Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 80
Minha pequena Gremilin


Notas iniciais do capítulo

Feliz ano novo para todo mundo!

Finalmente estou atualizando de novo, e adivinhem? Agora vai rolar atualização semanal! Toda quarta-feira vai ser dia, pessoal. Espero que estejam preparados.

Eu li todos os reviews, e agradeço de coração a cada um deles. Ainda vou responder a todos, mas já queria adiantar e agradecer a vocês por comentarem!

Beijos e espero que tenham uma boa leitura!



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POV Apolo

 

Acordei com o rosto afundado no sofá.

Não era alérgico a poeira como Alice, obviamente, mas meus pulmões arderam e desespero e uma tosse brutal irrompeu de mim. Colocando-me sentado, tossindo e desnorteado, tentei lembrar quem eu era e o que estava acontecendo.

— Alabama. — Constatei correndo os olhos pela sala.

Alice morreu, lembrei. Alice voltou, Ares… Ares brigou com a minha irmã.

Mas porque eu é quem estava dormindo no sofá?

— Hermes. — Disse o nome dele com rancor, presumindo que o idiota devia ter me feito cair em um sono profundo e se divertido com isso.

Passei as mãos pelo cabelo e respirei fundo, finalmente vencendo a tosse.

— Você finalmente acordou. — Disse alguém atrás de mim. Virei-me e encontrei o padrasto de Alice, em pé no meio da sala de estar. Atrás dele estava Heather, que me observava como se eu fosse um leão selvagem que fugira da jaula — Está se sentindo bem?

— Eu só caí no sono. — Respondeu lembrando-me que não gostava de nenhuma das duas pessoas que estavam na minha frente. Se Alice não sentisse pena, eu já teria apagado esses mortais da face da terra — Onde está Alice?

Will fechou o rosto em uma expressão sisuda e mau humorada.

— No quarto dela. — Respondeu, curto — Ela vai se atrasar para o almoço.

Minha cabeça girou, voltando a funcionar normalmente.

— Ela não está bem. — Falei e depois olhei para Heather, sentindo a raiva crescer em mim —Não vai almoçar com vocês.

Will não me respondeu de primeira, só ergueu as sobrancelhas como se não acreditasse que um adolescente estava usando aquele tom de autoridade com ele. Deu de ombros, por fim, e se virou para a cozinha.

— Jenny leva a comida dela depois. — Concluiu já saindo, dando as costas para mim. Olhei para Heather, que continuava em pé ali, encarando-me como se não acreditasse que eu era real.

— Você vai falar alguma coisa, ou vai ficar aí parada com cara de idiota? — Questionei com acidez. Heather engoliu em seco e buscou coragem.

— Você não vai embora? — Perguntou, estranhando.

— Está me expulsando daqui, Heather Hanks? — Rebati.

— Não. Foi uma pergunta. — Explicou, temendo minha ira — Vo-Você não tem algo mais a fazer?

— Tenho. — Concordei com a cabeça e me levantei. Instintivamente, ela recuou um passo — Cuidar da garota que você matou na floresta. É isso que eu tenho que fazer, e eu jamais vou esquecer o que aconteceu. Acredite, minha memória é muito boa. Mais de três mil anos de vida, e eu lembro acontecimentos dos meus primeiros dias de vida.

Heather ficou pálida.

— Eu não matei Alic-

— Não diga o nome dela. — Sibilei — Por culpa sua o manticore pegou Alice. Por culpa sua eu a vi morrer nos meus braços. Eu nunca vou me esquecer disso, Heather, e vou fazer você não se esquecer de mim tampouco.

— O que…? — Ela recuou com medo.

— Toda vez que você fizer uma prova de dança, toda vez que você for se apresentar, você vai errar os passos, vai perder o ritmo e vai tropeçar nos próprios pés. Então você vai lembrar de mim, e vai lembrar de nunca mais se meter no caminho de Apolo. — Lancei a maldição. A boca de Heather se abriu em choque, e, abalada, ela correu para longe com lágrimas nos olhos.

Subi as escadas ainda pensando em minha vingança, quando escutei um som vindo de algum dos quartos no corredor. Identifiquei a voz como sendo a da Meryl Streep em Mamma Mia, e fiquei animado. Assistir a musicais juntos era algo que eu e Alice fazíamos o tempo todo.

Corri até a porta entreaberta.

— Eu não acredito que você vai ver Mamma Mia sem mi-! — Cortei o resto da frase ao ver que não era Alice ali dentro do quarto. Sem me notar, Jenny falou por cima do ombro.

