Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 77
Um daqueles momentos em família


Notas iniciais do capítulo

Voltei! Espero que vocês não tenham desistido de mim!
Estava morrendo de saudades, pessoal.

Boa leitura para todos!



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Não tenho como explicar o quanto é difícil levar Ártemis a sério.

Se não fosse pelo olhar gélido que a deusa da lua lançava, eu me sentiria tentada a apertar suas bochechas infantis ao ver seus dedinhos de criança se entrelaçarem na sua frente, como se ela estivesse em uma reunião de negócios muito importante.

— Agradeço pela oferta, mas não. — Respondeu.

— Eu aceito waffles! — Exclamou Thomas.

— Quieto. — Ordenou Ártemis, sem nem mesmo mover os olhos em sua direção. Olhei para Apolo que finalmente parara de fuzilar minha mãe com um olhar sanguinário, e voltara-se para a irmã ao seu lado. A deusa prosseguiu — Como está se sentindo, Alice?

— Bem. — Infelizmente minha voz saiu arranhada. Limpei a garganta e repeti — Bem, Árt- Lady Ártemis.

— Como está sendo a sua manhã? — Perguntou com uma expressão séria. Senti como se estivesse na escola e uma professora estivesse me questionando “Você colou na prova, Alice?”. Respirei fundo e pensei bem na resposta.

— Já tive manhãs melhores, mas okay, eu acho. — Respondi e olhei em volta. Era nítido que o clima da mesa ainda estava estranho pela expressão da minha mãe e de Apolo, e pela insatisfação evidente de Ares — Ahm, estamos tendo um momento em família.

— Inesquecível. — Resmungou Apolo, amargo.

— Sinta-se à vontade. — Completei dando um sorriso sem mostrar os dentes. Ártemis balançou a cabeça devagar.

— Não vou me prolongar muito. Diferente de meus irmãos, eu tenho coisas a fazer. — Respondeu. Meu pai e revirou os olhos. A deusa virou a cabeça para olhá-lo — Nosso pai vai começar a ficar insatisfeito com a sua ausência, acredito que saiba.

— Não vou deixar minha filha por enquanto, e acho que você entende isso. — Respondeu, sem mostrar nenhum pingo de mau humor. Sorriu para a deusa, que assentiu com a cabeça uma vez.

— Compreensível para mim, mas não tenho certeza se papai achará a mesma coisa.

Não tenho certeza se papai achará a mesma coisa. — Imitou Ares em deboche — Por que você não volta para o papai então? Ou para o meio da floresta com os seus monstros e esquisitices?

— Ares. — Falou Hermes, repreendendo-o.

— Não. — Retribuiu rosnando — Ela não é bem-vinda aqui.

— Deixa ela em paz! — Interveio Thomas, no canto da sala.

— Minha irmã salvou Alice. — Interveio Apolo com irritação — Ela é mais bem-vinda do que você, seu imbecil.

— Você, sua garota-lobo, quase custou a vida dela. — Falou apontando para mim — É melhor dizer o que tem para dizer e meter o pé, antes que eu te chute de volta para o pântano de onde você veio.

— Ares… — Ártemis começou depois suspirou pesadamente, como se estivesse cansada de carregar um peso nas costas por milênios — Cala a boca.

Voltou-se para mim e olhou bem nos meus olhos.

— Eu lamento o que aconteceu ontem, aquele monstro não devia ter chegado tão perto da área residencial dos mortais. — Começou ajeitando-se na cadeira — Queria vir aqui para saber se você conseguiu se recuperar e para elogiar a sua bravura. Você se colocou diante daquele manticore para proteger uma mortal da qual nem mesmo gosta. Você tem o coração de uma heroína.

Pensei se valeria a pena explicar que eu só estava na frente do monstro por pura fatalidade e não porque eu intencionalmente queria proteger Heather, mas a julgar pelo orgulho que brilhava nos olhos azuis de Ártemis, achei melhor manter-me quieta.

— Obrigada. — Retribuí.

— Quero mulheres fortes e corajosas assim andando do meu lado. — Acrescentou.

— Ela não pode! — Exclamou Apolo apressadamente. Do outro lado da mesa, meu estreitou os olhos para ele, nada satisfeito com o que ele estava sugerindo.

— E por que não? — Perguntou devagar, rangendo os dentes.

— Porque ela é minha musa. — Respondeu escapando de falar sobre o nosso romance na suíte cara de Paris há alguns meses atrás — É minha, e eu não vou permitir que saia para a caçada. E também, Alice não quer ir. Ela é bem urbana.

— Sou urbana. — Concordei com a cabeça — Embora fosse uma honra me juntar a sua caçada, é claro.

