Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 78
Joelhinho lindo


Notas iniciais do capítulo

Boa leituraaa!



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— Nível do estrago?

— Pescoço quebrado, olho roxo, costelas quebradas e… — Apolo fez uma careta ao colocar o dedo indicador na boca de Ares, afastando os lábios para examinar — Dois dentes arrancados! Você me deve dinheiro, Hermes.

Meu pai xingou de novo, mas depois riu jogando os dracmas para o irmão.

— Valeu a pena.

— Ele vai ficar bem? — Eu era a única que parecia de fato preocupada.

— Infelizmente. — Assentiu Apolo com a cabeça — Ao menos vai acordar sentindo uma dor dos Tártaros.

Meu pai tirou o celular do bolso e tirou uma foto de Ares. Soltou uma risada de divertimento.

— Espera, espera! — Apolo entrou na foto e fez uma careta, enquanto forçava o nariz de Ares para cima como se fosse um focinho de porco. Revirei os olhos depois do flash e meu pai achou ainda mais graça.

— O quão idiotas vocês conseguem ser? — Perguntei incrédula — Isso não tem graça!

— Alice, o que eu e sua mãe te ensinamos sobre ser estraga prazeres? — Perguntou negando com a cabeça — Estou desapontado com você.

— Se fosse você no lugar dele, acha que Ares tiraria fot-

— Sim. — Os dois responderam imediatamente. Ponderei e soube que eles estavam certos.

— Isso não torna o que vocês estão fazendo okay. — Resmunguei, mas dei-me por vencida quando vi que nem mesmo tinham me escutado. Ambos olhavam as fotos no celular com diversão — Será que dá pelo menos para levar ele lá para dentro? Não dá para deixá-lo jogado no meio da grama.

— Ele pesa uma tonelada. É como arrastar um elefante. — Falou meu pai, achando o pedido absurdo. Apolo pensou no assunto e olhou para mim.

— Bem, talvez eu carregue esse elefante para você. — Sorriu para mim — Mas o que eu ganho em troca?

Meu pai limpou a garganta lançado para ele um olhar severo. Apolo respondeu com uma careta e levantou-se do chão, afastando-se de Ares.

— Você já está indo embora? — Perguntou Apolo, ao ver Ártemis ajeitando seu casaco. A deusa assentiu com a cabeça.

— Está na hora de partir. — Declarou. Nesse exato instante, ouvimos um grito.

Espera! — Thomas disparou pela porta de casa, carregando uma mochila cheia de flechas. Ártemis rosnou como um cachorro frustrado quando viu-o aproximar-se. O garoto parou na frente dela com um largo sorriso — Eu trouxe as suas flechas.

— Não toque nelas! — Alertou quando sua mão estava a centímetros da ponta de uma — Minhas flechas tem o poder de transformar qualquer criatura em animal. A não ser que você queira passar o resto da sua vidinha como um esquilo ou uma iguana, não toque nelas.

Thomas piscou os olhos. Devia estar horrorizado, mas o brilho em seu olhar era de puro fascínio.

— É sério?! — Gritou animado — Uau! Você pode me transformar em um tigre?!

— Não insista muito. — Aconselhou meu pai. Ártemis tomou a mochila das mãos dele e começou a ajeitá-las nas costas — Acho que você vai deixar um fã para trás.

— Não enche, Hermes. — Resmungou impaciente.

— Para trás? Mas você não vai voltar? — Perguntou Thomas. Ártemis olhou para ele com uma expressão que dizia “é sério?”, e o garoto ficou chocado — Mas…! Mas eu ia te chamar para brincar comigo! Eu não tenho um arco e flechas, mas eu tenho um aplicativo no ipad que é de tiro ao alvo. A gente podia jogar juntos. — As bochechas de Thomas coraram — O meu quarto é proibido para garotas, mas eu deixo você entrar. Só não conta pra ninguém, nem para o meu avô. Ele vai reclamar se souber que eu trouxe o ipad.

Meu pai ergueu as sobrancelhas e olhou para Ártemis, achando graça da situação.

— Que bonitinho. — Comentou sem conseguir se conter — Ele está a fim de você.

— Não estou não! — Exclamou Thomas, vermelho como um tomate.

— Quer ser o próximo? — Perguntou ela, apontando para Ares. Hermes ergueu as mãos em rendição — Então cala essa boca.

— Ei, que história é essa? — Apolo olhou para Thomas, repentinamente cheio de ciúmes — Está dando em cima da minha irmãzinha?

— Apolo- — Ártemis foi interrompida.

