Meu Bônus Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 76
Mother Knows Best


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos leitores!

Aqui vai mais um capítulo (um pouco atrasado, eu sei) dessa fic nós tanto amamos.
Espero que gostem!

Boa leitura.



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— Mas o que é isso?! — A voz do meu pai soava indignada — Jenny, o que é isso?!

Eu tinha acabado de acordar, mas por sorte, não tinha aberto os olhos ainda. Mantive-me então completamente imóvel, fingindo ainda estar no mais profundo e inocente dos sonos. Esperei até ouvir a voz da minha mãe, e ela veio seguindo um suspiro de cansaço.

— Hermes, eles estão dormindo. Deixe-os em paz.

— Dormindo como? — Questionou ele, nada feliz. Comecei a pensar no que ele estava reclamando e então percebi que o que aquecia as minhas costas era o corpo volumoso de Ares. Na minha frente, podia sentir a respiração de Apolo — Eles estão grudados nela!

— Shhh! Fala baixo! — Repreendeu ela — Eles só estão dormindo, não estão fazendo nada.

— De conchinha! — Reclamou novamente — E olha aquilo. Deuses, ele está praticamente roçando nela!

Ouvi um estalo, que provavelmente foi minha mãe acertando um tapa em seu braço. Hermes resmungou irritado.

— Estou falando sério. Olha só para isso. Ela é uma criança, por Zeus. — Murmurou movendo-se pelo quarto — E aquele idiota ali. Está esperando o quê? Um beijo?

— Saí. Vamos sair. — Ordenou minha mãe, e ouvi passos pelo quarto. Meu pai desceu resmungando sobre como aquilo era um absurdo e completamente impróprio, e minha mãe sobre como eu precisava dormir. Fecharam a porta e eu contei alguns segundos até abrir os olhos.

Perto do meu rosto estava o de Apolo, belo e sereno dormindo com os lábios levemente abertos. Aproveitei o momento para olhá-los, tão bem desenhados e macios. Lembrei-me do que beijo que ele me dera quando eu voltei a vida, e meu coração disparou.

Nas minhas costas, Ares se remexeu puxando-me ainda mais contra si. Meu rosto ardeu ao sentir sua virilha ser pressionada contra mim, e me remexi.

Apolo abriu os olhos instantaneamente.

— Alice? — Perguntou com a voz mais sóbria do que eu esperava ouvir — O que foi?

Abri boca, mas senti minha voz falhar.

— Nada. — Respondi, com vergonha de explicar — Já estava acordado?

Apolo esfregou os olhos e aconchegou-se novamente no travesseiro.

— Uhm, sim. Mais ou menos. Eu estava tendo um sonho bem leve onde os Beatles aceitavam abrir o meu show de fim de ano. — Murmurou com um sorriso de satisfação — Mas você se mexeu, e acordei antes de ouvir o Paul fazer um discurso sobre o meu talento.

— Que pena. — Comentei achando graça. Ares moveu-se novamente, e senti de novo insinuar-se contra mim. Apolo franziu o cenho perante minha expressão e, ao voltar os olhos para o corpo de Ares, se deu conta do que estava me incomodando. Revirou os olhos.

— Argh, maldito pervertido. Parece um animal. — Sem nem uma gota de delicadeza, Apolo afundou a mão no rosto dele e empurrou-o para trás como se fosse um bicho morto. O corpo de Ares tombou para o lado, fazendo-o deitar-se de costas pra baixo. No entanto, ele não me largou, e eu fui junto.

Soltei um gritinho ao ser puxada como um ursinho de pelúcia. Ares abriu os olhos devagar e percebeu que estava abraçado comigo.

— Solte ela logo. — Apressou Apolo, impaciente — Ela ainda está se recuperando.

— Vai se ferrar. — Falou com a voz falhada, mas me soltou de qualquer forma. Rolei para o lado e caí deitada afundando o rosto no travesseiro. Gemi abafada, sentindo meu corpo doer e minha cabeça latejar — Tá tudo bem com você, Kelly?

— Uhum. — Menti, mas não podia enganar nenhum dos dois.

— Dores musculares, dor de cabeça. — Apolo levou a mão até minha testa, contando os sintomas — Nada de febre, ainda está gelada.

— Estou bem. — Garanti virando de costas para baixo — Só um pouco dolorida, mas bem.

— Enjoo? — Perguntou e eu ia negar, até que senti meu estômago oscilar. Fiz uma careta e ele suspirou — O que mais?