— Você tem outras 9 musas. — Disse minha mãe fitando Apolo — Acho que ia conseguir superar.

Apolo lembrou-se que estava com raiva dela, e cerrou os punhos em cima da mesa fitando-a com tamanha intensidade que temi que minha mãe entrasse em combustão a qualquer instante.

— Não acho que você seja a pessoa mais apta a falar de superação, Jennifer Kelly. — Retribuiu — Você teve 20 anos e ainda não conseguiu me superar.

Ártemis passou os olhos de Apolo para minha mãe, lentamente. Avaliou em silêncio o ódio que os dois trocavam, e inclinou-se para frente.

— O que tem contra meu irmão? — Perguntou. Senti meu sangue gelar e vi que meu pai também. Uma coisa era Apolo odiá-la, pois ele era completamente controlável. Não faria mal a minha mãe, porque sabia que isso ia me ferir. Mas Ártemis não tinha pena de punir quem achasse que merecia ser punido.

— Seu irmão me assediou a 20 anos atrás, e agora está assediando a minha filha. — Disse sem um pingo de temor. Prendi a respiração até Ártemis respondê-la.

— Perdoe ele por isso. É um idiota com mulheres. — Falou revirando os olhos.

— O quê?! — Exclamou ele, chocado.

— Ele é tem um bom coração, mas não consegue se controlar. — Continuou como se ele não estivesse indignado no seu lado — Quando se apaixona fica insuportável.

Inclinou a cabeça para o meu lado, e minha mãe prendeu o riso. Apolo virou-se para a irmã.

— Essa mortal é aquela namorada irritante que Hermes tinha nos anos 80. — Explicou.

— Ah, aquela que você te deixava morrendo de ciúmes? — Rebateu erguendo as sobrancelhas sem muito interesse — A mesma que você odiava porque “estava roubando seu irmão de você”?

— Ooown.— Fez meu pai, e as bochechas de Apolo arderam em vermelho.

— Ártemis! Eu não falei nada disso. — Resmungou.

— Claro que não. — Concordou em sarcasmo.

— Você me ama, irmãozinho. — Disse Hermes mostrando os dentes brancos.

— Ah, vai para o inferno! Você e a sua mortal de estimação.— Retribuiu Apolo — Seu ladrão miserável. — Meu pai respondeu fazendo um coração com as mãos.

— Mamãe tentou ensinar para ele que quando uma mulher diz não, quer dizer não, mas as vezes o ego inflado que ele carrega atrapalha a audição. — Falou Ártemis para a minha mãe — Mas ele ama a sua filha, muito. E acredito que ela o ame de volta. — Minha mãe mexeu o queixo, um tanto incomodada. Ares exclamou um “ei!” do outro lado da mesa, mas foi ignorado — Só espero que o que quer que ele tenha feito com você não tenha sido grave.

Lançou o olhar severo para Apolo.

— Você só pode estar brincando. — Falou ele — Eu não estuprei ninguém!

— Não, ele só usou as mãos bobas dele. — Falou minha mãe cruzando os braços — Mas o chute na virilha fez ele entender o significado de não.

Ártemis curvou-se para frente como se tivessem acertado um soco em seu estômago e soltou uma gargalhada divertida. Era uma das raras ocasiões em que eu a via rir, por isso não aguentei e me juntei as risadas. A mesa toda, na verdade, fez o mesmo. Ares tentou disfarçar, pois queria aparentar que ainda estava furioso, mas eu sabia que era coincidência demais ele tossir naquele instante. Até Thomas riu, ainda sentado no cantinho

— Pare de rir! — Exclamou Apolo virando-se para Ártemis — Não posso acreditar que você não vai defender o seu próprio irmão das acusações absurdas de uma mortal exagerada!

— Você é grandinho o suficiente para lutar suas próprias lutas. — Falou limpando uma lágrima do olho — E presumo que tenha feito por merecer esse chute.

— Foi uma canelada, não um chute. — Desmentiu olhando para minha mãe — E nem doeu. Você não é tão durona quanto pensa.

— Ela foi tricampeã de Taekwondo. — Cantarolou Hermes.

— Quem te perguntou? — Disparou ele de volta.

— Tricampeã de Taekwondo? — Repetiu Ártemis com os olhos brilhando para minha mãe, que ergueu o queixo de maneira orgulhosa com um sorriso — Eu me pergunto porque mulheres tão brilhantes desperdiçam seu tempo com homens tão patéticos.

Nessa instante, lançou um olhar de desdém para Ares, que o recebeu com ira. Socou a mesa fazendo-a tremer.

— Diz na minha cara! — Exclamou furioso.