— Filha, eu achei o dvd. Podemos ver jun- — Ao me notar, toda alegria na voz da mortal se dissipou. Ambos nos encaramos por longos segundos, compartilhando um rancor silencioso um pelo outro. Virei meu corpo pronto para ir embora e deixar aquela mortal de lado, quando me detive.

Pensei na nossa história, pensei em Alice, e em tudo mais.

— Escuta. — Disse voltando a olhar para ela. Jenny continuava me fitando, nada contente com a minha presença — A minha irmã falou para eu pedir desculpas a você, e eu costumo ouvi-la.

Cruzando os braços, a namorada de Hermes esperou por minhas palavras.

— Eu sei que eu fui um cretino com você no passado. Eu estava com raiva porque meu irmão estava todo apaixonadinho e queria fazê-lo sofrer um pouco. Foi errado? Talvez.

— Talvez? — Repetiu ela.

Talvez. — Repeti trincando os dentes — Eu estava com ciúmes e irritado, e fui desrespeitoso com você. Por isso, sinto muito. — Desviei o rosto e bufei — Pronto. É isso. Não espero que você aceite as minhas desculpas de qualquer forma, mas eu ao menos fiz a minha parte.

Pensei em ir embora, mas não me dei por satisfeito.

— Por mais que eu não tenha te tratado bem, isso não quer dizer que eu não mereça ficar perto de Alice. — Falei olhando para Jenny — Eu amo a sua filha, ela é importante para mim, e não tem nada que você e Hermes possam fazer para me impedir de cuidar dela.

Jenny conseguia ter o mesmo olhar penetrando e gélido que Hera quando estava com raiva. Em seu rosto, eu podia ver um reflexo de Cersei Lannister, daquele seriado que os humanos tanto amavam. Mexer com sua filha era pedir para morrer.

— Eu só perdoo você — Começou devagar, para a minha surpresa — Porque eu sei que você, no fundo, tem um bom coração e que é bom para a minha filha.

Minhas sobrancelhas se ergueram tanto que poderiam ter pulado para fora de meu rosto e atingido o teto.

— Você- Você me perdoa? — Repeti incrédulo — Assim tão fácil? Jura?

Jenny desdenhou com a mão e se sentou na cama, enquanto o filme continuava a passar.

— Isso foi há 20 anos atrás. — Declarou — Pode ser uma surpresa para você, mas eu nem sequer lembrava do seu rosto até Hermes contar o que aconteceu.

Mexi-me desconfortável na porta. Não estava acostumado a ouvir isso de uma mulher. Geralmente eu provocava a reação contrária, as jovens lembravam do meu rosto até bem demais.

— Eu também não lembrava do seu. — Dei de ombros, fingindo não estar ofendido.

— Então acho que estamos bem. — Disse olhando para mim uma última vez. Assenti com a cabeça.

— Espera. — Falou sem olhar para mim. Aguardei pelas palavras que saíram com dificuldade da boca de Jenny — Eu também sinto muito por ter te dado uma joelhada na virilha.

— Vamos deixar isso só entre nós. — Falei com certo constrangimento. Não queria que o Olimpo inteiro soubesse que uma mortal me acertara em um lugar tão vulnerável. Que vergonha.

— A Alice, ela… — Jenny pensou por alguns instantes, ela se deteve — Ela ainda não está bem. Está estranha. Eu queria saber se…

— Ela vai ficar bem, se é isso que você quer saber. — Respondi devagar, tentando acalmá-la — Eu posso te prometer isso.

— Você estava com ela na floresta, não é mesmo? — Falou finalmente erguendo o rosto para mim — Diz para mim, como ela estava? Quando o monstro- — A voz de Jenny tremeu, e pude ver os olhos dela lacrimejando. Desviou o rosto rapidamente e levou os dedos para os lábios, balançando a cabeça — Deixa para lá.

Desconfortável, mas com pena de deixá-la sozinha em um momento tão delicado, aproximei-me cautelosamente e me sentei ao seu lado na cama. Não quis tocar em Jenny, pois não sabia até onde ela seria receptiva a minha presença.

— Alice é uma jovem muito forte. — Falei tentando confortá-la — Ela sempre foi, até mesmo antes de se tornar imortal. Eu vejo agora que ela puxou isso de você.

Jenny olhou para mim com o cenho franzido de insegurança e emoção. Sorri para ela, sem mostrar os dentes.