— Kelly. — Ares chamou e eu olhei para ele. Sua mão tocou meu seio, e eu demorei para conseguir empurrá-la para longe. Seus olhos se voltaram para Apolo — Reflexo ruim, e nada de bochechas vermelhas. O que isso quer dizer?

— Quer dizer que ela ainda está se recuperando dos efeitos do veneno. Não está bem. — Explicou. Olhei para Ares incrédula.

— É sério? Essa é a sua forma de testar os meus reflexos? — Perguntei e ele encolheu os ombros. Como que para confirmar, sua mão foi novamente para meu seio. Demorei para reagir mais uma vez, e irritei-me por isso. Ele negou com a cabeça, esboçando seriedade — É mais sério do que pensamos.

— Idiota. — Resmunguei. Assim que ele levantou a mão, eu reagi — Para!

— Melhorou um pouco. — Riu ele recuando a mão — Uma pena. Quero dizer, uau, que bom, benzinho.

— Dá para levar isso a sério? — Reclamou Apolo. Ares olhou para ele e ergueu as mãos.

— Uh, sinto muito, doutor. — Falou em implicância — Qual seu veredito? Vamos ter que abrir a cabeça dela com um martelo ou dar chá de boldo?

— Médicos não dão veredi- Argh, como você é idiota. — Apolo afundou o rosto nas mãos e depois olhou diretamente para mim — Você vai ter que ficar em repouso durante o dia. Vamos deixar seu corpo se preocupar em usar as energias para melhorar.

— Apolo, eu não aguento mais ficar nessa cama. — Murmurei frustrada — Já foi horrível cair no sono ontem, não quero passar o dia todo deitado.

— De nada, Kelly. — Resmungou Ares. Lembrei-me de como ele me fizera dormir e de como me contara sobre o medo que sentira em me ver morrer.

— Obrigada. — Disse dando um sorriso fraco — Eu não ia conseguir dormir se você não me ajudasse.

— Viu? — Sorriu para Apolo — Eu ajudei.

— Quer que eu bata palmas? — Replicou amargo.

— Quero que bata na sua cara. — Retrucou.

— Quero que você vá para a-!

— Eu meio que preciso ir ao banheiro, então… — Coloquei-me sentada, mas a tontura logo me atingiu. Fingi que estava tudo bem, respirei fundo e olhei para Apolo — Você não estava dormindo do outro lado?

— Eu passei a sua mãe para a cama debaixo e peguei o lugar dela. — Sorriu para mim.

— Cama debaixo, você quer dizer chão? — Perguntei olhando a pilha de cobertores no chão duro. Apolo olhou também e encolheu os ombros.

— Ela tem o seu pai, vai ficar bem. — Respondeu.

— Quer dizer que você deu em cima da minha mãe? — Perguntei lembrando da confusão da noite passada. Ele riu de nervoso e seu rosto ficou um tanto vermelho — Você beijou ela? Isso seria nojento.

— É claro que não. — Respondeu — Eu só, ahm, falei qualquer besteira para ela. Parece que a sua mãe guarda rancor. Um absurdo, eu não fiz nada demais, juro.

— O que você disse? — Perguntei.

— Você não ia ao banheiro? Xixi matinal. — Incentivou com um largo sorriso — Nunca é bom prender a vontade, pode causar infecção urinária e outros problemas. Vai, vai.

Abri a boca para falar, mas Ares riu interrompendo-me.

— Vamos, eu levo você escada abaixo. Está na cara que o garanhão ali está fugindo das perguntas. — Falou levantando-me no colo com a facilidade de alguém que carrega uma boneca de pano. Apolo olhou para ele com raiva.

— Eu não estou fugindo das perguntas! — Reclamou.

— Então o que vo-

— Acho que depois podemos descer direto para o café da manhã! — Cortou-me fingindo inocência e empolgação — Uhm, o cheiro de ovos mexidos está maravilhoso! Eu vou na frente, vocês me encontram lá embaixo.

Ares riu ao ver Apolo passar por nós como um raio e descer as escadas.

 

Apolo estava sentado à mesa de café da manhã, de frente para a minha mãe. Ambos sustentavam um silêncio incomodo e mantinham os olhares propositalmente desviados para qualquer falha na parede. Meu pai, sentado ao lado dela, fitava Apolo com um sorriso de satisfação, provavelmente por minha mãe ter finalmente visto o quanto seu meio irmão era abusado.

— Alice! — Exclamou Apolo dando um pulo quando eu entrei na sala. Não sabia até que ponto ele estava realmente feliz em me ver ou se estava somente aliviado por não precisar mais ficar sozinho perto deles dois — Venha comer alguma coisa.