— Ares, deixa isso para lá. — Falei, mas minha voz era mais baixa que a de todos os outros.

— Eu considero você um atraso. — Falou Ártemis em alto e bom tom — Alice poderia estar na caçada comigo, se não fosse pelo meu irmão. Mas ainda assim, ele é uma opção melhor do que um brutamontes como você.

— Já chega! — Ele colocou-se de pé. Pensei que iria embora ofendido, mas Ares me surpreendeu quando ergueu o dedo grosso na direção de Ártemis — Você e eu, lá fora! Já!

Franzi o cenho sem entender o que ele tinha dito. A última vez que eu ouvira essa frase, fora no ensino médio, quando uma garota que tinha o dobro do meu tamanho me desafiara para uma briga porque eu acertei o rosto dela com uma bola de vólei.

— O que você…? Você não…? — As palavras fugiam da minha boca. Olhei para Ártemis, que encarava-o com um olhar gélido e indiferente. Depois para Apolo, que estudava a expressão da irmã, esperando para ver sua decisão. Meu pai e minha mãe olhavam para Ares um tanto surpresos, mas não chocados — Você ficou maluco?

— Tudo bem. Vamos acabar com isso. — Ártemis assentiu com a cabeça e levantou-se.

— Não, não! Nada disso! Ares! — Exclamei o mais alto que minha garganta arranhada me permitia. Ele olhou para mim ainda vibrando de fúria — Você não pode bater nela! Ela…! — Gesticulei para a deusa da lua, que me olhava sem entender minha preocupação. Não quis dizer que ela era só uma garotinha, porque sabia que não era verdade. Era só um disfarce que Ártemis usava. Tentei buscar argumentos para impedir que isso acontecesse — Ela é uma mulher! Você não pode- Pai, fala com ele!

Meu pai abriu a boca, olhando para mim. Por um segundo, achei que me apoiaria, mas depois olhou para Apolo.

— Aposto 10 dracmas que dura 3 minutos. — Declarou. Apolo parou para pensar por um instante, e depois sorriu torto.

— Aposto 20 que ela arranca um dente dele. — Retribuiu com igual empolgação.

— Pai! — Exclamei e tive uma crise de tosse. Sem desviar os olhos para mim, ele gesticulou.

— Fica com a sua mãe, querida. — E saiu em passos largos para a porta seguido por Apolo, como se fossem duas crianças. Olhei para ela ainda tossindo, esperando que ela agisse da forma mais sensata. Para minha surpresa, ela se esticou para frente e segurou o meu antebraço com gentileza e pressa.

— Querida, eu te amo, mas eu quero ver seu namorado apanhar. — Sorriu para mim e levantou correndo em direção ao lado de fora da casa.

Levantei-me tentando acompanhá-la, mas senti uma onda de tontura. Apoiei meu peso na mesa, respirei fundo finalmente livre da tosse. Segurei o copo de ambriosa com suco e bebi o mais rápido de consegui. Fui em direção a porta, chegando na sala de estar e por fim atravessando para o lado de fora de casa.

Ares estava tirando a camisa de forma teatral, mostrando o quanto estava furioso. Meu pai assoviou de brincadeira e Apolo gargalhou. Ambos estavam em pé na varanda, olhando os dois deuses se ajeitarem no gramado.

O deus da guerra fez minhas bochechas corarem, tamanha era a vergonha alheia em vê-lo bancar o valentão para cima de uma garotinha.

— Ares! — Chamei avançando — Ares! Para com isso agora!

— Quieta. — O braço do meu pai me puxou como um gancho e sua mão cobriu minha boca — Eu apostei dinheiro nisso, querida. Essa luta vai acontecer.

Debati-me em seus braços, mas a força de um deus não era páreo para mim. Apolo olhou para meu estado e depois para o irmão.

— Solta ela. — Gesticulou para Ares — Olha só para ele, não tem como pará-lo agora.

Dando-se por convencido, ele largou-a. Bufei literalmente cansada, e balancei a cabeça.

— Você ficou maluco? — Exclamei para Apolo, e ele franziu o cenho para mim, sem entender — É a sua irmã! Não pode deixar ele bater na sua irmã.

Sua hesitação durou menos de um segundo, perdendo espaço para um sorriso torto.

— Você obviamente não conhece a minha irmã.

— Gostoso! — Gritou Hermes em provocação e percebi que Ares estava dando pulinhos para se aquecer, enquanto dava socos em um alvo imaginário. Ártemis, em contraste, mantinha-se parada enquanto o observava fazer todo aquele show.

— Eu espero que você esteja pronta para o pior dia da sua vida. — Rosnou ele.