— Eu falo isso com sinceridade. Hermes pode ser imortal, mas é um covarde. — Revirei os olhos — Não aguenta nem topar com o dedo mindinho em quina de móvel.

Jenny prendeu o riso, animando-se um pouco.

— Alice vai ficar bem, porque ela tem você. — Garanti fazendo-a suspirar — E tem a mim. E tem Hermes, e, é, ela tem o Ares também, infelizmente.

— Eu fico feliz em saber que você a trouxe de volta. — Sorriu para mim, sua mão repousada em meu ombro de uma forma maternal. Sorri de volta para ela, e abri os braços para abraçá-la, mas ela me impediu — Não. Isso é demais.

— Ah. Desculpe.

Jenny ia prosseguir, quando ouviu um som no corredor. Foi tão baixo e inaudível que nem mesmo eu tinha escutado, mas a mortal virou o rosto para a porta como um cão de caça treinado.

— Alice! — Exclamou em um tom de repreensão. Longos segundos se passaram, tão longos que achei que ela estivesse louca e que ninguém estivesse lá fora. No entanto, Alice colocou a cabeça na fresta larga da porta e sorriu devagar para a mãe, como uma criança pega roubando biscoito — O que você está fazendo fora da cama?

Ainda com um sorriso constrangido e travesso, Alice deu um passo para dentro do quarto.

— Eu fugi. — Admitiu de forma tão infantil, que Jenny não aguentou manter a expressão séria. Prendeu o riso e balançou a cabeça.

— É claro que fugiu. — Disse e levantou-se para ir até ela — Como está se sentindo, meu amor?

— Bem. Eu estou ótima. — Mentiu, obviamente. As olheiras de Alice continuavam marcantes, a pele ainda pálida e o corpo com aparência frágil e sem forças.

— Que bom! — Fez sorrindo e fingindo acreditar — Ótima o suficiente para limpar o seu quarto e dobrar as roupas?

Alice imediatamente levou a mão a boca e fingiu, teatralmente. Jenny estreitou os olhos para ela e colocou as mãos na cintura.

— Alice Hanks Kelly. — Disse pausadamente.

— Eu estou bem, mas não tão bem. — Respondeu sem fazer contato visual — Meu médico disse que vai demorar 5 anos até que eu possa arrumar o meu quarto de novo.

— Cinco anos? — Repetiu sem acreditar na cara de pau da filha. Prendi o riso observando a cena — Que médico é esse?

Alice apontou o queixo para mim, e Jenny olhou-me.

— Ah, é claro. — Revirou os olhos. Sua mão foi para a testa de Alice, que tentou desviar em protesto — Alice, você está quente! Está queimando de febre!

— Não estou não. — Negou, enquanto a mão ia para o seu pescoço.

— Está sim! — Exclamou insistindo, com preocupação — Você não está bem, tem que voltar para a cama.

— Eu estou bem! — Exclamou de volta. Nesse instante, Alice começou a dar passos para o lado e para o outro, mexendo os ombros.

— O que você está fazendo? — Perguntou Jenny, sem entender.

— Dançando para você ver que eu estou bem. — Falou dançando desajeitadamente ao som de Dancing QueenUh uh uh see that girl? Watch that scene! She is the dancing queen!

Jenny se rendeu ao riso passando a mão pelo próprio rosto, sem acreditar na filha que teve. Alice segurou as mãos dela, levantou-as e começou a mexer, dançando junto da mãe. A mortal cedeu por alguns minutos, mas então levou-a até a cama e colocou-a sentada ao meu lado.

— Eu vou pegar o termômetro na minha bolsa. — Disse já buscando no armário ao seu lado.

Alice olhou para mim e depois para a sua mãe.

— Então, vocês estão bem? — Perguntou puxando assunto. Assenti com a cabeça, confirmando — Quer dizer que vocês dois aconteceram, é?

— Aconteceu nada. — Respondeu Jenny, cortando-a.

— Tudo bem, vocês eram jovens. — Falou Alice, balançando a cabeça em concordância. Eu podia ver que ela estava meramente de brincadeira, mas Jenny não. Resolvi alimentá-la.

— Éramos. — Concordei.

— Mas nada aconteceu. — Frisou ela.

— Vocês, pelo menos, têm bom gosto. — Disse Alice, tentando não rir.

— Alice. — Disse ela olhando feio para a filha e depois voltando a procurar o termômetro.

— Mãe.

— O quê?

— Você tem certeza que eu sou filha do papai? — Perguntou. Jenny pegou um travesseiro que tinha no armário e virou acertando-o em Alice. Eu ri, quando a semideusa soltou um grito — Mãe, isso doeu! Que grosseria, eu estou doente!