— Ela não está disponível, garoto! — Declarou determinado — E estou de olho em você e nos seus hormônios, sei muito bem que alvo você quer acertar.

— Ele é uma criança. — Falei sacudindo a cabeça.

— Eu não falei com você! — Exclamou Thomas para Apolo, depois olhou de volta para Ártemis — Você quer vir? Por favor, diz que sim! Minha avó vai fazer o jantar depois, você pode ficar. A gente empresta o telefone para você pedir para a sua mãe.

— Escuta, garoto, acho que você não entendeu. — Ártemis bufou.

— A minha mãe pode falar com a sua mãe! — Sugeriu apressadamente.

— Nossa mãe não vai deixar! — Intrometeu-se Apolo.

— Eu não preciso de permissão. — Ártemis retrucou para ele.

— Eu não vou permitir isso! — Insistiu ele.

— Argh, Thomas, vem cá. — Pedi interrompendo eles. Abaixei-me para ficar no mesmo nível que ele e sorri para o meu primo — Thomas, ela não pode ficar aqui com você. E eu sei que você gosta dela, mas… É complicado.

Franzindo o cenho, ele balançou a cabeça.

— Por quê?

— Porque, Thomas, ela não é uma criança. Ela parece uma criança. — Expliquei devagar — Ela é bem mais velha do que você pensa.

— Quantas séries acima de mim? — Perguntou em um cochicho.

— Eu já disse que não vou a escola. — Falou Ártemis, cansada.

— E por que não? — Indagou sem entender.

— Eu sou a Lua. — Respondeu olhando para ele — A deusa da lua, na verdade. Meu trabalho é manter a lua lá em cima para que as coisas fiquem normais no mundo. Entendeu? Eu não posso ficar aqui com você, porque estou ocupada.

Thomas olhou imediatamente para Apolo, que encarava-o de volta com um olhar desconfiado.

— Então você segura a lua e ele segura o sol? — Perguntou deduzindo — Mas eu não estou entendendo, ele está aqui, e o sol está lá.

— Mágica. — Respondeu Apolo.

— Pode então segurar a lua para ela, para nós podermos brincar? — Pediu animado — Só um pouquinho, por favor!

— As coisas não funcionam assim, Thomas. Cada um tem que fazer o seu trabalho. — Expliquei — Você é o único que pode fazer o seu dever de casa, não é?

— Ás vezes o Jimmy Felton faz para mim. Ele me cobra uma mentos. — Cochichou no meu ouvido. Meu pai e bagunçou o cabelo dele.

— Garoto esperto. — Hermes segurou Thomas e ergueu no colo — Okay, isso tudo está muito divertido, mas você vai ter que entender que tem garotas que não são para você. A Ártemis não gosta de garotos, e ela está ocupada, mas tem muitas outras meninas que vão querer usar o seu ipad. Acredite em mim. — Thomas abriu a boca para protestar, mas ele o impediu — Não se preocupe, você vai continuar vendo ela de noite. A lua está sempre no céu, colega.

Thomas olhou para Ártemis e fez uma cara de coração partido.

— Tá bom. — Murmurou. A deusa da lua suspirou, levemente comovida, e vasculhou algo na mochila. Ela estendeu a mão para ele, e Thomas pegou o objeto que ela estava entregando — O que é isso?

— É um presente. Você também foi muito bravo, Thomas Hanks. Fique com essa bússola para você, como uma memória de mim e das aventuras que passamos. — Explicou.

— Que romântica você é! — Elogiou meu pai.

— Está com sorte de estar segurando essa criança, Hermes. — Ela colocou a mochila nas costas de novo e acenou para nós — Adeus.

— Adeus! — Gritou Thomas. Ártemis foi se afastando até que sumiu entre as árvores. Ele colocou a bússola contra o peito e suspirou — Nunca vou te esquecer.

— Ei! — Exclamou Apolo, ainda nada satisfeito.

— Achei que nós dois estivéssemos namorando. — Falei fingindo ciúmes — Você me trocou assim tão fácil, Thomas?

— E-Eu… — Thomas olhou para a bússola e depois para mim — Sinto muito, Alice, mas você é muito velha para mim. Eu tenho que começar a procurar pessoas da minha idade.

Meu pai soltou uma gargalhada. Fiquei surpresa com a resposta, mas acabei rindo também.

— Acho bom. — Respondeu Apolo, mau humorado — Primeiro minha irmã, e depois Alice?

— Vai brincar com a sua bússola, antes que Apolo volta a ter a mesma idade que você. — Falou Hermes colocando-o no chão. Thomas saiu correndo feliz — Adoro crianças espertas.