— Como está, querida? — Perguntou meu pai, olhando-me com preocupação. Minha mãe se inclinou um pouco para me ver e compartilhava a mesma apreensão que ele.

— Ela vomitou seu novo par de tênis. — Disse Ares para meu pai.

— Não vomitei nada. — Revirei os olhos.

— E suas meias também. — Mentiu de novo, com um sorriso implicante no rosto.

— Considerando o chulé que ele tem, talvez sido até um favor que ela fez. — Implicou Apolo.

— Há. Há. Como vocês são engraçados. — Falou em sarcasmo — Minhas meias são mais limpas do que as axilas do Ares.

— Isso também não quer dizer muita coisa. — Riu Apolo e eu ri também, mas minha risada acabou se transformando em uma tosse. Tentei parar, mas minha garganta arranhada me impedia, forçando-me a empurrar o ar para fora dos meus pulmões.

— Ah, ótimo! — Disse minha mãe se colocando de pé e lançando um olhar nada simpático para Apolo, que se encolheu na cadeira instintivamente. Assim como uma leoa, ela contornou ele com um olhar assassino e parou do meu lado me guiando até a cadeira livre na ponta da mesa — Respire fundo.

— Estou bem. — Declarei o mais rápido possível — Eu só me engasguei.

Se ela sabia que era mentira, não deixou transparecer. Sentou-se perto de mim e deu um sorriso maternal ao ver que a tosse tinha passado. Apolo limpou a própria garganta e empurrou na minha direção um copo cheio de suco amarelo. Franzi o cenho, esperando uma explicação.

— É néctar. — Falou — Diluído em suco de laranja. É bom que você beba um pouco mais para ajudar na eliminação do veneno. Não precisa comer nada se você não quis-

— Precisa sim. — Cortou minha mãe empurrando o suco para longe e lançando um olhar desafiador para ele — Alice precisa de comida de verdade.

Empurrou para minha direção um prato com waffles e morangos. Colocou um pote de mel perto e algumas fatias de melão.

— Ahm, certo. Eu admiro o amor que você tem pela sua filha e a sua vontade de ajudá-la, mas acredite em mim quando digo que sei o que é melhor. — Falou empurrando o néctar novamente para perto de mim — Afinal, eu sou o deus da medicina, Jenny.

— E eu sou mãe, Apolo. — Rebateu com o mesmo tom de voz que ele usara.

— Uuuh. — Fez Ares, colocando lenha na fogueira — Quem diria que teríamos uma briga tão cedo? Continuem, por favor.

Apolo lançou um olhar rápido para ele, mandando-o calar a boca silenciosamente. Depois voltou-se para a minha mãe, tentando ser o mais diplomático possível.

— Ninguém está brigando aqui. — Falou dando um sorriso para ela — Só estou mostrando minha preocupação com a saúde da minha musa.

— Que gracinha. — Falou sem se comover. Apolo viu que sua tentativa de manter a situação harmônica não estava dando muito certo. Seu sorriso vacilou por um instante.

— Tudo que eu quero é que ela melhore. — Falou de novo — E o néctar vai ajudar muito mais do que a comida mortal.

— A comida mortal funcionou bem por mais de 20 anos. — Replicou. Minha mãe nem precisava de esforços para criar uma resposta atravessada e incisiva, sempre imbatível nas discussões. Apolo começou a se cansar. Desviou o rosto para meu pai, que acompanhava a briga com satisfação.

— A minha memória pode estar falhando, então, por favor, refresque-a, Lord da Internet. — Falou sem muita paciência — Pode me dizer quantas vezes na história da humanidade waffles e morangos curaram envenenamento? Pode jogar no Google se preferir, eu espero.

— Não foi você que inventou que beber urina na Idade Média curava a peste negra? — Rebateu minha mãe e Ares gargalhou socando a mesa. Apolo voltou os olhos azuis para ela, faiscando de raiva. Ela ergueu as mãos, teatralmente — Foi só uma pergunta, senhor ciência.

Ele respiro fundo, tentando não brigar.

Eu é que devia te odiar. — Falou fitando-a — Você destruiu o meu carro.

— E você tentou me agarrar a força. — Rebateu com a mesma intensidade.

— Quer saber? Talvez você quisesse que eu te agarrasse, e é por isso que está com tanta raiva de mim! — Replicou e o queixo dela caiu. Meu estreitou os olhos para ele, nada amistoso. Ares sorriu malignamente divertido, e eu me encolhi na cadeira — Foi há mais de 20 anos e você ainda não me tirou da cabeça. Aposto que tem uma queda por mim e nunca superou!

