Linha Vermelha escrita por NaruShibuya


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Yo, povo bonito :D.
Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/214886/chapter/10

• Usui PDV •

Abri os olhos, mas não fiz questão de me mover da cama.

Continuei deitado olhando o teto até escutar um dos garotos que dividia o quarto comigo reclamar. Bufei e levantei, saindo de perto e indo para fora do hotel.

Pensei na reação que Ayuzawa tivera um pouco mais cedo, frustrado.

O que ela quer afinal? Eu não a entendo...

Meus pés me guiaram até o local onde eu a encontrara chorando dois dias atrás. Sentei na mesma pedra em que ela se sentara e observei, só então percebendo a mágica desse lugar.

Entendi o que a atraía aqui, o que a fascinava... E entendi sua tristeza também.

Esse lugar tem alguma coisa que te faz pensar, refletir... Gerard... Há quanto tempo eu não o vejo? Há quanto tempo eu não o escuto?

Puxei o celular de meu bolso e observei o nome de meu irmão e o número até o visor se apagar.

– Merda, Gerard... – encostei o aparelho a minha testa, rangendo os dentes.

Levantei. É melhor esquecer isso por enquanto... Comecei a andar sem rumo novamente. Não sabia para onde ia ou muito menos como voltar, mas não me importei, apenas continuando a andar.

Vi luzes e escutei um som alto a uma distância considerável: um parque. Melhor perguntar como eu volto... Está ficando tarde e eu realmente não prestei atenção no caminho.

Vi um guarda na entrada e me aproximei para pedir informação.

Quando cheguei um pouco mais perto ele me olhou desconfiado. De fato, eu não estava com uma das melhores expressões, muito menos com um humor perto de bom.

– Com licença, mas você sabe como chegar ao hotel... – qual era mesmo o nome do hotel? Ótimo... – Ao hotel HS...?

Me encarou desconfiado novamente, mas me respondeu depois de uma avaliação cautelosa.

– Como chegou aqui, garoto? – questionou.

Suspirei. Se eu soubesse como cheguei, eu saberia voltar...

– Não sei. Eu estava distraído... Não prestei atenção no caminho.

O guarda me encarou como se eu fosse um idiota, e eu provavelmente era.

Apontou para onde eu vim, explicando

– Siga reto, você passará por uma praça. Continue reto e vire na terceira rua a sua esquerda. Escute bem, guri, esse é o caminho mais fácil. Enfim, quando virar à esquerda, passará na frente de uma escola com um enorme relógio. A partir daí, vá reto até o final da rua e vire à direita. Lá você encontrará uma placa que tem o resto do caminho até o hotel.

Agradeci e me virei, indo para o caminho que ele havia me indicado.

Após algum tempo andando vi algo parecido com uma praça, e duas figuras abraçadas.

Me afastei um pouco do caminho para não atrapalhar quem quer que fosse no quer que estivesse fazendo. A figura menor se afastou, assim como eu, mas ambos paramos quando a pessoa que a acompanhava a chamou.

Olhei mais atentamente para os dois, e só então me atentei a quem realmente se tratava. Saí do campo de visão de Misaki e Ren, mas por algum motivo não consegui concluir o meu caminho, e esperei.

Ele disse alguma coisa, e ela arqueou a sobrancelha, parecendo confusa. Estava no meio de uma frase quando ele a ergueu pela cintura e a beijou, urgente.

Ela se afastou e disse algo. Ele se limitou a rir e beijá-la novamente.

Senti algo em meu estômago se retorcer e meu peito parecia que ia se partir. Segui meu caminho, virando a rua indicada e parei em frente à escola com o relógio grande. Me encostei ao muro, desabotoando alguns botões da minha camisa, arfando.

Grunhi, frustrado, ao sentir algo quente escorrer por meu rosto. Coloquei a mão no peito, bem em cima do local onde doía, e segurei o tecido que ali havia, retorcendo-o.