— Esperto demais para o meu gosto. — Resmungou Apolo, e então se aproximou de mim — Mas agora que a concorrência toda foi eliminada, aqui estamos nós. Eu e você. — Acariciou meu rosto — Por que nós não deixamos o Ares descansar e subimos para-

Com um movimento rápido, Hermes encostou a ponta de seu caduceu no rosto de Apolo, e imediatamente o deus do sol tombou no chão. Arregalei meus olhos para meu pai, sem entender o que acontecera.

— Calma, está só dormindo. — Disse revirando os olhos — Pelo menos assim ele te deixa respirar. Não estava gostando nada dessa desenvoltura toda. Muito atirado para o meu gosto.

— Só você? — Disse minha mãe, finalmente se aproximando. Eles se beijaram e sorriram para o chão, vendo os dois deuses desacordados. Fiquei me perguntando o quanto estávamos longe de ser uma família normal.

— Você não podia ter afastado ele de outra forma?

— Claro que sim. — Respondeu como se fosse óbvio. Ele sorriu para minha mãe — Podemos colocá-los em uma posição indecente e tirar uma foto. Posso postar no meu Olimpogram.

— No seu o quê? — Perguntou minha mãe.

— Olimpogram. É o Instagram dos deuses. — Explicou.

— Será que você não pode só levar os dois lá para dentro? — Sugeri, sentindo-me repentinamente cansada.

— Alice, eu já te falei. Aquele ali pesa que nem um elefante. Agora Apolo, acho que ele seria uma girafa, ou talvez um cavalo. — Ponderou olhando para o irmão desacordado. Abri a boca para responder, mas senti a minha pressão diminuir.

Pontinhos coloridos surgiram no lugar que o rosto do meu pai estava, eu só tive tempo de esticar minhas mãos para segurar seus braços antes de desmaiar.

 

 

***

 

O que eu estou falando é: por que sempre acaba assim?

Sua filha desmaiou e é nisso que você pensa?

Sim! Ela vai ficar bem, mas isso? Isso é recorrente demais para eu relevar. Não se pode dar um espaço assim para um Deus, Jenny. Dê um centímetro de cama para qualquer olimpiano que não inclua Atena ou Ártemis, e você veja o que acontece.

Eu já vi o que acontece. Nós tivemos a Alice.

— Viu? É nesse ponto que eu quero chegar! — A voz dele começou a soar um pouco mais clara. Abri os olhos devagar — Querida? Jenny, ela está acordando.

Minha visão estava borrada, mas pude identificar meu pai sentado do lado da cama onde eu estava deitada, e minha mãe no outro canto do quarto. Mexi-me virando para o lado e me deparei com um peitoral exposto. Franzi o cenho e identifiquei que Ares estava deitado próximo de mim, ainda sem camisa. Virei de volta para o meu pai, confusa.

— Você desmaiou. Tinha que ter comido alguma coisa no café da manhã, não só tomado néctar. — Explicou.

— Eu disse. — Falou minha mãe, triunfante.

— É, ela disse. Uma mulher brilhante. — Confirmou e uma almofada acertou sua cabeça — Não foi sarcasmo! Caramba, Jenny.

— Você ficou me olhando dormir? — Perguntei estranhando.

— Não você, propriamente. — Lançou um olhar irritado para Ares, que parecia dormir como uma pedra — Sua mãe insistiu que ele não podia ficar no gramado, porque blablabla Will blablabla mortais iam se assustar, aí eu tive que arrastar o elefante para cá.

— Eu disse. — Falei.

— É, você também é uma mulher brilhante. — Revirou os olhos, dessa vez obviamente em sarcasmo.

— E a girafa? — Perguntei com a voz falhada, ignorando-o.

— Que? Ah, sim. Apolo está no quarto dele. Sua mãe não quis trazê-lo para cá. — Explicou. Nesse instante, Ares se remexeu e colocou o braço em cima de mim, abraçando-me como se eu fosse um travesseiro. Meu bufou ao vê-lo colado em mim e levantou-se da cadeira — Está vendo do que eu estou falando, Jenny? Impossível. Tira a sua mão da minha filha, seu pervertido. Ela é uma criança!

Tinha quase certeza que ele nem mesmo estava acordado para responder, mas meu pai empurrou-o para o lado, virando-o de costas para mim. Respirei aliviada e fitei o teto. Fez-se um segundo de silêncio.

— Está se sentindo melhor, querida? — Perguntou minha mãe, preocupada.

— Estou bem. — Disse — Fraca e tonta, mas bem. Parece que eu tenho uma virose pesada.