— Quer parar de falar bobagem? — Reclamou Jenny finalmente achando o termômetro. Ela o sacudiu na mão, fitando Alice — Ele está aqui para levar você. Seu pai é preguiçoso demais, e eu não tenho mais paciência. Então Apolo está te adotando agora.

Jenny voltou seu rosto para mim.

— Você tem fazer ela tomar banho pelo menos uma vez por dia, e antes de meia noite, que nem um Gremilin. — Alice fez uma careta para ela, e Jenny prosseguiu — Tem que dar carinho, senão ela faz besteira para chamar atenção. Ah! E tem que alimentar ela também. Vinte vezes por dia deve ser o suficiente.

— Vinte vezes? — Repetiu ela chocada — Eu não como tanto assim!

— Não deixa ela sozinha em casa por mais de 6 horas, senão ela come toda a geladeira. Isso já aconteceu uma vez, de verdade. — Alertou-me. Ergui as sobrancelhas e olhei para Alice, que se estivesse com a saúde boa, estaria com o rosto corado.

— Foi só uma vez. — Resmungou envergonhada — E nem tinha tanta coisa na geladeira.

— E também tem que tomar cuidado, porque ela sempre se mete em confusão. — Falou fuzilando Alice dessa vez — Tem que vigiar que nem criança, senão olha o que acontece.

— Que mentira! — Falou chocada — Você adora reclamar de mim. Eu não me meto em-

— A última vez você quase morreu porque foi amaldiçoada por Ares. — Lembrou Jenny, cortando-a. Alice bufou.

— Ares é que foi um mau perdedor e me amaldiçoou, mas eu sobrevivi e estou bem.

— Graças a mim. — Frisei e sorri para as duas — De nada.

— Fora isso, eu nunca me meti em-

— Ah, não? Você abriu a testa com Scott, desmaiou e tudo. Não lembra disso? — Falou Jenny colocando as mãos na cintura. A mortal olhou para mim e contou a história resumidamente — Deixei os dois brincando no quintal, e daqui a pouco Scott vem me chamar aos berros porque Alice deu com a testa na parede. Aí aparece ela na minha frente, sangrando muito e se recusando a ir ao médico. Se recusando a ir ao médico! Tem juízo na cabeça? Nenhum. É igual ao pai.

— Você não lembra porque eu me recusei? — Indagou Alice e depois olhou para mim — Scott disse “minha namorada vai parecer um Frankenstein”, porque eu ia ter que levar pontos.

— Quem abre a testa leva ponto, Alice! — Exclamou.

— Eu achei que o ponto ia ficar para sempre! — Exclamou de volta. Eu joguei a cabeça para trás e comecei a gargalhar — Scott que falou isso!

— E você acreditou? — Perguntei incrédulo.

— Eu tinha 12 anos! As pessoas são idiotas com 12 anos! — Defendeu-se.

— Concluindo, vigie atentamente. Essa daí é uma caixa de surpresas. — Disse Jenny para mim — Pode levá-la embora a hora que quiser.

Alice olhou para ela em silêncio, com os olhos estreitados. As duas se encararam por longos segundos, até que Jenny começasse a rir.

— Você vai se desfazer da sua filha assim, é? — Falou fingindo estar magoada — Relapsa.

— Olha, sem mal criação. — Alertou, mas estava sorrindo. Segurou o rosto de Alice e enche-o de beijos. Só de ver, senti saudades da minha própria mãe — Eu não vou deixar ninguém te levar porque você é minha coelhinha. Chata, rabugenta, trapalhona e irritante, mas é minha.

Jenny preparou o termômetro, esperando Alice abrir a boca. Minha musa ofereceu uma careta para ela, antes de aceitar o objeto.

— Você fumava? — Perguntou Alice, para a surpresa de Jenny. A namorada de Hermes olhou para mim rapidamente e depois de novo para a filha.

— Eu nunca fumei na minha vida inteira. — Mentiu negando com a cabeça. Não convencida, Alice olhou para mim buscando uma resposta também.

— Seu pai tinha um mau hábito. — Falei fingindo ser segredo — Ainda bem que ele parou.

Alice ponderou e decidiu acreditar, para o alívio de Jenny.

— Mas onde eu assino para levá-la mesmo? — Perguntei para sua mãe.

— Não está a venda. — Respondeu.

— Me avise se mudar de ideia. — Sorri olhando para Alice.


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