Escutei passos, instantes depois senti uma mão em meu ombro. Eu conheço esse toque... Eu conheço esse cheiro... Fechei os olhos e a ignorei.

– Usui? – esperou uma resposta, mas continuei calado. Escutei o leve som de tecido se partir e senti um botão atingir minha palma. Afrouxei o aperto em minha blusa, guardando o botão no bolso para consertar depois. Ela suspirou. – O que...

– Faço aqui? – cortei. Minha voz soara tão... fria. – Não faz diferença.

Andou e se plantou na minha frente. Novamente esperou por uma reação que não veio.

– Você está chorando? – perguntou, cautelosa. Grunhi como resposta. – Mas que... Droga, Usui! O que há com você?

Antes que eu percebesse, a segurei pelos ombros, trazendo-a para perto. Olhei em seus olhos surpresos sempre tão intensos.

– O que há comigo?! – rosnei. Ela fechou os olhos, e só então percebi que eu a estava machucando. Afrouxei o aperto em seus ombros, mas não a soltei. – Eu fiz essa maldita pergunta para você desde que chegamos aqui e você não me respondeu... Por que acha que eu lhe devo alguma maldita explicação?! – explodi, liberando toda minha frustração.

Ela levantou o braço, passando carinhosamente os dedos em meu rosto, secando as lágrimas que por ali haviam caminhado instantes antes.

Com uma de minhas mãos se soltando de seu ombro segurei seu pulso e afastei sua mão de meu rosto. Ela deixou a mão cair e me observou como se lesse um livro, como se estivesse me lendo, lendo tudo o que eu estava pensando... E tudo o que eu estava sentindo.

– Por que está aqui, Usui?

– Cansado de ficar no hotel... – respondi por fim, cansado demais até para ignorá-la. Fechou os olhos.

– Como chegou aqui? – ela já parecia conhecer a resposta.

– Pelo mesmo caminho que você – abriu os olhos. Pude ver a compreensão brilhar no fundo deles.

– Usui... – murmurou parecendo realmente culpada.

– O que você quer afinal de contas, Misaki?! – ela pareceu surpresa e confusa com a pergunta. – Eu... Eu te amo, mas não consigo te acompanhar, principalmente quando você não é sincera comigo... E quando você está tão interessada em outro – abriu a boca para argumentar, mas a cortei, brusco: - Responda-me, Ayuzawa, o que você quer?

Me encarou, quieta. Então ela não consegue responder...

Eu a soltei e me afastei. Comecei a andar para longe.

– Eu quero ficar sozinho. Por favor, não me siga.

Segui o resto do caminho que me foi indicado. Parei em frente à placa e decorei como chegar ao hotel e voltei a caminhar. Olhei para trás e não vi Ayuzawa em canto algum. É provável que ela tenha pego algum outro caminho.

Eu acho que é melhor assim no fim das contas...

• Misaki PDV •

Como foi mesmo que eu me meti nessa confusão? Ah sim, porque eu sou uma idiota.

Ver Usui, que nunca demonstrara esse tipo de sentimento, irritado comigo me fazia sentir estranha... e incomodada por alguma razão.

Suspirei. Isso já saiu do controle. Eu não devia ter vindo a essa excursão. Eu não devia ter ido àquela casa... Eu não devia ter ido ao parque... E ficar me culpando não irá adiantar realmente de nada...

– Eu não sei mais o que fazer... – comecei a andar, seguindo um caminho diferente do que Usui havia seguido. – Nem com Ren, nem com Usui... Nem comigo também. Tsc. Por que eu estou tão confusa? Por que estou me sentindo tão culpada pela reação que Usui teve? Por que... Por que doeu tanto quando o vi chorar...?

Esse monte de perguntas está apenas me deixando mais confusa... Acho melhor esquecer por enquanto, até eu saber o que fazer.

– Você é mesmo uma pessoa incrível, Ayuzawa.

– Por quê?

– Você foi capaz de fazer com que eu me apaixonasse por você duas vezes...

