frente de meu rosto e apoiou sua testa à minha. Seus olhos azuis transmitiam carinho e segurança, e eu não consegui força o suficiente para afastá-lo uma segunda vez.

Ele me beijou. Primeiro apenas encostou seus lábios nos meus. Depois o aprofundou de forma intensa, a mão esquerda ainda em minha face, também um pouco presa em meus cabelos; a mão direita estava em minha cintura de forma possessiva.

Aquele era um beijo doloroso... Meu coração rugia em meu peito, espalhando uma sensação nauseante pelo meu corpo; a culpa me consumia. Eu queria afastá-lo, mas a parte que queria mantê-lo me beijando para sempre era maior e me vencia de forma esmagadora. Tentei ao menos suprimir a imensa vontade de chorar que eu sentia. Esse seria o meu adeus.

Quando o beijo terminou, eu afastei meu rosto e apertei sua mão. Eu já não conseguia mais impedir que as lágrimas deslizassem por meu rosto. Suspirei e comecei a secá-las de forma desajeitada com o braço que não estava engessado.

– Você pode me contar agora como foi que machucou o braço? – murmurou de forma serena.

– Eu pulei dois lances de escada na escola.

Ele suspirou. Ele já sabia o motivo de eu ter feito tamanha idiotice.

– Eu preciso ir, Ren. Está ficando realmente tarde e eu tenho que estar cedo na escola amanhã – não que eu quisesse, mas eu ainda sim irei cumprir com meu compromisso.

– É sobre o conselho estudantil que você comentou quando me ligou?

– Sim...

– O que é? – fiz uma careta e ele riu. – Eu imagino o quão engraçado seria se você fosse obrigada a ser a presidente do conselho... – riu novamente, provavelmente imaginando a cena, e também acertando em cheio.

– Te garanto que não é nem um pouco engraçado... – disse de forma grave, cruzando os braços.

Ele arqueou uma sobrancelha e... mais nada... Me fitou por alguns instantes até provavelmente entender que tinha sido exatamente aquilo que aconteceu comigo, então começou a gargalhar.

– Des-desculpe, Misaki, mas imaginar você lendo pilhas e pilhas de arquivos e livrando alunos de encrencas é engraçado. Imaginar você sendo responsável por uma escola inteira é engraçado!...

– Agradeço ao voto de confiança – respondi com sarcasmo. – Mas sim, eu assumi o cargo de presidente hoje e, se você me der licença, eu preciso chegar à escola amanhã uma hora antes de todos os alunos.

Comecei a me afastar, mas ele segurou minha mão e começou a andar comigo.

– Ren...

– Eu vou levá-la em casa – deu de ombros, indiferente. – Está tarde e não quero que nada lhe aconteça.

– Não vai acontecer... E é sério tudo o que eu falei agora há pouco: eu quero mesmo que você se afaste de mim.

– Ora, o que eu falei também é sério: eu apenas irei me afastar quando você disser que não me ama mais – sorriu, mas bem claro em seus olhos brilhava o medo de que isso de fato ocorresse.

Dei de ombros e soltei minha mão da sua.

Não demorou muito para que chegássemos à minha casa, então me apressei em me despedir, antes que minha mãe o visse.

– Minako-san está em casa? – perguntou subitamente. – Gostaria de dizer ‘olá’ para ela.

– Não sei, talvez esteja... Não creio que hoje fosse dia de plantão dela no hospital...

– Misaki, você chegou bem na hora. O jantar... – suspirei. – Ora, Ren-kun, há quanto tempo – sorriu alegremente. – Você cresceu bastante nesses últimos anos, e está muito bonito também.

– Obrigado, Minako-san. Minako-san também está ótima.

– Gostaria de jantar conosco? – minha mãe está fazendo de propósito...

– Oh, sim, claro, obrigado – fez uma leve mesura e entrou em casa seguindo minha mãe, e eu não tive escolha a não ser segui-los.

Sentamos à mesa e os dois continuaram a conversar animadamente sobre a família de Ren e sobre o que ele fazia naquela cidade. Conversaram sobre o clima e sobre a faculdade. Conversaram sobre tudo, e o tempo não parecia passar. Por fim, me levantei e comecei a lavar a louça, ignorando-os completamente, fazendo parte da conversa apenas quando pediam minha opinião sobre alguma coisa.

Depois que eu terminei de lavar e secar toda a louça, me aproximei e pigarreei.

– Ren, está tarde, como falei mais cedo: tenho que estar na escola uma hora antes que todos os alunos.

– Ah, claro, perdão pela intromissão – se levantou. – Obrigada pela refeição, Minako-san, estava tudo muito gostoso – sorriu. – Tchau e até outro dia.

Minha mãe acenou de leve e foi fazer outra coisa enquanto eu o acompanhava até o portão.

– Boa noite, Misaki – sussurrou. – Espero poder vê-la em breve.

– Não espere. Boa noite, Ren – dei um leve passo para trás quando ele tentou me beijar novamente. Fuzilei-o com os olhos, fazendo seu sorriso zombeteiro aumentar ainda mais.

Entrei em casa e suspirei. Ele não tem, de fato, a intenção de se afastar de mim.

Enquanto eu me manter afastada e não ceder, acho que não tem problema se ele não se afastar completamente, afinal, eu nunca esperei que ele fosse concordar com tudo isso...

Continua...


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Notas finais do capítulo

Alguém disse TrEtA? Kkkkkkk
Povo bonito que ainda lê essa fic, talvez - TALVEZ - eu poste um outro capítulo, um Extra, como presente de natal/ano novo para vocês, mas isso se eu conseguir terminar de escrever ele até lá... Sabe como é, né... família+cachorro pra cuidar+prova do curso de inglês + estudos + mil coisas = criatividade no chinelo...
Então é isso, babies, bye bye xD



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