— Então é melhor ficar na cama. — Aconselhou levantando-se e vindo até mim. Afagou meu rosto com ternura maternal e sorriu — Vou falar com Will. Ele está de mau humor desde-

Meu pai fez um barulho de desdém com a boca.

— Tenho certeza que os sentimentos do seu marido são muito importantes no momento.

— Eu não vou entrar nesse discussão com você de novo.

— É claro que não vai. Você vai estar ocupada, não é? — Rebateu com frieza — Vai, fala com ele. Leva um café na cama, diz o quanto ele é especial. Tenho certeza que o ego dele está sentindo falta disso.

— Você sabe ser um cretino quando quer. — Respondeu com a mesma frieza e saiu do meu quarto. Ele bufou desviando o rosto, incomodado.

— Não precisava ter falado assim com ela. — Murmurei, desconfortável.

— Não se meta nisso, é problema meu e da sua mãe. — Cortou-me. Permanecei em silêncio, sem saber o que mais eu poderia falar. Hermes, inquieto, emendou — Você quase morreu, e o que importa é o Will?

— É claro que não. Ela só está preocupada com ele também. Ela está preocupada com tudo, porque... — Senti minha cabeça latejar e suspirei — Porque é muita coisa para uma mortal. Não fique bravo com ela por se importar com o Will.

— Esse homem é um imbecil. — Reclamou — Sua mãe está com ele por mais tempo do que devia. Ele nem mesmo te trata bem! Eu não gosto de vê-lo perto de vocês duas.

— Então talvez você não devesse…! — Deixei o resto da frase morrer, ao perceber que passaria dos limites. Hermes, já irritado, olhou para mim esperando pelo resto. Mexi a cabeça no travesseiro e desviei olhar — Desculpa, deixa pra lá.

— O quê? Fala. — Exigiu — Diz logo, Alice. O quê?

— Talvez você não devesse ter ido embora. — Murmurei e olhei-o pelo canto do olho. Vi a nítida transição da raiva para a tristeza. Ambos nos mexemos desconfortáveis no silêncio que tinha se instaurado. Senti dificuldade para respirar, não por causa do veneno que ainda circulava em minhas veias, mas pelo peso das minhas próprias palavras.

— Você acha que eu quis ir embora? É nisso que você acredita? — Perguntou e engoli em seco. A mão dele tocou o meu rosto, fazendo carinho na minha bochecha — Você era o bebê mais lindo. E, acredite, vindo de mim é um elogio sincero. Pra mim todos eles têm cara de joelho.

— Eu era um joelho bonito? — Perguntei para quebrar o clima. Ele deu uma meio risada.

— Você era o joelho rosado mais bonitinho. — Falou sorrindo taciturno — E os anos antes de você vir, os anos que eu passei com a sua mãe foram os melhores que eu tive em muito tempo. Tudo o que eu queria era ficar com vocês duas, o dia inteiro. Reclamar do preço das fraldas, escolher uma cor para a parede do seu quarto, sair para jantar com a sua mãe. E esse foi o problema.

Olhei para ele sem entender, e Hermes inclinou-se na cadeira.

— Zeus não gostou nada disso. — Falou negando com a cabeça — Ele me proibiu de ver vocês duas.

— Quando?

— Pouco depois que sua mãe ficou grávida. — Contou — Tudo o que eu conseguia eram algumas horas de vez em quando, mas não o suficiente para ser um bom pai. Muito menos um bom marido. E foi aí que o Will apareceu.

Hermes negou com a cabeça.

— Eu não o perdoo. Ele teve o tempo que eu não tinha para ser um bom pai e um bom marido, mas conseguiu fracassar com os dois papéis. Porque o que eu tenho de mais precioso não foi o suficiente para ele. — Disse com rancor — Não, dinheiro vem acima, é claro. Mortais. — Respirou fundo desviando o rosto — O que acha dele, Alice? Acha que eu estou errado?

Era muita informação de uma vez só, principalmente quando minha cabeça ainda doía. No entanto, meu pai aguardava uma resposta e eu julguei que seria bom dizer algo.

— Eu sempre me senti mal por não gostar dele. — Confessei — Até conhecer você.

Hermes sorriu e beijou a minha testa devagar. Quando afastou-se, fez carinho no meu cabelo, enquanto olhava para mim.

— Esse é o meu joelhinho lindo.

— Corta essa.

 

 


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Notas finais do capítulo

Ganho reviews depois desse finalzinho de aquecer o coração?
Espero que sim!

Beijos, pessoal! E até o próximo capítulo



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