– Ah... Então é isso...? – suspirei. - Tudo isso por causa de um sentimento que eu fui incapaz de esquecer... E um que surgiu sem que eu me desse conta...

Escutei um trovão soar, longe, mas mesmo assim o som ainda era imponente. Fechei os olhos e continuei seguindo. Imagino o que o Usui fará quando eu o encontrar novamente... Provavelmente me ignorar. A ideia não é nem um pouco agradável...

A questão não é o que o Usui irá fazer, e sim o que eu farei.

Passei a mão pelos meus cabelos, bagunçando-os levemente. Eu me sinto tão... perdida... Realmente não sei o que eu vou fazer, muito menos como vou fazer.

Ren ficará para trás nessa cidade, junto com todas as lembranças que eu tenho dele; as antigas e as que eu acabei adquirindo nessa viagem... Usui ficará comigo, em termos, pelo menos iremos voltar e iremos – novamente – para a mesma escola, mas eu não sei o que fazer.

Eu não sou estúpida, sei que gosto do Usui, mas reencontrar o Ren me fez pensar se eu realmente o amo, e é isso que está me deixando doida. Eu não saber exatamente o que eu sinto...

Entrei no hotel e me deparei com o professor que tentou me impedir, me encarando, furioso. Ele parecia um pouco curvado para frente, o que me fez pensar se ele havia se machucado quando caiu sobre a poltrona... Bem, a culpa não é somente minha se ele se machucou.

Ele andou em minha direção, trincando os dentes ao pisar no chão. Segurava um papel com força. Quando enfim me alcançou, estendeu o papel em minha direção, esperando que eu o pegasse.

Peguei e olhei o que estava escrito. Suspirei. Eu achei que era um blefe... Olhei para ele e o vi sorrir, satisfeito com a minha reação.

– Você vai realmente me dar um mês de suspensão porque eu saí para uma atividade livre?

Deu de ombros e se virou. Andou alguns passos, mas pareceu se lembrar de algo então parou e se virou em minha direção novamente, dizendo:

– Quero isso assinado por sua responsável depois de amanhã. A data em que você voltará para as aulas está escrito aí. Para a sua sorte, o período de provas começará apenas duas semanas depois disso, então terá algum tempo para recuperar a matéria que irá perder e estudar. Ah, e eu quero o relatório do trabalho da excursão junto com o papel de suspensão que estará com a assinatura em minhas mãos, e somente minhas, entendido? – acenei com a cabeça, amaldiçoando esse professor que sempre implicou comigo... – Bem, então, volte para o seu quarto. E se ousar sair desse hotel até a hora de voltarmos para o colégio amanhã, ganhará mais um mês se suspensão... E não é um blefe! Não me desafie, garota. Não irá gostar do resultado.

Engoli a resposta pouco antes de dispará-la sobre esse professor estúpido. Melhor não me meter mais em confusões.

Subi as escadas e entrei no quarto das garotas. Guardei o papel em minha bolsa. Recolhi algumas coisas para poder tomar banho e deitar. Estava exausta e precisava descansar um pouco, quem sabe assim eu encontrava alguma resposta às minhas perguntas? Improvável, mas não impossível...

Abri a porta; Yui me esperava parada ali, de braços cruzados. Andou em minha direção e me empurrou com gentileza para dentro do quarto, fechando a porta logo a seguir. Arqueei uma sobrancelha – Yui sendo gentil? Algo está muito errado.

– Eu a vi com um garoto de cabelos escuros hoje cedo na frente do hotel – começou, hesitante. – Era o Ren, não era?

Suspirei. De onde ela aparece todas as vezes que eu estou com ele ou com Usui? Ela me vigia por acaso?

– Sim...

– Como... Como ele está?

– Ele está bem. Parece muito feliz também. Parece que ganhou uma bolsa para arqueologia em alguma boa universidade.

– Entendo... – sorriu. – Desculpe pelo tapa. Sei que eu não devia perder a razão tão fácil, mas você me conhece...