— Há! — Riu minha mãe — Eu chutei a sua virilha, e posso fazer de novo, seu metidinho arrogante!

— Você tenta! — Exclamou de volta para ela.

— Tenta! — Incentivou Ares — Ten-ta! Ten-ta! Ten-ta!

Meu pai esticou a cabeça e olhou para mim. Silenciosamente mexeu seus lábios para que nem Apolo, nem minha mãe ouvisse.

— Bebe o néctar, querida. — Pediu, e eu assenti. Ergui minha mão com medo dela ser cortada fora quando eu segurasse o copo, peguei-o e levei até os lábios devagar. Comecei a beber, enquanto eles continuavam a discussão.

— Qual o seu problema? Eu nem mesmo te odiava mais, mas você tinha que trazer isso tudo a tona! — Reclamou Apolo.

— Foi você quem puxou o assunto, mas eu fico feliz que tenha feito isso! — Replicou minha mãe — Ao menos assim eu tenho certeza de que não quero você perto da minha filha!

— Eu fui a melhor pessoa que a sua filha já conheceu! — Bufou achando aquilo um absurdo — Caso você tenha esquecido, fui eu que salvei a vida dela enquanto aquele ali tentava matá-la porque estava de ego ferido!

Ares encolheu os ombros, sem ter muito o que dizer.

— E o que mais você fez por ela? Deu uma das suas cantadas horrorosas? — Retrucou cruzando os braços.

— Minhas cantadas não são horrorosas!

— Você disse que ia colocar a mão dentro da minha calcinha e-

Ares e eu gritamos junto de choque, e as bochechas tanto da minha mãe quanto as de Apolo ficaram vermelhas. Provavelmente os dois esqueceram que ainda tinham outras pessoas sentadas à mesa.

— É, agora eu vejo que foi horroroso. — Concordou ele com a cabeça — Você nem mesmo devia usar calcinha.

— O que disse?! — Exclamou minha mãe, de queixo caído.

— Ei, ei! — Interveio meu pai, apontando para Apolo — É melhor falar com mais respeito.

— Sua mortal é louca! — Reclamou Apolo.

— Seu irmão é repulsivo!

— Ah, admita! Você é frustrada porque nunca ficou comigo! — Replicou.

— Eu preferiria virar uma árvore! — Retribuiu. Prendi a respiração e vi o rosto de Apolo ficar vermelho de raiva. Dafne era um assunto extremamente delicado, de forma que nem mesmo eu podia fazer piadas sobre árvores em seus dias mais sensíveis.

— Como ousa?! — Rugiu ele, ofendido.

Achei que pulariam um no pescoço do outro, e tripas voariam pelo ar como em um filme do Tarantino. No entanto, a discussão foi interrompida por passos de alguém correndo em direção a nós.

— Bom dia, bom dia! — Gritou Thomas, mais animado do que o normal — Ela voltou!

Todos viraram a cabeça para ele e o vimos sacudir os braços agitado, como se tivesse comido seu peso em açúcar puro. Meu primo deu um passo para o lado e olhou para algum ponto além da minha visão.

— Vem, pode entrar! Eles estão aqui! — Avisou.

Ouvimos mais alguns passos e por fim vimos a garotinha. Ártemis, ainda vestida em sua tradicional roupa de caça, apareceu na soleira da porta. De aparência mais limpa do que no dia anterior, a deusa da caça tinha seu cabelo quase platinado, preso em uma longa trança nas suas costas. Seus olhos cinza encontraram os meus e senti o impacto de sua presença.

— Bom dia. — Ofereceu e depois voltou-se para Thomas como se fosse um serviçal — Obrigada pelas direções. Está dispensado.

Thomas bateu continência para ela, e a deusa da lua tentou ignorá-lo o melhor que pôde, enquanto andava até a única cadeira livre ao lado de Apolo.

— Ah, ótimo. Ela está aqui. — Disse Ares, amargo, provavelmente ainda culpando-a pelo que acontecera comigo. Ártemis, no entanto, também o ignorou com grande elegância.

— Eu vim vê-la, Alice Kelly. — Declarou sentando-se perto de mim. Engoli em seco e tentei dar o melhor sorriso possível.

— Oi. — Disse sem jeito por ainda estar pensando na discussão que acabara de acontecer — Ahm, quer waffles?

 


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Notas finais do capítulo

Espero ansiosamente o review de vocês, e até o próximo capítulo!



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