— Ver você pulando sem camisa já está sendo o pior dia da minha vida. — Concordou com desânimo. Ares parou de pular e se preparou para o inicio da luta.

— Vai ter que pedir para as suas namoradas te socorrerem depois que eu terminar com você. — Ameaçou com raiva — Vamos ver quem é um desperdício de espaço, depois que eu te reduzir poeira.

— Você vai ficar falando ou vai atacar? — Perguntou impaciente — Sua voz me irrita. Vamos acabar logo com isso.

— Primeiro as damas.

— Então venha quando estiver pronto. — Sorriu ela divertindo-se com a raiva dele. Ares rugiu como um javali furioso, e todos nós nos inclinamos para frente com os olhos arregalados, prontos para ver o embate. Ele avançou em passos largos e meu coração gelou.

Aquele era o Ares cheio de ira que fazia um campo de batalha inteiro tremer, e aquele batalhão de um homem só estava investindo contra uma garotinha do tamanho do Thomas. Era a mesma coisa de ver uma criança enfrentar um urso selvagem.

— Ares! — Exclamei chocada quando ele esticou o punho para um soco. Ártemis não se moveu, de forma que seu queixo fora acertado em cheio. Todos nós reagimos com choque. A deusa cambaleou para trás uns dois passos somente, e passou a mão pelo local atingido. Ares riu e estalou o punho com divertimento: aquela era a mesma expressão que ele esboçara quando estava lutando contra mim em sua casa.

Olhei para Apolo, chocada, mas para a minha surpresa, o deus não parecia tão catatônico quanto nós. Não parecia esperar ver aquilo acontecer, mas algo em seu rosto estava cheio de expectativa.

Ouvi um estalo e virei o rosto para eles. Ártemis tinha virado o pescoço de volta para a direção de Ares, e ainda passando a mão pelo machucado, fitou-o enquanto ele zombava dela:

— A neném fez um dodói? — Disse inclinando-se para frente, um tanto curvado para ficar da altura dos olhos de Ártemis — Quer um beijinho para passar ou vai chorar para o papai?

Ártemis abriu um sorriso largo de prazer, para a confusão dele.

— Minha vez.

Mais rápido do que ele pôde processar, Ártemis acertou o olho do deus da guerra e ele rugiu com dor, colocando a mão no rosto e recuando um passo. A deusa da caça pulou para cima dele, escalando-o até chegar a suas costas. Ares se contorceu como se tivesse um bicho grudado em si, mas não foi o suficiente para derrubá-la. Ártemis colocou os braços em torno de seu pescoço e torceu-o de forma fatal. Como Ares não era um humano, tudo pareceu ainda pior. Ele gritou de dor após o movimento violento, e sua cabeça ficou virada para o lado.

Não satisfeita, girou seu corpo de uma maneira difícil de explicar e em questão de segundos tombou o pesado corpo do deus da guerra no chão. Tive um pequeno espasmo de dor por ele quando ela socou seu rosto uma única vez, produzindo um som alto o suficiente e um impacto forte o suficiente para nocautear o deus da guerra.

Meu pai ergueu o relógio de pulso e xingou.

— 2 minutos e 16 segundos! Merda! — Exclamou frustrado. Apolo gargalhou alto.

— Algum dente? — Perguntou esticando a cabeça para olhar o corpo de Ares inconsciente no chão. Ártemis levantou-se e limpou o punho sujo de icor na camisa que Ares jogara no gramado. Andou até nós com uma expressão de tédio, como se tivesse acabado de sair de uma aula muito chata de geometria analítica.

— Irmão, cuide dele. — Ártemis apontou com a cabeça e Apolo começou a se mover — E depois peça desculpas para a mortal.

Apolo olhou para o lado e lembrou da existência da minha mãe. Voltou o rosto para frente, bufando insatisfeito, e marchou para perto de Ares. A deusa da lua olhou para mim, e inclinou a cabeça sem entender meu choque.

— O quê?

— O quê? — Repeti incrédula — E-Eu… Eu achei que…! Que ele ia te machucar! Você é uma garota e tão pequena…

Minha voz foi sumindo e Ártemis riu uma vez.

— Sim, o pior tipo de adversário. Sempre subestimado e nunca levado a sério. — Ajeitou uma mecha de cabelo para trás da orelha e ergueu o queixo para mim — Vai ver seu namorado.

 


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Notas finais do capítulo

Então? O que acharam?

A autora aqui está tentando sobreviver a faculdade, então perdoem mesmo a minha falta de frequência na hora de postar. Estou aproveitando que essa semana não teve aula para poder adiantar vários caps, assim vocês não ficarão em abstinência.

Espero pelos reviews maravilhosos!

Beijos no coração de vocês!



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