– Sim... – murmurei. Conheço... E como... – Não se preocupe, Yui. Não foi a primeira vez, de qualquer maneira. Não é como se eu não esperasse esse tipo de coisa de você – isso pareceu magoá-la, mas não deixava de ser verdade. – Então, o que você quer? Sei que não veio falar comigo para se desculpar pelo tapa, já que você nunca fez isso antes...

– Eu preciso que você fale com Usui Takumi – hã?! – Parece que quando ele chegou ao hotel estava com a camisa rasgada e chorando. Eu fiquei realmente preocupada com ele...

Então quer dizer que agora que o Ren reapareceu , ela está me empurrando o Usui novamente... Realmente, Yui...

– Não se meta, Yui – sua gentileza forçada sumiu em um instante quando ela percebeu que eu não cairia novamente no seu teatrinho. – Eu sei o que aconteceu com ele, você não. Não interfira em assuntos que você não entende – ela me encarou, provavelmente desejando me bater novamente. – Eu não sou mais a sua boneca, e eu aconselho você a não mexer mais comigo.

Ela sorriu cruelmente e saiu.

Bem, eu acho que eu realmente preciso ver como o Usui está, mas não agora, não hoje... Ele provavelmente não quer me ver na sua frente nem tão cedo.

Amanhã, se ele parecer um pouco menos irritado comigo, eu falo com ele.

–//-

Entrei no ônibus e esperei. Depois que todos os alunos se posicionaram em seus respectivos assentos, o professor refez a chamada e instruiu ao motorista que começasse a seguir viagem.

Acho que vou usar esse tempo aqui dentro para dormir, já que eu não conseguir fazer isso direito enquanto estávamos no hotel.

–//-

Acordei com o professor responsável gritando com os alunos para que se apressassem. Tsc...

Tirei o cabelo do rosto e me levantei, coloquei a mochila nas costas e desci do ônibus, ainda de mal humor por ter sido acordada. Bocejei, desinteressada... Eu quero ir para casa. Vi Usui sair do ônibus em que sua sala havia viajado. Olhou em minha direção e desviou o olhar rapidamente, fingindo não ter me visto. Fingindo? Não... Ele deixou bem claro que tinha me visto, mas que não queria sequer olhar para mim.

Me aproximei por trás, já que ele havia virado as costas para mim. Coloquei a mão com carinho em seu ombro, e me estiquei para sussurrar em seu ouvido:

– Por favor, Usui, eu preciso falar com você.

Ele olhou para mim frio. Ele parece realmente magoado comigo.

– O que quer, Ayuzawa?

– Já disse: falar com você. Eu quero resolver... tudo...

– Eu não me importo mais... Por favor, apenas me deixe. Eu não aguento mais tudo isso – negou com a cabeça. – Eu não me importo mais.

– Eu... Eu te amo, mas não consigo te acompanhar, principalmente quando você não é sincera comigo...

Lembrei das palavras e me arrepiei. É mesmo, com toda essa confusão, eu sequer me dei conta de que ele dissera que me amava...

– Então quer dizer que você me ama, mas desiste com o primeiro obstáculo que aparece?

Ele grunhiu e me fitou.

– Eu não desisti, Ayuzawa, só que você já deixou bem claro quem você prefere. Eu simplesmente não quero ser rejeitado. Prefiro me resignar por ter te perdido do que sofrer e não conseguir da mesma maneira.

– E quem disse que eu prefiro o Ren? – questionei curiosa com a resposta.

– Desde que você chegou a Sendai não parava de ficar olhando para o céu, e depois que começou a chover, não parava de chorar também. Você é mais casual com ele também. Eu consigo ver através de você enquanto você está com ele, Ayuzawa. Você ainda o ama, e eu não quero interferir.

Tentei retrucar, mas, novamente, ele me cortou.

– Por que você se importa tanto? Por que insiste em que eu não a esqueça?

Suspirei.

– Quem me dera eu soubesse te responder...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esse capítulo terá continuação, galera. Até o próximo ^^